Zoofarmacognosia

Você já viu essa situação. Quando sente desconforto digestivo seu cachorro ou gato busca um certo tipo de planta para ingerir. Alguns lambem terra ou pedras ou, para o desespero dos tutores, comem cocô (de si próprios, de outros cães, de passarinho). Ao se entregar a esses comportamentos que nos parecem estranhos o seu peludo está tentando se auto-medicar. É a Zoofarmacognosia, termo que combina as palavras gregas “zoo” (animal), “pharma” (farmácia) e “gnosia” (conhecer) e que estuda a habilidade inata de todos os animais de buscar e identificar elementos que corrigem deficiências e desequilíbrios no corpo.

Na natureza, canídeos e felinos procuram determinadas ervas, gramíneas, insetos, fungos, raízes, partes de animais, minerais e sementes para aliviarem sintomas. Mas como fica isso com nossos cães e gatos domiciliados e totalmente dependentes de nós? Eles vão atrás do que encontram à disposição. Pode ser o papel higiênico, a “areia” do gato, suas meias, as plantas no vaso. Muitas vezes não serão opções limpas ou seguras. Você pode ajudar seu pet a tratar a si próprio disponibilizando elementos seguros com efeito terapêutico. Algumas maneiras de proporcionar isso:

• Plante ervas medicinais em vasos (melissa, hortelã, dente-de-leão, erva-doce, orégano etc). Não deixe o vaso à disposição ou seu peludo provavelmente consumirá tudo em instantes. Ofereça periodicamente e deixe-o cheirar, selecionar o que precisa e dar umas bocadas (ou corte um pouco e ofereça).
• Adicione ervas frescas às refeições. Salsinha, por exemplo, possui propriedades depurativas (destoxificantes), quelando (neutralizando) metais pesados e surtindo um leve efeito diurético.
• A oferta regular, principalmente de vegetais lacto-fermentados, mas também de kefir, iogurte natural ou coalhada contribui com enzimas, vitaminas K e do complexo B, além de bactérias incrivelmente benéficas à saúde digestiva. Se tiver acesso a rúmen verde (o estômago cru de ruminantes, com matéria vegetal dentro), congele-o em freezer por pelo menos 3 dias e ofereça um pouco (cerca de 5% do total diário de alimentos) ao seu cão ou gato regularmente. A oferta frequente de probióticos melhora a digestão e absorção dos nutrientes e fortalece a imunidade.

• Plante sementes de cevada, trigo ou milho (de preferência não-transgênicos) e sirva o “capim” deles, rico em fibras, enzimas e fitonutrientes.
• Ofereça separadamente chás suaves e mornos de camomila, hortelã, gengibre, erva-doce, lúpulo e observe se desperta interesse.
• Inclua regularmente spirulina, clorella e/ou moringa na dieta de seu pet. Observe como ele responde a cada uma delas. São superpotências nutritivas. Ajudam a preencher lacunas nutricionais desconhecidas que podem estar despertando interesse por lixo, fezes etc.
• Profissionais com experiência em Aromaterapia Animal podem te orientar sobre óleos essenciais específicos (e seguros!) que ajudam a aliviar sintomas em cães (para gatos o uso de óleos essenciais ainda é considerado um pouco controverso). O processo é muito interessante. A depender do sintoma a ser tratado alguns frascos específicos de óleos essenciais são destampados e deixa-se o cão cheirá-los livremente. O óleo essencial que despertar o maior interesse contém as propriedades medicinais úteis para o peludo naquele momento!

Um ótimo site para quem busca aprender mais sobre a auto-medicação dos animais é o caroline-ingraham.co.uk mantido pela expert de renome internacional em Zoofarmacognosia, Caroline Ingraham.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945