Muitos alimentos funcionais que a gente consome podem ser oferecidos também aos nossos cães e gatos com os mesmos ótimos resultados. Nesta sequência de posts vou abordar três verdinhas incríveis: a spirulina, a clorela e a moringa.
Bora conhecer suas vantagens, como inclui-los na dieta do peludo e se existem contraindicações? Nessa primeira parte vou abordar a spirulina.
Spirulina: a superpotência nutricional
Microorganismo simples, sem parede celular e pra lá de ancião, a spirulina pertence à família das cianobactérias. Até pouco tempo era conhecida como alga verde-azul, apesar de tecnicamente não ser uma alga. O nome engraçado – spirulina – vem da palavra em latim para “espiral”, que é o formato desse serzinho ao microscópio. Seu nome científico é Arthrospira platensis.
A spirulina vem ganhando atenção nos últimos anos como ingrediente funcional por excelência, mas sua utilização como alimento remonta aos tempos da civilização asteca. E que alimento! Muitos pesquisadores afirmam que a densidade nutricional da spirulina é tão absurda que poderia reduzir drasticamente a desnutrição em populações carentes.
Basta um pouquinho de spirulina na dieta do seu cão ou gato para fazer uma diferença monstruosa no perfil de macro e micronutrientes da dieta dele. A dose de apenas 10g de spirulina em pó concentra (1):
- 35.200UI de beta-caroteno (10x mais que a cenoura!)
- 109mcg de vitamina K (as plaquetas agradecem)
- 16.2mcg de vitamina B12 (4x mais que o fígado!)
- 46mg de cálcio
- 96mg de fósforo
- 8.7mg de ferro (superior ao encontrado em 100g de fígado!)
- 31.9mg de magnésio
- 145mcg de zinco
- 326mcg de manganês
- 40mcg de cromo (ajuda a controlar taxas de açúcar no sangue)
- 166mg de potássio
- 14mcg de iodo
- 64mg de sódio
O site Nutrition Data (2) informa que 10g de spirulina adicionalmente fornecem 82mg de ácidos graxos da série ômega-3!
E de fitonutrientes:
- 17% de C-ficocianina (a proteína mais abundante na spirulina e cheia de propriedades)
- 1.2% de clorofila (que pode ajudar a reverter anemias e a eliminar metais pesados e toxinas)
- 53.100UI de superóxido dismutase (um potentíssimo antioxidante)
- 108mg de ácido graxo gama-linôlenico (gordura com efeito antiinflamatório e antitumoral)
- 50.4mg de carotenoides totais (combatem radicais livres e envelhecimento precoce)
- 10mg de zeaxantina (ajuda a prevenir a catarata)
Sessenta a 70% do peso da spirulina é proteína e ela possui bom valor biológico, alta digestibilidade e é considerada completa para cães, fornecendo os nove aminoácidos essenciais para essa espécie. (Para os bichanos fica faltando a taurina que em toda dieta caseira deve ser suplementada.) Essa riqueza ímpar de nutrientes torna a spirulina perfeita para adicionarmos regularmente à dieta dos pets, inclusive para cães e gatos que não toleram comer fígado. O sabor da spirulina é agradável e geralmente é bem aceita pelos peludos se misturada ao alimento.
Vamos falar em evidências científicas dos efeitos terapêuticos da spirulina?
Um estudo com gatos (3) demonstrou que a administração de spirulina melhorou a atuação dos macrófagos, células que defendem o corpo de bactérias e vírus.
Ela pode fazer até a medula óssea “pegar no tranco”. Em um estudo (4) em cães cuja medula óssea foi prejudicada por quimioterapia e radiação e parou de produzir glóbulos vermelhos e brancos, a spirulina conseguiu a proeza de fazer a medula retomar a produção dessas células.
Por falar em recuperar capacidades perdidas, veja só essa. Cientistas (5) ficaram perplexos quando a administração de C-ficocianina, a principal proteína na spirulina, se mostrou um dos poucos tratamentos capazes de regenerar a bainha de mielina em ratos com encefalomielite. (A bainha de mielina é uma capinha de gordura que envolve as células nervosas e permite a propagação dos impulsos nervosos.) Excelente notícia para pacientes com esclerose múltipla e sobreviventes de derrame, tanto animais quanto humanos, certo?
Nos ratinhos em estado pré-gripal a oferta de spirulina inibiu a multiplicação do vírus e até reduziu a taxa de mortalidade dos roedores por gripe (6). Deve render um tratamento coadjuvante promissor contra viroses felinas e contra quadros respiratórios em cães causados por vírus.
Em outro estudo (7) a spirulina também se mostrou eficaz contra 22 cepas da levedura Candida albicans, a vilã por trás da candidíase vaginal. Isso pode ser boa notícia para cães que sofrem com uma “prima” da Candida, a Mallassezia pachydermatis, que causa otite, um mundo de coceira (e um cheirinho de salgadinho de milho) em muitos peludos.
O cérebro é um órgão muito suscetível à ação de radicais livres e à deposição de uma substância anormal chamada amiloide, o que pode levar à disfunção cognitiva precoce (tipo de Doença de Alzheimer nos cães). Mas até nisso a spirulina pode atuar. Em ratinhos com prejuízo cognitivo essa cianobactéria aumentou a produção de antioxidantes com ação neuroprotetora (8).
O que não faltam são trabalhos concluindo que a spirulina pode ajudar pets diabéticos e com excesso de peso. Cavalos portadores de Síndrome Metabólica Equina, condição similar ao diabetes e que gera obesidade e inflamação sistêmica, emagreceram e sua sensibilidade à insulina melhorou com uma mãozinha da spirulina (9). Até mesmo as mitocôndrias desses equinos se mostraram melhor protegidas contra os radicais livres, o que significa redução de risco do câncer, uma vez que hoje acredita-se que essa terrível doença tenha origem na falência dessas organelas.
Outro estudo mostrou que ratinhos diabéticos que receberam spirulina apresentaram importante redução de citocinas pró-inflamatórias produzidas pela doença. Para melhorar, os bichinhos ficaram melhor nutridos, com taxas sanguíneas mais elevadas de zinco, cobre, ferro, selênio e a produção de enzimas com efeito antioxidante (10).
Considerada uma arma potencial contra o câncer, a spirulina se mostrou eficaz contra células de carcinoma pulmonar humano, sem causar os efeitos colaterais comuns à quimioterapia (11).
Por fim, não podemos deixar de enaltecer os efeitos destoxificantes da spirulina. O aquífero do país asiático Bangladesh é contaminado com arsênico e até meados dos anos 1990 havia pouco a fazer pelos pacientes intoxicados. Até que pesquisadores locais decidiram conduzir um estudo de três meses em que administraram spirulina aos pacientes. E adivinha? Oitenta e dois por cento do pessoal que recebeu a spirulina mostrou grande melhora do quadro (12).
Como incluir a spirulina e suas contraindicações
A dosagem sugerida para cães e gatos é de 50mg de spirulina para cada quilo de peso do animal. Por exemplo, para nossa cadela Maya, que pesa 5kg, a dose sugerida seria de 250mg.
Mas introduza bem devagarzinho a spirulina. Sem pressa. Essa cianobactéria é densíssima em minerais e possui ação de eliminação de toxinas, o que pode causar reações adversas (passageiras) em peludos mais sensíveis, como diarreia, flatulência (gases) e vômitos.
Não tenha receio de começar administrando 1/4 a no máximo 1/2 da dose indicada ao peso do seu pet uma vez por semana, se possível fracionando essa diminuta dose em duas refeições. Depois passe a oferecer duas vezes por semana. Depois suba para três vezes por semana e assim por diante. Esteja atento ao limiar de tolerância de seu amigão. Se seu cão ou gato parece não tolerar bem a dose cheia, mas fica bem com metade disso, respeite. A spirulina não precisa ser administrada diariamente. Duas a três doses por semana já podem fazer uma diferença significativa na dieta e na saúde dos peludos.
Por ser um alimento muito rico em proteína, a spirulina pode não ser indicada a cães e gatos com doença renal avançada. Como é fonte de iodo, a spirulina também não é indicada a gatos com hipertiroidismo (gatos geralmente têm hipertireoidismo; cães mais comumente têm hipotiroidismo e nesse caso é seguro manter a spirulina). Tem dúvidas se a spirulina seria contraindicada à sua cadela ou gata gestante ou um peludo portador de uma doença? Não deixe de consultar sua médica-veterinária de confiança.
Por fim pesquise sempre a procedência da spirulina. Prefira comprar spirulina em pó que foi cultivada em regiões livres de contaminação, como fazendas certificadas de cultivo orgânico. Spirulina cultivada em ambientes poluídos pode se contaminar com resíduos, toxinas e metais pesados. Ah sim, você encontra essa verdinha em lojas de produtos naturais, físicas e online.
Referências
1. http://www.aulamedica.es/nh/pdf/9001.pdf
2. https://nutritiondata.self.com/facts/vegetables-and-vegetable-products/2765/2
3. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8872496
4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11749812
5. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29346320
6. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27067133
7. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29190763
8. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29137190
9. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28771165
10. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30104892
11. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29966973
12. http://www.bvsde.ops-oms.org/bvsacd/arsenico/spirulina.pdf
Não perca na semana que vem nossa próxima postagem sobre a Clorella!
Comunicado do site Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança. Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!