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No livro “Your Cat: Simple New Secrets to a Longer, Stronger Life” (algo como “O Seu Gato: Novos e Simples Segredos para uma Vida mais Longa e mais Forte”, inédito no Brasil), a médica-veterinária norte-americana Elizabeth Hodgkins, conversa exclusivamente sobre gatos. Mas, ao invés das dicas de sempre, ela nos ensina a enxergar o gato pelo que ele é: um predador carnívoro. De acordo com a autora, as doenças crônicas dos felinos domésticos – insuficiência renal, lipidose hepática, cálculos urinários, obesidade, alergias, diabetes, hipertireoidismo, pancreatite – são facilmente evitáveis se passarmos a tratar nossos bichanos como os carnívoros obrigatórios que são.

Elizabeth sabe do que está falando. Por muitos anos ela encabeçou os setores jurídico e de queixas de uma companhia de seguro de saúde para animais de estimação, onde pôde observar as enfermidades que estavam em alta nos felinos das décadas de 80 e 90 e o histórico geral de saúde, moradia e alimentação que era comum a todos esses pacientes.

Fato é que os gatos são naturalmente longevos e saudáveis. Se não os vacinarmos em excesso – prática que traz muitos, mas muitos prejuízos à saúde – e os alimentarmos de acordo com as características fisiológicas de sua espécie, ou seja, uma dieta à base de carnes, ossos, gordura e vísceras cruas, eles  poderão atingir os 20 anos de idade, com saúde. Essa mensagem lógica e otimista  é o tema do livro de Elizabeth, imperdível para todos os fãs de felinos.

Segue um trecho de “Your Cat”, traduzido para o português, que celebra com muita sensibilidade a verdadeira natureza dos gatos.

Vivendo com um Predador

Ter paciência para entender a fisiologia e o estilo de vida naturais do gato traz uma lição: aterar esse estilo de vida resultará em doenças e em problemas comportamentais. Apesar de apresentarem uma inteligência avançada, os gatos domésticos, assim como seus primos africanos de grande porte, não conseguem se ajustar a circunstâncias de manejo altamente anti-naturais. O gato doméstico não é doméstico. O gato doméstico é uma espécie animal de pequeno porte, essencialmente feral, que fez modestas adaptações para viver intimamente com os humanos.

Acho irônica a atração que algumas pessoas têm por manter espécies selvagens de felinos como animais de estimação. O supostamente menos exótico gato doméstico é tão selvagem em sua mente, coração e alma quanto podem ser os ferozes e majestosos grandes felinos. Hoje, amantes conscientes de animais reconhecem que manter um felino selvagem requer enorme atenção às suas urgentes necessidades em relação à dieta certa, o ambiente adequado e o manejo apropriado. Entretanto, presumimos que nossos gatos de casa tenham necessidades muito diferentes  em relação à saúde e ao bem-estar. Essa é uma crença equivocada.

É bem verdade que nosso gato doméstico não é, de maneira geral, uma criatura perigosa capaz de nos ferir e nos matar, como os grandes felinos. Seu porte pequeno e ludibriosa afabilidade o tornam um animal de estimação delicioso e fácil de cuidar. Mas as diferenças entre os gatos domésticos e os leões, tigres, leopardos e inumeráveis outros felinos dos documentários televisivos sobre vida selvagem, pára por aí. O predador que vem nos cumprimentar à porta ao fim de uma estafante jornada de trabalho, que compartilha nossa cama em uma noite fria e chuvosa, e que cochila satisfeito em cima de nosso computador enquanto trabalhamos no escritório é uma antiga, instintiva máquina de caçar. Acredito que os sonhos de nossos queridos felinos de estimação sejam repletos da emoção da perseguição à presa, do conforto de deitar sob o sol equatorial e do cheiro da chuva castigando insistente as tocas forjadas nas copas das árvores. Essa é a menor, a mais gentil herança do gato e é a sua essência física e fisiológica.

Se estivermos determinados a manter nossos gatos felizes e saudáveis por toda a sua naturalmente longa existência, não podemos nos esquecer dessa verdade.”

Nosso Yoshi, SRD, alimentado com dieta caseira carnívora e caçador nas horas vagas