Especialmente os cães, mas também alguns gatos, adoram roer ossos. Esse é um hábito milenar deles e traz muitos benefícios à saúde: fortalece a musculatura facial e cervical, reduz o estresse e a ansiedade e ajuda a manter os dentes limpos, removendo o tártaro acumulado. Mas é importante ter alguns cuidados com a oferta de ossos, como saber escolher os mais adequados para evitar problemas como fratura de dentes. Então confira minhas respostas para as dúvidas mais comuns envolvendo ossos!
1. Aqui no site Cachorro Verde fala-se bastante em “ossos carnudos crus” e “ossos recreativos crus”. Afinal, qual é a diferença entre ambos?
Os ossos carnudos crus são ingredientes de dietas como a Alimentação Natural crua com ossos, BARF, Prey Model e Raw Meaty Bones. São ossos menores e mastigáveis que o pet consome facilmente em questão de minutos. São ricos em cálcio, fósforo e fornecem também outros nutrientes importantes para o balanceamento desses tipos de dieta.
Exemplos de ossos carnudos crus são asas de frango, pescoço de peru e partes de coelho, rã ou codorna. Por serem mastigados e consumidos bem rapidamente, ossos carnudos crus não são muito eficientes em limpar os dentes, nem em distrair os pets. São incluídos na dieta por sua contribuição nutricional. Assista aqui a um vídeo em que nossa cadela Corah mastiga e engole em menos de dois minutos um osso carnudo cru.
Já os ossos recreativos crus podem ser oferecidos a cães e gatos independentemente do tipo de dieta que eles recebem. Pets que comem Alimentação Natural (AN) cozida, AN crua sem ossos, AN crua com ossos e até mesmo os adeptos de ração podem ganhar ossos recreativos crus.
Ao contrário do osso carnudo cru, o osso recreativo é grande, bem mais duro e não é mastigável. É um ossão para roer lentamente e com isso distrair os pets, raspar o “tártaro” acumulado nos dentes e fortalecer os músculos envolvidos no ato. O osso recreativo é uma opção de enriquecimento ambiental. Como um brinquedo natural de roer. Sua oferta é inteiramente opcional. Exemplos incluem joelho bovino, joelho suíno (sem o excesso de carne) e osso da bacia bovina.
2. Quanto custa e onde encontro o osso recreativo?
Em geral você não paga nada por ossos recreativos. Basta conversar com donos ou funcionários de açougue ou feirantes em barracas de carne e eles reservarão para você peças que normalmente descartariam, como joelhos de boi (“rótulas”), vértebras, ossos da bacia, joelhos de porco, osso do peito de boi, “osso do acém”, pescoço de leitão ou de cordeiro, escápula (osso do ombro) etc. Se não conseguir obtê-los de graça, procure por joelho de porco, pés de porco ou ossos do peito de boi nas feiras-livres (é possível encomendá-los) ou em açougues.
Uma dica: não vá ao açougue ou feira apenas para pegar ossos recreativos. Compre um quilo ou meio quilo de alguma carne – para você, sua família ou seu peludo – e então pergunte se há alguns ossos recreativos para doação. Do contrário pode não rolar a mesma boa vontade em reservar e serrar ossos para você, o que é compreensível já que o pessoal do açougue ou da feira não ganha nada por essas peças.
3. Quais são as características de ossos recreativos seguros?
Não ofereça somente aquela parte comprida dos ossos longos, como o fêmur. São duras demais e não absorvem o impacto das dentadas, podendo acarretar fratura dos dentes. Um pouco de carne, tendões e cartilagem em volta do osso são muito bem-vindos porque “acolchoam” a peça, protegendo os dentes. A presença de tecidos moles torna o osso também mais gostoso e nutritivo.
Recomendo não comprar ossos serrados na longitudinal (como a gente corta uma salsicha para passar a mostarda, “de comprido”). As bordas ficam cortantes, podendo machucar a boca dos nossos pets. Meus favoritos são ossos grandes, arredondados e irregulares, como joelho bovino/suíno ou osso da bacia bovina serrado em pedaços. Roer ossos grandes e irregulares envolve um número maior de dentes e incentiva o peludo a rodar a peça na boca para abordá-la por ângulos diferentes. Isso distribui melhor a pressão sobre os dentes e raspa a superfície de mais dentes, removendo o tártaro acumulado mais eficientemente.
Outro fator importantíssimo é o tamanho do osso. Deve ser maior que a boca aberta do seu cão/gato ou poderá ser engolido de uma vez – o que é perigoso, pois poderia causar obstrução. Não há problema se o cão ou gato for roendo a ponto de reduzir lentamente o tamanho do osso, só tome cuidado para ele não engolir pedaços grandes. Quando o osso se reduz ao ponto de poder ser engolido é hora de tirar do pet e jogar fora.
Tiremos uma lição da Natureza: canídeos e felinos selvagens consomem ossos 100% crus. Não devemos ferver, ferventar, nem cozinhar de leve nenhum osso que será oferecido a nossos cães e gatos. O cozimento altera a estrutura molecular do colágeno dos ossos, ressecando-os, o que torna os ossos ainda mais difíceis de digerir e mais rígidos e perigosos para os dentes.
Resumindo esse importante tópico, ossos recreativos seguros são:
- Grandes, de tamanho compatível com o tamanho da cabeça do cão ou gato, para que não seja prontamente deglutido. O objetivo é roer esse tipo de osso, não engolir.
- Cobertos ou circundados por um pouco de tecidos moles (carne, tendões etc) para absorver o impacto das dentadas. E de preferência de formato irregular para envolver todos os dentes.
- 100% crus, sempre. Ossos cozidos = maior risco de fratura dentária e obstrução gastrintestinal.
4. No dia em que eu der osso recreativo ao meu pet devo pular uma refeição?
Fica ao seu critério. Eu acho interessante fazer assim porque roendo o osso o cão ou gato acaba ingerindo carne, cartilagem, tendões, gordura e um pouco do osso. Aqui a gente vai até além: oferecemos osso recreativo uma vez por semana ou a cada quinze dias como o único alimento do dia.
Se nossas cadelas pedem, servimos à noite uma pequena porção de caldo caseiro de ossos ou de vegetais. Para cães adultos e saudáveis é bacana promover um dia inteiro de jejum de sólidos ocasionalmente. O trato digestivo aproveita esse dia de “menor movimento” para se limpar, se desintoxicar e se reequilibrar. Jejuar periodicamente é um hábito ancestral dos cães. Na natureza é normal passarem dias sem se alimentar, até por não nada ser fácil abater presas.
5. Com que freqüência devo oferecer ossos recreativos?
Se sua intenção é prevenir ou combater o tártaro você deve fazê-lo regularmente. O ideal é dar um osso recreativo uma a duas vezes por semana ou pelo menos uma vez a cada dez ou quinze dias. Se a ideia é só proporcionar uma distração ocasionalmente, ofereça algumas vezes por mês ou quando achar necessário. Só não ofereça o osso mais que duas vezes por semana porque o esforço de roer predispõe à fratura dos dentes.
6. Como devo preparar os ossos recreativos?
O congelamento profilático dos ossos crus é recomendado para inativar possíveis parasitos presentes em carnes cruas. Por esse motivo recomendo congelar ossos crus durante pelo menos 3 dias em freezer antes de servir ao pet. Depois de cumprida a carência, é só descongelar o osso na parte mais baixa da geladeira ou em cuba com água morna e servir! Só não ofereça ossos ainda congelados; estão rígidos demais e aí você já sabe: o risco de quebrar dentes é maior.
7. Como oferecer ossos recreativos?
Deixe o cão ou gato roer o osso recreativo por cerca de 45 a 60 minutos e esteja sempre por perto para supervisioná-lo. Se houver mais de um cachorro em casa não se esqueça de separá-los para evitar disputas. Com um osso suculento entre as patas até o mais bonzinho dos Totós pode virar um lobo! Não tem como separar seus cães? Deixe alguns ossos extras pelo quintal. Assim, quem terminar primeiro não rouba o osso do outro.
À medida em que o cão ou gato vai roendo, o osso vai naturalmente diminuindo de tamanho. Se seu peludo for um engolidor muito afobado recomendo retirar o osso dele assim que atingir um tamanho pequeno. É claro que há cães e gatos tranquilos, que mastigam sem pressa e com cuidado, claramente sem intenção de engolir. Entretanto, se seu cão é do tipo que rói o osso com muita força e intensidade, experimente oferecer o osso algumas horas depois de servir a refeição. Ele provavelmente abordará a peça com menos voracidade por não estar com fome.
Depois de 45 a 60 minutos de “roeção” do osso, é hora de tirar o que restou e jogar fora. Se seu pet fica bravo quando você tenta tirar o osso dele proponha uma troca. “Você deixa eu pegar o osso e eu te dou esse pedaço de queijo branco ou de carne, combinado?” Não tem cachorro que resista.
Não congele o osso para oferecer mais tarde. Simplesmente jogue fora. Já está todo contaminado, babado e sem os tecidos moles. Também não recomendo deixar ossos pelo quintal. Podem apodrecer, atrair moscas e o cão pode enterrá-los, arruinando seu gramado rs Também me preocupa muito que ele pegue o osso para roer sem a supervisão de um humano. Acidentes podem acontecer – quem estará lá para socorrê-lo se ele se engasgar com um fragmento?
8. Que opções de ossos recreativos são mais indicadas para cães de porte miniatura, pequeno, médio e grande?
No caso dos cãezinhos de porte miniatura (1,5-3kg), pode-se oferecer uma asa de frango crua martelada ou pescoço de frango sem gordura e cru ou um pé de frango cru sem as unhas. Sim, são ossos carnudos crus e não recreativos. Mas para mandíbulas tão delicadas poderiam contar com ossos recreativos. Supervisione sempre.
Para cães de porte pequeno de até 10kg: osso do peito do boi, osso da bacia do boi serrado em pedaço compatível com o tamanho da cabeça do cão, joelho de porco, joelho bovino, pé de porco inteiro ou serrado.
Para cães de porte médio e grande: joelho de porco, joelho bovino, bacia de boi, pescoço de cordeiro, pescoço de leitão.
Lembre-se: o cão não deve conseguir engolir o osso. Por isso escolha peças grandes, sempre maior que a boca aberta dele.
Não recomendo, por já ter lido relatos de incidentes: “suan” de porco, costela de porco, costela bovina, ossos longos de peru, ossos pequenos da rabada para cães de porte médio e grande. São ossos pontiagudos, que podem machucar a boca, ou que se partem em farpas afiadas. Ossos de rabada representam risco porque podem ser engolidos inteiros por cães de porte médio ou grande.
9. Existe osso recreativo para gatos?
Os felinos podem manter os dentes e gengivas em ordem mastigando ossos carnudos crus de frango, como cabeças sem bico, pés de frango, asas de frango ou um bom pedaço de pescoço de peru. Mas é bom saber: em geral somente gatos bem acostumados a comer alimentos naturais se interessam por ossos.
10. O osso recreativo não faz sujeira?
Sirva o osso recreativo no quintal, jardim, varanda ou em algum lugar (cozinha, área de serviço) com piso de fácil limpeza. Mora em apartamento sem varanda? Pode ser interessante instalar um portãozinho de cachorro para delimitar o espaço destinado a essa atividade e impedir que o cachorro saia com o osso na boca e pule sobre o sofá ou sobre o tapete.
Seu cão ficou com cheiro de “açouguinho” depois de roer o osso? Agende o dia do banho para o dia do osso. Do contrário, basta uma boa passada de pano úmido com água e um pouquinho de vinagre de maçã (500ml de água + 1 colher de sopa de vinagre) em volta da boca, patas dianteiras e carinha dele, além de uma vigorosa escovação da pelagem pra dar um jeito.
11. Servi o osso e meu cachorro não deu a mínima. E agora?
Uma parcela dos cães não sabe o que fazer com ossos naturais crus. Para tornar a peça mais apetitosa ofereça o osso no lugar de uma das refeições, no horário em que seu cão sente mais fome. Também vale lambuzar o osso com um pouco de iogurte ou outro alimento natural pastoso para convidá-lo a dar uma chance.
12. Depois de roer o osso, meu cachorro fez um cocô esbranquiçado, muito seco e farelento. É normal?
Sim, as fezes decorrentes podem sair brancas e bem secas. Isso é normal. Se achar que seu cão está constipado (sem fazer cocô há mais de 24 horas), inclua abóbora cabotian ou abóbora moranga cozida nas refeições (1 -2 colheres de chá para cada 5kg de peso do pet), dobre a dose de azeite ou de óleo de coco adicionados ao alimento e leve-o para passear.
13. “Ossos” de couro branco, ossos defumados e palitinhos brancos não são alternativas saudáveis aos ossos recreativos crus? Meu pet adora!
Considero aqueles palitos brancos e os “ossos” de couro o pior tipo “fast-food” canino. Eles contêm aditivos sintéticos e são pobres em nutrientes naturais. Sou terminantemente contra “ossos” de couro, por mais que seu peludo adore roê-los. Esses “ossos” vão amolecendo em contato com a saliva e viram um “chicletão” que pode causar obstrução esófagica nos cães. Possuem baixa digestibilidade e frequentemente provocam vômitos ou fezes amolecidas. Para piorar, são tratados com substâncias químicas prejudiciais à saúde, como soda cáustica, amônia quarternária e até cola industrial. Não acredita? Assista a esse simpático e curto vídeozinho que mostra como esse tipo de “petisco” é feito.
E os ossos defumados? Ossos defumados muitas vezes são totalmente naturais, mas a defumação é uma forma de cozimento. E todo cozimento altera o osso, tornando-o mais rígido ou mais poroso. Osso recreativo seguro? Só osso 100% cru. Além disso, esses ossos costumam não ter nenhum tecido mole (até para terem uma vida de prateleira mais longa) para absorver o impacto das dentadas.
Sim, eu sei que todos esses produtos – ossinhos-palito brancos, “ossos” de couro e ossos defumados – são vendidos em pet shops. Da mesma forma como nossos supermercados vendem dezenas de “porcarias” que nos fazem mal. Cabe a nós escolher conscientemente o que vai entrar no corpo do nosso peludo.
14. Em que situações NÃO devemos oferecer ossos recreativos?
Não ofereça ossos recreativos a cães e gatos que apresentaram mais de uma vez vômito e/ou diarreia após roê-los. Esse mal estar pode indicar intolerância a gordura ou uma intolerância especificamente à carne bovina ou suína, por exemplo. Não ofereça ossos a pets cronicamente constipados; o consumo de ossos pode agravar seriamente o quadro. Se seu peludo já fraturou dentes roendo ossos ou brinquedos e/ou já passou por restauração dentária não sirva ossos recreativos. Seria como dar um pé-de-moleque (ou um quebra-queixo) para uma pessoa com dentes frágeis. Enfim, se seu pet passou por qualquer situação desagradável após roer um osso recreativo, não ofereça mais. Ele é inteiramente opcional em qualquer dieta. 😉
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança. Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!