Inflamar é importante. É graças à inflamação que o corpo reconhece uma injúria, como uma pancada ou uma bactéria invasora, e reage para controlá-la. Cada etapa desagradável da inflamação – dor, inchaço, vermelhidão – é vital para reparar tecidos e restaurar sua função.
O problema é quando a inflamação não cede, cronifica. Nessa situação há uma constante produção de radicais livres, o que aumenta o estresse oxidativo, prejudicando o DNA e a membrana das células. Isso acelera o envelhecimento e aumenta o risco do animal ficar alérgico, diabético, hipertenso, cardiopata, doente renal, ter disfunção cognitiva, catarata, osteoartrose, doença auto-imune e câncer.
A inflamação mal controlada e difusa nos pets é bastante comum. Sabe aquele cachorro que se coça muito, tem dor articular e vira e mexe vomita? E aquele que vive com otite, tem gengivite e toda hora faz cocô mole? Estão cronicamente inflamados.
Mas, o que contribui com a inflamação nos nossos pets? A exposição à poluição, metais pesados, toxinas, pesticidas e herbicidas, produtos de limpeza, ingestão de açúcares e gorduras rancificadas, além de estresse, a disbiose (a “flora” intestinal alterada), o tártaro e o excesso de peso.
Sim, existe uma importante relação entre peso e inflamação. O cão ou gato inflamado faz resistência insulínica, que estimula a formação de gordura. A gordura excessiva acumulada, por sua vez, secreta elementos que perpetuam a inflamação. Assim, o controle de qualquer quadro inflamatório do pet passa pelo manejo do peso.
Cães e gatos portadores de quadros crônicos em geral respondem positivamente ao contato regular com a natureza, correção da disbiose, descanso reparador, manejo do estresse, modalidades como acupuntura, fisioterapia, ozonioterapia e sobretudo quando recebem uma dieta fresca, com menos carboidratos e rica em antioxidantes.
Nós somos os grandes responsáveis pela saúde e bem-estar dos peludos. Aprender a prevenir e manejar a inflamação aumenta o tempo de vida deles com qualidade e reduz dependência de medicamentos fortes.
Prevenindo e combatendo a inflamação
- Peso: mantenha o cão ou gato enxuto, nem gordo, nem magro demais.
- Cuide do microbioma intestinal: não dê antibiótico indiscriminadamente, proporcione contato com a natureza e ofereça alimentos pré e probióticos.
- Proporcione atividade física e mental regular.
- Elimine da dieta carboidratos simples, farinhas e industrializados. Se possível, substitua a ração por uma dieta fresca equilibrada.
- Atenção à boca: escove os dentes do pet e ofereça itens que ajudam a remover o tártaro, como ossos recreativos (www.cachorroverde.com.br/recreativos).
Alimentos ricos em antioxidantes
Antioxidantes neutralizam os radicais livres que geram inflamação e que são produzidos por ela.
- Salsinha e coentro, frescos ou desidratados: adicione uma pitada a uma das refeições
- Folhas verde-escuras: agrião, escarola, couve-manteiga, espinafre, rúcula, sempre triturados podem ser incluídos como 2% a 3% do total diário em gramas de alimento, diariamente
- Spirulina e a clorella: confira postagens completas www.cachorroverde.com.br/spirulina e www.cachorroverde.com.br/clorella
- Amoras, romã e os mirtilos: inclua um pouco de alguma delas, amassadas e cruas, a uma das refeições
- Casca da jabuticaba: riquíssima em bioflavonóides; triture-a e misture um pouco ao alimento.
- Cogumelos: confira a postagem completa em https://www.cachorroverde.com.br/cogumelos/
Cúrcuma e gengibre
Ótimos contra dores, ambos têm efeitos analgésicos, antiinflamatórios, antitumorais e termogênicos graças a ativos como a curcumina e o gingerol.
Sugestão de dosagem para cúrcuma (açafrão-da-terra) em pó (misture ao alimento):
- Cão de porte miniatura (e gato): 1 colherinha de café por dia.
- Porte pequeno: 1 colher de chá por dia.
- Porte médio: 1 colher de sobremesa por dia.
- Porte grande: 1 colher de sopa por dia.
Obs: se possível, fracione a dose em 2 refeições e administre 3 dias por semana. Vai usar cúrcuma fresca (ralada na hora)? Dobre ou triplique essa quantidade. A cúrcuma é mais potente quando associada a gordura e a um pouquinho de pimenta-do-reino (como na receita de Pasta Dourada: https://www.cachorroverde.com.br/pastadourada-2/).
Sugestão de dosagem para gengibre em pó (misture ao alimento):
- Cão de porte miniatura (e gato): 1 pitadinha por dia.
- Porte pequeno: 1 colherinha de café por dia.
- Porte médio: 1 colher de chá por dia.
- Porte grande: 1 colher de chá 2x ao dia.
Obs: gengibre fresco, ralado na hora, é ardidinho e pode ser rejeitado pelos pets. Prefira o gengibre em pó, mais suave, encontrado em lojas de produtos naturais. Quer administrar cúrcuma e gengibre? Intercale ambos (um dia dê um, no outro dia dê a outra).
Abacaxi
Sim, o abacaxi é ácido, com pH entre 3 e 4 – mas é o mesmo pH da maçã. Para pets sem gastrite ou refluxo é seguro consumir um pouco de abacaxi fresco (cru), sem casca.
O abacaxi tem bromelina, enzima que digere proteína e possui efeito antiinflamatório, bactericida e antialérgico. Também fornece bastante vitamina C e beta-caroteno, que fortalecem a imunidade e neutralizam radicais livres.
Calcule quanto é 5% a no máximo 10% do total da dieta do seu peludo em gramas e sirva essa quantidade de abacaxi 2 ou 3 dias por semana, como petisco. Exemplo: minha Polly recebe 300g de dieta natural por dia. A quantidade de abacaxi a servir a ela é de 15g a até 30g por dia.
Caldo caseiro de ossos
Valiosa ferramenta que recomendo ter já pronta e porcionada no freezer, o caldo é excelente para cães e gatos debilitados, inapetentes, desnutridos, com dores articulares, idosos e os que enfrentam mal estar digestivo (vômito, náusea, refluxo, diarreia). E, sim, pode ser servido a peludos saudáveis.
Ele hidrata, é denso em nutrientes, restaura o apetite, “acalma” a mucosa gastrintestinal inflamada e pode ser preparado com várias espécies de animais (frango, codorna, rã, peixe etc). Confira nosso artigo sobre preparo e dosagem: https://www.cachorroverde.com.br/caldo/
Prebióticos e probióticos
Estudos mostram que um microbioma intestinal diverso e abundante é fundamental para o funcionamento da imunidade, metabolismo e processos digestivos. Promova esse complexo ecossistema oferecendo regularmente alimentos com efeito prebiótico e probiótico.
Prebióticos são elementos que as bactérias intestinais fermentam, gerando alimento para elas e para as células intestinais. Estão presentes na maçã, banana, batata-yacón, brócolis e chicória. Já os probióticos são as próprias bactérias do bem, presentes no kefir (https://www.cachorroverde.com.br/kefir/), vegetais fermentados (https://www.cachorroverde.com.br/fermentados/) e iogurte natural.
Ácidos graxos antiinflamatórios
Os ácidos graxos ômega-3 são grandes moduladores da resposta inflamatória. Boas fontes de sua forma ativa (EPA e DHA) são sardinha, cavalinha e manjuba, que sugiro incluir como 15% a 20% do total da dieta 3x por semana, para cães e gatos. Curiosidade: o ômega-3 presente na chia, noz e linhaça é mal aproveitado pelos cães e nada aproveitado pelos gatos.
Uma alternativa ou reforço de ômegas-3 EPA e DHA é administrar cápsulas de óleo de peixe ou de krill – consulte a veterinária sobre a posologia indicada ao seu peludo.
Contraindicações
As informações transmitidas nessa postagem são gerais. Cães e gatos com sensibilidade ou intolerância conhecidas a lácteos, frango, carne bovina etc não devem receber esses alimentos. Pets que comprovadamente formam cálculos urinários de oxalato de cálcio não devem consumir amoras, folhas verde-escuras, cúrcuma, gengibre, batata-yacón, chicória, jabuticaba e salsinha. Diabéticos não devem consumir abacaxi, banana ou maçã.
Se seu peludo possui um quadro crônico, na dúvida, não deixe de consultar sua veterinária de confiança sobre restrições pertinentes à doença e aos tratamentos que ele recebe.
Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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