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Em algum momento da vida do seu peludo, o veterinário vai recomendar esse suplemento. Seu efeito modulador em processos inflamatórios auxilia no controle de alergias, doenças autoimunes, desgaste articular, nefropatia, cardiopatia, hipertensão arterial, câncer, aumento do colesterol e triglicérides, síndrome de disfunção cognitiva e epilepsia.

Até para cães e gatos saudáveis ele é importante. Assegura a fluidez adequada das membranas celulares e participa do desenvolvimento cerebral e cognitivo. Além de ser uma valiosa ferramenta terapêutica, é antes de tudo um nutriente essencial.

Estamos falando do ômega-3, um dos componentes dietéticos mais estudados. O termo “ômega-3” refere-se aos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia curta Alfa-Linolênico (ALA), encontrados em vegetais como chia, linhaça e nozes, e aos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa Eicosapentaenoico (EPA) e Docosahexanoico (DHA), presentes em peixes como sardinha e cavala, além de moluscos e crustáceos. Para a dieta de cães e gatos, os ômega-3 que realmente importam são os últimos dois: EPA e DHA.

Explico: a forma ALA não é ativa e precisa ser convertida em EPA e DHA para ser assimilada pelo organismo. Cães convertem apenas cerca de 8% do ALA em EPA e DHA, enquanto gatos são incapazes de fazê-lo devido à baixa atividade da enzima delta-6-desaturase. Portanto, para nossos pets carnívoros, a suplementação de ômega deve ser feita com a forma ativa, presente em tecidos animais, ou seja, EPA e DHA.

O EPA é reconhecido por ser antiinflamatório, cardioprotetor e benéfico à visão, pelagem, pele e sistema reprodutor. Já o DHA favorece principalmente o cérebro, sendo muito recomendado a filhotes, idosos e epilépticos. Os peixes e frutos-do-mar mencionados naturalmente contêm EPA e DHA, e é a partir dessas fontes que o óleo de peixe, matéria-prima das cápsulas que você conhece, é extraído. Como ambos os ômegas são benéficos, os suplementos fornecem tanto o EPA quanto o DHA em uma proporção padronizada. Mas existem opções no mercado com mais DHA que EPA, visando melhorar a memória e a cognição.

Confira a seguir como incluir o ômega-3 na dieta do seu pet.

Quanto?

Essas são as recomendações das entidades que publicam diretrizes nutricionais para cães e gatos com relação à inclusão de EPA + DHA na dieta:

FEDIAF (órgão europeu)

  • 🐶 filhote, gestante, lactante: 130mg/1.000kcal
  • 🐱 filhote, gestante, lactante: 30mg/1.000kcal
  • 🐶🐱 adulto: não há consenso

NRC (entidade dos Estados Unidos)

  • 🐶 filhote, gestante, lactante: 130mg/1.000kcal
  • 🐶 adulto: 111mg/1.000kcal
  • 🐱 adulto, filhote, gestante, lactante: 25mg/1.000kcal

Tem na ração?

A dose de ômega-3 EPA e DHA nas rações costuma ser bem mais baixa que a recomendada por veterinários. Isso acontece porque EPA e DHA são componentes frágeis, que se degradam facilmente e não resistem ao processamento e ao armazenamento da ração. Os fabricantes preferem adicionar os ômegas-3 vegetais, os ALA, que são mais estáveis, porém, muito menos aproveitados.

Ômega-6 X ômega-3

Esse post trata do ômega-3, mas existe também o ômega-6. Eles atuam como uma gangorra. Enquanto o ômega-6 é mais reconhecido por propiciar processos inflamatórios, algo fundamental para a defesa do organismo, o ômega-3 atua na contramão, modulando a inflamação para que se não prolongue além do necessário. A proporção de ambos na dieta influencia diretamente a resposta imunológica do animal.

Proporção de ômegas 6 e 3

A entidade AAFCO, dos Estados Unidos, recomenda que a relação entre ômegas 6 e 3 não exceda 30:1 (trinta partes de ômega-6 para uma parte de ômega-3). Pessoalmente, prefiro a proporção de até 10:1, que considero mais adequada para prevenir e lidar com os quadros inflamatórios que acometem os pets. A adição de apenas 1 cápsula de 1g de óleo de peixe para cada 1kg de Alimentação Natural assegura essa proporção entre os ômegas 6 e 3 (7:1 a 10:1).

Dose em miligramas

No livro “O Cão Eterno” a veterinária Karen Becker recomenda que os cães recebam de 50mg a 75mg de ômega-3 por kg de peso, 3x por semana. Gatos devem receber de 30mg a 50mg de EPA + DHA para cada 1kg de peso, 3x por semana, para manutenção. Mas, a depender do objetivo terapêutico, a dose pode ser mais alta e diária. Consulte o rótulo do óleo de peixe que você tem em casa para descobrir quanto de ômega-3 (EPA + DHA somados) cada cápsula fornece. Uma curiosidade: estima-se que raças nórdicas requeiram teores mais altos de ômega-3.

Fontes naturais

Segundo dados da tabela USDA, em apenas 28g desses peixes, encontramos o seguinte teor aproximado de ômega-3:

  • Cavalinha: 748mg
  • Salmão selvagem: 565mg
  • Arenque: 484mg
  • Sardinha em lata: 414mg

Bacana, né? Um pedaço de 30g de sardinha fornece quase a mesma dose que uma cápsula de 500mg de óleo de peixe! Servir regularmente esses alimentos fornece ômega-3 na forma natural, inadulterada e associada a outros elementos (selênio, vitaminas do complexo B etc) sinérgicos que otimizam a sua absorção.

Outras fontes de ômega-3 incluem manjuba, anchova e mexilhões. Atum não é recomendado para oferta regular por concentrar metais pesados. Também é importante informar que somente o salmão selvagem, não o de cativeiro, fornece ômega-3. Servir esses peixes como 5% a 10% do total da dieta do cão ou gato 3x por semana é uma alternativa à administração do ômega-3 em cápsulas.

Escolhendo o suplemento

Os suplementos à venda são oriundos de peixes, krill (pequenino crustáceo marinho) ou lula. O óleo de krill é considerado mais assimilável, mas o de peixe é perfeitamente adequado.

O suplemento pode ter três apresentações: etil éster (de menor aproveitamento), triglicerídeo e fosfolipídeo, que devem ser as preferidas. É importante haver certificação de entidades que atestam a pureza, como a IFOS (International Fish Oil Standards Program) ou que regulamentam a sustentabilidade da atividade pesqueira, como a MSC (Marine Stewardship Council). Na dúvida, contate o fabricante.

Armazenamento e administração

Guarde o frasco com cápsulas de ômega-3 em local fresco. O suplemento é líquido (pump)? Armazene na porta da geladeira. Administre o ômega com alimento. Quando o pet aceita consumir a cápsula é preferível. Caso contrário corte a cápsula, esprema o óleo no alimento e sirva imediatamente, lembrando que o ômega-3 dos suplementos comerciais rancifica (estraga) rápido.

Dúvidas frequentes

Mesmo oferecendo ração, devo suplementar ômega?
Eu sugiro que sim, 3x por semana, como peixe ou cápsula.

Posso dar cápsulas de ômega-3 de uso humano?
Se atenderem a dose indicada e forem de boa qualidade, sim.

Posso congelar a porção diária com o ômega?
Peixe pode ser congelado normalmente. Cápsulas podem ser congeladas com o alimento, mas jamais devem ser abertas.

Cozinhar peixe/mexilhões reduz o teor de ômega-3?
Não de forma significativa. Prefira grelhar ou assar moderadamente.

Óleo de fígado de bacalhau fornece ômega-3?
Sim, mas também fornece uma mega dose de vitamina A e D e por isso sua utilização exige cuidado.

Contraindicações

Cães e gatos com intolerância a óleos ou a animais marinhos podem apresentar reações gastrintestinais ou de pele. Não recomendo a pets com quadro ativo de refluxo gastroesofágico. Uma informação pouco conhecida é que a ingestão de doses elevadas de ômega-3 aumenta o requerimento de vitamina E.

Não tolera?

Se seu peludo não se dá bem com óleo de peixe, tente óleo de krill ou óleo de lula. Ou, melhor ainda, inclua 5% de peixes ricos em ômega-3 na dieta, 3x por semana, misturado aos alimentos. Outras opções incluem suplementação com óleo de algas (são ricas em DHA, mas não em EPA) e, para os cães, suplementação diária com fonte do ômega-3 ALA (óleo de linhaça dourada ou óleo de chia).

Referências

(TODOS são artigos disponíveis na íntegra gratuitamente):

  1. Oral omega 3 in different proportions of EPA, DHA, and antioxidants as adjuvant in treatment of keratoconjunctivitis sicca in dogs, 2018. DOI: 10.5935/0004-2749.20180081
  2. Supplementation of omega-3 and dietary factors can influence the cholesterolemia and triglyceridemia in hyperlipidemic Schnauzer dogs: A preliminary report, 2021. DOI: 10.1371/journal.pone.0258058
  3. Protective effects of omega-3 fatty acids in dogs with myxomatous mitral valve disease stages B2 and C, 2021. • DOI: 10.1371/journal.pone.0254887
  4. Dietary ω-3 fatty acids reduced atrial fibrillation vulnerability via attenuating myocardial endoplasmic reticulum stress and inflammation in a canine model of atrial fibrillation, 2022. DOI: 10.1016/j.jjcc.2021.08.012
  5. Comparison of Fish, Krill and Flaxseed as Omega-3 Sources to Increase the Omega-3 Index in Dogs, 2023. • DOI: 10.3390/vetsci10020162
  6. Higher omega-3 index after dietary inclusion of omega-3 phospholipids versus omega-3 triglycerides in Alaskan Huskies, 2020. • DOI: 10.14202/vetworld.2020.1167-1173
  7. Enhanced omega-3 index after long- versus short-chain omega-3 fatty acid supplementation in dogs, 2021. • DOI: 10.1002/vms3.369
  8. A 2022 Systematic Review and Meta-Analysis of Enriched Therapeutic Diets and Nutraceuticals in Canine and Feline Osteoarthritis, 2022. DOI: 10.3390/ijms231810384
  9. Fish Oil for Dogs and Cats: Dosage, Safety, and Health Benefits: https://www.nordic.com/healthy-science/fish-oil-for-dogs-and-cats

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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