Recentemente participei de uma live com a querida colega Joana Barros (@gaia_vet), de Brasília, sobre fatores que influenciam positivamente a longevidade em cães e gatos. Pra quem quiser conferir, nossa conversa ficou gravada na página dela e rendeu uma troca bastante interessante. Daí tive a ideia de fazer esse post com um resumão das condutas que podem estender significativamente – e com qualidade! – o tempo de vida dos peludos ao nosso lado.
O bacana é que verifiquei na prática que essas condutas funcionam! Tive a sorte de compartilhar minha vida com o Oliver, a Corah e a Maya, cães que curtiram muitos anos de vida boa de cachorro, partiram idosos e só foram adoecer de verdade já velhinhos. Ainda tenho a Polly, com cerca de 13 anos, muito esperta e atlética. E hoje tenho a gatinha Lenù, de 6 meses, com quem estou reproduzindo essa receita desde que chegou, filhotinha.
É claro que ninguém sabe quantos anos seu pet irá viver. Não existe nenhuma garantia. A expectativa média de vida dos cães é de 12 anos. Para os gatos, por volta de 15 anos. Algumas raças caninas são naturalmente mais longevas, podendo chegar a ou ultrapassar os 18 anos, caso do Pequinês, Dachshund, Poodle e Pinscher. Não é regra, claro, mas cães de porte grande e gigante atualmente vivem menos, entre 8 e 12 anos. O pet de vida loooonga é uma bênção, claro, mas tão importante quanto isso, talvez até mais, é o animal aproveitar a vida com qualidade e prazer.
Há muitos fatores que influenciam a saúde e a longevidade dos pets e que estão fora do nosso controle, como a tendência genética para o desenvolvimento de uma doença e os acidentes de percurso. Mas a Ciência vêm mostrando de forma consistente que a forma como a gente decide criar nossos pets é quesito determinante para como, quando e até “se” a maior parte das tendências genéticas se manifestarão. Essa é a Epigenética – a porção da genética que está nas nossas mãos. Em outras palavras: a grande responsável pela saúde da Polly e da Lenù sou eu, através das escolhas cotidianas que eu faço para elas. E isso é ótima notícia! Bora tirar proveito?
1. Controle da inflamação
Pode não parecer, mas situações super corriqueiras, como o excesso de peso nos pets e a doença periodontal (o “tártáro”, a gengivite) estimulam de maneira crônica o sistema imune inato e geram uma resposta inflamatória de baixo grau que acelera o processo de envelhecimento e o desenvolvimento de enfermidades crônicas na idade avançada, como doença renal, cardíaca, diabetes e a disfunção cognitiva (espécie de demência nos pets) . É o “inflammaging”.
Sentiu que o pet está com mau hálito? Que está fora do peso saudável? Procure orientação profissional. Segundo um estudo de 2019 (1) mesmo cães de porte grande e já idosos (8-10 anos) vivem mais quando emagrecem. Nunca é tarde para ajudar nossos peludos e para mudar de hábitos!
2. Evitar o excesso de calorias e carboidratos
Controlar a ingestão de calorias, o número de refeições diárias e a ingestão de carboidratos são outras boas maneiras de ajudar um pet a viver mais e melhor, de acordo com estudos científicos. Um famoso estudo (2) que acompanhou por mais de uma década cães da raça Retriever do Labrador mostrou que diminuir em apenas 15% o volume das refeições retardou o surgimento de doenças crônicas e estendeu o tempo de vida desses cães em cerca de 2 anos!
Outras pesquisas (3,4) relacionam o consumo excessivo de carboidratos (pão, bolo, farinhas, grãos, cereais etc) a níveis elevados de triglicérides, insulina e marcadores inflamatórios em cães. No ano passado, cientistas observaram que oferecer uma única refeição diária a gatos adultos saudáveis não resultou em maior risco de lipidose hepática e ainda preservou melhor a massa magra desses animais e aumentou a sensação de saciedade ao longo do dia (5).
3. Atividade física regular
À medida que o pet envelhece devemos deixá-lo dormindo o dia inteiro, certo? Errado. Devemos, sempre com bom senso e respeitando os limites do peludo, é claro, proporcionar mais estímulo, tanto físico e sensorial, quanto mental. Situações novas, caminhos novos, terrenos novos, cheiros novos, esforços diferentes. A atividade física regular (no mínimo 20 minutos 3x por semana, mas quanto mais, melhor) mantém a musculatura tonificada e as articulações lubrificadas, além de contribuir com o sistema linfático e prevenir constipação e impactação das glândulas adanais. Caminhadas, hidroesteira, brincadeiras em casa, natação, enriquecimento ambiental, sessões de treinamento etc são opções interessantes. Polly e eu caminhamos entre 60 e 90 minutos todos os dias e variamos bastante o trajeto. Com a gatinha Lenù estou fazendo aos poucos treino de guia e 3x por semana saímos bem cedinho para ela brincar em gramados.
4. Antioxidantes
Eles combatem os radicais livres, atuam na modulação de quadros inflamatórios, auxiliam nos processos de desintoxicação, preservam a musculatura e retardam o processo de envelhecimento. Estamos falando dos antioxidantes. E é por isso que é tão importante incluir diariamente alimentos ricos nessas substâncias na dieta de nossos pets. Clorella, spirulina, cogumelos, cúrcuma, goiaba, azeite de oliva extravirgem, frutinhos vermelhos, salsinha, ovos, vegetais alaranjados e verde-escuros, são ótimas fontes desses valiosos agentes. Veja nosso post anterior sobre inclusão de alimentos valiosos à dieta dos pets.
5. Exames e consultas periódicas
Fazer exames não previne doenças. Mas permite detectar doenças em estágio inicial, o que melhora tremendamente o prognóstico. E muitas vezes permite que a gente identifique e corrija alterações antes que elas se convertam em doenças. Sempre que possível visite o veterinário clínico-geral do seu pet 1-2x ao ano para o exame físico completo (com direito a avaliação do peso e escore corporal e exame da cavidade oral) e para fazer o check-up geral de rotina (exames de sangue e de imagem).
6. Condutas individualizadas e livres de excessos
Castrar ou não? E quando? Vacinar quando, com que frequência e com quais vacinas? Vermifugar de quanto em quanto tempo? E que protocolo devo adotar para prevenir pulgas e carrapatos no meu pet? Cada uma dessas perguntas renderia sozinha uma postagem detalhada (no meu site há artigos abordando todas). A resposta, entretanto, para todas é a mesma: depende. Depende de idade do animal, onde vive, porte, riscos a que está realmente exposto, histórico de saúde, comportamento e tantas outras questões. Antes de médica-veterinária sou também tutora. Se você, como eu, prefere uma abordagem livre de excessos, atualizada, estratégica e que contemple a realidade do seu pet, busque um profissional que também tenha essa conduta. Inpidualizar permite evitar exposição desnecessária a elementos com potencial disruptor e/ou que possam ter efeitos cumulativos e prejudiciais à saude no médio e longo prazo.
Referências bibliográficas
- Body weight at 10 years of age and change in body composition between 8 and 10 years of age were related to survival in a longitudinal study of 39 Labrador retriever dogs. 2019. http://doi:10.1186/s13028-019-0477-x
- Effects of diet restriction on life span and age-related changes in dogs. 2002. https://doi.org/10.2460/javma.2002.220.1315
- Apparent total-tract macronutrient digestibility, serum chemistry, urinalysis, and fecal characteristics, metabolites and microbiota of adult dogs fed extruded, mildly cooked, and raw diets. 2018. http://doi: 10.1093/jas/sky235
- The relationships between environment, diet, transcriptome and atopic dermatitis in dogs. 2018.
ID: 56388031 - The daytime feeding frequency affects appetite-regulating hormones, amino acids, physical activity, and respiratory quotient, but not energy expenditure, in adult cats fed regimens for 21 days. 2020. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0238522
Sylvia Angélico
Médica Veterinária pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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