Quem está familiarizado com o sistema de porcentagens do Cachorro Verde para formulação de dietas para cães e gatos saudáveis sabe que recomendo incluir uma pequena porção de folhas verde-escuras na Alimentação Natural (AN), diariamente ou pelo menos algumas vezes por semana. Estou falando de verduras como couve, espinafre, agrião, rúcula, almeirão, chicória, escarola, acelga e folhas de beterraba e de brócolis. Adicionar um pouquinho delas, coisa de 1,5% a até 5% do total da dieta, fornece amplos benefícios.
As folhas apresentam altíssima concentração de antioxidantes, fundamentais para desacelerar o processo de envelhecimento, e vitaminas do complexo B que atuam na regulação do metabolismo e destoxificação hepática. Têm baixo índice glicêmico, são pouco calóricas e concentram fibras, tanto do tipo insolúvel como do tipo solúvel. A presença desse último tipo de fibras, aliás, faz das folhas um bom adubo para o microbioma intestinal. Ou seja, elas possuem efeito prebiótico, aumentando a diversidade de bactérias intestinais que são grandes aliadas da saúde.
A inclusão regular desses verdinhos na dieta pode reduzir o comportamento de coprofagia, quando influenciado por desequilíbrio do ecossistema intestinal (a famosa disbiose) ou por carência de nutrientes. Da mesma forma, pode satisfazer a vontade de comer gramíneas durante os passeios e prevenir obstrução gastrintestinal por bolas de pêlos nos felinos.
E a melhor parte é que costuma ser fácil servir folhas na dieta deles, desde que identifiquemos suas preferências, não exageremos na quantidade ofertada e preparemos da maneira mais apreciada por eles. Arthur, um gato Persa com quem convivi, devorava couve-manteiga crua rasgada crua. Ele puxava a couve como a impressora suga uma folha de papel, era muito engraçado.
Para serem razoavelmente bem aproveitadas pelo trato digestório dos nossos carnívoros de estimação, as folhas cruas devem ser trituradas (melhor) ou picadas bem finas. É possível gastar um pouquinho mais de tempo no preparo? Cozinhe-as por alguns minutos no vapor – estudos mostram que isso pode triplicar a concentração de alguns compostos e nutrientes. Quer saber mais? Confira a seguir as principais folhas verde-escuras!
Espinafre
O espinafre reúne diversos flavonóides – espinacetina, patuletina, jaceidina, e polifenóis, como a quercetina, que tem efeito antialérgico e luteolina, com propriedades antiinflamatórias. Também fornece beta-caroteno, fundamental para a saúde dos olhos e adequadas função imunológica, desenvolvimento e divisão celular. O beta-caroteno é um exemplo de nutriente favorecido pelo cozimento. Servir espinafre cozido por alguns minutos no vapor triplica o teor desse super antioxidante.
Além de fornecer as vitaminas K, C, tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico, ácido fólico e piridoxina, o espinafre é um dos poucos alimentos fonte de vitamina E, poderoso antioxidante. Já ouviu falar no ácido alfa-lipóico? No espinafre tem. Ele ajuda a regular a glicemia e, segundo um estudo em cães, pode aumentar a plasticidade neuronal e reduzir o declínio mitocondrial associado à idade. https://faseb.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1096/fj.07-8531com
E o ácido oxálico?
Muita gente não o inclui na dieta do cão ou gato por medo de um antinutriente que ele concentra, o ácido oxálico. Não há motivo para barrar a oferta com moderação (por exemplo, 2-3x por semana) de espinafre da dieta de cães e gatos sem histórico de formação de cálculos urinários de oxalato de cálcio. E uma dica: sirva o espinafre cozido por fervura; isso reduz significativamente os teores de ácido oxálico.
Couve
Além de concentrar fibras, vitaminas e minerais como cálcio, magnésio e potássio, a couve é um vegetal crucífero. Isso quer dizer que ela fornece sulforafane, composto organossulfurado que tem sido bastante estudado pelo seu potencial contra o câncer, em especial o de próstata, mama, colorretal e de pulmão. Vale a couve-manteiga, couve-de-bruxelas, couve-galega, couve-crespa (kale), couve-chinesa (bok choy) e outras.
Agrião
Recentemente esse verdinho amargo foi alçado ao estrelato nutricional. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, lhe concedeu pontuação máxima dentre todos os alimentos existentes – nota 100. Isso, porque além de reunir os clássicos das folhas, como complexo B, vitamina K e uma cacetada de antioxidantes que previnem doenças degenerativas, o agrião fornece ferro de alta absorção.
Rúcula
É curioso tantos cães gostarem de rúcula, dado o seu sabor peculiar, misto de picante e amargo. Certos fitoquímicos da rúcula, como os indóis e isotiocianatos, vêm sendo estudados por seu efeito na eliminação de toxinas e metais pesados do organismo. A rúcula também concentra de forma especial nutrientes importantes à saúde óssea, como cálcio e vitamina K (que mantém o cálcio nos ossos). Apenas 10g de rúcula crua fornecem até 20mg de cálcio e até 25mcg de vitamina K.
Outras folhas
Considere a compra de outras folhas, como almeirão, acelga, endívia, chicória (rica em inulina, valioso prebiótico), catalônia, escarola, mostarda, folhas de beterraba e de brócolis, repolho roxo e verde e as PANCS (plantas alimentícias não convencionais). Todas têm muito a contribuir nutricionalmente. A menos especial da lista é a alface, que reúne consideravelmente menos dos compostos interessantes figurados nesse post.
Quanto e como oferecer
Se você exagerar na dose seu peludo vai torcer o focinho para a refeição. Inclua as folhas como 1,5% a no máximo 5% do total diário de alimentos. Se minha cachorrinha Polly recebe 300g de AN por dia, então até 15g podem ser folhas. Elas entram na porção de vegetais da dieta. Ofereça-as picadas e levemente cozidas (3 minutos no vapor é a melhor opção) ou cruas e trituradas (higienize antes). Prefira orgânicas, mas se não for possível, compre de cultivo convencional mesmo.
Para finalizar
Em geral, a aceitação das folhas na Alimentação Natural é tranquila. Mas se seu cão ou gato não curtiu a inclusão desses verdinhos, mude a maneira de prepará-los. Experimente cozinhá-los ou triture-os crus ou cozidos, junto com uma parte dos alimentos preferidos do seu peludo, como carne ou vísceras. Adicionar um pouquinho de azeite de oliva por cima também deixa mais gostoso e de quebra aumenta a absorção dos nutrientes e compostos lipossolúveis das folhas.
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Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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