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Eu, particularmente, divido as vísceras (ou miúdos) em dois grupos: em vísceras não-musculares e vísceras musculares. Por vísceras não-musculares entendo órgãos como rim, baço (“passarinha”), testículos, ovários, cérebro (“miolo”), pâncreas e o clássico fígado. Quando digo vísceras musculares me refiro a coração, moela, língua e bucho (“dobradinha”).

Tem dificuldade de fixar que alimentos pertencem a cada categoria? Pense na textura. Vísceras musculares se parecem com carne, com bife. E as não-musculares são mais brilhantes e gosmentas, parecem uma gelatina.

A principal diferença entre os dois grupos, contudo, está na composição nutricional. Vísceras musculares estão mais para carnes, ou seja, são boas fontes de proteína e, em alguns casos, também de gordura. Não são grandes depósitos de vitaminas e minerais, como as vísceras do outro grupo. É por isso que, para cães e gatos saudáveis, recomendo incluir vísceras musculares como complemento à porção diária de carnes desossadas, juntamente com ovos e peixes, outras fontes incríveis de proteína.

Já as vísceras não-musculares devem entrar em quantidade mais modesta. Dependendo da modalidade de Alimentação Natural (AN) elas são incluídas diariamente ou 3x por semana, como 2,5% a até 10% do total em gramas da dieta. Na AN da minha cachorrinha, a Polly, incluo diariamente 7,5% de vísceras não-musculares. Ela recebe 280g de alimento por dia e, dentro desse total, 20g dessas vísceras. Vísceras não-musculares são tão ricas em nutrientes que podem causar diarreia em cães e gatos se oferecidas em quantidade superior a 10%. A oferta excessiva também desequilibra a proporção “cálcio:fósforo” da dieta, de tanto fósforo que fornecem. Por isso, com esse tipo de vísceras, basta um pouquinho para colher muitos benefícios.

Em 100g de fígado bovino temos 318mg de ômegas-3, quase 60mcg de vitamina B12, quase 17.000UI de vitamina A, 4mg de zinco, quase 40mcg de selênio 18mg de magnésio e quase 5mg de ferro, além de praticamente todas as vitaminas do complexo B em doses generosas. Em matéria de ferro, contudo, quem ganha é o baço: 100g fornece quase 45mg de ferro (9x mais que o fígado!). No rim bovino até vitamina D temos: 100g fornecem 32UI, além de 141mcg de selênio. O cérebro também faz bonito: em 100g temos 10mg de vitamina C e 1.225mg de ômega-3.

Gosto de combinar vísceras não-musculares. Metade fígado, que é superpotência, e metade qualquer outra que eu conseguir encontrar. Procuro variar entre vísceras bovinas, suínas e de aves. Dependendo da região do Brasil só encontramos fígado de boi ou de frango. Tudo bem, vá com estes. Já farão uma enorme diferença no aporte nutricional da dieta. Em alguns quadros (nefropatia, cálculos de estruvita, shunt portossistêmico, doenças gastrintestinais, pancreatite) a inclusão de vísceras na dieta deverá ser reduzida e poderá até ser contraindicada, na dúvida, consulte a vet.

Ah! E na quantidade que sugiro (5 a 10% da dieta) e variando as vísceras não percebo risco significativo relacionado ao acúmulo de toxinas, metais pesados etc. Os prós de incluir essas vísceras, a meu ver, compensam e muito!

Sylvia Angélico
Médica Veterinária pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

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