Tudo o que entra na boca dos nossos pets – comida, incluindo petiscos, água e brinquedos – merece uma seleção atenta. A lista de ingredientes, a presença de aditivos químicos, o método de processamento e até o país de origem dos componentes – tudo isso importa.
Nos últimos 15 anos, o FDA (Food and Drug Administration, agência federal nos Estados Unidos) recebeu mais de 6 mil de relatos de pets supostamente intoxicados por bifinhos. Em 2014, a entidade se uniu ao CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e verificou que bifinhos produzidos na China provavelmente eram a causa da intoxicação. O elemento causador não foi isolado, mas a investigação encontrou contaminantes potencialmente prejudiciais, como resíduos de antibióticos e antivirais, traços de melamina, níveis excessivos de glicerina, além de erros de rotulagem. A situação alarmou os Estados Unidos e levou muitos consumidores e até grandes franquias de pet shops do país a recusar petiscos produzidos na China.
Sabe aqueles “ossos” de couro bovino? Um estudo científico finlandês publicado agora, em fevereiro de 2023, avaliou que filhotes de cães que roem esses “ossos” pelo menos 2x por mês têm risco significativo de desenvolver doença gastrintestinal. Isso, pela baixa digestibilidade do couro e presença de substâncias tóxicas que detonam a mucosa digestiva. Em 2017, o FDA suspendeu a venda de petiscos de couro bovino contaminados com amônia quarternária (!).
Ano passado, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) encontrou monoetilenoglicol, aditivo de baterias e motores de carro e geladeiras, em petiscos para cães. A lei permite o uso do aditivo propilenoglicol em alimentos, para manter maciez e conservação, mas jamais o monoetilenoglicol, altamente tóxico aos rins e ao sistema nervoso se ingerido. Ao menos 54 cães morreram, mas o número real pode ter sido o dobro.
Recomendo fugir de ossos defumados, “ossos” e palitos de couro, subprodutos de milho, soja e trigo (farinhas alergênicas), nomes difíceis de pronunciar e siglas – como propilenoglicol, BHT e BHA.
Pedacinhos de alimentos nutritivos que seu pet tolera bem são boa pedida. Veja algumas idéias a seguir:
Frutas
Frutas fornecem vitaminas, fibras, antioxidantes e água. Muitos cães – e alguns gatos – as apreciam. Todas as frutas são permitidas, com exceção de uvas e carambolas, mas a maioria dos tutores fica só na maçã e banana.
Goiaba, amoras, kiwi, abacaxi, avocado (não é tóxico), pêssego, melão são opções valiosas para ampliar o leque. Remova caroços engolíveis (de pêssego, manga e ameixa etc), sirva frutas com moderação e atente à reação do seu pet.
Obs: gatos costumam se interessar por mamão.
Legumes
As frutas roubam a cena, mas pedacinhos de vegetais rendem ótimos e crocantes petiscos, igualmente ricos em fibras e antioxidantes e mais pobres em açúcares. Experimente oferecer pedacinhos crus de salsão (aipo), cenoura, brócolis, broto moyashi, couve-flor, abobrinha, pepino e tomate ao seu cão. Muitos apreciam também talinhos de alface e rúcula.
Lácteos fermentados
Eu não recomendo dar leite, esse, sim, pode causar diarréia nos pets. Mas pela minha experiência, a maioria dos cães e gatos tolera muito bem um pouco de lácteos fermentados, como iogurte, coalhada e kefir. Esses alimentos contêm menor teor de lactose, que é consumida no processo de fermentação, e são boa fonte de probióticos e vitaminas K e do complexo B. Sirva puro, sem adoçar.
Ovos
Taí um alimento que eu gostaria que todo cão e gato consumisse regularmente. O ovo é uma fonte de proteína de inigualável qualidade e contribui colina, que faz bem ao cérebro, e enxofre, que favorece as unhas e a pelagem, além de zeaxantina e luteína, dois poderosos antioxidantes. Ofereça ovo de galinha ou de codorna cru, cozido por 4 minutos e até mexido com um pouquinho de azeite, banha ou manteiga.
Pedacinhos de carne
Sempre que estou preparando alguma carne (de boi, de aves, suíno, de peixes, frutos-do-mar) separo um pouquinho para oferecer à minha cachorrinha e gatos.
Nem preciso dizer que esse é o petisco preferido da turminha carnívora aqui de casa, né? Até casquinhas de camarão, fonte natural de glucosamina, um protetor articular, são apreciadas.
Pedacinhos da “nossa comida”
Como não gosto que meus bichos fiquem pedindo comida à mesa, não é sempre que dou, pra não criar o hábito, e prefiro oferecer no final da minha refeição, assim também não dou mais que um teco.
A Polly adora ganhar um pouquinho de pipoca (e não, não engasga), um pedacinho de queijo minas ou a pontinha da tapioca com ovo mexido que eu como no café-da-manhã.
Quanto oferecer?
Petisco deve sempre ser uma mini porção de um agrado. Não deixe passar de 10% do total de alimento oferecido por dia.
Se a minha Polly come 300g de Alimentação Natural por dia, dou como extra até cerca de 30g de petiscos (10% de 300g) a ela diariamente. Por exemplo, 2 ovinhos de codorna e 1 cubinho de fruta. Ou 1 colher de sopa de kefir e mais 1 cenourinha baby crua.
Contraindicações
Os alimentos citados nessa postagem são geralmente seguros a cães e gatos saudáveis, mas reações individuais de intolerância ou sensibilidade podem acontecer.
Há cães alérgicos a cenoura, outros não toleram ovo. É questão de testar, sempre em pequenina quantidade, e observar.
Se tiver dúvida sobre alimentos contraindicados a um pet portador de quadro crônico, como formação de cálculos urinários ou diabetes, consulte sua médica-veterinária de confiança.
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Referências:
1. The effect of puppyhood and adolescent diet on the incidence of chronic enteropathy in dogs later in life, fevereiro de 2023. (https://www.nature.com/articles/s41598-023-27866-z)
2. Jerky pet treats: Anatomy of an investigation and lingering concerns, 2018. (https://www.foodsafetynews.com/2018/12/jerky-pet-treats-anatomy-of-an-investigation-and-lingering-concerns/)*
3. U.S. Food & Drug administration. United Pet Group Voluntary Recalls Multiple Brands of Rawhide Chew Products for Dogs Due to Possible Chemical Contamination. (https://www.fda.gov/safety/recalls-market-withdrawals-safety-alerts/united-pet-group-voluntary-recalls-multiple-brands-rawhide-chew-products-dogs-due-possible-chemical?source=govdelivery&utm_medium=email&utm_source=govdelivery#recall-announcement) (2017).
Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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