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Em 2008, quando meus cães e gatos migraram para a Alimentação Natural (AN), percebi rapidamente muitas mudanças positivas na saúde deles. Redução do mau hálito, da queda de pelos, cocô menor e com cheiro mais discreto, peso saudável sem sacrifícios, fim das otites teimosas e até maior resistência a pulgas e carrapatos. Definitivamente, eu estava muito satisfeita com os resultados.

Ao mesmo tempo, fiquei um pouco insegura com algumas situações que comecei a notar após a mudança para a dieta natural. Quando comia ração, a bicharada (três cães e dois gatos) bebia muita água. Terminavam de comer e iam ao bebedouro matar uma sede sem fim. Eu enchia as vasilhas algumas vezes durante o dia.

Depois da AN, o consumo de água literalmente despencou. Os cães só bebiam na volta dos passeios e os gatos ignoravam a água totalmente. Curiosamente, todo mundo fazia bastante xixi. Os gatos urinavam em volume até maior que antes e a areia quase não tinha cheiro. Não entendi nada. “Aquilo era normal? Será que eu estava errando em algum ponto?”

Na época, eu era estudante de Veterinária e o assunto “AN” era infinitamente menos conhecido entre os veterinários que hoje. Achei melhor levar os cães para fazer exames. Com os resultados em mão, novamente fiquei cabreira. Verifiquei taxas elevadas de eritrócitos, hemoglobina e hematócrito na série vermelha do hemograma e também do colesterol HDL. Vi também níveis de uréia próximos ao limite normal superior.

A última coisa que meus cães e gatos pareciam estar era doentes, o que me tranquilizava, em parte. Como não adiantava muito perguntar aos veterinários da época o que eles pensavam a respeito, fui procurar minha turma. Fucei livros sobre AN que eu lera e relera, encontrei artigos escritos por veterinários experientes em AN e pesquisei em fóruns de praticantes experientes.

Felizmente, as estranhices que eu via não eram sintomas, ufaaaa, mas respostas normais e esperadas de cães e gatos que passaram a receber uma dieta rica em carne e muito úmida. Calma, que eu explico tudo.

Parou de beber água

AN fornece até 7x mais água que a ração seca, além de em geral ter menos sódio. Também existe a água metabólica, obtida com a digestão da gordura. Cada 1g de lipídeo oxidado gera mais de 1g de água. O animal, se sentindo bem hidratado, não procura tanta água. Para os gatos, que descendem de felinos de deserto, consumir alimento naturalmente hidratado faz todo o sentido. Se o pet estiver urinando normalmente, não há motivo para preocupação.

Apetite insaciável

Quando recebia ração, seu cachorro comia sem empolgação. Agora ele avisa que é hora da refeição. Rodopia enquanto você prepara o prato, depois devora tudo em segundos e logo já quer comer de novo. Seus pais comentam que você não dá comida suficiente.

AN é muito mais gostosa e cheirosa que ração, daí a ansiedade. Isso melhora com o tempo, quando o pet entende que a AN veio para ficar. Mas se ele perdeu peso e isso não é desejável, aumente em 10-15% ototal diário servido.

Menos cocô

Os tutores com frequência estranham esse ponto. Comendo ração, o cachorro antes fazia dois a três cocôs por dia, às vezes mais, e maiores. Com AN é normal o cão fazer o “número 2” uma única vez ao dia e em volume bem menor. Isso se deve à maior digestibilidade da AN em relação à ração seca. Ingredientes menos digestíveis geram mais resíduo.

Cocôs diferentes

É esperado que as fezes de AN não sejam uniformes e marrons, como as de ração. É que a dieta natural é variada. O consumo de ossos pode deixar as fezes esbranquiçadas e secas ao ponto de ficarem farelentas. Vísceras e sardinha escurecem o cocô. Pigmentos da abóbora e cenoura podem tingir as fezes (e o da beterraba, a urina). Já frango e mandioquinha deixam as fezes claras. E o cocô tricolor, já viu? 😂

Cocô dos bichanos

Diferente dos adeptos de ração seca, gatos que recebem AN em geral não fazem cocô todo dia. É o esperado para a dieta que os felinos evoluíram para consumir, rica em carnes e pobríssima em carboidratos.

Mas se o gato tem tendência à constipação pode ser indicado aumentar o teor de fibras na dieta, adicionando às refeições um pouco de sementes de chia ou farinha de côco.

Exames

Com frequência vejo diferenças nos resultados dos exames:

  • colesterol HDL (o “bom colesterol”)
  • eritrócitos, hemoglobina e hematócrito (no hemograma)
  • uréia
  • creatinina (principalmente em gatos)

Os atuais parâmetros de normalidade se basearam em cães e gatos que comem ração – não AN. Uma dieta com mais proteína, gordura e menos carboidrato resulte diferente de uma dieta com níveis inversos de macronutrientes.

Se o pet está clinicamente bem seus outros exames estão normais, posso interpretar ligeiras elevações nos parâmetros acima como variação da normalidade.

Segundo a veterinária canadense Jean Dodds, formada em 1964 e proprietária do laboratório Hemopet, dietas ricas em carnes e vísceras frescas são fontes expressivas de vitamina B12 e ferro, que estimulam a produção de hemácias e hemoglobina; e de proteína, o que pode elevar discretamente os níveis de uréia e creatinina sem que isso seja sinal de prejuízo aos rins.

Não é normal

Durante o período de transição da ração para a AN uma parcela de cães e gatos pode manifestar sintomas leves e transitórios de adaptação à nova dieta, como fezes amolecidas, com muco ou ressecadas, regurgitação ou vômito, queda de pelo, mau hálito e aumento de secreções (nos olhos, nos ouvidos). A veterinária de confiança deve ser consultada se esses sintomas perdurarem ou se agravarem e, se for o caso, a AN será readequada.

E você? Já tomou susto com alguma “estranhice normal” da AN? Conta pra gente!

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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