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Cães e gatos que consomem ração seca tendem a ingerir uma quantidade significativa de água, especialmente após as refeições, mas também ao longo do dia. Essa sede é provocada pela própria composição da ração seca, que possui apenas cerca de 10% de umidade (água) e um teor de sódio variável. Devido à falta de água na dieta, os pets precisam compensar consumindo água separadamente, e estão certíssimos de agir assim.

No entanto, quando os peludos têm sua dieta de ração substituída por Alimentação Natural (AN), é comum observar uma diminuição espontânea no consumo de água, o que causa um receio danado em muitos tutores. Isso é totalmente esperado, pois a AN é aproximadamente 7 vezes mais rica em água do que a ração. O pet se sente mais bem hidratado e procura menos a vasilha de água. Isso é especialmente evidente em gatos. Minha gata, Lenù, adepta de AN crua, não bebe água, mas faz xixi normalmente. Isso parece contraditório, mas, na verdade, demonstra que o corpo dela está aproveitando eficientemente a água presente na dieta natural.

A variação no consumo hídrico após a transição para AN varia de acordo com o indivíduo. Enquanto nossa saudosa Corah, uma Golden Retriever, continuava bebendo água normalmente após a mudança para AN, a vira-lata Polly, que ainda é minha companheira, bebe pouca água.

Ser rica em água é uma das virtudes mais benéficas da Alimentação Natural para a saúde geral dos peludos. Esse benefício é particularmente crucial para os gatos, considerando a ancestralidade provável dessa espécie, originada do gato selvagem africano, um habitante de desertos que evoluiu para obter água diretamente de suas presas. Gatos que se alimentam exclusivamente de ração seca, mesmo que bebam água separadamente, provavelmente estão em um estado de sub-hidratação, o que é conhecido por prejudicar seus sistemas renal e urinário. Por isso se diz que o gato deve comer água.

Embora não forneça calorias, a água é o nutriente mais essencial à vida, participando de todas as reações bioquímicas, transportando nutrientes, eliminando toxinas, além de lubrificar articulações e mucosas.

Fontes de água

A água de que nossos pets precisam é obtida de três maneiras.

  • Pela dieta. Cães e gatos evoluíram para aproveitar a água naturalmente contida nos alimentos. Alimentação Natural (AN) tem cerca de 70% de umidade, contra 10% da ração seca. Oferecer AN, por si só, já proporciona uma boa hidratação de base.
  • Água metabólica. Durante o processo digestivo, cada 1g de gordura gera 1ml de água!
  • Ingestão de água. (Aliás, prefira servir água filtrada.)

Quanto?

A recomendação de quanta água deve ser ingerida por dia depende de condições climáticas (temperatura, umidade), escore corporal do pet, porte, idade, grau de atividade física e status de saúde. Recomenda-se que um gato de 5kg de peso consuma cerca de 200 a 240ml de água por dia. Já o cão deve ingerir entre 30 e 50ml de água por kg de peso por dia, em média. Um cachorro de 10kg precisaria beber algo entre 300 e 500ml de água por dia, portanto.

Considere a água do alimento

Vamos supor que o cachorro do exemplo anterior coma 450g de Alimentação Natural (AN) por dia, com seu habitual teor de umidade ao redor de 70%.

  • 450g x 70% = 315ml de água

A dieta natural já atende a necessidade hídrica mínima de 300ml por dia. E isso sem contar a contribuição metabólica – cada grama de gordura digerida gera 1ml de água dentro do organismo.

Quando hidratar

Em geral, eu não me preocupo quando um pet adepto de AN reduz ou mesmo pára de beber água. Mas há situações em que é mesmo indicado estimular o consumo de mais líquido:

  • Urina sempre muito concentrada (tanto na aparência, como no exame de urina, a urinálise)
  • Cães e gatos com alterações renais
  • Cães e gatos com alterações urinárias (formação de cálculos, cistites recorrentes)
  • Todo gato que come ração seca (e cães que comem ração seca, mas não bebem água)

Como hidratar

Proporcionar atividade física diária é uma maneira simples e natural de complementar o consumo hídrico. Pode-se também acrescentar às refeições um pouquinho de água ou de caldo do cozimento dos alimentos. Mas só um pouquinho; nada de deixar a comida parecendo sopa – isso dilui o suco gástrico e já vi causar quadro de refluxo gastroesofágico. Uma colher de sopa de água equivale a 15ml. Ao acrescentar 1 colher de sopa a 2 das refeições aumentamos em 30ml o consumo hídrico.

Boas opções

Em vez de hidratar demais a comida, o que atrapalha a digestão, ofereça 2 porções de água saborizada entre as refeições. Sirva caldo de ossos, puro ou diluído. Ou adicione a um pouco de água iogurte, kefir ou pó saborizante natural (como o Super Powder da The Hungry Dog e os Booster da Lecker). Sirva em cubos de gelo, morno ou em temperatura ambiente. Um pouco de pepino, chuchu, abobrinha e melão também fornecem água. Faça sempre a conta acima para saber quanto hidratar.

Não recomendo

Água de côco, uma saída que muitos tutores usam para aumentar a ingestão de líquidos dos cães, concentra 2,6g de açúcar em 100ml, não sendo na minha opinião uma fonte adequada de água para o dia-a-dia. Além disso, para muitos cachorros ela é viciante. Pelo mesmo motivo, não indico servir suco de frutas.

Recapitulando

É normal que seu cão ou gato reduza até drasticamente o consumo de água quando passa a receber AN. Como a água agora vem da dieta – tanto pela composição como pelo processo digestivo – é bastante provável que ele esteja bem hidratado e que realmente não seja necessário estimular a ingestão de líquidos. Mesmo assim, deixe sempre água fresca disponível (para gatos, água corrente, se possível). Se for o caso de hidratar mais, faça o cálculo para saber quanto fornecer de água à parte.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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