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Puns e arrotos são parte da vida, até mesmo dos pets. Ao comer, beber água e até quando respiram, cães e gatos ingerem ar. Chamamos isso de aerofagia. Esse ar se acumula no tubo digestivo e é expelido como arrotos ou puns. A aerofagia é um dos principais motivos para os pets braquicefálicos (de focinho achatado) serem mais “gasosos”. Muitos deles têm vias aéreas superiores obstruídas, o que resulta em uma respiração mais rápida e maior ingestão de ar.

Além do ar ingerido, uma parte significativa dos gases vem do processo de digestão. Durante a fermentação dos alimentos pelo microbioma intestinal, que é a comunidade de bactérias residentes no intestino grosso, são produzidos gases como hidrogênio, metano e dióxido de carbono. O equilíbrio do microbioma e a composição da dieta influenciam diretamente a quantidade e o odor dos gases. Alimentos ricos em fibras, carboidratos pouco cozidos e proteínas de baixa digestibilidade, ou seja, alimentos que são digeridos de forma incompleta, tendem a gerar mais gases durante a fermentação bacteriana. (É por esse motivo que substituir a ração – um alimento de menor digestbilidade – por uma Alimentação Natural equilibrada pode reduzir tremendamente a produção de gases em cães e gatos.)

Por fim, a velocidade de passagem do alimento pelo tubo digestivo também afeta a produção de gases. Problemas de saúde que retardam o trânsito digestivo prolongam o tempo de fermentação dos alimentos no intestino, levando à produção exacerbada de gases.

Como já comentei, produzir e eliminar um pouco de gases é normal. O problema são os gases excessivos e o incômodo que eles podem gerar. O cão ou gato com cólica por gases pode ficar amuado ou inquieto, completamente inapetente, ter distensão abdominal e ruídos digestivos audíveis, os borborigmos. Cães com desconforto digestivo também sair lambendo superfícies e ingerindo mato de maneira indiscriminada e aflita.

Os episódios podem ser agudos (por exemplo, quando o pet come algo diferente na rua) ou crônicos, que merecem investigação. Desconforto por gases é uma queixa que atendo regularmente. 

Mudança alimentar

Comer algo diferente é a principal causa de gases em cães e gatos. Aqui entram a mudança brusca de um tipo de dieta para outra, revirar o lixo e ingerir um alimento “passado”, comer algo na rua e consumir uma quantidade exagerada de qualquer alimento. É um episódio pontual, que pode ou não estar acompanhado de vômito e/ou alterações nas fezes, e geralmente tranquilo de solucionar.

Alimentos fermentativos

Brócolis, couve-flor, repolho, ovos, batata-doce e alho podem ser fermentativos, dependendo da sensibilidade do animal e da maneira como são preparados. Quando o consumo de algum deles provoca um pouco de gases sem evoluir para cólica e desconforto não é o caso de exclui-los da dieta. Alguns pets, como algumas pessoas, também podem ser sensíveis aos FODMAPS, carboidratos fermentativos presentes em alimentos como aspargos, cogumelos, lácteos, maçã, manga e pêra.

Dieta desequilibrada

Uma dieta desbalanceada, com excesso de fibras solúveis, vegetais, carboidratos ou proteínas de baixa digestibilidade, pode contribuir para a formação de gases. Da mesma forma, pedaços grandes de vegetais e fontes de amido mal cozidas podem gerar gases. Para facilitar o processo digestivo, é recomendável cozinhar e triturar os vegetais e carboidratos da dieta do animal.

Intolerância alimentar

Assim como nós, os pets podem desenvolver intolerância a alimentos que eles sempre consumiram e digeriam bem. A intolerância pode ser à cenoura, a alguma carne, víscera, a cereais, ao petisco e até ao suplemento. Aqui, recomendo contar com orientação e acompanhamento de uma profissional para conduzir direitinho um processo de exclusão de alimentos potencialmente reativos e a posterior reintrodução destes a fim de isolar os alimentos problemáticos para o peludo.

Hipocloridria e falta de enzimas digestivas

Gases excessivos também podem acontecer quando o animal sofre de hipocloridria, que é a baixa produção de ácido clorídrico no estômago. E também quando faltam enzimas digestivas para “quebrar” o carboidrato, gordura e proteína da dieta. A administração de nutracêuticos como betaína HCL e enzimas digestivas (pancreatina, bromelina, papaína) podem devolver eficiência aos processos digestivos. Converse a respeito com uma veterinária experiente em nutracêuticos.

Verminose e disbiose

A presença de parasitos intestinais interfere com os processos digestivos, podendo causar gases. A famosa disbiose intestinal (desequilíbrio do ecossistema de microorganismos do intestino) é outra causa de gases. O uso de fármacos como antibiótico, corticóide, omeprazol e metronidazol, bem como o consumo de mordedores de couro bovino tratados quimicamente, reduz o número de colônias e altera a diversidade das bactérias que ajudam a digerir os alimentos.

Distúrbios de motilidade

Quadros de saúde como hipotiroidismo, constipação e gastroparesia reduzem a velocidade com que o alimento percorre o tubo digestivo, favorecendo a fermentação excessiva. Certos medicamentos também podem causar isso, como os opióides e anestésicos, além de desidratação e presença de corpo estranho (objeto retido no estômago ou intestino), a exemplo de bolas de pêlo, pedaços de brinquedo etc.

Medidas simples que ajudam

Seu pet é predisposto a gases? Avalie a dieta e cozinhe bem os carboidratos, se presentes. Tigela servida no chão ou elevada demais pode acentuar a ingestão de ar durante o consumo. O exercício físico diário estimula a contração gastrintestinal, expulsando os gases. Chá de hortelã e de erva-doce são ótimos contra gases, mas evite adicionar água, caldo ou chá à comida. Isso dilui o suco gástrico, atrapalhando a digestão. Sirva líquidos 1 a 2 horas afastado das refeições.

Seu cão ou gato sofre com questões digestivas crônicas? Recomendo buscar orientação de profissionais da área de gastroenterologia e nutrição.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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