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Alimentação Natural (AN) adequada tem o potencial de transformar a saúde de qualquer pet. Mas para os gatos, ela pode surtir resultados ainda mais incríveis, já que os bichanos são carnívoros obrigatórios (digerem mal o carboidrato) e requerem alimentos naturalmente úmidos para sua integridade urinária e renal.

Minha Lenù é um bom exemplo. Recebe AN desde que chegou, com 3 meses, e faz uns 5 xixis clarinhos e volumosos por dia, o cocô é sempre firme, pequeno e com odor discreto, e a pelagem é um capítulo à parte: muito macia, brilhante e sem queda. (Quer saber o que ela come? Neste post do Dia Mundial do Gato ensino uma das receitas favoritas dela, dá uma olhadinha lá!)

A questão é que uma parcela grandinha dos gatos não aceita deixar a ração seca. Ao contrário dos cães, que em geral adoram novidades, os gatos têm comportamento neófobo, avesso a quebras de rotina. Se um bichano sempre comeu ração, ele vai querer continuar comendo sempre ração. E de preferência da mesma marca. Sabemos que eles “viciam” em aditivos flavorizantes e até no formato do pellet, o croquetinho da ração.

Há um motivo evolutivo para o gato ser assim. Ainda filhotinho ele aprende com a mãe o que é seguro ingerir e o que não é. Se o gatinho vê a mãe comendo de tudo, ele vai reproduzir esse comportamento e provavelmente aceitará uma ampla variedade de alimentos. Existe uma “janela de introdução de alimentos” que vai até por volta dos 6 meses de idade, idade em que o gato já está sexualmente maduro. Por isso é muito interessante apresentar diversos alimentos (saudáveis!) ao gato filhote e adolescente.

A partir dos 6 meses de vida o hábito alimentar prévio se estabelece e começa a ficar mais difícil mudar o paladar do bichano. Quanto mais tempo ele passar comendo exclusivamente ração seca, mais desafiadora poderá ser a transição. Mas sempre vale a pena tentar introduzir AN. (Desde que, claro, isso seja tangível à sua realidade.)

1. Introdução gradativa

Prepare uma receita de AN equilibrada, já com suplemento, e ofereça um pouquinho (uma ou duas colheres de chá) e observe se desperta o interesse. O ideal é sempre introduzir gradativamente um novo alimento, para prevenir reações gastrintestinais, como vômito e diarreia. Se o gato se interessar, aumente a quantidade de AN servida ao mesmo tempo em que reduz a porção de ração, ao longo de 5 a 10 dias, até haver a substituição total. Você pode fazer isso junto da ração (misturando o alimento natural à ração seca) ou servindo a porção de alimento natural à parte.

Importante: estabelecer até três horários por dia para servir as refeições (ao invés de deixar a comida à vontade) permite controlar melhor esse processo. Simplesmente não é verdade que gatos precisam ter comida à disposição o tempo todo. Essa conduta conduz inevitavelmente à obesidade.

2. Não rolou?

Não desanime. Seu gato pode precisar de um empurrãozinho para dar uma chance à nova dieta. Pule uma ou até duas refeições e então sirva um pouquinho da AN – sem oferecer ração junto. Calma, estimular o apetite não é judiar. A fome é uma sensação fisiológica, que todos sentimos.

Varie a apresentação. Experimente servir a dieta triturada em mixer ou processador. Ou em cubinhos. Fria. Ou morna. Mude o lugar da casa onde é servida. (Lenù muitas vezes pede para comer em cima de uma cadeira.) Varie a composição (frango, carne, com um pouco de peixe, de moela, com um pouco de ovo).

3. Acostume-o à textura macia e úmida

Nem assim deu certo? Procure acostumá-lo com uma dieta que não é seca ou crocante. Umedeça uma pequena porção de ração seca com um pouco de caldo caseiro de frango morno (receita: www.cachorroverde.com.br/caldo) e sirva. Ou tente passá-lo para uma boa dieta comercial úmida para gatos (em patê ou sachê). Experimente diversos sabores e marcas, misturando quantidades crescentes à ração seca ou servindo pequenas quantidades à parte. Pule uma ou duas refeições de ração seca, para despertar o apetite. E acima de tudo: tenha muita paciência e esteja preparada para fazer várias tentativas.

4. Adicione pedacinhos de alimentos à ração (seca ou úmida)

Ele aceitou ração umedecida ou dieta comercial úmida? Ótimo. Agora experimente ir adicionando e misturando um pouquinho de uma receita pronta de AN e já suplementada. Esse é o melhor cenário, porque o gato se acostuma a uma dieta já equilibrada. Se não aceitar, acrescente então pedacinhos de carne, um pouquinho de vísceras, peixe etc. Vá aumentando a quantidade gradativamente até ter substituído por completo a dieta comercial pela AN. Esteja atenta ao que ele prefere e ao que ele não curte.

5. Palatabilizantes

Para gatos resistentes recorra também a palatabilizantes, como um pouco do caldo que vem na lata de atum ou iogurte natural (sem adoçar), um pouco de ovo mexido, levedo de cerveja em pó (muitos gatos ficam loucos por ele), um pouco do petisco favorito dele esfarelado sobre a AN e até um pouquinho da ração que ele mais gosta, quebradinha e adicionada por cima. A idéia é tornar a AN atraente o bastante para o gato experimentar. Se der certo, vá diminuindo a adição do palatabilizante até que ele aceite comer a dieta pura.

6. Aceitou!

Conseguiu que seu gato aceite a AN? Parabéns! Experimente variar a composição, introduzindo cortes e espécies de carnes diferentes (boi, frango, peru, peixe, suíno etc), vísceras diferentes, ovo e até vegetais diferentes (a dieta do gato pode ou não conter uma pequena porção de vegetais) para ter uma dieta mais rica nutricionalmente. Verifique se está equilibrada e suplementada direitinho. E, importantíssimo: evite a todo custo voltar a oferecer ração seca. Do contrário, o gato pode não voltar a aceitar a dieta natural.

7. Aceitou! Mas não posso variar a composição.

Tudo bem. Garanta que a receita que ele aceita bem esteja equilibrada e suplementada e vamos que vamos. Evite ao máximo oferecer ração seca. E mais à frente experimente colocá-lo novamente em contato com outros alimentos, oferecidos em cubinhos ou triturados, frios ou mornos, crus ou levemente cozidos etc etc etc. O paladar dele pode mudar com o passar do tempo e talvez a dieta possa ficar um pouco mais variada. Não desista de ir tentando novas exposições.

8. Não aceitou nada! E agora?!

Acontece. Alguns gatinhos são extremamente viciados em ração seca. Faça o melhor que puder. Se ele aceita comer só um pouquinho de carne fresca ou de ração úmida de boa qualidade por dia, mantenha isso, pois proteína de boa qualidade e umidade (água) sempre vão bem. Se nem isso ele aceita, escolha a melhor ração seca que estiver ao seu alcance, de preferência com conservantes naturais, livre de transgênicos, com o menor teor de carboidratos possível (sem soja, milho, trigo, arroz ou batatas). Espalhe tigelas de água pela casa para estimular a ingestão de água e compensar o déficit hídrico da ração seca e, se possível, tenha um bebedouro de água corrente. Sobretudo, não desista de tentar de novo, reapresentando alimentos de várias maneiras diferentes.

Para mais informações

Sylvia Angélico
Médica Veterinária pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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