Normalíssimo. Vamos entender melhor. Convenhamos que comida caseira, em comparação com ração seca, é infinitamente mais saborosa. E o que qualquer indivíduo faz na presença de algo delicioso? Quer mais. E mais. E mais. Assim, seu peludo correrá para a cozinha sempre que você for pra lá, à espera de ganhar um pouco da comida que ele sabe que está na geladeira. Ou voltará à vasilha vazia para lamber um micronézimo de caldo que sobrou da ultima refeição.
Isso pode passar a impressão de que depois da introdução da Alimentação Natural caseira (AN) seu pet está sempre com fome. Que a comida de agora não está sustentando como a ração fazia.
Mas precisamos entender que apetite (disposição para comer mais e mais e sempre), não é o mesmo que fome (necessidade fisiológica de se alimentar por déficit de nutrientes circulantes no sangue).
É verdade que existem situações anormais que podem aumentar (ainda mais) o apetite dos cães, como diabetes, insuficiência pancréatica exócrina, verminose, doenças intestinais e tratamento com corticóides e anticonvulsivantes. Por isso, para saber se uma alteração de saúde está por trás do apetite infindável do seu amigão, em primeiro lugar procure o veterinário de sua confiança para um check-up geral.
Mas, felizmente, apetite motivado por doenças não é a regra. Na maioria esmagadora dos casos, o super apetite dos cães é totalmente fisiológico. Ou seja, normal. Em outras palavras, o mais provável é que seu peludo esteja agindo assim porque a comida de agora é deliciosa e porque ele é guloso por natureza.
O mecanismo de saciedade dos cães é muito diferente do nosso. Na natureza os canídeos precisam ingerir de uma só vez grandes quantidades de comida. Abater presas não é tarefa fácil. A oferta de caça é irregular e é preciso aproveitar ao máximo a comida ali disponível. Assim como seus primos selvagens, nossos cães são capazes de comer em uma única refeição muito mais do que o necessário para sua manutenção. Some esse comportamento compulsivo à oferta cotidiana de um grande volume de alimentos e a uma vida consideravelmente mais sedentária que a dos lobos e está explicada a epidemia de obesidade nos pets de hoje. E que, mesmo estando obesos, continuam a parecer mortos de fome…
Pedir comida também pode ser uma forma de chamar a sua atenção. Se o cão pede comida e recebe a recompensa esperada, ele entende que o “método” funcionou e passa a repetir a estratégia sempre que tem a chance. Como remediar isso? Não dê comida fora de hora. O cão que mendiga à mesa incomoda as visitas, engorda e pode acabar ingerindo alimentos impróprios, como doces e frituras. Frequentemente observo que cães que comem mais do que precisam se tornam seletivos, escolhendo comer somente os itens do “prato” que gostam mais, o que pode prejudicar seriamente o balanceamento da dieta. Chamo isso de “síndrome da barriga cheia” ou “recebo-tantos-petiscos-que-quando-servem-meu-almoço-como-só-a-carne-e-deixo-os-legumes-eca!”.
A melhor dica ainda é resistir, ignorar os pedidos e não deixar comida ao alcance dele, como frutas na fruteira. Entendo como é difícil ignorar a imploração por mais comida, também passo por isso com meus cães. Mas acredito que disciplina alimentar faz parte da educação de todo indivíduo (filhotes de animais humanos também, inclusive) e o faço pelo bem deles. Lembre-se sempre: seu pet não faz as próprias escolhas alimentares e não sabe que estar acima do peso predispõe a doenças crônicas e abrevia consideravelmente a expectativa de vida.
Mas você sabe, aja por ele! 😉
Uma vez compreendido que grande parte dos cães é fisiologicamente insaciável (é sério, não há quantidade normal de comida capaz de realmente saciar um cão “sem fundo“), não devemos permitir que essa gula sem fim determine a quantidade de alimentos oferecida diariamente. São outros parâmetros que contam, como peso, grau de atividade física e estado de saúde. Um cão no peso ideal que começa a praticar esportes, por exemplo, requer uma quantidade maior de alimentos ou uma dieta diferente, mais densa em calorias. Um cão no peso ideal que de repente começa a emagrecer provavelmente precisará comer mais, mas antes disso deverá ser submetido a um check-up geral para descartar alterações de saúde que levam à perda de peso.
Meu ponto é: se não há motivos justificáveis para aumentar a quantidade diária de comida oferecida, é recomendável não fazê-lo.