No último dia 11 de maio, o Bobi, esse cãozinho da foto abaixo, alcançou a incrível marca de 31 anos de idade, tornando-se o cão mais velho da história, certificado pelo Guinness World Records. Bobi vive com seu tutor Leonel e sua mãe, Dona Maria, em uma fazenda na vila de Conqueiros, em Portugal.
Foto: le terrier studio
Antes dele, o título de cão mais longevo com idade verificável pertencia a Bluey, cadela da raça Australian Cattle Dog que chegou aos 27 anos e 5 meses, falecida em 1939. É possível que outra cachorra australiana, a Maggie, tenha vivido 30 anos até 2016, mas faltam documentos.
Aliás, como é possível atestar que um cachorro realmente tem 31 anos? No caso do Bobi, foi encontrado o comprovante oficial da primeira vacinação antirrábica que ele recebeu, em 1992, homologado pelo governo português. Também foi realizado um exame de telômeros, estruturas dos cromossomos que permitem determinar a idade, cujo resultado confirmou que Bobi tem entre 28 e 33 primaveras.
Um cão de 31 anos equivale a um humano com idade entre 150 e 200 anos! Algo extraordinário, especialmente considerando o quão bem o @bobiportugal parece estar. Chamam a atenção seus olhos límpidos e a ausência de pelos grisalhos. Ambos – a tendência à catarata e ao embranquecimento da pelagem – são determinados geneticamente. Evidentemente, Bobi ganhou sozinho na Mega Sena genética.
Mas penso que o estilo de vida do Bobi tenha sido importante para sua longevidade excepcional. Tanto é que por muito tempo seu tutor relutou em considerar Bobi um “Matusalém”, já que a mãe de Bobi viveu até os 18 anos e outros cães da casa viveram entre 19 e 22 anos. Para Leonel, cães vivendo duas décadas era algo trivial.
Todos desejamos peludos longevos e capazes de desfrutar da vida mesmo na idade avançada, como Bobi faz. O mais inspirador nessa história toda é que não há nada de mirabolante na maneira como Bobi tem sido cuidado, intencionalmente ou intuitivamente, por Leonel e sua mãe. Confira o artigo abaixo e descubra as lições que podemos aprender com esse doguinho incrível.
Dieta 100% fresca
Bobi nunca consumiu ração. Sua dieta é composta por carnes cozidas e cruas (ele ama o peixe Dourada!) e tubérculos e vegetais cozidos (cenoura, batatas, brócolis, repolho, tomates etc) que são cultivados na fazenda de casa e na horta dos vizinhos. Se a família almoça carne e janta peixe, Bobi almoça carne e janta peixe.
Baixa exposição a toxinas
A família evita tratar sua horta com herbicidas. Bobi é minimamente vacinado e não faz uso regular de pesticidas tópicos ou por via oral contra pulgas, carrapatos e vermes. Segundo seu tutor, a única vez que Bobi teve um problema grave de saúde – um quadro de AVC em 2018 que requereu internação e o deixou levemente sequelado – foi justamente após a administração de um anti-pulgas convencional famoso por sua potência.
Cuidados veterinários
De acordo com veterinários que o examinaram recentemente, os dentes do Bobi estão em muito bom estado para a sua idade. Ele gosta de roer ossos e mastigar ervas e, sempre que necessário, é levado para fazer limpeza de tártaro no veterinário. Bobi passa por avaliações periódicas de saúde 2x ao ano e seu tutor às vezes consulta a opinião de dois a três veterinários diferentes dependendo da situação.
Vida social rica
Ainda hoje, Bobi faz questão de passear duas vezes ao dia com seu tutor no bosque próximo à fazenda e também na vila, onde encontra seus “parças” caninos. Como vive em um ambiente tranquilo e está sempre próximo do tutor, Bobi caminha sem guia. Em casa ele convive muito bem com gatos. Bobi também tem o hábito de acompanhar Leonel ao mercado e em outras atividades.
Descanso abundante
Como todo bom cãozinho idoso, Bobi tem curtido cada vez mais tirar longas sonecas. Uma curiosidade que todos que visitam o Bobi comentam é que há ramas de alecrim selvagem espalhadas pelo piso da casa, inclusive onde ele dorme.
Vida de roça
Bobi, Bluey e Maggie, os cães mais longevos do mundo, tiveram a sorte de nascer, crescer e viver em fazendas, com contato diário com solo vivo e limpo, livre de herbicidas. A exposição constante à terra é considerada um dos melhores probióticos, compondo desde cedo um microbioma intestinal diverso e equilibrado, o que proporciona uma resposta imunológica adequada.
Homeostase hormonal
A castração não é uma prática frequente na Europa como é aqui no Brasil, onde temos a urgente questão da superpopulação de cães sem lar. Bobi é um cão intacto (não castrado), assim como foram Maggie e Bluey. Cada vez mais se discute, quando as circunstâncias permitem, sobre castrar após o completo desenvolvimento do cão/cadela e sobre alternativas à castração que esterilizem os cães (evitem ninhadas) sem interromper a produção de hormônios sexuais. (Assunto para uma live, talvez?)
Levar a vida sem rigidez
Bobi adora uma broa de milho. Assim como a minha Polly ama pipoca estourada na panela e minha gata, a Lenù, gosta de bolo caseiro de fubá. Permitir, com moderação e bom senso esses pequenos prazeres aos nossos pets, ainda que não sejam necessariamente recomendados, faz parte de saber levar a vida com leveza!
Resumindo
Uma vida menos estressante, cuidado veterinário sensato e proativo, caminhadas diárias, contato com a natureza, comida fresca e variada (não-processada), pouca exposição a poluentes e toxinas, integração com o cotidiano familiar e com a comunidade, encontros regulares com os amigos caninos e cochilos no alecrim parecem ser as principais lições do Bobi para uma vida prazerosa e longa.
Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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