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O médico-veterinário clínico-geral é a principal fonte de informação e de longe o mais importante formador de opinião na vida no proprietário de cães e gatos. É com ele, portanto, que você deve conversar ao decidir passar seu pet para a dieta natural. No entanto, se o seu veterinário tiver entre 25 e 45 anos, é bastante provável que ele:

1-) Defenda e promova a ração como o único alimento adequado para cães e gatos.

2-) Desaconselhe, muitas vezes terminantemente, a oferta de dietas caseiras;

3-) Desconheça modalidades de alimentação natural, como a BARF e a Raw Meaty Bones;

Para entender o que está por trás dessa postura da maioria dos médicos veterinários, principalmente no Brasil, é preciso relembrar algumas coisas. Parece improvável, mas estatisticamente falando, até hoje no Brasil, a maioria das pessoas alimenta seus pets com comida! Refiro-me às classes C e D. Grande parte dessas pessoas dão comida para seus pets por não terem acesso ou conhecimento de dietas comerciais.

Entretanto, até meados de 70, 80, a prática de alimentar com comida era comum a todas as classes no Brasil. Os pets de donos mais abastados eram alimentados com “arroz para cachorro”, cenouras e alguma carne mais barata, tudo cozido em um panelão. Durante o dia também recebiam as sobras dos pratos, incluindo os ossos, fonte de cálcio.

Essa era basicamente a dieta preconizada inclusive pelos médicos-veterinários da época. Comendo isso, cães nasciam, cresciam, se tornavam adultos, se reproduziam, defendiam a casa, caçavam, pastoreavam, etc, e freqüentemente atingiam idades avançadas. E o mais curioso: quem viveu nessa época se lembra dos cães e gatos adoecerem muito raramente. Diabetes, hipertireoidismo felino, neoplasias (câncer), pancreatite, alergias e doenças crônicas degenerativas não ocorriam com a freqüência que observamos hoje.

Conheço veterinários céticos que diriam: “os pets adoeciam sim, é que não se diagnosticava tanto essas doenças”.

Será mesmo? Será que quando passamos a abolir a dieta caseira, absolutamente nada se perdeu? Será que houve apenas vantagens? É preciso refletir.

Na época de nossos pais e avós, quando os cães e gatos comiam o que nós comíamos, podia haver problemas e acidentes. Se a família não se alimentava bem, o animal, sujeito às sobras da mesa, obviamente também ficava mal nutrido. A diferença é que o homem é onívoro, ou seja, pode comer de tudo, e tolera melhor uma alimentação pobre em proteínas, justamente o grupo de nutriente mais caro. Cães, carnívoros com tendências onívoras e gatos, carnívoros obrigatórios, não são assim. Deficiências nutricionais e doenças carenciais como anemia, e distúrbios ósseos por falta de cálcio ou desequilíbrio da relação ideal entre cálcio e fósforo, eram relativamente comuns.

Quando os donos comiam frango e outras carnes, os cães podiam ter acesso a ossos. Geralmente eram ossos como os da coxa do frango que sobravam no prato do dono depois do almoço. O problema é que esses ossos eram submetidos ao cozimento, processo que modifica a estrutura do osso, tornando-o mais rígido e potencialmente mais perigoso. Ossos assim podiam entalar na garganta dos cães ou perfurar órgãos do trato digestório, levando, muitas vezes, o animal à morte.

Doenças carenciais, verminoses, sarnas e doenças virais eram as principais ocorrências na rotina do clínico veterinário de pequenos animais. Assim sendo, quando surgiram no mercado alternativas seguras de alimentação, vacinas e controle de parasitos, a comunidade veterinária naturalmente acolheu esses produtos com grande otimismo e expectativa.

Não importava mais se a alimentação da família era equilibrada e variada. Desde que a ração fosse adotada, o cachorro e o gato finalmente comeriam um alimento completo e balanceado, ou seja, contendo todos os nutrientes necessários para seu pleno desenvolvimento. Especialistas em Nutrição Animal haviam conseguido incutir em cada grão de ração cálcio e fósforo na proporção exata, gordura, carboidrato, vitaminas e outros minerais. A certeza da presença desses nutrientes foi pouco a pouco sepultando aquele modelo um tanto quanto irregular e de certa forma até arriscado de alimentar os pets.

É por esse motivo que conversar sobre comida caseira com um médico-veterinário, em especial os mais novos (faixa etária de 25 de 45 anos), pode ser tão difícil. Você certamente se sujeitaria a ouvir a seguinte resposta: “Para que ter o trabalho de comprar, preparar, balancear e armazenar comida caseira se você pode dar ração, que, por sinal é o melhor alimento que seu animal pode receber?”

Na opinião desses profissionais, dar comida não é só um colossal atraso de vida. É perigoso, também. O balanceamento, segundo dizem, é tarefa para especialistas. Sem o conhecimento matemático dos nutrientes e de suas proporções, seu cão ou gato certamente estaria fadado a sofrer de sérias doenças carenciais como os distúrbios ósseos que víamos no passado e ainda observamos, em animais de populações desfavorecidas.

O receio de alimentar com comida caseira é tal que mesmo quando o cão ou gato se recusa terminantemente a consumir ração, o conselho do veterinário via de regra é “troque a marca”, sujeitando o proprietário a uma longa e freqüentemente frustrante busca pelo melhor alimento. Hoje em dia poucos veterinários saberiam formular uma dieta caseira básica se o proprietário assim solicitasse. A insistente promoção da ração é motivada pela fé na qualidade desse produto, é verdade, mas também pelo total desconhecimento de outras dietas.

Esse sistema acaba desencorajando posturas alternativas ao mesmo tempo em que favorece o estabelecimento de “verdades inquestionáveis”.

Alguns exemplos:

“Cães e gatos devem obrigatoriamente comer carboidratos

(Por que, se na natureza esse nutriente não faz parte de suas dietas?)

“Ossos não devem ser oferecidos em hipótese alguma

(Ossos crus são sim, seguros, tanto que na natureza são consumidos por canídeos e felídeos de todos os portes e idades)

“Cães e gatos devem comer exclusivamente alimento industrializado

(Por que não poderiam comer alimentos in natura se é isso o que eles comeriam no ambiente natural? Não são  esses os componentes da ração, aliás?)

“Comida caseira causa desequilíbrio nutricional e doenças

(Se estiver estragada e/ou não apresentar níveis adequados de cálcio e fósforo, além de outros nutrientes, minerais e vitaminas, sim. Mas prefiro acreditar na inteligência do proprietário e orientá-lo a alimentar o pet, do mesmo modo como o pediatra faz com a mãe da criança que ele atende.)

“Formular dietas para pets exige cálculos avançados e é tarefa para especialistas

(Se sua intenção for fazer ração, esse raciocínio procede, uma vez que estaríamos falando de um alimento que precisa ser completo e balanceado porque será a única comida que o animal receberá. Mas se estamos falando de alimentação natural, ou seja, de nutrição contínua, que se complementa a cada dia, a história é outra. E é bastante simples alimentar dessa maneira.)

A Medicina Veterinária, mesmo com todas as limitações financeiras, tecnológicas e práticas, se espelha na Medicina Humana. Graças a essa busca por excelência e qualidade, os cães e gatos já têm acesso a tratamentos sofisticados e médicos-veterinários especialistas em diversas áreas: Nefrologia, Odontologia, Homeopatia, Acupuntura, Fisioterapia, Oncologia, para citar algumas.

É curioso, entretanto, notar que a Nutrição de Pets é uma exceção a essa regra. Paradoxalmente, consideramos um exagero, uma humanização errônea, alimentar os animais da forma como nos alimentamos ou deveríamos nos alimentar. Por que isso??

Nutricionistas orientam-nos a comer de tudo, variando as fontes e consumindo ao máximo alimentos frescos, in natura. A nutrição humana, tão complexa quanto a dos pets, não é definitiva e nem precisa ser. Com a variação e ingestão de alimentos naturais, a nutrição ocorre de forma contínua, evitando assim excessos e deficiências.

Desse jeito fomos criados e criamos nossos filhos. Como é que puderam nos convencer de que o alimento que nós comemos poderia fazer mal aos cães e gatos?? As espécies são diferentes, é lógico, mas alimentar com comida é perfeitamente aceitável, basta formular a dieta de forma a respeitar as necessidades de cada espécie.

Muita gente acredita que alimentar cães e gatos com carnes, legumes e outras comidas “de gente” é humanizá-los. Acredito ser justamente o oposto. Negar aos carnívoros domésticos uma alimentação à base de carnes e ossos frescos, isso sim é negar a natureza desses animais, evoluídos e adaptados há milhares de anos para o consumo desses alimentos.  Sistematizar, tornar a alimentação prática, conveniente e estética – para nós, humanos – isso sim é humanizar.  O que proponho é justamente um resgate, uma animalização.

Conclusões / como conversar com o veterinário

Apesar de ser conhecida em diversos países, a Alimentação Natural é um assunto ainda envolto em mitos no Brasil. Se pararmos para pensar, é natural que muitos veterinários estranhem uma alimentação caseira à base de ossos e carnes cruas, que infelizmente ainda são tidos como prejudiciais à saúde dos pets. Mas isso está mudando. A Alimentação Natural já é assunto de palestras em congressos e simpósios brasileiros (no cenário internacional isso já virou rotina!) e a cada dia mais e mais donos de pets estão aderindo, com excelentes resultados.

Aqui vão algumas dicas para uma conversa produtiva com seu veterinário, já que o acompanhamento clínico é indispensável para essa dieta dar certo!

– Apresente o nosso site a ele; nossa página de contatos está à disposição para tirar dúvidas.

– Indique nossas sugestões de fóruns, sites e livros escritos por pesquisadores e por médicos-veterinários. Mostre a ele esse e esse artigo sobre o crescimento do mercado de dietas naturais para pets e essa lista de canis e gatis adeptos – muitos dos quais praticam AN há mais de 15 anos!

Outros artigos e textos importantes:

Evolutionary Nutrition for the Cat

Evolução na Alimentação de Cães

Faça Maravilhas: Alimente seu Cão com Ossos Carnudos Crus (livro gratuito, traduzido para o português, escrito pelo veterinário australiano Tom Lonsdale, criador da dieta Raw Meaty Bones)

 

– Seja gentil e cuidadoso nas suas colocações, respeitando o profissional ao mesmo tempo em que o incentiva a atualizar seus conceitos sobre nutrição pet. Se ainda assim ele continuar contrário à idéia, uma opção seria consultar a opinião de outro profissional. Nessa questão não existe “certo e errado”. Existe “estar ou não bem informado”. Você deve ser o advogado do seu pet nessas horas!

– Homeopatas e acupunturistas em geral costumam ser naturalmente receptivos às dietas caseiras. Médicos-veterinários mais velhos, que viveram a época pré-alimentação industrializada, também podem ver a coisa de outro ângulo.

– Dispomos de contatos de alguns veterinários entendedores de Alimentação Natural ou pelo menos favoráveis a dietas caseiras. Mande-nos um e-mail (contato@cachorroverde.com.br) e lhe passaremos esses contatos. Aliás, se quiser indicar um veterinário para nossa lista, por favor nos mande um e-mail informando nome completo, especialidade e um contato desse profissional. Será de grande valia!

Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!