Diabetes? Alergia? Agressividade? Prevenção/combate do câncer? Imunidade baixa? Obesidade? Queda de pelos? Diarreia crônica? Recebo com muita frequência perguntas desse tipo, de tutores querendo saber se a Alimentação Natural (AN) pode influenciar positivamente os mais diversos casos de doenças em cães e gatos. Minha resposta é “sim”. Com base no que venho observando em uma rotina exclusivamente pautada no atendimento de nutrição clínica há 10 anos, vejo a AN fazer diferença, muitas vezes uma enorme diferença, em múltiplas situações. Mas as chances da dieta ajudar aumentam ou diminuem com base em alguns fatores.
Há doenças mais e menos influenciadas por alimentação. Enquanto o controle de doenças como shunt portossistêmico e “alergia” alimentar dependem diretamente de características da dieta, outros quadros, como dermatite alérgica a picada de pulgas, podem ser menos influenciados. Mas observe que escrevi “menos” influenciados, porque através da dieta é possível aumentar a imunidade contra pulgas e assim reduzir a frequência de reações. Observei, por exemplo, que metade dos meus pacientes com Alopecia X, uma doença na qual cãezinhos vão ficando pelados, responde à estratégia dietética que proponho e a outra metade fica na mesma. E esta é uma doença que eu não imaginava que pudesse ser tão melhorada, ainda que não ajude sempre, com dieta.
Fico impressionada com o número de casos em que o pet apresentava sinais clínicos – coceira, otite, queda de pelos, vômitos, gases em excesso etc – e que, segundo muitos tutores, foram amenizados ou desapareceram com a substituição da ração por AN. Diariamente vocês relatam exemplos de transformações como essas. Mas há situações em que é importante buscar orientação especializada e adotar uma dieta natural específica, como no caso de cálculos urinários de oxalato de cálcio, diabetes mellitus e doença renal crônica.
Pacientes com o mesmo quadro podem reagir de formas diferentes a uma mesma dieta. Tenho pacientes com questões intestinais crônicas que ficam melhor com dietas 100% cozidas. Outros, se deram melhor com carnes cruas. Uma parte responde a dietas sem inclusão de fontes de amido, outros precisaram de carboidrato na dieta. O acompanhamento de milhares de pacientes nos últimos 10 anos me ensinou a manter uma mente aberta, a observar os pacientes, a ouvir os tutores e a estar sempre disposta a tentar diferentes abordagens.
Mesmo assim, precisamos ser realistas. Mesmo adotando uma AN correta e trocando de estratégia pode ser que a dieta não surta o efeito que desejávamos. Por isso acho importante associar modalidades. Um paciente com displasia de quadril, por exemplo, tem maiores chances de se sentir bem se além de receber uma dieta pouco inflamatória e que o ajude a manter o peso enxuto, fizer fisioterapia e/ou acupuntura, receber protetores articulares e for mantido em piso aderente. Aqui entra uma fundamental dose de contribuição do tutor, que vai zelar pelo controle das calorias ingeridas, da atividade física regular, da adesão à dieta, da administração correta de tratamentos e comunicação com o time de vets parceiras, etc.
Moral da história: já sabemos que dieta pode influenciar a expressão de genes, a composição do microbioma intestinal e a modulação de processos inflamatórios. Então, sim, é evidente que uma AN adequada pode atuar positivamente nos mais variados quadros. Mas acho que uma boa dieta natural pode ir além: hidrata melhor que ração seca, reduz exposição a toxinas, aumenta a ingestão de nutrientes em seu estado natural e proporciona mais prazer, sim, prazer! – e bem-estar ao animal.
Sylvia Angélico
Médica Veterinária pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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