1-) Minha cadela recebe Alimentação Natural há algum tempo. Nós a acasalamos essa semana. Podemos continuar com a dieta ou não é recomendável?
Em primeiro lugar, parabéns pela futura mamãe! Não há contra-indicação alguma em manter a Alimentação Natural, pelo contrário. O mesmo impacto positivo que a AN teve na vida dela, vocês observarão na saúde e no desenvolvimento dos filhotes, assim como no decorrer da gestação, lactação e desmame. Muitos criadores de cães adeptos da dieta relatam um desempenho reprodutivo bastante acima da média, com ninhadas bem numerosas e filhotes vigorosos e sadios. Sem dúvida alguma, isso se deve à qualidade nutricional da AN, que é realmente fora-de-série.
2-) Em que situação não seria aconselhável oferecer a dieta natural?
Quando a cadela recebe outro tipo de dieta, como ração seca, não convém passar a oferecer AN durante a prenhez. No primeiro mês de gestação, mudanças sutis no organismo podem afetar a viabilidade dos embriões. É mais seguro manter a atual dieta da fêmea – desde que esteja balanceada e adequada às exigências dessa fase – e só depois do desmame dar início a uma cuidadosa introdução da AN.
3-) O que deve mudar na dieta da cadela gestante?
Se você já oferece uma AN balanceada e variada, tal como a que indicamos no site do Cachorro Verde, relativamente pouca coisa mudará na dieta. Veja abaixo os pontos-chaves:
Variedade
Tal como as mulheres grávidas, que ficam cheias de vontades diferentes durante a gestação, cadelas também podem demonstrar maior atração por vísceras, laticínios ou meaty bones (ossos carnudos, na dieta crua). Isso é bom, porque nessa fase de formação de tecidos fetais é muito importante ela ter acesso a uma grande variedade de nutrientes e elementos. Portanto, nada de ficar só no arrozinho com cenoura!
Varie os meaty bones de frango (no caso da dieta crua) e/ou os carboidratos (no caso da dieta cozida, ou da crua com acréscimo de grãos). Alterne as fontes protéicas, oferecendo carnes bovinas, suínas, de aves, postas ou filés de peixes, e ovos. Sirva vísceras diferentes: bucho, baço, pâncreas, rim, miolo (cérebro) e fígado. Vale o mesmo para os vegetais: ofereça vegetais folhosos triturados ou refogados (ou não serão digeridos), legumes das mais diversas cores (triturados crus, ou cozidos), tubérculos da família das batatas (esses, sempre cozidos) e frutas.
Porções maiores e mais freqüentes
No primeiro mês de gestação, os filhotes crescem pouco e as exigências nutricionais da mãe são mais modestas. Nessa fase, em geral não é preciso aumentar a quantidade de alimentos. Na verdade, servir muita comida no primeiro mês pode resultar em obesidade, que está associada a dificuldades no parto. Agora, tudo é uma questão de bom senso. Se a cadela está abaixo do peso ideal, convém mesmo aumentar o tamanho das porções.
Mas atente para algo importante: aumentar o tamanho das porções significa aumentar a quantidade total de comida servida, respeitando as proporções da dieta natural. Aumentar arbitrariamente apenas a quantidade de carne servida, de vísceras, de carboidratos ou de meaty bones (na dieta crua), desequilibrará a dieta como um todo. É preciso aumentar tudo.
As formulações de Alimentação Natural que disponibilizamos aqui no site, tanto a crua quanto a cozida, também são adequadas para gestantes, porque são bastante protéicas e é de proteína de origem animal fresca de excelente biodisponibilidade (peixes, carnes, ovos, vísceras, etc) que as futuras mamães precisam para formarem os bebês. Entretanto, alguns livros, como o ótimo Raw & Natural Nutrition for Dogs, de Lew Olson, nutróloga PhD e criadora de cães há mais de 30 anos, afirmam que uma porção menor de meaty bones na dieta crua é aceitável para cadelas gestantes.
Seguindo a sugestão dela, outra formulação adequada de Alimentação Natural Crua para gestantes seria:
- 40% de meaty bones (1-2x por semana ofereça peixes pequenos inteiros)
- 35% de carnes (ofereça 1-2 ovos crus semanalmente) com um pouco de vísceras ou ofereça 30% de vísceras 1-2x por semana.
- 25% vegetais liquidificados crus (com exceção dos tubérculos da família das batatas, esses devem sempre ser cozidos), ou cozidos.
Cães adultos devem receber, em média, 2 a 3,5% de seu peso corpóreo ideal em alimentos por dia. Cadelas gestantes no primeiro mês de gestação podem continuar recebendo a mesma quantidade de sempre. A partir do segundo mês, no entanto, ofereça um terço a mais. Ou seja, se você oferecia 300 gramas à sua peluda, passe a servir 100 gramas a mais. Respeite sempre a formulação da dieta e aumente tudo proporcionalmente – evite aumentar arbitrariamente apenas um grupo de alimentos.
No segundo mês de gestação os fetos crescem significativamente, o que aumenta muito os requerimentos energéticos e nutricionais da cadela. Vá aumentando gradativamente a quantidade de comida. Em vez de refeições grandes, sirva várias porções menores ao longo do dia. O estômago dela agora tem menos espaço para acomodar o alimento, em função do volume que o útero tomou dentro da cavidade abdominal.
O pico da exigência ocorre no terço final da prenhez. A partir dessa fase, muitos criadores oferecem várias pequenas porções ao dia, deixando a fêmea se alimentar à vontade. E claro, procurando respeitar as proporções da dieta, para não deixar de fora nenhum nutriente importante. Para aumentar o valor energético das refeições, inclua carnes mais gordurosas, como lombo suíno ou coração bovino com gordura. A gordura é bastante útil nessa fase, aumenta o número de calorias e auxilia na formação do leite, que virá a seguir.
Outra dica é a do mingau de aveia com ovos. Pode ser servido como uma das refeições do dia, é bastante nutritivo, palatável e fácil de preparar. Fornece proteína (do leite e do ovo), cálcio (do leite), energia (da aveia) e gordura (do leite integral e do ovo), além de vitaminas. Confira a receita do mingau aqui.
Com a aproximação da data prevista para o parto, é normal a cadela passar a rejeitar os meaty bones da dieta crua. Isso é fisiológico: o organismo dela está regulando o metabolismo do cálcio para o parto e para a formação do leite. Cálcio demais nessa fase pode ser tão prejudicial quanto a deficiência desse mineral. Se você oferece a dieta crua para sua futura mamãe, o que você pode tentar fazer nessa reta final é oferecer meaty bones mais molinhos (asas, pescoços) moídos e misturados às carnes e vegetais. Se ela não aceitar, não se preocupe. Deixe a natureza seguir seu curso.
A linda Sara e seus bebês, do canil Ville Chamonix, adepto da AN
Suplementos
Se a Alimentação Natural estiver bem variada e balanceada, poucos suplementos são indicados.
Ômegas-3 DHA e EPA, de óleo de peixe
São importantes para o desenvolvimento do cérebro e dos nervos dos filhotes. Ofereça peixes ricos nesses ácidos graxos, como sardinhas, arenque, salmão (selvagem) ou cavalinha, 1-2x por semana, e/ou administre diariamente uma cápsula de 1,000mg de óleo de peixe (não confundir com óleo de fígado de bacalhau) para cada 5-10kg de peso da fêmea. Essas cápsulas podem ser compradas em drogarias. Acomode-as no meio da comida (morna ou fria) ou perfure-as e despeje o óleo sobre o alimento imediatamente antes de servir.
Vitamina C
Opcional, ela atua protegendo a imunidade da mãe e é importante para a formação dos tecidos cartilaginosos dos filhotes. Ofereça 100mg 2x ao dia para cadelas de até 5kg, 250mg 2x ao dia para cadelas de 5-25kg e 500mg 2x ao dia para cadelas com mais de 25kg. Vitamina C em gotas ou comprimidos pode ser comprada em drogarias.
Alho/iogurte/levedura de cerveja em pó
São os alimentos naturais oferecidos como suplementos na AN do Cachorro Verde. Um pouquinho de alho fresco – o equivalente a 1/7 a 1/4 (dependendo do porte do fêmea) de um dente médio picadinho – fortalece a imunidade da cadela, ajuda no combate a vírus, bactérias e parasitos intestinais. Obs: não ofereça alho a gatos: eles podem desenvolver anemia por sensibilidade às substâncias desse alimento.
O iogurte natural integral é fonte de cálcio e é probiótico, fornecendo bactérias que fazem bem à saúde. Clique aqui para aprender a preparar iogurte natural integral fresquinho e super nutritivo em casa, sem conservantes. Ofereça diariamente uma colher de chá para cadelas de porte pequeno, uma colher de sobremesa para cadelas de porte médio, e uma a duas colheres de sopa diariamente para cadelas de porte grande ou gigante.
A levedura de cerveja em pó pode ser encontrada em supermercados ou lojas de produtos naturais e é fonte de aminoácidos, vitaminas do complexo B (como o importante ácido fólico) e também atua como prebiótico, atrapalhando a instalação de bactérias causadoras de doenças no intestino. Polvilhe diariamente sobre o alimento frio ou morno imediatamente antes de servir, uma colher de café para cadelas de porte pequeno, uma colher de chá para cadelas de porte médio, e meia colher de sobremesa para cadelas de porte grande e gigante.
Suplementos a evitar
Óleo de fígado de bacalhau
É claro que uma colherzinha de café ou de chá administrada de vez em quando (uma vez a cada 7-10 dias) não fará mal algum. Mas o óleo de fígado de bacalhau é riquíssimo em vitaminas A e D, que se acumulam no organismo, podendo provocar doenças por excesso. Se a dieta estiver desequilibrada, o óleo oferecido com maior frequência é benéfico. Mas não é o caso com a Alimentação Natural, que é muito bem balanceada, nutritiva e variada.
Vitamina A em excesso é especialmente prejudicial à formação dos fetos. Ela também é encontrada no fígado, e é por isso que a oferta dessa víscera também deve ser moderada, especialmente durante a gestação. Já a vitamina D atua como um hormônio, estimulando a absorção de cálcio e melhorando a imunidade. Um pouco de fígado semanalmente, derivados de leite e, principalmente, exposição diária ao sol fornecem com segurança toda a vitamina D de que a cadela necessita. Em contrapartida, exagerar na suplementação dessa vitamina desregula o metabolismo do cálcio, causando problemas no parto e na lactação.
Cálcio
Cadelas que recebem Alimentação Natural Crua com pelo menos 50% de meaty bones ou Alimentação Natural Cozida balanceada com fonte de cálcio (ex: pó de casca de ovos, suplemento de cálcio comercial ou manipulado) ou ração – qualquer ração, mesmo as mais baratinhas – não requerem suplementação EXTRA de cálcio na dieta. A suplementação com cálcio e vitamina D foi muito importante há cerca de 30 anos, quando a maioria dos pets era alimentada com sobras de comida pobres em cálcio.
Naquela época, se esses animais não recebessem suplementação de cálcio nas fases críticas da vida, como durante o crescimento e na gestação e lactação, ocoriam problemas graves. Com o surgimento das rações comerciais e a divulgação da importância de se adicionar cálcio às dietas caseiras, esse risco deixou de existir. Hoje em dia é um equívoco muito grande suplementar o cálcio a cadelas que recebem dietas balanceadas.
A presença de cálcio na dieta da cadela gestante ou lactante é fundamental, mas o excesso pode ser muito perigoso. Para evitar problemas, verifique se ela vem recebendo, ou a quantidade indicada de ossos carnudos crus da dieta crua com ossos, ou a dosagem correta de cálcio manipulado ou comercial, ou a quantidade correta de pó de casca de ovos.
O cálcio em excesso faz muito mal, levando a quadros de tetania (erroneamente conhecida como “eclâmpsia”) antes ou após o parto por desregulação do metabolismo desse mineral. Infelizmente ainda hoje existem veterinários que prescrevem cálcio a cadelas gestantes e a filhotes de crescimento explosivo, o que frequentemente resulta em disfunções sérias e até irreversíveis.
4-) E depois, na lactação?
Os requerimentos energéticos da cadela se tornam incrivelmente elevados, principalmente por volta da segunda à quarta semana de vida dos filhotes – e mais ainda se a ninhada for muito numerosa. Com muitos filhotes para amamentar, é comum a fêmea perder peso. Ofereça AN à vontade, desde que balanceada (seguindo as proporções que citamos anteriormente). Se ela preferir, triture os meaty bones da dieta crua. É possível comprar algumas peças, como pescoço, asas, já moídas na feira ou no açougue. Para aumentar a densidade energética, ofereça as peças com pele e gordura e carnes gordurosas.
Se ela gostou do mingau de aveia com ovo, ofereça uma refeição de mingau por dia, como fonte extra de calorias. Purê de batatas feito com manteiga e leite interal, ou lentilha e arroz integral ou branco bem cozidos, com iogurte, também podem ser oferecidos como “prato” extra, em substituição ao mingau de aveia. Vegetais como legumes, verduras e frutas devem fazer parte da dieta na proporção indicada, como fonte de fibras. Água fresca deve ser mantida próxima à cadela, para que ela beba à vontade. A adequada ingestão hídrica é de suma importância para a produção de leite. Mantenha a dieta calórica até a cadela recuperar o peso perdido.
Observação: se a lactante estiver acima do peso e/ou a ninhada for pequena, com até quatro cãezinhos, nem sempre será necessário ofertar uma dieta muito calórica. Nesse caso, aumente as quantidades gradativamente e fique de olho no ganho de peso da cadela. Ela engordou demais? Reduza um pouco as porções e faça o inverso se ela emagrecer. Não é interessante que a cadela com poucos filhotes a amamentar adquira sobrepeso durante a lactação.
Outros cuidados
Em relação a medidas pré-gestação, como vermifugação, vacinação, aplicação de anti-pulgas, etc, sugerimos a leitura de nosso artigo O que mais você pode fazer pela saúde do seu pet. E, claro, a consulta ao médico-veterinário de sua confiança.
Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!