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Minha amada companheira, eu sabia que este dia chegaria. Mas, mesmo apĂłs passar o Ășltimo ano observando com angĂșstia e um certo desespero sua chama se apagando, confesso que acreditei que terĂ­amos mais um pouco de tempo juntas. Mais alguns cochilos juntas no sofĂĄ. Mais porçÔes de pipoca compartilhadas. Mais voltas tranquilas pelo quarteirĂŁo que vocĂȘ tanto investigava com seu nariz minucioso. Mais algumas pequenas viagens, para caminharmos no mato e nos aconchegarmos em redes.

A vida sem vocĂȘ estĂĄ vazia. Quando tomo banho, lembro de quando te dei banho (ou melhor, “nos demos banho”) nesse box. Me pego cheirando o seu peitoral dos passeios. Perder um animal que compartilha cada instante da nossa vida Ă© diferente de perder alguĂ©m que vemos apenas de vez em quando. Em cada despertar e em cada adormecer, vocĂȘ estava ali, na sua cama azul, ao lado da minha. Uma presença gentil que ocupava um espaço imenso.

Admito, nĂŁo sem um pouco de vergonha, que eu nĂŁo tinha grandes expectativas com sua chegada. Era 2011, tĂ­nhamos um quintal grande e a Corah, uma Golden jovem e agitada, que havia perdido sua companheira de brincadeiras. Como Ă© comum, vira-latas adultos, de pelagem curta e preta, com orelhas de morcego, nĂŁo sĂŁo facilmente adotados. E vocĂȘ era terrĂ­vel. Cerca de trĂȘs anos, virava latas de lixo, caçava ratos, adorava comer o granulado sanitĂĄrio dos gatos, e passeava feito uma capivara desgovernada. Nenhum portĂŁo te segurava.

Ano apĂłs ano, porĂ©m, vocĂȘ nos surpreendeu e foi extrapolando o papel de parceira de bagunça da Corah. Sempre tĂŁo amiga de pessoas de todas as idades e tipos, e de outros cachorros tambĂ©m. Perdemos o Oliver, um Sheltie. Na pandemia, se foram a Corah e a salsichinha, Maya. Todos jĂĄ bem velhinhos. VocĂȘ foi nossa doguinha Ășnica por quase quatro anos. E, justamente nesse perĂ­odo, entre seus 12 e 16 anos, vocĂȘ chegou ao auge. Que companheira extraordinĂĄria, generosa e dedicada vocĂȘ foi. Nosso entendimento nunca esteve tĂŁo afinado. VocĂȘ era como aquele moletom preferido, que vestimos assim que chegamos em casa num dia ameno. Nossos passeios pelo bairro eram o momento mais gostoso dos meus dias.

Nesses anos de sua aposentadoria, vocĂȘ acolheu dois gatos: a filhote Lenu, que virou sua neta e estĂĄ devastada com sua partida, e Frajola, o adulto traumatizado. Fizemos viagens inesquecĂ­veis a Gonçalves, Socorro e Ubatuba. Em dezembro passado, vocĂȘ fez sua Ășltima trilha. Este ano foi difĂ­cil. Aos 15 anos e tantos, minha companheira de aço envelheceu de repente. Seus rins, coluna e sistema nervoso se renderam ao tempo. Foi um ano de luta, exaustivo, com trĂȘs veterinĂĄrias maravilhosas ajudando a cuidar de vocĂȘ e muitas modalidades de tratamento. Esta semana, vocĂȘ se foi, dormindo, como merecia. Ficamos com um misto de gratidĂŁo, alĂ­vio e uma saudade dilacerante.

Muito obrigada por tanto amor, querida Polly. A vida ao seu lado foi mais leve e deliciosa. Manda um abraço nosso para toda a turminha original do Cachorro Verde.

Sylvia Angélico
MĂ©dica VeterinĂĄria
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

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