Sempre que abordamos a importância de suplementar a Alimentação Natural de cães e gatos recebemos comentários como:
“Na natureza os animais não recebem suplemento.”
“Nunca suplementei a dieta do meu cachorro e ele está ótimo.”
Então, vamos lá:
Lobos e felinos selvagens se alimentam da maneira como a Natureza quer (ou quase, se considerarmos interferências humanas como desmatamento e extinção de espécies) obedecendo a sazonalidade e a geografia. Esses carnívoros consomem boa parte dos tecidos das presas, como pelos/penas (vitamina D e fibras), ossos (cálcio e fósforo), órgãos reprodutores (zinco, vitamina E), dentes de pequenas presas (manganês) e glândulas (como a tireoide, que contêm iodo) – não somente carne. Lobos ainda complementam a dieta com frutos, gramíneas, ovos, fezes de animais e peixes.
Os animais que alimentam canídeos e felinos têm vida livre e acesso a uma dieta igualmente rica e variada. Uma realidade diferente da dos animais criados em confinamento recebendo ração baseada em milho e soja. Um bom exemplo é o pato. Em 450g de carne de pato selvagem temos 931 kcal, 15% de gordura e 17% de proteína. Já em 450g de carne de pato de cativeiro podemos ter 1.814kcal, quase 40% de gordura e 11,5% de proteína 🤯
Podemos buscar fornecedores de animais criados em condições éticas e saudáveis e variar as vísceras e carnes de espécies diferentes. Mas essa infelizmente não é a realidade de muitos.
Grande parte dos tutores vai fornecer AN baseada em carne bovina e frango, fígado como víscera, e alguns vegetais. Nesses casos suplementar é fundamental para prevenir danos à saúde do seu peludo, mesmo que ele aparente estar saudável.
Aliás, casos de deficiência nutricional nem sempre geram sintomas claros. Cães e gatos adultos podem tolerar um longo período de abuso nutricional antes disso se tornar perceptível. Não convém esperar a carência se instalar para só então corrigir a dieta.
Além disso, cães e gatos estão mais expostos a estímulos externos tóxicos, como poluição, metais pesados e contaminantes. Neutralizar esses insultos exige vitaminas, minerais e antioxidantes.
Como determinamos as deficiências nutricionais?
Existem entidades que publicam há décadas diretrizes nutricionais para cães e gatos.
Algumas das mais populares são:
- NRC (National Research Council)
- FEDIAF (Fédération européenne de l’industrie des aliments pour animaux familiers)
- AAFCO (American Association of Feed Control Officials)
Esses órgãos publicam periodicamente boletins com o que se conhece sobre o requerimento nutricional mínimo, recomendado e máximo de vitaminas, minerais, lipídeos, proteína, calorias e ácidos graxos para cães e gatos saudáveis em fase de manutenção, crescimento e reprodução. As entidades baseiam suas diretrizes em evidências científicas, mas elas mesmas reconhecem suas limitações: faltam mais estudos recentes com cães e gatos para melhor determinar os valores de alguns nutrientes. E que requerimentos nutricionais podem ser diferentes para cães e gatos alimentados com ingredientes de alta digestibilidade e biodisponibilidade (como os que geralmente entram na AN).
Mas, como diz a grande veterinária Dra. Karen Becker, “alguma informação é melhor do que nenhuma informação”.
Nutrientes que podem estar em falta na AN
Considerando os requerimentos nutricionais mínimos publicados pela entidade NRC, uma dieta que varia entre carne bovina, frango e suína, um pouco de fígado, batata-doce, cenoura, vagem e um pouco de folhas verde-escuras, servida a um cão adulto possivelmente carece pelo menos de:
- Cálcio (salvo em dietas com inclusão de pelo menos 25-30% de ossos carnudos crus). Indispensável para ossos saudáveis e contração muscular.
- Vitamina E. Presente em maior dosagem no óleo de girassol e em menor quantidade, no fígado. Protege as membranas das células e é imunoestimulante.
- Iodo. Presente em algas, peixes marinhos, tireóide, sal iodado. A regulação do metabolismo depende dele.
- Vitamina D. Sardinhas, gemas de ovos, rim, fígado, banha suína óleo de fígado de bacalhau e cogumelos cultivados ao sol são boas fontes. Participa do metabolismo de cálcio e fósforo e tem grande importância imunológica.
- Zinco. Ostras, mexilhões, fígado, carne bovina e testículos são boas fontes. Fundamental para a saúde reprodutiva, da pele e replicação celular.
- Manganês. Gengibre, amêndoas, folhas verde-escuras e cereais são fontes desse mineral, que é importante para os ligamentos, cérebro e mitocôndrias.
- Ácidos graxos ômegas-3. Encontrado em peixes marinhos de águas frias, fitoplâncton, algas, chia, linhaça. Modulam processos inflamatórios.
Análise de uma dieta bem básica
Vamos supor que a cachorrinha Polly, de 8,5kg e 13 anos, recebesse 450g de uma dieta composta por 150g de peito de frango sem pele, 250g de arroz integral e 50g de cenoura. (Muita gente oferece essa dieta ao seu cão por falta de informação ou teimosia.)
Analisando essa dieta em um software de formulação (Nutrovet) quanto ao teor de vitaminas e minerais, tendo por base os requerimentos mínimos da tabela NRC, vemos que estão faltando: cálcio, cobre, ferro, iodo, selênio, zinco, colina, vitaminas B2, D, E e B12, além de ácidos graxos essenciais ômegas 6 e 3.
Ou seja, há ainda muito mais elementos a suplementar nessa dieta que no exemplo anterior.
Quais podem ser sinais de desequilíbrio na dieta?
- Pelagem quebradiça, opaca, com caspa e/ou com queda excessiva de pelos
- Feridas que não cicatrizam
- Imunidade baixa (maior suscetibilidade a doenças oportunistas e a parasitos, como vermes, pulgas e carrapatos)
- Queda de dentes
- Fragilidade de ligamentos e tendões
- Dificuldades reprodutivas
- Ingestão de terra, tijolo, reboco de parede etc
- Falta de disposição
- Perda de massa muscular
- Envelhecimento precoce
Então, como suplementar?
Para suplementar vitaminas e minerais:
Compre um produto comercial polivitamínico-mineral que comprovadamente equilibre a AN, como o Food Dog ou o Nutroplus, que estão disponíveis para cães e para gatos, filhotes, adultos e sênior. Siga a dosagem indicada no rótulo ou peça ajuda ao vet “nutrólogo” ou zootecnista. Lembre-se de introduzir bem gradativamente o suplemento, aumentando ¼ da dose a cada 3 dias, até chegar na dose completa.
Solicite ao vet “nutrólogo” ou zootecnista que orienta o plano alimentar do seu pet uma receita que inclua os minerais e vitaminas que estão faltando na dieta prescrita. Você mandará aviar essa receita em uma farmácia de manipulação e administrará conforme a orientação do profissional.
Prefere uma maneira natural de suplementar? Prepare-se mais ter mais trabalho e forte adesão.
Procure um vet “nutrólogo” ou zootecnista que atue assim. Você provavelmente será orientado a variar mais a dieta, incluir peças diferentes e alimentos específicos (algas, mexilhões, ossos carnudos crus ou farinha de cascas de ovos, sardinhas, vísceras diferentes, etc) para cobrir as lacunas nutricionais da AN.
Posso usar ração como suplemento?
A dose de premix (suplemento vitamínico-mineral) presente na ração só é o bastante para equilibrar aquela quantidade de ração. Ou seja, se você oferece uma refeição de ração e uma refeição de AN, precisará necessariamente, suplementar a refeição de AN.
Considerações finais
Suplementar é essencial. Não se engane: todos os profissionais sérios recomendam suplementação. Até mesmo vets que defendem suplementação mínima estão suplementando por meio de uma dieta rica e variada e da inclusão regular e estratégica de certos ingredientes.
Escolha a modalidade de suplementação que cabe na sua rotina (e no seu bolso) e à qual seu cão ou gato se adapta melhor. Nós do Cachorro Verde já fomos adeptas de todas, desde suplementação feita exclusivamente com ingredientes naturais, até suplementação manipulada em farmácia e hoje temos feito a utilização racional de suplementos comerciais. Nossas três mascotes, as gatas Lenù e Juju e a cachorrinha Polly são adeptas de AN crua com ossos.
Sylvia Angélico
Médica Veterinária pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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