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Ao contrário do que informa a maioria dos veterinários e livros de nutrição veterinária, cães e gatos não necessitam de fontes de carboidrato em suas dietas. Desde que estejam saudáveis, eles se dão muito bem com uma dieta variada e fresca, composta majoritariamente por carnes, ossos e vísceras, além de uma menor proporção de legumes e alguns – ou mesmo nenhum – suplementos.

O excesso de grãos – uma das principais fontes de carboidrato – nas dietas de alguns cães e gatos pode estar associada a problemas como má digestão (gases, diarréia), obesidade, diabetes, acúmulo de cálculo dentário (“tártaro”), mau hálito e alergias de pele. Além disso, grãos de má qualidade (basicamente milho, soja e trigo de uso industrial) podem apresentar micotoxinas, substâncias tóxicas produzidas por bolores, que podem provocar efeitos agudos (hepatite, doenças renais), crônicos (alergias, câncer, imunodeficiências) e até teratogênicos e mutagênicos (alteram a replicação do DNA, podendo ocasionar, por exemplo, má formação de fetos e câncer). Por não fazerem parte da dieta dos canídeos e felídeos na natureza, os grãos não fazem parte de dietas naturais como a BARF (Biologically Apropriate Raw Food) e a Raw Meaty Bones.

Talvez em função de a nossa própria cultura gastronômica ser tão marcada por grãos como o arroz e o feijão, muitos brasileiros automaticamente adicionam grandes porções de grãos às dietas caseiras dos animais.  Mas será que é sempre interessante oferecer arroz, feijão, pães, e outras fontes de carboidrato para os pets?

Em que situações posso oferecer grãos e outras fontes de carboidrato?
Uma boa fonte de carboidratos (grãos cozidos, tubérculos cozidos) oferece energia extra que pode ser bem-vinda para fêmeas prenhes, lactentes, filhotes e pets jovens e em crescimento, cães e gatos convalescentes, cães atletas e pets abaixo do peso, etc. Em contrapartida, cães e gatos com sobrepeso ou obesos  dispensam completamente esses alimentos altamente energéticos.

Quero que meu pet engorde. Posso dar carboidratos?
Se seu cão ou gato perdeu peso subitamente, consulte, antes de mais nada, o médico-veterinário. É preciso descartar outras causas de emagrecimento, como parasitose (vermes), diabetes, presença de tumores, distúrbios gastrointestinais, etc. Em se tratando de causa desconhecida ou motivada por aumento de atividade física, ofereça porções maiores de comida e/ou acrescente uma fonte extra de carboidrato. Dependendo do caso, essa adição pode ser diária ou ocasional, oferecida duas a três vezes por semana.

Quanto oferecer?
Salvo em dietas especiais para controle de certas enfermidades, carboidratos não devem constituir uma porcentagem muito alta na alimentação do pet.

Que grãos podem ser oferecidos?
Para poupar tempo e energia, a ênfase aqui vai para grãos de rápido cozimento, além de bastante nutritivos, digestíveis e bem aceitos por cães e gatos. Boas opções incluem:

Quinua/quinoa e Amaranto:
Esses dois elementos merecem destaque. São duas comidas naturebas da moda, mas sua reputação se justifica. Recentemente foram classificados como os dois alimentos com a maior porcentagem de proteína, fibra, riboflavina, vitamina B-6, zinco, cobre e ferro, levando-se em conta as necessidades nutricionais diárias humana. Curiosamente, ambos são alimentos antiqüíssimos, consumidos por antigas civilizações da América do Sul há milhares de anos.

A quinua na verdade não é um grão, e sim o fruto de uma planta riquíssima em proteína e cálcio, algo como uma mistura de arroz e feijão em um só “grão”. Há 500 anos, caiu nas graças da população andina. Nutricionistas agora a consideram o mais perfeito alimento da atualidade, uma vez que ela contém vinte aminoácidos essenciais, importantes para o desenvolvimento e manutenção de tecidos. Também possui alto teor de ferro, vitamina E, ômegas 3 e 6 e não contém glúten (ponto para quem é alérgico).

O amaranto ou amaranthus também não é cereal, e sim o fruto de um arbusto peruano, embora suas sementes possam ser cozidas como os grãos. É outra potência nutritiva: rico em proteína, fibras, baixos níveis de gorduras saturadas, alto teor do aminoácido lisina (geralmente pobre em grãos) e vitaminas B e E. Para se ter uma idéia, meras 150 gramas de amaranto fornecem 100% das necessidades diárias da alimentação humana. Também não contém glúten. Estudos recentes associaram o consumo do amaranto à redução do colesterol.

Por não serem grãos, a quinua e o amaranto não “traem” os princípios da dieta natural clássica e podem ser oferecidos aos pets ocasionalmente, como legumes. Nesse caso, basta cozinhar e oferecer. Não precisa bater em purê. A quinua pode ser encontrada em grandes supermercados e lojas de produtos naturais com relativa facilidade e em diversas variedades: grãos, flocos, farinha e até em massas. Prefira os grãos e flocos. O preço é meio salgado (em torno de 15 reais o quilo), até porque a quinua é novidade. Mas o volume triplica no cozimento, o que aumenta e muito o custo-benefício. Já o amaranto é mais difícil de encontrar. Pelo menos por enquanto. Com uma pesquisa rápida pelo Google li que várias fazendas estão investindo no cultivo desse arbusto no Brasil. Logo mais deve começar a aparecer amaranto nas prateleiras.

Leia mais sobre quinua e amaranto nesse endereço.

Arroz integral:
Duas xícaras de arroz integral cozido oferecem 720 calorias e 15 gramas de proteína.

Lentilha:
É um legume, não um grão. Uma xícara de lentilha crua oferece 578 calorias e 42 gramas de proteína.  Pode ser cozida na panela comum ou de pressão em meia hora e congelada em pequenas porções diárias. É rica em vitamina A, ferro e proteína.

Painço:
Uma xícara (cru) oferece 641 calorias e 19 gramas de proteína. Possui alto teor de vitaminas do complexo B e ferro.

Triguilho:
Uma xícara (cru) oferece 602 calorias e 19 gramas de proteína.

Cevada:
Duas xícaras e meia de cevada cozida oferecem 700 calorias e 19 gramas de proteína.

Aveia em flocos:
Uma xícara de aveia em flocos crua oferece 312 calorias e 11 gramas de proteína. Costuma levar apenas 10 minutos para cozinhar. Alto teor de cálcio, ferro e proteína. Filhotes, fêmeas prenhes e lactentes, convalescentes e atletas podem ainda recebê-la na forma de um mingau com leite (desnatado ou semi-desnatado) diluído em água (1:1).

Milho, soja, trigo, amendoim
Esses grãos, principalmente, o milho e a soja, são mais baratos e estão presentes de forma abundante nas rações para animais (de campo e pets). São “commodities” e rendem dezenas de subprodutos. Em um artigo anterior, publicamos o trailer para o documentário norte-americano King Corn, que expõe como virtualmente tudo o que comemos e usamos atualmente contém milho de alguma forma, direta ou indiretamente. A revista Super Interessante de outubro de 2008, publicou em suas “páginas amarelas”, uma entrevista oportuníssima com uma jornalista inglesa nas mesmas linhas: como o excesso de soja, milho e gordura vegetal hidrogenada está levando a uma epidemia de obesidade. O mesmo pode ser aplicado aos pets.

Os principais autores sobre dietas caseiras para cães e gatos não são favoráveis a esses grãos, considerados alergênicos, freqüentemente contaminados por fungos e menos interessantes nutricionalmente para os pets. Por serem grãos de abundante cultivo e longa estocagem, a probabilidade de que estejam contaminados por micotoxinas é bastante considerável. E embora se conheça 20 tipos de micotoxinas, o Brasil possui legislação para controlar apenas uma: a Aflatoxina, produzida pelo bolor Aspergillus ssp.

Acontece que o milho pode conter outras micotoxinas, como a deoxinivalenol, produzida pelo bolor Fusarium ssp e notório por causar toxicose humana no Japão, China e Coréia, e zearalenona (também produzida pelo Fusarium ssp), que compromete o sistema reprodutivo das porcas e foi identificada pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (AIPC) como possível cancerígeno humano.

É claro que o problema não está no consumo ocasional. Mas para oferta regular como fonte de carboidratos para cães e gatos, esses grãos devem ser evitados. Prefira as opções citadas anteriormente, mais seguras, mais digestíveis e mais nutritivas.

Modo de preparo dos grãos
Por serem pouco familiares ao organismo dos cães e gatos – carnívoros na Natureza – grãos e leguminosas precisam ser oferecidos muito bem cozidos a fim de serem bem digeridos e aproveitados. Além disso, grãos e leguminosas contêm elementos anti-nutricionais que podem impedir a absorção de alguns nutrientes importantes. Para evitar essa parte negativa e potencializar os benefícios da ingestão desses alimentos, atente para as dicas do texto abaixo, retirado do site Crianças na Cozinha – referência nacional em culinária saudável:

Por que deixar grãos e sementes de molho antes de consumi-los?

escrito por Pat Feldman

Afinal, qual é a vantagem de se deixar grãos e sementes de molho previamente? Deixar os grão de molho não diminui seu valor nutritivo? Deixar grãos e sementes de molho não altera o seu sabor?

São estas e muitas outras dúvidas que surgem, e que eu espero sinceramente conseguir responder no texto a seguir.

A bem intencionada recomendação atual para se consumir grãos integrais como faziam nossos ancestrais e farinhas de grão integrais é, em parte, enganosa, e pode trazer sérias conseqüências para a nossa saúde. Sim, nossos ancestrais consumiam grãos integrais, mas nem de longe da forma como consumimos atualmente. Nossos ancestrais, sabiamente, deixavam de molho ou fermentavam seus grãos antes de consumi-los ou prepará-los na forma de mingaus, pães, bolos, etc.

Um rápido passeio pela culinária tradicional do mundo nos prova esta verdade: na Índia, o arroz e a lentilha são fermentados por pelo menos 2 dias antes de serem preparados como idli e dosas; na África os nativos deixam a farinha de milho grossa deixada de molho durante a noite para depois adicioná-la em sopas e caldos, e eles fermentam milho ou amaranto por vários dias para então produzir um mingau azedo, conhecido por ogi; em outras culturas o mesmo prato era preparado com aveias deixadas de molho; em alguns países orientais e latino-americanos o arroz passa por uma longa fermentação antes do seu preparo; a Etiópia tem seu tradicional pão injera, preparado com o grão “teff”, que é fermentado por muitos dias; bolos de milho mexicanos, conhecidos como pozol, são fermentados em folhas de bananeira; antes da introdução dos fermentos comerciais, os europeus assavam pães pesados, massudos, feitos a partir de fermentação natural; os pioneiros norte-americanos eram famosos por seus pães de massa azeda, panquecas e biscoitos. Talvez alguns senhores e senhoras de mais idade ainda se lembrem da recomendação  de deixar de molho, que vinha escrita nos pacotes de aveia para mingau de antigamente…

Eu não sei bem de onde vinha esse conhecimento ancestral de deixar grãos de molho ou fermentando antes de consumi-los, mas é importante citar que estas práticas se adequam muito bem ao que a ciência moderna sabe sobre os grãos.

Todos os grãos contêm ácido fítico (um ácido orgânico no qual o fósforo é ligado) em sua camada mais externa. O ácido fítico pode-se ligar ao cálcio, magnésio, cobre, ferro e especialmente ao zinco no trato intestinal e bloquear a sua absorção. É por isso que uma dieta rica em grãos integrais não fermentados pode levar a sérias deficiências de minerais e perdas ósseas. A moderna, mas incorreta recomendação para o consumo de grandes quantidades de grãos integrais normalmente melhora o trânsito intestinal num primeiro momento, mas pode levar a problemas como a síndrome do intestino irritado, entre outros desagradáveis efeitos colaterais a médio e longo prazo.

Deixar de molho permite que enzimas, lactobacillus e outras substâncias quebrem e neutralizem o ácido fítico. Um mínimo de 7 horas de molho em água morna e meio ácido (conseguido com soro de iogurte ou gotinhas de limão) é capaz de neutralizar uma grande parcela do ácido fítico contido nos grãos. A simples prática de deixar grãos de molho por um período antes de consumi-los irá aumentar enormemente seus benefícios nutricionais.

Deixar de olho em água morna também irá neutralizar inibidores enzimáticos, presentes em todas as sementes, e predispõe à produção de numerosas enzimas benéficas. A ação dessas enzimas também aumenta as quantidades de vitaminas disponíveis, especialmente as vitaminas do complexo B.

Os pesquisadores também aprenderam que certas proteínas dos grãos, especialmente o glúten, são bastante difíceis de digerir. Uma dieta rica em grãos integrais não fermentados, em particular os grãos com alto teor de glúten como o trigo, sobrecarrega enormemente todo o mecanismo digestivo. Quando este mecanismo digestivo “desgasta” por causa da idade avançada ou por excesso de uso, os resultados são observados na forma de alergias, doença celíaca, doenças mentais, indigestão crônica e crescimento descontrolado de cândidas (bactérias). Pesquisas recentes ligam a intolerância ao glúten com esclerose múltipla. Durante o processo de molho ou fermentação, o glúten e outras proteínas de difícil digestão são parcialmente quebradas em componentes mais simples que são mais facilmente digeridos pelo nosso organismo.

Animais que se alimentam basicamente de grãos e outras plantas são animais que possuem pelo menos 4 estômagos! Seus intestinos são mais longos, assim como o processo digestivo como um todo. O ser humano, por outro lado, tem apenas um estômago e um trato digestivo bem menor que o de animais herbívoros. O trato digestivo menor, também permite que produtos animais sejam digeridos rápido o suficiente para não apodrecerem no intestino, mas dificulta a digestão de grãos – a menos é claro, que se peça ajuda às “bactérias boazinhas”. Elas agem no processo de molho ou fermentação a que todos os grão deveriam ser submetidos antes do consumo.

Os grãos são normalmente divididos eu duas categorias. Aqueles que contém glúten, como aveia, cevada e especialmente o trigo não devem ser consumidos a não ser que sejam previamente fermentados ou deixados de molho. Trigo sarraceno, arroz e amaranto, por sua vez, não contém glúten e são mais fáceis de digerir. O arroz integral e o amaranto contém menores doses de fitatos em comparação com outros grãos, então se for para consumir algum grão sem deixar de previamente de molho, que este grão seja o arroz integral ou o amaranto. Mas mesmo assim é necessário cozinhá-los lentamente, em fogo baixo, e sempre utilizando um caldo caseiro à base de carnes e ossos (o mocotó, tutano dos ossos, facilita a digestão desses grãos). Este cozimento lento na presença do mocotó neutraliza alguns dos poucos fitatos e proporciona uma boa dose de minerais ao prato. A panela de pressão jamais deveria ser utilizada. O cozimento em panela de pressão é excessivamente rápido, prejudicando a digestão.

A quinoa, original da América do Sul é tida desde estudos antigos, como um bom estimulante da produção de leite materno. Tecnicamente a quinoa não é um grão, mas sim um fruto da famíia Chenopodium, e contém excelentes propriedades nutricionais. Qualquer produto à base de quinoa deve ser sempre deixado de molho previamente. Os antinutrientes presentes na quinoa são neutralizados desta forma.”

Observações importantes: não acrescente temperos; além de desnecessários, podem fazer mal aos pets. Ao pingar vitamina C ou acrescentar óleo vegetal à refeição, tome cuidado para não despejá-los sobre os grãos quentes – o que pode anular as propriedades desses suplementos. E claro: espere esfriar bem antes de oferecer ao animal.

Tubérculos
Outras boas fontes de carboidratos são certos legumes, como as batatas, batatas-doce, inhame, mandioquinha, cará, etc. Além de ofertar muita energia, esses tubérculos são ricos em fibras e em vitaminas. Basta cozinhá-las no vapor ou em panela com pouca água, por cerca de 15 minutos, até que estejam tenros e cozidos. Nunca ofereça esses alimentos crus. Quando crus eles possuem uma substância que causa diarreia severa em cães.

Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!