Lendo o livro “The Allergy Solution for Dogs”, escrito pelo médico-veterinário holístico norte-americano Shawn Messonier, me deparei com um breve capítulo muito interessante. Nele o autor discute rapidamente as diferenças entre veterinários holísticos e convencionais, a importância de manter uma mente aberta, e conta como ele próprio conduz o exame físico de seus pacientes.
Traduzi o texto para o português na esperança de que outros amantes dos animais de estimação conheçam essa abordagem complexa e diferenciada e os impactos positivos que ela pode ter na prevenção, no diagnóstico e no tratamento das doenças dos cães e gatos.
“O Que Esperar de Seu Veterinário
O que você deve esperar ao consultar seu veterinário a respeito de um pet com alergia de pele? O tipo de cuidado que o cão receberá depende do veterinário. Um veterinário “100 por cento convencional” que não tenha a mente aberta para as terapias complementares tem uma abordagem, enquanto que um profissional “100 por cento alternativo” que não tenha uma mente aberta para os tratamentos convencionais oferece uma experiência totalmente diferente.
Veterinários que são 100 por cento convencionais sequer consideram terapias como acupuntura, fitoterapia e suplementos nutricionais. Em vez disso, eles se apóiam apenas em medicamentos tradicionais. Alguns desses veterinários não se preocupam muito com o diagnóstico, preferindo em vez disso experimentar diversas medicações e adotar uma abordagem do tipo “vamos esperar e observar”.
Da mesma forma, veterinários 100 por cento alternativos geralmente não estão abertos a usar fármacos convencionais para o alívio a curto prazo da coceira e inflamação. Esses veterinários podem também não se preocupar muito com exames e com o diagnóstico, mas por razões diferentes do veterinário 100 por cento convencional. Eles preferem usar técnicas diagnósticas alternativas e tratar o paciente de acordo com os sinais clínicos.
Praticando a Medicina Holística
Quando apresento palestras a proprietários de cães e gatos, e concedo entrevistas para promover essa série de livros sobre saúde, freqüentemente me perguntam porque mais veterinários não praticam a medicina holística. Acredito que há diversas respostas para essa pergunta.
Em primeiro lugar, os veterinários na verdade não foram treinados para serem doutores holísticos. Poucas, se tanto, faculdades de Veterinária lecionam sobre programas de bem-estar e prevenção de doenças. Escolas de Medicina (Humana) acabaram de introduzir essa informação em seus currículos. Acredito que faculdades de Veterinária eventualmente irão se adaptar a essa filosofia, embora isso ainda demore um pouco.
Os cursos de farmacologia tradicional nas faculdades de Veterinária se concentram apenas nas terapias com fármacos convencionais e ignoram os tratamentos mais naturais, como os remédios fitoterápicos. Embora seja de vital importância conhecer os diversos medicamentos maravilhosos disponíveis, algumas palestras sobre esses tratamentos mais naturais exporiam os estudantes a essas terapias excitantes.
Quando eu estava na faculdade, o foco caía sobre o diagnóstico e o tratamento de doenças por meio do reconhecimento dos sinais e sintomas. Embora certamente seja importante diagnosticar e tratar doenças, é mais importante prevenir o máximo possível delas, que é justamente a abordagem do veterinário holístico.
O segundo motivo pelo qual poucos veterinários praticam medicina holística é que ela demanda tempo, e bastante tempo. Os consultórios veterinários convencionais marcam quatro ou mais atendimentos por hora. Por demorar mais que isso para obter o histórico completo do paciente e criar um programa personalizado de saúde e bem-estar, o consultório holístico atende apenas um ou dois pacientes por hora.
O terceiro motivo pelo qual há poucos veterinários holísticos é o medo. Ainda existem muitos veterinários que acreditam que qualquer tratamento que não seja a medicina convencional é curandeirismo. Eu recebo muita correspondência de veterinários que criticam minha preferência por tratamentos que ainda não foram submetidos a estudos científicos duplo-cego. Embora eu também anseie pelo dia em que mais de nossas terapias complementares possam receber verba para passarem por esses testes rigorosos, eu preciso aceitar os dados clínicos de que dispomos atualmente e fazer o que eu puder para ajudar meus pacientes. Sim, é verdade que certamente existem alguns charlatães por aí, e que há algumas terapias complementares de valor questionável. Mas na maioria das vezes, existem evidências consideráveis em favor do sucesso da maior parte das terapias complementares consolidadas.
Não acho que preciso conduzir testes dispendiosos para demonstrar, por exemplo, que a prática de aproximadamente 4.000 anos da Acupuntura tem mérito. Essa é uma terapia que resistiu ao teste do tempo.
Encontrando um Veterinário Holístico
Você talvez precise fazer um pouco de pesquisa para encontrar um veterinário realmente bom e que partilhe dessa filosofia holística tão necessária. Comece avaliando o atual veterinário de seu cão ou gato. Se ele for aberto a terapias complementares, seu atual veterinário poderá tratar as necessidades básicas de seu pet com uma abordagem holística, e te indicar um veterinário experiente em terapias complementares quando estas forem necessárias. Se seu veterinário não está aberto a uma abordagem holística, encontre um que esteja.
Felizmente, muitos veterinários, mesmo aqueles que não oferecem serviços como acupuntura e fitoterapia, estão usando suplementos nutricionais como parte do tratamento para alergias. Isso significa que seu atual veterinário é capaz de oferecer ao seu pet com artrite, por exemplo, um pouco de terapia complementar básica sem a necessidade de te indicar outro profissional. Tomara que essa tendência de usar suplementos como parte do tratamento de várias afecções continue a se difundir.
Se seu cão ou gato ainda não tem um veterinário, ou caso você não sinta que seu atual veterinário possa tratar seu pet de forma holística, peça indicações a alguém que conheça um bom veterinário holístico. Você também pode consultar a Internet, há muitos veterinários acupunturistas, homeopatas, ortomoleculares, etc, anunciando seus contatos na web.
O importante é se certificar de que o veterinário mantém uma cabeça aberta para uma variedade de terapias complementares e convencionais e que ele ou ela coloca a saúde geral de seu pet em primeiro lugar.
Pergunte ao Veterinário
Independentemente se você irá conversar com seu potencial veterinário pessoalmente ou por telefone, faça perguntas que facilitem a entrevista e a torne mais produtiva. Considere as seguintes amostras de questões como forma de avaliar o veterinário que poderá tratar as alergias de seu pet.
Pergunta: Como você estabelece o diagnóstico definitivo da dermatite atópica?
Resposta ideal: Isso é feito usando de etapas que visam excluir outras alergias, além de uma combinação de exames que incluem raspado de pele, cultura fúngica, biópsia de pele, exames de sangue, incluindo exames da tireóide.
Pergunta: Como você se sente a respeito do emprego de drogas para controlar a coceira?
Resposta ideal: O uso de corticóides ou anti-histamínicos a curto prazo é aceitável quando houver necessidade, e varia conforme o caso. O uso crônico desses medicamentos é limitado àquele raro cão ou gato que não responder a nenhuma outra terapia. Pets que estejam sendo tratados com terapias para problemas crônicos requerem monitoramento dos sinais vitais a cada 2 a 3 meses, e testes laboratoriais a fim de que sejam detectados precocemente efeitos colaterais sérios e potencialmente fatais.
Pergunta: Que tipo de dieta meu pet deve receber?
Resposta ideal: Recomendo a dieta que tenha sido preparada da maneira mais natural possível ou uma dieta caseira.
Pergunta: Como você trata casos crônicos de alergias?
Resposta ideal: Uso suplementos, ervas, homeopatia, e acupuntura e prescrevo medicamentos convencionais por um período curto, quando forem necessários.
Nenhum desses métodos para encontrar um bom veterinário holístico é infalível, mas eles podem fornecer um ponto de partida. Compile uma lista com os nomes e contatos dos veterinários e marque uma consulta para conhecê-los, um a um. É importante que você e o veterinário se entrosem, pois o bom relacionamento com o médico de seu pet é essencial. Certifique-se de que o veterinário apresenta uma mente aberta a uma variedade de terapias convencionais e complementares.
A Visita ao Veterinário
Uma vez que você tenha encontrado o veterinário ideal e marcado uma consulta, é importante entender o que deve acontecer durante sua visita. Se essa for sua primeira visita, espere despender entre 30 a 60 minutos ou mais para a primeira avaliação e testes diagnósticos. A visita é dividida em três partes: o histórico médico, o exame, e a avaliação laboratorial.
O Exame Médico
O histórico que você providenciará é vital para auxiliar o veterinário a abordar seu pet corretamente. O histórico fornecerá ao veterinário pistas sobre quais áreas do corpo merecem particular atenção durante o exame, e o ajuda a selecionar apenas os testes laboratoriais necessários para chegar a um diagnóstico correto. Não é incomum que meus clientes tragam páginas com anotações que eles fizeram em casa, bem como notas e histórico médico de veterinários anteriores para me ajudar em minha busca pelo diagnóstico e tratamento corretos.
O que Deve Trazer Com Você
A fim de extrair o máximo da visita a um veterinário holístico, você deve ser um participante ativo. Comece reunindo os seguintes itens antes da consulta:
Verifique quando foi o início das coceiras de seu animal. Esteja preparado para responder da forma mais aproximada possível há quanto tempo seu pet está incomodado. Se o problema ocorre apenas ocasionalmente, anote as circunstâncias, como: época do ano, se há alguma planta em flor em sua área, ou se você esteve viajando com o animal, ou visitando uma nova área aberta.
Forneça todo o histórico médico do animal, ou traga pelo menos os nomes, endereços, e números de telefones de todos os veterinários que seu cão tenha visitado. Se você estiver se consultando com esse veterinário em busca de uma segunda opinião ou um diagnóstico, traga os resultados de quaisquer exames passados que tenham sido realizados.
Traga notas de todos os tratamentos utilizados, tanto convencionais como complementares (alternativos), e efeitos colaterais que esses tratamentos possam ter provocado em seu cão.
Certifique-se de informar a respeito de qualquer medicação que seu pet esteja tomando, incluindo produtos anti-pulgas e carrapaticidas, vermífugos e etc. Se estiver administrando medicamentos manipulados, traga, se possível, os frascos, para que os rótulos e as prescrições sejam avaliadas. Freqüentemente descubro que a dosagem ou o intervalo não estão corretos. E isso pode ser o motivo por trás de um pet que não responde bem ao tratamento.
Saiba quais são os ingredientes e as quantidades de cada alimento que seu animal consome.
Verifique o estado e a freqüência das fezes e urina de seu pet, bem como outros sinais da saúde geral de seu cão ou gato.
Liste outros problemas de saúde de que seu pet sofra, além da coceira. A existência de outros problemas pode excluir um diagnóstico de atopia, por exemplo, ou simplesmente indicar que o pet esteja sofrendo de uma afecção adicional, o que não é incomum.
Verifique se você, outros animais e pessoas da casa, não apresentam sinais ou lesões de pele.
O Exame
Depois de perguntar sobre o histórico médico e outras questões importantes, seu veterinário dará início ao exame físico. Eu gosto de dividir o exame físico em duas partes: o exame físico geral e o exame da pele.
O exame geral me permite avaliar corretamente o animal, dos dedos à cabeça. Durante esse exame, eu meio que ignoro a queixa principal de coceiras e doenças de pele a fim de detectar quaisquer outras alterações existentes. Às vezes, esses outros problemas estão relacionados à coceira; às vezes eles apenas calham de ocorrer junto com a doença de pele.
Por meio de um minucioso exame do paciente, estou de fato oferecendo um cuidado holístico. Por exemplo, suponha que durante o exame físico eu descubra que o cão, que originalmente foi trazido para tratar de uma coceira, apresenta um sopro cardíaco indicativo de doença cardíaca, ou ainda, apresenta um tumor que pode ser maligno. Esses problemas não podem ser ignorados e podem inclusive ter prioridade sobre o problema original. Por esses motivos, todos os meus pacientes requerem e recebem um exame físico minimalista, mesmo em se tratando de quadros “simples” como o de uma coceira.
A segunda parte do exame envolve a avaliação da pele. Esse exame dermatológico permite que eu me concentre na queixa principal trazida pelo proprietário. Durante essa parte, eu observo o pet em descanso para ver se ele exibe ali, na hora, sinais de coceira como lambeduras das patas, mordidas, esfregar-se contra objetos , etc. A maior parte dos cães com coceira leve não exibe esses sinais no consultório, enquanto que os pets com coceira de moderada a severa frequentemente se coçam, seja lambendo, mordendo, usando as unhas das patas traseiras ou se esfregando, enquanto converso com o proprietário.
Depois de observar o pet em descanso, eu gosto de examiná-lo bem de perto. Isso envolve inspecionar a pele, toda ela, de todos os ângulos possíveis. Olho o pet todo novamente, da cabeça aos pés, mas dessa vez me concentro na pele. Ao examinar todo o corpo, encontro lesões antigas já curadas e novas também. Também consigo determinar o grau de inflamação e examinar a pele em busca de parasitos. Também gosto de observar as condições gerais da pelagem, bem como as áreas específicas de pêlos que circundam as regiões onde a pele apresenta alterações.
Presto particular atenção àquelas áreas do corpo mais comumente afetadas nos pets com dermatite atópica: as axilas, o abdômen, as patas, e a virilha. Em todos os pets com histórico de coceira, examino os ouvidos, freqüentemente vermelhos e inflamados e infectados secundariamente com leveduras ou bactéria.
Uma vez que é importantíssimo que eu veja como está a pele em seu pior estado, peço aos proprietários que não dêem banho ou limpem os ouvidos do pet alguns dias antes da visita. Não quero que os donos eliminem ou minimizem as lesões de pele que tanto me ajudam a formular um diagnóstico correto. Eu sei que é difícil para os donos não darem banho em um pet cuja pele e pelagem possam estar com mau aspecto e mau odor, mas sumir com as evidências prejudica minha investigação para determinar a causa exata dos problemas do animal.
A parte final do meu exame envolve a inspeção da pele com lente de aumento. A olho nu, é fácil deixar de notar pequenas lesões; iluminação correta e lentes de aumento são essenciais para conduzir um exame dermatológico adequado. “
Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!