Outubro é um mês cheio de ocasiões especiais, né? Dia das Crianças, Dia Mundial da Alimentação. E é também o mês internacional da conscientização do câncer de mama, o Outubro Rosa. Vamos conversar um pouco sobre tumor mamário e também sobre como prevenir tumores em geral, em cães e gatos?
De acordo com estudos, infelizmente o tumor mamário é o tipo de neoplasia mais comum em cadelas e o terceiro tipo mais frequente em gatas. Muito raramente também pode acometer machos de ambas as espécies (1).
Peludas de raça parecem ter uma incidência maior de tumor mamário do que as sem raça definida, de acordo com um estudo que avaliou quase dois mil casos da doença (2). Poodle, Cocker Spaniel, Schnauzer, Yorkshire Terrier, Dobermann e Pastor Alemão estão entre as raças que mais comumente desenvolvem a doença (2, 4). O tumor é diagnosticado mais frequentemente quando a cadela tem entre 9 e 12 anos de vida, seguido pelo diagnóstico realizado quando a fêmea tem entre 5 a 8 anos. Em cerca de até metade das ocorrências o tumor é benigno.
O que podemos fazer em relação ao câncer de mama em pets? Muita coisa. Mas muita mesmo. A prevenção de qualquer tumor nos nossos bichos, não somente o mamário, passa inevitavelmente pela questão do estilo de vida: alimentação saudável + atividade física + manejo do estresse + redução da exposição a toxinas + peso adequado.
Antes que você responda “ah, mas eu castrei minha cadela/gata antes do primeiro cio, ela jamais terá tumor mamário”, preciso te contar que infelizmente já atendi alguns casos de cadelinhas castradas aos 2-3 meses de vida e que ainda assim apresentaram câncer de mama. Mais de um estudo (2, 3, 4) aponta que mesmo fêmeas castradas cedo podem ter neoplasia mamária.
Adicionalmente, a remoção total dos órgãos reprodutivos em cães novinhos tem sido questionada pela comunidade científica como uma conduta que pode, no conjunto, acabar sendo mais prejudicial à saúde dos pets do que benéfica. (Para quem arregalou os olhos ao ler essa informação seguem apenas algumas referências científicas: 5,6,7,8,9.) Mas esse é um assunto complexo e que precisa e merece ser desenvolvido com carinho e cuidado em uma outra postagem, mostrando todos os lados dessa discussão e os prós e contras da castração de filhotes e adultos.
Como eu dizia, temos um universo de medidas a explorar! São condutas que você pode ir implementando no cotidiano do seu peludo, uma por vez até todas (ou a maioria delas) se tornar mais um hábito. Isso é atuar no campo da Epigenética, a parte da genética que a gente controla e que é influenciada diretamente pelas escolhas que a gente faz no dia-a-dia. Sim, estudos mostram (10) ser possível silenciar genes relacionados ao desenvolvimento de doenças. Até mesmo doenças como o câncer de mama.
Dieta e peso saudável
Considere passar sua cadela ou gata para a Alimentação Natural (AN). Faz muito mais sentido alimentar nossos peludos com carnes, vísceras e vegetais frescos e variados. Grande parte das rações é baseada em soja. Por conta disso, concentram quantidades de fitoestrógenos elevadas o bastante para interferir na saúde hormonal de nossas peludas, predispondo, por exemplo, ao câncer de mama (11). Isso sem contar o risco que as toxinas fúngicas presentes no milho e na soja representam ao sistema endócrino, imunológico e reprodutivo dos nossos animais (12).
Minha preferência é por dieta preparada em casa, claro que devidamente balanceada e suplementada. Mas hoje em dia não faltam no país empresas com registro no MAPA comercializando boas opções de AN nas modalidades cozida, crua sem ossos e até crua com ossos. Se você não pode ou por qualquer motivo não gostaria de preparar a dieta do seu cão ou gato em casa, faça sua lição-de-casa. Use o Google e as redes sociais para pesquisar opções mais saudáveis.
Ainda está reticente? Não deixe de assistir ao ótimo documentário Pet Fooled, disponível no Netflix.
Mas não pense que basta garantir refeições saudáveis para reduzir o risco de câncer do pet. É preciso maneirar no tamanho das porções (não oferecer comida além do necessário para ele se manter no peso saudável), evitar excesso de carboidratos (eles patrocinam inflamação e alimentam fungos e células tumorais) e não oferecer petiscos inadequados. Hora de repensar a oferta de pão, bolo, borda de pizza, bolachas e até mesmo excessos na oferta de frutas.
É importante manter seu cão ou gato no peso adequado, nem acima, nem abaixo. Pets com sobrepeso e obesos têm risco muito maior de desenvolver tumores, além de diabetes mellitus, hipotiroidismo, artrose, pancreatite e doenças cardiovasculares.
Atividade física e manejo do estresse
Cães e gatos têm instinto de caça e adoram simular o ato de perseguir a presa. A atividade física proporciona esse estímulo. Quando feita de forma regular também intensifica o vínculo pet-tutor, tonifica os músculos, lubrifica as articulações, previne diabetes e obesidade, acalma os nervos e de quebra estimula a sede, o que também ajuda a prevenir quadros como cistite (infecção urinária) e formação de cálculos urinários.
Quem se exercita regularmente possui taxas mais elevadas de antioxidantes endógenos (produzidos pelo próprio organismo) e níveis mais saudáveis de glicose, insulina e gordura no sangue. O mesmo vale para nossos totós e bichanos. É da junção desses benefícios que vem a grande proteção do exercício físico contra o câncer. Existe uma correlação direta entre taxas menores de insulina e glicose circulantes e a diminuição do risco de câncer (13).
Outro ponto importante é que se movimentar reduz o estresse. Embora seja uma resposta normal do organismo, o estresse deprime o sistema imunológico e enche o fígado de açúcar – dois enormes fatores de contribuição para o surgimento de tumores.
O exercício pode durar meia hora ou mais de uma hora. Vai depender do condicionamento físico do animal, da necessidade que ele tem de praticar exercícios e, claro, da sua disponibilidade de tempo. Mais importante que a duração do exercício é a regularidade. É melhor exercitar seu cão ou gato vigorosamente durante 20 a 30 minutos todos os dias do que apenas por uma hora duas vezes por semana.
Com muita paciência e recompensa, alguns gatos podem ser acostumados a passear na guia. A forma mais convencional de exercitar os bichanos, contudo, é com brincadeiras diárias usando varinhas, ratinhos de brinquedo, lanterninhas laser e enriquecimento ambiental (prateleiras nas paredes, postes de arranhar com tocas, esfregando nas coisas dele o catnip – a irresistível erva-do-gato etc).
Redução da exposição a toxinas
Todos nós – humanos e pets – vivemos em meio a contaminantes e poluentes presentes na água, nos alimentos e no ar. Mas coloque-se no lugar do seu peludo por um momento e você verá que seu pet enfrenta uma carga drasticamente maior de poluentes e toxinas do que você.
Se você fosse um cachorro seu médico muito provavelmente recomendaria que você tomasse um medicamento para matar parasitos intestinais, o vermífugo, a cada 1-6 meses, dependendo do protocolo. Mesmo sem saber se você apresenta vermes ou não. Vermífugos podem afetar negativamente o microbioma (a “flora” saudável) do intestino e são considerados potencialmente tóxicos ao fígado.
Se você fosse um cachorro frequentemente receberia por via oral ou entre as escápulas uma dose regular de pesticida. Pois um estudo sobre como fatores ambientais influenciam o risco de câncer nos cães (14) concluiu que a aplicação regular de produtos químicos convencionais contra pulgas e carrapatos aumenta o risco desta doença se desenvolver.
Se você fosse um cachorro sua tutora seria convocada ao consultório anualmente para você tomar uma vacina que concentra entre 8 e 10 antígenos de doenças na mesma dose, frequentemente acompanhada de outras aplicações. A dose da vacina nunca muda, independentemente de você ser um Chihuahua de 1,5kg ou um Dogue Alemão pesando 70kg. O protocolo vacinal geralmente é sempre o mesmo, indiferente ao fato de você viver na cidade, no campo, quase não sair à rua, frequentar a pracinha diariamente ou apresentar uma séria doença crônica. Entretanto, dezenas de trabalhos científicos conduzidos em diversos países, incluindo o Brasil, alertam para a longa proteção conferida pela maioria das vacinas e os riscos de se vacinar cães e gatos além do necessário para mantê-los adequadamente protegidos (15, 16). Além disso, temos no Brasil já há alguns anos a titulação de anticorpos vacinais, o exame que permite verificar se um cão de fato precisa tomar o reforço da vacina contra cinomose, parvovirose e hepatite infecciosa canina (17).
Já parou para pensar que os cães e gatos andam “nus”? O corpo deles não é coberto por tecidos e nem é lavado diariamente como o nosso. A pelagem dos pets oferece proteção, mas não cobre áreas como as almofadinhas das patas e o ventre que mantêm contato estreito com o solo. Justamente porque eles pisam o chão com suas próprias patas e exploram o mundo com o nariz e a língua, é certo que acabam absorvendo por contato com a pele, ingerindo ou inalando resíduos de produtos de limpeza, fezes de insetos, inseticidas, cinzas de cigarro, herbicidas aspergidos em gramados públicos e muitas outras substâncias com potencial de causar câncer.
Colocar o peludo numa bolha não é uma opção. Mas podemos fazer muito para reduzir a exposição a essas toxinas!
- Escolha produtos neutros, hipoalergênicos e biodegradáveis para limpar sua casa (como os das linhas Positiv.A e Biowash) – ou prepare em casa o seu próprio super multi-uso natural! Ao chegar de passeios, limpe as patas de seu cão com um pano limpo e uma solução de água e vinagre de maçã (1 colher de sopa de vinagre em 500ml de água) ou de aloe vera (uso com frequência esta).
- Ao invés de levar o pet para tomar arbitrariamente a vacina múltipla (V10 ou V8), solicite à vet o exame de titulação de anticorpos vacinais para avaliar o status de proteção dele. Confira nosso post sobre quais vacinas são realmente importantes para cães e com que frequência devem ser administradas. Se você busca informações atualizadas e éticas sobre vacinação para gatos, consulte as diretrizes internacionais do World Small Animal Veterinary Association (WSAVA).
- Antes de administrar vermífugo, solicite exames de fezes para verificar se há de fato indicação para tratá-lo, lembrando que o vermífugo administrado por via oral não possui efeito preventivo nem repelente, apenas curativo – ou seja, não evita que o pet se infecte com vermes, só trata a infecção existente, se ela existir.
- Sempre que for possível, dê preferência a tratamentos de baixo potencial tóxico e que atuam auxiliando o processo de auto-reparo do organismo como Homeopatia, Acupuntura, Ozonioterapia, Quiropraxia, dentre tantas outras modalidades fascinantes.
- Sirva água filtrada para reduzir a ingestão de cloro e microorganismos com potencial patogênico.
- Antes de aplicar todo mês o anti-pulgas convencional, procure se informar sobre alternativas menos tóxicas. Se não for possível substituir totalmente o produto químico sintético pelos naturais/atóxicos, faça um uso estratégico do anti-pulgas convencional. Por exemplo, aplique uma pipeta em intervalos mais espaçados, reforçando a proteção com produtos naturais. Ou recorra aos anti-pulgas convencionais somente durante os meses mais quentes e chuvosos, quando há maior proliferação de pulgas e carrapatos.
- Se couber no orçamento, compre ovos, vegetais e frutas orgânicos.
- Descarte panelas de teflon riscadas e substitua as de alumínio por utensílios de inox ou vidro. Faça o mesmo com as tigelas de plástico ou de alumínio do pet. Não aqueça embalagens plásticas, elas liberam elementos prejudiciais à saúde.
- Não passe e não permita que passem perfume no seu peludo – o olfato deles é infinitas vezes mais sensível que o nosso e ninguém consultou o animal para saber o que ele acha de ter esse cheiro na pele.
- Desligue o wi-fi antes de dormir para que seu pet tenha um sono reparador sem a interferência de ondas eletromagnéticas.
- Não ofereça petiscos ou alimentos que contenham corantes sintéticos, ingredientes transgênicos, conservantes como BHA e BHT e aditivos com nomes difíceis de pronunciar.
Para finalizar, tenha muita atenção à presença de “bolinhas”, nódulos e carocinhos no corpo do seu cão ou gato. É muito importante inspecionar regularmente o corpo deles com as mãos. Cada cantinho. Se algum calombo estranho saltar aos seus dedos nada de esperar para ver se cresce e só então levar ao veterinário. Essa atitude passiva e retroativa só faz com que vocês percam um tempo que pode ser precioso. Leve o pet ao profissional para que ele avalie se pode ser algo sério.
Lembre-se: exames não previnem doenças. Eles são importantes por outro motivo, por permitirem a detecção precoce de alterações e de doenças. O que previne doenças é o estilo de vida que você proporciona ao cão ou gato que vive sob os seus cuidados. 😉
Referências:
1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17939564
2. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4436381/
3. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1748-5827.2011.01220.x
4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26948297
5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11202221
6. http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.2004.224.380
7. http://www.ejpau.media.pl/volume17/issue1/art-01.html
8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12433723
9. http://www.hindawi.com/journals/jce/2009/591753
10. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3521879/
11. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2698128/
12. https://nutriad.com/pt-br/2016/02/mycotoxin-survey-in-dry-pet-food-brazil-2016/
13. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3941741/
14. http://aleksabokarev.narod.ru/foreignarticle/6.pdf
Comunicado do site Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança. Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!