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Exames bem solicitados e interpretados com sabedoria nos permitem detectar alterações que ainda não evoluíram para uma doença, auxiliam no diagnóstico precoce e nos possibilitam monitorar o progresso de uma enfermidade, além de avaliar a resposta do cão ou gato ao tratamento proposto.

No entanto, realizar exames representa um investimento significativo, tanto para a tutora quanto para o pet. Por isso, é fundamental sermos criteriosos e sensatos ao solicitá-los. O custo de um check-up geral para um pet na capital paulista gira em torno de mil reais. Além de caros, os exames podem ser estressantes para os peludos, que passam por jejum, transporte em caixas, esperas em ambientes com cheiros de outros animais assustados, manipulação por estranhos, garrotes e agulhas.

Problemas no processamento das amostras podem ocorrer, resultando em dados estranhos. Porém, mais prejudicial pode ser a interpretação inadequada dos resultados, que depende diretamente da experiência e conhecimento do veterinário em relação ao caso. Nem todo resultado alterado justifica mudanças na dieta ou prescrição de tratamentos.

Por exemplo, um cão que segue uma dieta rica em carnes e vísceras pode apresentar níveis de ureia próximos ao limite máximo de referência (60), ou até ligeiramente acima, sem que isso signifique comprometimento renal. Antes de considerar ajustes na dieta ou diagnóstico de doença renal, é necessário avaliar outros indicadores da função renal, como creatinina, relação proteína/creatinina urinária, fósforo, a aparência dos rins na ultrassonografia abdominal, além do grau de hidratação e o estado clínico do paciente.

O jejum adequado também influencia os resultados dos exames e deve ser respeitado. Para uma avaliação precisa do pH e sedimentos urinários, a amostra deve ser coletada após pelo menos 6 horas de jejum de sólidos. Para medir os níveis de colesterol e triglicerídeos, é necessário um jejum de 12 horas, mantendo o acesso livre à água.

Cada veterinário solicita exames de acordo com sua localidade, preferências, conhecimentos e especialidades. Confira abaixo os exames que eu em geral considero mais relevantes para meus pacientes adeptos de Alimentação Natural.

Filhote e jovem adulto

Quando meu paciente é um filhote ou adulto jovem (até 2 anos) sem queixas clínicas – vômito, alterações nas fezes, sangue na urina, emagrecimento etc – e alimentado com uma dieta equilibrada e suplementada para pet saudável, nem sempre peço exames antes de orientar a transição para a Alimentação Natural (AN). Dito isso, acho importante que, junto ao veterinário clínico-geral, gatos sejam triados para FeLV e FIV, e cães, para Leishmaniose Visceral e outras doenças transmitidas por vetores.

Quando o filhote ou jovem adulto apresenta sintomas recorrentes solicito exames gerais para ter uma visão mais ampla do que está havendo, e também alguns mais específicos. Da mesma forma, se o pet está há tempos recebendo uma dieta desbalanceada e/ou não suplementada, peço exames como hemograma e dosagem de alguns elementos, como fósforo, cálcio iônico e cálcio total.

Adulto

Para cães com idade entre 3 e 5 anos e gatos entre 3 e 7 anos, mesmo que aparentem estar saudáveis, julgo importante analisar exames gerais dos últimos 6 meses, como hemograma (pode sugerir infecção, anemia, parasitoses e certas deficiências nutricionais), função hepática (ALT, GGT), função renal (uréia, creatinina), saúde urinária (urinálise), ultrassonografia abdominal (para avaliar principalmente o aspecto da bexiga e trato digestório), perfil lipídico (triglicérides e de colesterol total) e cálcio iônico e total.

Sênior

Para cães com idade entre 6 e 10 anos e gatos entre 8 e 12 anos acho importante incluir, além dos mencionados no quadrinho anterior, exames cardiológicos, como o ecodopplercardiograma, aferição de pressão arterial, dosagem de fosfatase alcalina e exames adicionais da função renal, como SDMA e fósforo. A depender da existência de sinais clínicos, testes para investigar quadros endócrinos, oncológicos, neurológicos e osteoarticulares podem ser solicitados, dentre diversos outros.

Idosos

Nesse período da vida tão sujeito ao desenvolvimento de quadros crônicos por desgaste e acúmulos procuro intensificar minha conduta investigativa. Certos exames, como hemograma e os de função renal, passo a recomendar que sejam realizados semestralmente ou até mais regularmente já que agravos repentinos ocorrem com frequência nessa fase. O mesmo vale para doenças que precisamos acompanhar de perto, como cardiopatias e neoplasias.

Antes e depois?

Como comentei, há casos em que não solicito exames antes de passar um paciente jovem e aparentemente saudável para a AN. Mas costumo solicitar exames 2-4 meses após a mudança para a nova dieta para verificar se certos pontos importantes estão em ordem: se a urina está límpida, se mantém níveis normais de gordura no sangue, se lida bem com o teor de proteína da dieta, se o cálcio suplementado está satisfatório, como estão a vesícula biliar e o pâncreas etc.

Com que frequência?

Para cães saudáveis, sem diagnóstico de doenças crônicas, geralmente considero um check-up anual o suficiente. Para gatos vale a mesma recomendação, ou a cada 18 meses, se muito estressados. Portadores de quadros crônicos requerem exames mais frequentes para monitoramento da doença e da resposta ao tratamento e/ou à dieta. Acho importante que cães e gatos idosos sejam submetidos a exames gerais semestrais para detecção precoce de doenças.

Interpretando os resultados

Tutores, não tomem decisões quanto ao tratamento, manejo ou dieta do peludo com base na sua própria interpretação dos resultados; consulte sempre a veterinária de confiança.

O resultado do exame não fez sentido? Converse com o veterinário e peçam para repetir o exame. Artefatos (resultados equivocados) não são incomuns.

Colegas, nem sempre os valores de referência informados no laudo são os mais atualizados, dando a impressão de que o parâmetro em questão está alterado quando na verdade está normal. Na dúvida, compare com as referências adotadas por outros laboratórios renomados.

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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