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Frango e carne bovina têm lugar cativo na Alimentação Natural (AN) dos cães e gatos, refletindo a preferência de consumo dessas carnes pelas famílias brasileiras. Já o peixe, pelo que observo nos atendimentos, continua de fora da dieta de muitos peludos.

As razões para isso são várias. Quem não tem o hábito de comprar peixe para consumo próprio muitas vezes acaba não comprando para o pet. Além disso, o “cheiro de peixe” incomoda algumas pessoas, outras comentam que peixe cozido não rende e que seu custo é alto.

Mas, motivos não faltam para torná-lo mais presente na AN do pet. Peixe é uma excelente fonte de proteína magra e fácil de digerir. Algumas espécies, como a sardinha e a manjuba, fornecem generosamente ácidos graxos ômegas-3 na forma ativa EPA e DHA – e até vitamina D. Além disso, muitos cães e gatos curtem comer um peixinho.

Aliás, sempre considerei curioso o apreço peculiar dos bichanos por pescados, considerando que descendem de um felino do deserto africano obviamente sem acesso a peixe. É provável que tenham desenvolvido o gosto por pescados durante a domesticação, quando foram apresentados a muitos alimentos diferentes. Outra hipótese envolve a habilidade dos gatos em identificar a presença de nutrientes interessantes nos alimentos. Os peixes, em especial de água salgada, são ricos justamente em taurina, aminoácido essencial para a saúde dos felinos.

Observando cuidados que detalho nesse post, é possível oferecer alguns peixes crus e também pequenos peixes completos – com toda sua complexidade de tecidos, vísceras, glândulas e, sim, espinha. Presas completas. Quem prefere, claro, pode servir somente a posta (o filé sem espinhas) e cozida. Até mesmo a oferta de peixe enlatado (sem óleo) é permitida, embora seja muito menos interessante que servir peixe in natura. O orçamento está apertado? Obtenha cabeças de peixe em peixarias e use-as para enriquecer a dieta; são crocantes e nutritivas. Ou prepare caldo de peixe – os pets mais gulosos costumam gostar.

Ômega-3

Peixes marinhos de águas geladas concentram ácidos graxos ômegas-3 EPA e DHA, nutriente essencial com efeito antiinflamatório, cardio e neuroprotetor. Manjuba, cavala e sardinha são ótimas fontes; salmão também, mas somente o selvagem. A inclusão desses peixes como pelo menos 10% do total em gramas da dieta do cão e do gato saudáveis, 3x por semana, dispensa a administração de óleo de peixe em cápsulas com a vantagem de fornecer diversos outros nutrientes.

Outros peixes

Abadejo, robalo, dourado, namorado, trilha etc. Independentemente de ser boa fonte de ômega-3, peixe é fonte de proteína de excelente qualidade e também de minerais. Espécies menores e de espinhas curtas e flexíveis, como lambari, manjuba e sardinha, nos oferecem a oportunidade de servir uma presa completa aos nossos carnívoros de estimação. Só maneire em atum, cação e espada; esses concentram mais metais pesados por estarem no topo da cadeia alimentar.

Quanto?

Comece incluindo peixes ricos em ômega-3 como 10% do total diário de alimento do cão ou gato, 3x por semana. É importante começar oferecendo pouco e ir aumentando gradualmente; alguns pets vomitam ou têm fezes amolecidas ou com muco se consomem muita sardinha ou cavalinha de uma vez. Peixes magros, como linguado, tilápia e merluza, podem ser oferecidos mais livremente na porção de carnes; mas atente para o fato de serem pouco calóricos.

Espinhas

Espinhas são fonte de colágeno. Em 16 anos de experiência com AN não testemunhei casos de pets que tenham engasgado seriamente com espinhas de peixe. Maya, Teckel de 5kg que vivia comigo, comia sardinha e depois mastigava com gosto o espinhaço crocante. Mas há cuidados a considerar. Prefira servir peixes pequenos, com cerca de até um palmo de comprimento. E não ofereça peixe com espinhas a pets com dificuldade de deglutição – salvo se triturados em processador.

Inteiro

O peixe completo contém vísceras, glândulas, olhos, cabeça, nadadeiras, pele, escamas, órgãos reprodutores, vasos sanguíneos e espinhas. Uma abundância de nutrientes. Experimente servi-lo ao peludo. Se ele rejeitar, corte um pedaço do peixe completo, triture com uma carne que ele gosta e ofereça. Alguns cães e gatos rejeitam peixe cru, preferem grelhado ou assado – faça o teste. As espinhas de peixes pequenos não se tornam perigosas se cozidas.

Cru?

Sardinha e arenque crus têm tiaminase, enzima que degrada a vitamina B1. Por esse motivo recomenda-se restringir a oferta desses peixes quando crus a 3x por semana ou servi-los cozidos, já que a cocção destrói a tiaminase. Salmão e truta selvagens (não de cativeiro) crus podem transmitir a bactéria Neorickettsia helminthoeca, portanto sirva esses sempre cozidos. Recomenda-se congelar qualquer peixe cru por 7 dias antes de servir (https://www.fda.gov/media/80777/download).

Outras formas

Para tutores que não suportam manipular peixe uma idéia é servir sardinha em lata. Compre sardinha no óleo, sem tomate. O peixe vem cozido e com as espinhas presentes, mas derretidas pelo cozimento. Basta abrir, desprezar o óleo e servir. Muitos pets que rejeitam sardinha in natura adoram a enlatada. Cabeças de peixe também podem ser obtidas, muitas vezes de graça, e incorporadas como 1/4 da porção de carne da dieta, algumas vezes por semana. Nutritivas e crocantes.

Considerações Finais

Peixe é uma ótima opção de carne e merece figurar na dieta do seu pet. No caso dos peixes ricos em ômega-3, basta um pouquinho (10% do total da dieta, 3x por semana) para fazer um impacto significativo no perfil nutricional. Ofereça cozido (assado, grelhado etc) ou cru, observando os cuidados acima.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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