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Em dois meses, o Cachorro Verde, fruto da parceria com minha amiga Vanessa Fermino, completa 17 anos. Isso tem me feito refletir. Em 2008, descobri a Alimentação Natural (AN) crua pelo orkut, pelas experiências da @caonutrido e acaloradas discussões do @arturvasconcelos.vet com gente graúda da nutrição pet acadêmica – nós três éramos estudantes de veterinária.

Em poucas semanas, percebi nos meus cães o profundo impacto da AN, o que me inspirou a criar o blog Cachorro Verde. Naquele tempo, poucos colegas atuavam com AN, e o mercado pet de São Paulo oferecia uma única opção que não prosperou. Mas mal sabia eu que compartilhar informações gratuitas sobre AN incomodaria interesses poderosos. Em 2009, fui ameaçada por uma grande fabricante de rações e concordei em remover alguns artigos do site.

Ainda em 2009, iniciei a pós-graduação em Nutrição de Cães e Gatos na Universidade Federal de Lavras, sob a orientação da Profa. Flávia Saad. Essa experiência me trouxe base em bioquímica, fisiologia, processamento de alimentos e formulação. Abandonei alguns dogmas de autores mais ferrenhos de AN e, inspirada pela Profa. Flávia, abracei também a AN Cozida.

Formada, passei a atender consultas de AN, mesmo com colegas afirmando que a demanda era minúscula e eu não conseguiria me sustentar. Ia à casa dos clientes munida de um tablet com Excel. Em 2017, novo percalço: o Conselho Regional de Medicina Veterinária decidiu investigar duas denúncias contra mim – uma direcionada ao site do Cachorro Verde e outra à consultoria online nutricional que há algum tempo eu já fazia. Dois anos de defesa brilhante da minha amiga Rachelle Balbinot depois, pude manter o site, mas precisei parar de atender online. (Após a pandemia, felizmente, o exercício remoto foi regulamentado.)

Nessas quase duas décadas conheci meus heróis – Profa. Flávia Saad, Rodney Habib, Karen Becker, Profa. Mitika Hagiwara – e fiz amizades verdadeiras – Carmen Cocca, Kathleen Schwab, Artur Vasconcelos, Flávia Uchôa e Camilli Chamone. Falei sobre AN em mais de 13 capitais brasileiras. Acompanhei com orgulho a expansão da AN no Brasil e sua crescente aceitação pelos veterinários. Divido com vocês meus aprendizados mais importantes.

Não existe uma modalidade milagrosa de dieta Inspirada pelo resultado da AN crua com ossos nos meus próprios animais e pela assertividade de autores como Ian Billinghurst e Tom Lonsdale, apostei que todo paciente colheria os mesmos benefícios. Mas a minha experiência mostrou que indivíduos sensíveis à gordura, disbióticos e com baixa secreção de ácido clorídrico tendem a tolerar melhor dietas cozidas, sem ossos. Atuar com modalidades diferentes de AN – cozida, com ou sem carboidratos, com e sem ossos, crua – ampliou minhas chances de ajudar mais pacientes.

Escutar e comunicar Uma escuta atenta e acolhedora às particularidades do animal e até mesmo à personalidade e rotina do humano pode determinar o sucesso da estratégia dietética. Igualmente importante é comunicar as orientações de maneira clara e tranquila. A dieta tem mais chances de surtir o efeito desejado e causar menos intercorrências quando elaboro um plano alimentar alinhado com a realidade do cliente e quando ele se sente motivado e capaz.

Encontrar a cliente no meio do caminho Atendo clientes de diversos perfis, idades e localidades no Brasil e no mundo. Tutoras já muito bem informadas sobre AN e cuidados naturais, e também tutoras que nunca receberam orientações diferentes do convencional com relação à dieta e manejo e para os quais naturalmente todo o meu discurso é novidade. Não me importo em explicar conceitos e evito indicar condutas iniciais que possam intimidar ou parecer complexas demais.

Atender, mas sobretudo acompanhar Atender bem é importante. Mas a nutrição se desenrola no dia-a-dia. O tratamento com o qual trabalho – comida! – não é administrado pontualmente ou por pouco tempo. É servido duas a três vezes ao dia, diariamente, enquanto o bicho viver. Portanto, mais importante que a consulta, a meu ver, é o acompanhamento. É através do diálogo regular que mantenho com as clientes que buscamos alternativas e vamos ajustando a dieta e suplementação, quando necessário.

Viver o que promovo Sei bem como é preparar em casa AN para vários cães e gatos. Desde 2008, vivo a experiência de alimentar cães de diversos portes e idades com AN crua com ossos, crua sem ossos e cozida. Tenho em casa Food Dog, Nutroplus e fórmulas nutracêuticas aviadas em farmácias de manipulação. Priorizo repelentes naturais, como produtos à base de neem. Submeto meus pets ao exame de titulação de anticorpos vacinais e realizo imunização racional quando necessário.

Uso ponderado das redes sociais Não é de hoje que uma “treta” tem mais chance de viralizar do que uma postagem bem pesquisada. O Instagram lamentavelmente vem concedendo cada vez mais visibilidade a conteúdos de cunho sensacionalista e muitas vezes até irresponsável. Mesmo assim, sigo postando meus “textões” à revelia do algoritmo. Opiniões diferentes são bem-vindas nessa página; ofensas são restritas. E me recuso a dar engajamento aos haters.

Talvez eu não possa te ajudar Há casos em que o peludo não tolera nenhuma estratégia dietética que indico. Nessas situações o pet pode precisar de um tratamento alopático racional para ser reapresentado à AN em um contexto mais favorável. Como minha atuação é somente nutricional, recomendo um bom veterinário gastroenterologista para conduzir essa etapa. Também já houve casos, felizmente raros, da relação com o cliente não dar samba. Já fui “despedida” e também já “despedi” clientes. Faz parte. 🤷🏽‍♀️