No Cachorro Verde, ensinamos a preparar três modalidades de Alimentação Natural (AN) para cães e gatos: crua com ossos, crua sem ossos e cozida.
A dieta crua com ossos foi minha porta de entrada para o universo da Alimentação Natural, em 2008. Justamente por incluir carnes e vísceras cruas, além de ossos, essa modalidade pode causar estranhamento em quem associa a alimentação de cães e gatos a arroz, frango e cenoura cozidos — ou seja, algo semelhante à nossa comida. Para compreendê-la e apreciá-la, é preciso aprender sobre a fisiologia dos carnívoros e o preparo seguro de carnes, vísceras e ossos crus. Além disso, nem todo pet se adapta a esse modelo. Por todos esses motivos, a crua com ossos continua sendo uma dieta de nicho e, entre as três, é a menos procurada pelas minhas clientes.
A crua sem ossos, como o nome indica, não inclui ossos, o que a torna menos intimidadora. Tem a praticidade da crua com ossos, já que não exige cozimento de carnes, vísceras e vegetais — carboidratos, se presentes, continuam sendo cozidos. Quem dá uma chance a essa modalidade costuma se surpreender positivamente, pois, em geral, cães e gatos gostam de carnes cruas. Como toda dieta crua, exige cuidados com o manejo seguro dos alimentos.
Por fim, temos a AN cozida. Essa é a modalidade que mais prescrevo, tanto por preferência das minhas clientes quanto por indicação inicial minha em casos de sensibilidades gastrintestinais, por exemplo. Embora seja a mais trabalhosa entre as três, também é a mais aceita pelos pets de paladar exigente e, via de regra, a melhor tolerada pela maioria dos cães e gatos.
Nos últimos anos, passei a incluir uma quarta abordagem, que também atrai clientes e alunos: a dieta mista (mixed feeding), que combina ração e AN, em qualquer uma de suas modalidades. O que não trabalho — e nem pretendo — são dietas veganas para nossos carnívoros obrigatórios (gatos) e oportunistas (cães).
Mas, afinal, qual a melhor modalidade de AN? A resposta curta: a melhor dieta é aquela que atende bem às necessidades do seu pet, se encaixa na sua rotina e está alinhada com a sua filosofia de alimentação. Para uma resposta mais detalhada, confira os quadros da postagem.
Crua com ossos
Essa modalidade se inspira na dieta BARF (Biologically Appropriate Raw Food) e pretende imitar o balanço de macronutrientes (gordura, proteína e carboidrato) que os felinos e os lobos consomem na natureza. É alta em proteína, moderada a alta em gordura e baixíssima em carboidratos. É composta por ossos mastigáveis (exemplo: asas de frango), vísceras, carnes e uma porção de vegetais triturados que pode ser servida crua ou cozida; o restante da dieta é cru. Não inclui a categoria dos carboidratos.
Ingredientes crus têm alta digestibilidade, concentram níveis elevados de nutrientes sensíveis ao calor, além de proteína e ácidos graxos inadulterados. A dieta tem baixo índice glicêmico e a presença de ossos mastigáveis dispensa suplementação de cálcio, fornece protetores articulares e ajuda a manter a saúde oral. Como toda dieta crua, é prática de preparar. Recomendo congelar a dieta por no mínimo 3 dias em freezer (21 dias para peças suínas cruas) antes de servir, para reduzir o risco de transmissão de patógenos. Alguns pets, contudo, não a toleram bem ou não a apreciam.
Crua sem ossos
A ausência da categoria de ossos mastigáveis é a principal diferença. A dieta crua sem ossos é composta por carne, vísceras e vegetais – pode ou não incluir uma porção de carboidratos complexos, como batata-doce ou arroz integral. O carboidrato, se presente, deve sempre ser cozido. Todos os demais componentes podem ser servidos crus ou cozidos.
Essa AN é mais prática de preparar que a cozida, tem digestibilidade um pouco mais alta e teor um pouco mais elevado de nutrientes sensíveis ao tratamento por calor. Os ingredientes são fáceis de encontrar e é melhor tolerada por cães e gatos que não digerem bem ossos. Requer suplementação de cálcio e congelamento profilático de carnes e vísceras cruas. Por dispensar mastigação, não auxilia na manutenção da saúde oral.
Riscos das dietas cruas
Uma pesquisa no site da entidade norte-americana FDA revela como são frequentes os recalls de ração por presença de contaminantes como toxinas fúngicas, fragmentos de metais, e, sim, bactérias patogênicas. Toda dieta tem riscos.
Além disso, a maioria dos pets imunocompetentes lida bem com as bactérias de carnes e vísceras cruas e digere bem ossos crus. Dito isso, eu geralmente não recomendo dietas com ossos ou carnes cruas a pets com comprometimento imunológico ou digestivo.
E o H5N1?
Nos EUA, a epidemia de gripe aviária (H5N1) afetou gatos que consumiram carne e leite crus. No Brasil, o vírus está sob controle, sem casos relatados em humanos, cães ou gatos, e as autoridades seguem vigilantes.
Se você mora nos EUA e alimenta seu pet com AN crua, passe a cozinhar a dieta. Carnes de aves devem atingir 74°C, vísceras e carne moída 71°C, e carnes bovina, suína, ovina e frutos do mar, 63°C — use um termômetro culinário.
Se você mora nos EUA e seu pet consome AN crua com ossos, considere migrar para AN cozida até a situação se estabilizar. Outra opção, recomendada pelo portal Perfectly Rawsome, é moer os ossos carnudos em lâminas maiores (6-10 mm) e depois menores (3-5 mm), evitando fragmentos que possam lascar. Assim, os ossos podem ser cozidos e servidos com segurança.
Cozida
Totalmente cozida, essa dieta não inclui ossos, já que eles são mais seguros servidos crus. É composta por carnes, vísceras, vegetais e pode ou não incluir fontes de carboidratos complexos. Apela ao paladar de cães e gatos exigentes e é bem tolerada por peludos de digestão sensível. É também a mais trabalhosa de preparar, requer suplementação de cálcio (e, para os gatos, de taurina) e não auxilia na manutenção dos dentes.
Mixed-feeding
Vale 50% ração e 50% AN, 90% ração e 10% AN, 1/3 ração e 2/3 AN – as proporções ficam ao gosto da tutora. A dieta que associa ração e alimentos naturais evidentemente não proporciona todos os amplos benefícios de servir exclusivamente AN, mas pode ser mais vantajosa do que servir somente ração. É a alternativa que tutores de pets de grande porte ou responsáveis por muitos animais encontram para inserir ingredientes frescos, minimamente processados, e variados à alimentação do peludo.
Por onde começar? Aproveite: meu curso online está com 25% de desconto! É online, aberto ao público geral e o conteúdo é disponibilizado por um ano. Nele, ensino tudo sobre todas as modalidades de AN, como introduzir, suplementar, o cálculo de quanto servir, tudo.
Outra opção é passar em consulta com uma profissional nutróloga bem recomendada para obter um plano alimentar individualizado. Por fim, existem também as ANs comerciais, já equilibradas e suplementadas, disponíveis no Brasil em todas as modalidades.
Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
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