Há cerca de 10 a 30 mil anos atrás, alguns Canis lupus, os lobos cinzentos, membros da família Canidae e da ordem Carnivora, se deixaram domesticar. Foi o início da parceria homem-cão. Milhares de anos se passaram, nós transformamos o lobo em centenas de raças caninas super distintas entre si, mas nosso peludo que adora brincar de bolinha e tirar um cochilo no sofá permanece essencialmente um lobo doméstico.
Não acredita? Pois veja só: cães e lobos compartilham mais de 99% do seu DNA mitocondrial. Podem acasalar entre si e gerar descendentes férteis. São tão próximos geneticamente que o Smithsonian Institution, grupo norte-americano fundado em 1846 que engloba museus, galerias e zoológicos, mudou o nome científico do cão – antes Canis familiaris – para Canis lupus familiaris.
Descendentes dos lobos, todos os cães – todos mesmo, do minúsculo chihuahua ao caricato buldogue – evoluíram como carnívoros oportunistas e exibem distintas características anatômicas e fisiológicas que refletem essa adaptação.
E os gatos? Bem, nossa amizade com os gatos não fica muito atrás em termos de tempo, não. Nosso Felis catus provavelmente descende do Felis lybica, gato selvagem africano que se associou aos humanos de 10 mil anos atrás. E se mantém tão carnívoro quanto um leão, uma onça ou um guepardo.
Nossa proximidade milenar com cães e gatos proporcionou para esses animais um ambiente muito diferente da floresta ou deserto, de segurança e comida farta. Cães desenvolveram recursos para digerir melhor o amido que compõe a base da nossa dieta desde a conquista da agricultura. Gatos se tornaram interessados em leite e peixe, alimentos que não fazem parte da alimentação natural de seus ancestrais.
Atualmente, esses peludos integram nossas famílias e compartilham tão intimamente da nossa rotina, demonstrando interesse por tudo o que comemos, que se tornou mais fácil enxergá-los – e, consequentemente, alimentá-los – como “pequenas pessoinhas peludas” do que como descendentes de lobos e felinos selvagens.
Tendo evoluído ao nosso lado por milhares de anos, esses bichos adquiriram uma certa tolerância a dietas desbalanceadas. Ofereça frutas a uma cobra, por exemplo, e ela morrerá – tamanha sua inflexibilidade com alimentos estranhos à sua dieta natural, carnívora. Com cães e gatos, os danos por equívocos alimentares são cumulativos e de progressão consideravelmente mais lenta. Com isso, não vemos a ligação entre a obesidade, a alergia ou a inflamação crônica do pet e o excesso de frutas e pães (que naturalmente contêm açúcar) que tantos de nós oferecem diariamente aos peludos com a melhor das intenções.
No meio de tanta informação conflituada e equivocada, nunca foi tão importante compreender um pouco sobre nutrição canina e felina para fazer as escolhas dietéticas mais corretas, verdadeiramente saudáveis e apropriadas à biologia dos nossos pets. Cães e gatos são animais diferentes de nós fisiologicamente e para se manter saudáveis requerem alimentos diferentes dos exigidos por nós.
O primeiro passo é entender as diferenças entre animais herbívoros, onívoros e carnívoros para compreender qual “combustível” melhor atende às necessidades de cada uma dessas “máquinas”.
Herbívoros: a arte de processar plantas
Animais como o cavalo, a vaca e o coelho são herbívoros. Eles não comem carne, somente alimentos de origem vegetal. Só que transformar capim e grama em nutrientes não é tarefa fácil. Para isso, a natureza os dotou de:
- um sistema digestório infinitamente mais complexo, 10x mais longo que o comprimento do próprio corpo, com intrincadas câmaras de fermentação (onde bactérias dão uma mão indispensável ao processo digestivo).
- dentes molares achatados e quadrados, perfeitos para esmagar e moer plantas, e maxilares com movimentação lateral (é a vaca mascando capim, sabe?). Tudo porque esse tipo de comida requer uma caprichada maceração prévia na boca para ser bem digerida depois.
- enzimas na saliva próprias para digestão de carboidratos, como a amilase. A elaborada mastigação dos herbívoros vai misturando os vegetais na saliva cheia de amilase e a digestão dos carboidratos tem início ali na boca mesmo.
Onívoros: a turma dos flex
Caso do porco, do rato, do homem e do urso, que possuem sistemas digestórios mistos, adaptados tanto à digestão de matéria vegetal como de matéria animal. O barato aqui é combinar, um pouco de carnes, um pouco de vegetais. Ferramentas que a natureza concedeu a esse grupo pau-pra-toda-obra:
- Trato digestório de comprimento médio, igualmente adaptado ao processamento de vegetais e de proteína animal.
- Molares chatos e alguns dentes afiados, para um pouco de maceração de vegetais e um pouco de ‘rasgação’ de carnes.
- Saliva contendo a enzima digestiva amilase, para digestão de amido (carboidrato) presente nas plantas ingeridas.
Carnívoros: os predadores
O termo significa literalmente “comedor de carne”, embora carnívoros consumam grande parte da presa e não apenas a carne, e comam também em menor quantidade matéria vegetal. Bons exemplos são nossos cães e gatos, considerados, respectivamente, carnívoros oportunistas e carnívoros estritos (ou obrigatórios). As características anatômicas dessa turma são:
- Sistemas digestórios bem mais simples, curtos e bastante ácidos. Comparando com plantas, digerir carne e gordura é tarefa fácil, que dispensa um aparato sofisticado. O estômago desses animais é extremamente ácido, atingindo um pH de 1 a 2 (o pH do nosso, para efeito de comparação, fica entre 4 e 5). Isso porque a acidez ajuda a quebrar proteína e destrói bactérias, abundantes na comida dos carnívoros: carcaças vivas ou em decomposição.
- Dentes longos e afiados, apropriados para perfurar a carcaça e rasgar carne, e não para macerar plantas e grãos cereais. Os molares inferiores e superiores possuem forma de triângulo com bordas serrilhadas que se fecham como as lâminas de uma tesoura quando o animal morde a caça.
- Uma enorme abertura oral (pense num gato bocejando) e articulação mandibular que permite somente movimento vertical (de abre-e-fecha), sem capacidade de mastigação lateralizada (como a vaca mastigando capim). Tudo para conseguir engolir sem mastigar grandes nacos de carne (entendeu por que seu cão come tão rápido?).
- Ausência da enzima amilase na saliva, aquela que dá início à digestão do carboidrato. Por que a natureza gastaria tempo e energia equipando cães e gatos com essa enzima se eles não foram feitos para mastigar bem direitinho os alimentos e, principalmente, se não vão comer plantas?
Como pudemos ver acima, uma série de adaptações evolutivas, refletidas em aspectos anatômicos, claramente separam cães e gatos de onívoros clássicos, como o porco e o rato, e definitivamente não há como confundi-los com herbívoros, como o boi e o cavalo. Nossos cães e gatos evoluíram para consumir uma dieta predominantemente carnívora.
Gatos
Os felinos são carnívoros estritos (ou obrigatórios), o tipo mais extremo de predador que existe. Na natureza consomem os tecidos dos animais que abatem e um pouquinho de gramíneas (hábito que nosso bichano cultiva até hoje) que auxiliam o trânsito gastrintestinal e previnem problemas com bolas de pelo.
O metabolismo felino é tão carnívoro, mais tão carnívoro, que simplesmente não consegue aproveitar certos nutrientes presentes em alimentos vegetais. Felinos não são capazes, por exemplo, de converter o beta-caroteno da cenoura em vitamina A, o que os obriga a consumir a vitamina A pronta, como a presente no fígado. Também não conseguem conjugar os aminoácidos metionina e cisteína para fabricar taurina, um aminoácido essencial à saúde dos olhos e ao coração dos bichanos. Felizmente, taurina é o que não falta na dieta natural dos gatos, já que é abundante em carnes e vísceras cruas (o cozimento destrói esse aminoácido).
Os felinos possuem inúmeros outros requerimentos particulares, como os aminoácidos arginina e niacina, o ácido araquidônico (uma gordura essencial da série ômega-6 que está presente somente em tecidos de animais) e ômegas-3 de origem animal (peixe, krill) – eles simplesmente não assimilam ômegas-3 vegetais, como os contidos na linhaça. Nomes técnicos à parte, basta oferecer ao gato saudável uma dieta predominantemente carnívora, variada e devidamente balanceada que seus requerimentos específicos serão bem atendidos. Como ocorre na natureza.
Cães
Um lobo pode subsistir perfeitamente, crescer, se reproduzir e criar seus filhotes se alimentando exclusivamente dos tecidos de suas presas. Complementam a dieta dando suas bocadas, aqui e ali, em frutas, raízes e gramíneas. Mas em momentos de escassez de alimentos, eles se viram como podem, ingerindo até fezes de outros animais. E com a domesticação foram adquirindo algumas adaptações limitadas para aproveitar os restos da nossa dieta rica em carboidratos.
Por isso dizemos que os cães são carnívoros mais flexíveis que os gatos. São carnívoros oportunistas, predadores com tendências onívoras. Mas é preciso ter cuidado com interpretações precipitadas. O fato dos cães apresentarem certas adaptações para digestão de amido (carboidrato) não quer dizer que uma dieta com pouca (ou, pior ainda, nenhuma) proteína de origem animal e uma abundância de vegetais seja uma opção saudável.
Um cão pode sobreviver comendo uma dieta sem carnes, balanceada, com adições que supram as limitações do vegetarianismo. Mas no nosso modo de ver, sobreviver não é o mesmo que florescer, que atingir todo o potencial genético com a dieta que a evolução preparou o animal ao longo de milênios para consumir.
Como relata em seus livros o Professor de Nutrição Veterinária da universidade francesa de Alfort, Dominique Grandjean: “o responsável pela domesticação do cão e do gato, o homem, tem o dever de alimentá-los de acordo com as suas verdadeiras necessidades específicas, e não em função das suas projeções humanas. Esta é a primeira regra do verdadeiro respeito ao animal.”
OK, cães e gatos são em maior ou menor medida, carnívoros. (Aproveito para esclarecer que, ao contrário do que muita gente pensa, carnívoros não comem somente carne. Eles ingerem boa parte dos tecidos da presa como um todo – vísceras, tendões, ossos, cartilagem, até mesmo um pouco de pelos e penas (que atuam como fibras insolúveis), além de parte do conteúdo gastrintestinal (vegetais em processo de digestão) e obviamente também devoram a musculatura (carne) do animal. E complementam a dieta com insetos, ovos, frutas, sementes e gramíneas. É dessa forma que garantem uma dieta balanceada e completa, com todas as vitaminas, minerais, ácidos graxos e outros elementos fundamentais à sua saúde. Oferecer apenas carne a um animal carnívoro não garante o fornecimento de todos os nutrientes necessários e conduz rapidamente a graves deficiências nutricionais.)
Estabelecido isso, é hora de entender a importância de incluir fontes adequadas de proteína, gordura (sim, gorduras saudáveis) e carboidratos (fibras etc) na dieta dos cães e gatos.
Proteína
Verdadeiros blocos de montar, literalmente tudo o que existe no corpo é feito de proteína, nosso composto orgânico mais abundante. Mas sua relevância não é “apenas” estrutural. Sem proteína não ocorre transporte de nutrientes pelo sangue, nem coagulação sanguínea, não há produção de enzimas (necessárias para digestão, por exemplo), nem síntese de certos hormônios e não há um adequado funcionamento do sistema imunológico.
Mas nem todo tipo de proteína é adequada a carnívoros. Existem diferenças no perfil de aminoácidos de proteínas vegetais e animais. Enquanto um alimento de origem animal de alta qualidade (ovos, carne magra, fígado etc) fornece proteína completa, facilmente assimilada pelo organismo de cães e gatos, a proteína vegetal, por sua vez, fornece uma proteína incompleta, limitada.
O valor de uma proteína para um animal carnívoro está na sua unidade básica, os aminoácidos. Proteína animal de boa qualidade contém todos os aminoácidos essenciais para nossos carnívoros de estimação, na proporção correta para garantir sua saúde, manutenção e crescimento. O mesmo não pode ser dito sobre as proteínas do milho, da soja e proteínas vegetais isoladas. Esses alimentos podem ser adequados para a nutrição humana (somos onívoros), mas costumam ser pobres em aminoácidos importantes aos nossos pets, como arginina, taurina, metionina, lisina e triptofano.
Outro ponto qualitativo importante é o grau de digestibilidade da proteína, ou seja, a facilidade com que o organismo processa (digere) a proteína para obter matéria-prima (aminoácidos) e com ela manter tudo funcionando no organismo. No curto intestino delgado dos cães e gatos, a proteína animal é facilmente quebrada e assimilada. Já as proteínas vegetais encaram uma digestão mais trabalhosa e limitada no mal equipado intestino carnívoro.
Gorduras
Elas representam, provavelmente, o grupo de macronutrientes mais mal compreendido, injustamente temido e envolto em meias verdades que existe. (Leia aqui uma excelente discussão, escrita pelo médico Dr. Alexandre Feldman, sobre os interesses por trás da vilanização das gorduras.) Existem gorduras saudáveis e gorduras terríveis.
Vamos discutir aqui as mais adequadas aos pets, sobre as quais você encontra detalhes em outros artigos nesse site. Mas, adiantando, estamos falando de gordura animal, de manteiga, iogurte integral, da gordura dos peixes, ovos e vísceras, mas também de algumas gorduras vegetais saudáveis que entram como complementos nas nossas dietas, como azeite de oliva extravirgem e óleo de coco.
A gordura torna a dieta mais saborosa (por esse motivo nós humanos adicionamos queijo às nossas massas e azeite a pizzas), promove saciedade, apresenta excelente digestibilidade, é a melhor fonte de energia para carnívoros (fornece 2x mais calorias que proteína e carboidrato). Sem gordura, não há transporte de vitaminas A, D, E e K – que justamente por isso são classificadas como lipossolúveis, não há fornecimento de ácidos graxos ômegas-3 e 6, essenciais para o sistema imunológico e para a saúde da pelagem. Gordura atua também fornecendo acolchoamento interno, protegendo os órgãos internos de colisões e aumentando a resistência ao frio. Sem gordura, não há produção de hormônios. Quer mais? Gordura é parte integrante de todas as células. Pasme: 60% do cérebro é feito de gordura!
Por todos os motivos acima, jamais devemos omitir gordura da dieta de nossos pets saudáveis – salvo quando existe um bom motivo médico para isso. Até porque, diferentemente de nós, cães e gatos não costumam desenvolver doenças coronarianas por acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos ou por colesterol alto. Eles são carnívoros, lembra?
O que nos traz aos ácidos graxos essenciais. Eles têm esse nome porque são fundamentais ao organismo e só podem ser obtidos pelos alimentos – não há maneira de sintetizá-los no organismo. Os mais importantes são o ácido graxo linoleico e o araquidônico (série ômegas-6) e os DHA (ácido docosahexanóico) e EPA (ácido eicosapentanóico), as estrelas da série ômega-3. Um balanço adequado entre ômegas-6 e ômegas-3 seria de 2:1 a 5:1, dependendo da fonte consultada.
Na verdade, deficiência de ômega-6 é muito rara, pois esses ácidos graxos são resistentes, estáveis e estão presentes em vários alimentos (grãos, oleaginosas, gordura de carnes, ovos etc). Muito mais frequente é a deficiência de ômegas-3, uma vez que essas moléculas oxidam facilmente com o processamento industrial e até com cozimento excessivo e são encontradas apenas em um punhado de alimentos: peixes marinhos que nadam em águas frias (salmão selvagem, cavalinha, sardinha, arenque, atum), krill (camarãozinho minúsculo que é comida de baleia) e na gordura de laticínios, carnes e ovos de animais criados soltos, à base de forrageira (ou seja, que pastaram grama, não que comeram ração de grãos em regime de confinamento).
Existem vegetais que fornecem ômegas-3 de outro tipo, chamado ALA (ácido alfa-linolênico), um ácido graxo de cadeia curta encontrado na soja, na canola e na linhaça. Acontece que o ômega-3 vegetal (ALA) precisa ser convertido pelo organismo em ômegas-3 DHA e EPA para ser aproveitado, e nossos carnívoros de estimação não fazem adequadamente essa conversão. Ou seja, para eles, ácido graxo ômega-3 precisa ser o DHA e EPA, aquele encontrado em peixes como a sardinha.
Carboidratos
De acordo com inúmeros tratados de nutrição pet, cães e gatos adultos e saudáveis não possuem necessidade de receber carboidratos em suas dietas. Faz sentido, afinal, esses animais evoluíram consumindo carcaças de outros animais – um alimento essencialmente pobre em carboidratos e rico em gordura e proteína.
Mas então como cães e gatos obtêm a energia que associamos ao consumo de carboidratos – pães, massas, batatas? Ora, eles a obtêm diretamente da proteína e da gordura, por um fenômeno bioquímico chamado gliconeogênese, capaz de converter carne e gordura em glicose (a moeda de energia no organismo).
Não é que cães e gatos não podem receber uma pequena porção de alimentos contendo carboidratos saudáveis em suas dietas. Mas de maneira geral eles não requerem carboidratos.
Graças à falta de amilase na saliva, aquela enzima que dá início à digestão dos vegetais e que está presente na saliva de herbívoros e onívoros, cabe inteiramente ao pâncreas produzir a amilase necessária para digerir os carboidratos que os cães e gatos ingerem.
O mais fisiológico (“normal”) para esses animais é o pâncreas produzir em maior quantidade enzimas para digerir proteína e gordura, que são os principais macronutrientes da dieta natural deles. Mas quando comem dietas excessivamente ricas em carboidratos, o pâncreas canino e felino é forçado a trabalhar dobrado e secretar muito mais amilase para digerir todo o carboidrato, o que pode causar estresse metabólico.
Um excesso de carboidratos na dieta está relacionado ao diabetes mellitus (sim, porque carboidratos simples são açúcar), obesidade, tártaro, alergias de pele e otite, queda na imunidade, infecções urinárias, diarreia e gases intestinais. Continue lendo nossos artigos e você aprenderá que alguns carboidratos devem ser evitados (pães, bolos, macarrão, fubá) enquanto outros podem ser benéficos à saúde dos pets quando preparados da forma correta e oferecidos com moderação.
Vitaminas e minerais
Vitaminas são grandes catalisadores de reações do organismo. Pense numa reação fisiológica, qualquer uma – exemplo: coagulação do sangue – e pode apostar que em algum momento dessa reação há participação de pelo menos uma vitamina.
Existem basicamente dois grupos de vitaminas: as lipossolúveis (solúveis em gordura) – A, D, E e K – e as hidrossolúveis (solúveis em água) – a famosa vitamina C e as vitaminas complexo B. Todas são fundamentais para o adequado funcionamento do organismo.
A importância dos minerais vai muito além da manutenção da saúde óssea. Assim como as vitaminas, minerais desempenham papel fundamental nos processos fisiológicos, como síntese de hormônios e o equilíbrio de ácidos e bases (regulação do pH) de todos os tecidos do corpo.
Minerais e vitaminas são fornecidos por alimentos nutricionalmente densos, como ossos carnudos crus, folhas verde escuras, fígado, rim e outras vísceras, ovos, algas, iogurte, sal integral, peixes, frutas, tubérculos e legumes.
Outros elementos valiosos
Acima discutimos a importância da proteína, da gordura, do carboidrato, das vitaminas e minerais na dieta de cães e gatos. Mas existem muitos outros elementos essenciais à boa saúde.
Um deles é a água, embora não estejamos acostumados a considerá-la um nutriente. Mas água é um nutriente, e é o mais importante deles. Sem água sobrevive-se muito menos tempo que sem comida. A água está naturalmente presente em alimentos in natura em quantidades generosas: 70 a 80% de alimentos como carnes frescas, ovos, peixes, vegetais, frutas e grãos cereais cozidos são, basicamente, água.
Isso é fantástico, porque o consumo de alimentos úmidos (naturais) é muito mais fisiológico para predadores como cães e gatos. As carcaças que eles consomem na natureza também apresentam cerca de 70% de umidade. Essa água que faz parte da comida otimiza a digestão e mantém o animal bem hidratado, ajudando a prevenir cistites (infecções urinárias), cálculos urinários e desgaste dos rins.
Esse benefício da água é especialmente interessante para os gatos. Como vimos acima, nosso bichano descende de felinos do deserto africano, que, frente à ausência de lagos em seu território, evoluíram para extrair a água naturalmente presente no corpo das suas presas. Manter um gato em uma dieta desidratada – ração seca – aumenta MUITO as chances dele desenvolver doenças renais e urinárias por viver em constante estado de sub-hidratação.
Leia aqui um artigo nosso sobre como escolher a melhor água para seu pet.
Outros elementos valiosos que certos alimentos fornecem incluem antioxidantes, prebióticos, probióticos e fitonutrientes.
Antioxidantes, como a vitamina C, combatem a ação prejudicial de radicais livres no corpo, ajudando a neutralizar danos causados por poluentes, radiação, agrotóxicos, inflamação, toxinas. Em outras palavras, protegem o organismo contra doenças crônicas, como o câncer. Alimentos ricos em antioxidantes são, via de regra, os mesmos que fornecem vitaminas e minerais: folhas verde escuras, legumes e frutas, peixes, ovos, fígado, algas e castanhas.
Prebióticos e probióticos, por sua vez, ajudam a regular a função intestinal. “Grande coisa”, você pode pensar. “Só isso?” Mas hoje sabemos que a saúde começa e termina pelo intestino, considerado o maior órgão do sistema imunológico. Desequilíbrios no intrincado ecossistema microbiológico intestinal (imagine trilhões de bactérias e alguns milhões de protozoários) atrapalham a síntese de vitaminas, dificultam a digestão dos alimentos e a absorção dos nutrientes. Disso podem surgir quadros de desnutrição, alergias, doenças auto-imunes (no qual o organismo ataca a si próprio), septicemia (infecção generalizada) e toda sorte de doenças inflamatórias crônicas. Então, nada de banalizar a importância dos prebióticos e probióticos.
É aí que entram os probióticos e prebióticos. O primeiro grupo consiste em bactérias “do bem” que estão presentes em alimentos fermentados. O exemplo mais clássico é o dos lactobacilos vivos presentes no Yakult, mas os probióticos podem ser encontrados em outros tipos de comidas fermentadas, como iogurte, kefir e o sauerkraut (conserva de chucrute). Essas bactérias boazinhas colonizam o intestino e assim contribuem para manter no intestino uma proporção saudável entre a maioria de bactérias legais e uma minoria de bactérias patogênicas, as do mal. Prebióticos, por sua vez, são carboidratos que não são digeridos pelo trato digestório e que funcionam como “adubo” para as bactérias boazinhas. Bem alimentadas, essas bactérias tem maior chance de crescer, se espalhar pelo intestino e virar o jogo contra as bactérias “vilãs”. Prebióticos estão presentes em alimentos como o levedo de cerveja, a banana, o tomate e o alho.
Para se aprofundar:
- Artigo escrito pela médica-veterinária holística norte-americana Karen Becker sobre dietas adequadas ao carnivorismo oportunista dos cães e obrigatório dos gatos: http://healthypets.mercola.com/sites/healthypets/archive/2013/04/01/raw-food-diet-part-1.aspx
- White paper do fabricante de dieta comercial canadense para pets Orijen, predominantemente carnívora: http://files.championpetfoods.com/ORIJEN_White_Paper.pdf
- Nutrient Requirements of Dogs and Cats, National Research Council (NRC), 2006.
- Unlocking the Canine Ancestral Diet, Steve Brown, 2010.
- Your Cat: Simple, New Secrets to a Longer, Stronger Life, médica-veterinária Elizabeth Hodgkins.