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Uma pergunta que recebemos sempre é “meu cachorro está na dieta natural há alguns dias e só faz cocô mole – é normal?”. A resposta é: não, não é normal (ufa, né?).

Na maioria das vezes, a causa de reações gastrintestinais à Alimentação Natural (AN) se deve a falhas no processo de introdução da dieta. Pense assim: se é recomendável realizar uma transição cuidadosa de ração para ração, imagine então de ração para AN.

A AN tem teores em geral bem mais elevados de proteína e gordura que a ração, e menos fibras e carboidratos. Inclui ingredientes que o sistema digestório do seu peludo não sabe processar, como vísceras, ovos, carnes variadas e vegetais.

É fundamental dar um tempinho para a “máquina digestiva” ajustar seus componentes. O estômago tem que caprichar na produção de ácido clorídrico para a carne ser bem digerida. Pâncreas e intestino precisam calibrar a secreção de suas enzimas de digestão específica (de gordura, proteína e carboidratos). As colônias de microorganismos no intestino grosso precisarão aprender a fermentar comidas diferentes.

Tem cachorro que migrou “pá-pum” da ração para a AN e não teve problema nenhum? Tem! Principalmente filhotes.

Alguns praticantes de dietas bioapropriadas orientam suspender todo e qualquer alimento do cão por 24 horas, para esvaziar o trato digestório e aguçar o apetite, deixando água sempre à vontade. E no dia seguinte servir uma refeição completa de AN de composição básica. Pode funcionar.

Respeito, mas acho que não vale a pena arriscar. Mudar a dieta sem transição pode causar uma inconveniente e até sofrida gastroenterite, dependendo da sensibilidade do cão.

Nesse ponto, sou convencional. Recomendo levar entre 7 e 10 dias para substituir a ração habitual por Alimentação Natural. No primeiro dia sirva 90% da quantidade usual de ração e 10% da quantidade diária indicada de AN. No segundo dia, será 80% ração e 20% AN. E assim por diante, até ocorrer a substituição total. O novo alimento pode ser adicionado à ração, na mesma tigela, ou servido à parte – como o doguinho e você preferirem.

Confira minhas dicas de escolha de alimentos para a semana de transição – e boa sorte! Que venha aí tranquilidade e muito cocô bonito!

Composição fixa e simples

Durante o período de transição da ração para a Alimentação Natural defina uma única composição e não varie. Ou seja, nada de oferecer um dia frango, no outro carne bovina, porco, sardinha, ovo, tudo na mesma semana. Você tem toda a vida do seu pet pela frente para variar o cardápio. 😉

Probiótico?

Seu cão é sensível a novidades na dieta? Basta comer uma coisinha diferente e lá vem cocô mole? Administrar probiótico dois dias antes e também durante o período de troca de dieta favorece uma transição mais tranquila. Compre probiótico em pet shops (gosto da bisnaga Microlac) e dê a dose indicada ao peso do seu cão, 1x ao dia.

Vegetais

Pela minha experiência, abobrinha, chuchu, vagem, brócolis e cenoura são opções geralmente seguras de vegetais para esse início. Escolha 2-3 deles. Considero mais arriscados para essa fase: beterraba, berinjela, quiabo, abóbora e couve-flor. Ah, sim. E procure sempre triturar os vegetais; são melhor aproveitados assim.

Carnes

Carne magra é mais fácil de digerir. Indico peito de frango, filé mignon suíno ou um corte bovino magro (músculo, coxão mole, coxão duro ou patinho). Evite carnes gordas – língua, costela, pernil suíno e pato etc. Também são arriscados nesse começo fontes de proteína mais “fortes”, como sardinha, ovo (principalmente cru) e o coração bovino.

Vísceras

Restrinja as vísceras secretoras (rim, baço, cérebro, fígado) a 5% do total de alimentos da dieta, pelo menos inicialmente. Também percebo que o fígado bovino é melhor tolerado que o fígado de frango. Se seu peludo estranhar e rejeitar o fígado, experimente selar o pedaço em frigideira ou triturá-lo com um pouco da carne da dieta.

Ossos carnudos crus

No caso da Alimentação Natural crua com ossos, recomendo começar com pescoço de frango, sem pele, com ou sem a cabeça. É um osso carnudo molinho e fácil de mastigar. Para cães de porte médio e grande o dorso de frango sem o excesso de gordura, cortado ao meio ou servido inteiro é uma peça de tamanho, formato e maleabilidade excelentes para treinar o ato de mastigar.

Carboidratos

Na Alimentação Natural (AN) cozida e crua sem ossos pode entrar uma porção de carboidrato cozido. Aqui, gosto bastante da batata-doce com ou sem casca ou mandioquinha (baroa) com ou sem casca, ou ainda de arroz integral ou parboilizado. Recomendo evitar inhame e cará para esse início; podem soltar o intestino.

Suplemento e complementos

Durante a transição da dieta não entre ainda com o suplemento vitamínico-mineral e com cápsula de ômega-3 etc. Deixe para adicioná-los quando seu cão estiver 100% na AN. Se o suplemento escolhido for o Food Dog, Nutroplus ou um similar, é fundamental introduzi-lo aos poucos. Dê 1/4 da dose indicada, misturando bem na comida. A cada 3 dias aumente em 1/4 a quantidade até dar a dose cheia.

E depois?

Deu tudo certo? Antes de liberar geral todos os alimentos, mantenha uma abordagem cuidadosa em relação aos alimentos mencionados acima como mais desafiadores.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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