Dieta crua com ossos para gatos
Indicada a gatos saudáveis de todas as idadesAtenção
As informações publicadas neste site são apresentadas com a melhor das intenções. Contudo, não podemos garantir resultados. São múltiplos os fatores que podem influenciar a saúde do seu cão ou gato e não temos controle sobre a qualidade dos ingredientes usados, como a dieta é preparada e o estado de saúde atual do seu pet. Deste modo, não podemos nos responsabilizar por resultados diferentes dos desejados, incluindo (mas não limitado a) quaisquer prejuízos ou danos resultantes da tentativa de seguir informações contidas aqui.
O conteúdo deste site é apresentado unicamente para fins de informação e não substitui em absoluto a orientação de um médico-veterinário. Cada cão e gato é um indivíduo com histórico e particularidades únicas.
Antes de colocar em prática as sugestões deste site, consulte o médico-veterinário para verificar se seu pet se encontra apto a receber uma de nossas dietas. Uma dieta caseira balanceada é um importante pilar para a boa saúde. Mas não é o único. Tenha em mente que você sempre precisará contar com o acompanhamento do veterinário de sua confiança.
O que é Alimentação Natural crua com ossos
Alimentação Natural caseira crua com ossos para gatos – também conhecida como AN crua com ossos – é uma dieta caseira balanceada. Ou seja, se elaborada corretamente, tal como informo aqui, atenderá plenamente os requerimentos nutricionais de seu gato. Essa AN respeita o carnivorismo felino, descrito em detalhes do ponto de vista biológico da espécie em meu artigo sobre fisiologia digestória canina e felina.
Trata-se de uma dieta predominantemente carnívora que é recomendada por veterinários experientes em nutrição pet há décadas, com resultados extraordinários.
Alguns dos médicos-veterinários que recomendam AN crua com ossos para gatos estão citados abaixo. Vale a pena clicar nos links para conhecê-los. Muitos deles são autores de livros e/ou comandam sites excelentes. Baseei-me nas diretrizes postuladas por esses profissionais para elaborar a AN crua com ossos para gatos sobre a qual você lê agora (pois é, eu não inventei nada do que você encontra aqui no Cachorro Verde, rs).
- Dr. Ian Billinghurst
- Dr. Tom Lonsdale
- Dr. Nick Thompson
- Dr. Peter Dobias
- Dra. Lisa Pierson
- Dra. Karen Becker
- Dra. Elizabeth M. Hodgkins
O objetivo da AN crua com ossos é simular a composição de uma presa (rato, ave etc) no contexto urbano. Para isso entram na dieta ossos (o esqueleto da presa), carnes (músculo), vísceras (miúdos, órgãos) e alguns complementos que imitam partes do corpo que não conseguimos oferecer.
Afinal, goste ou não, é disso que seu bichano se alimentaria se coubesse a ele providenciar o almoço. Ele é um predador!
O que não é Alimentação Natural crua com ossos
Oferecer AN crua com ossos definitivamente não é dar restos da nossa comida. Não é dar só ossos, ou dar só carne, ou dar só fígado – esse tipo de “dieta” conduz rapidamente a problemas de saúde gravíssimos por deficiência e até por excesso de alguns nutrientes.
Não é dieta vegetariana, muito menos vegana. Não recomendo, em hipótese alguma, oferecer uma dieta sem carnes para gatos, carnívoros obrigatórios que dependem da ingestão de tecidos de origem animal para obterem uma série de nutrientes fundamentais.
E definitivamente não é modinha – provavelmente a primeira grande expoente a promover dieta crua para pets foi a herbalista britânica Juliette de Baïracli Levy, autora de diversos livros e nascida no início do século passado!
Também não se trata de oferecer uma dieta que é metade ração, metade comida caseira. Embora essa prática possa trazer sua cota de benefícios ao gato, é preciso saber muito bem que alimentos adicionar à ração e em que quantidade, ou corre-se o risco de desequilibrar seriamente a fórmula da ração e acabar prejudicando o pet.
Te ensinar apenas a enriquecer a ração com alimentos naturais não é meu objetivo com o site Cachorro Verde. Você pode ir muito além disso. Pode substituir totalmente a ração industrialmente processada por uma dieta caseira saudável. Só assim, a meu ver, seu bichano colherá todos os frutos de uma dieta biologicamente adequada, fresca e natural!
Por favor, adote a Alimentação Natural com responsabilidade ou nem comece.
Dietas caseiras ainda enfrentam preconceito e resistência por parte de veterinários pura e simplesmente porque algumas pessoas assumem a alimentação do pet sem critério algum. Sem estudar nada sobre o assunto. Por favor, não faça isso.
Não corra o risco de prejudicar seu peludo com uma dessas “dietas caseiras fantásticas, incrivelmente práticas e baratas”. Tem gente oferecendo ao gato apenas carne desossada, apenas fígado, apenas ossos carnudos. Ou preparando um cozidão informal sem medida nem proporção, sem suplementação de elementos imprescindíveis à saúde do felino, como taurina, cálcio, entre outros. Esse tipo lamentável de conduta inevitavelmente conduz a problemas sérios de saúde por carência e até excesso de certos nutrientes.
Falo muito sério.
Procure fazer tudo o que ensino aqui do jeito como ensino aqui. É claro que, se preferir, você pode contar com o acompanhamento de um veterinário ou zootecnista experiente em elaboração de dietas caseiras para gatos, ou ainda, se basear nas receitas de algum outro autor bem embasado.
Seja como for, procure obedecer às orientações propostas. Elas não estão aí por acaso. São elas que garantem uma nutrição balanceada, adequada e segura. Entre uma dieta caseira grosseiramente desbalanceada e a ração, prefira sempre a ração. Por favor.
Benefícios da AN crua com ossos para gatos
Por todas as questões que exponho com detalhes em meu artigo sobre fisiologia digestória de cães e gatos, felinos se beneficiam tremendamente de receber uma dieta verdadeiramente compatível com seu estrito carnivorismo. Veja abaixo de que maneiras seu bichano sairá ganhando ao passar a receber esse tipo de alimentação.
Proteção ao aparelho urinário e rins
Uma dieta caseira contém até 7x mais água que a ração seca. Isso é perfeito, porque o seu gato evoluiu para extrair praticamente toda a água necessária à sua sobrevivência diretamente dos tecidos de suas presas.
Ele não sente sede suficiente para compensar a falta de umidade dos pellets de ração e com isso vive em constante estado de sub-hidratação. Ao longo de meses e anos essa leve desidratação prejudica o aparelho urinário e rins do bichano e é um dos motivos por que tantos felinos hoje em dia apresentam problemas urinários e renais sérios e dolorosos.
Em comparação aos gatos alimentados com ração seca, os que recebem dieta caseira reduzem muito (às vezes até totalmente) o consumo voluntário de água e mesmo assim produzem urina mais abundante e clarinha, o que poupa os rins. Para o gato, a água que já vem embutida na comida natural tem muito mais utilidade para o organismo que a ingerida à parte, contribuindo também para uma digestão mais eficiente.
Fezes reduzidas, muito mais sequinhas e com odor discreto
Livre do excesso de fibras e carboidratos que compõem a maior parte das rações convencionais, a AN apresenta um aproveitamento superior, gerando pouco resíduo para o corpo do bichano eliminar. Na prática isso se traduz em um volume muito menor de cocô, muito menos fedido e muito mais sequinho. É a comprovação de que o seu gato está recebendo o “combustível” certo. 😉
Carga glicêmica baixa, do jeito que um carnívoro precisa
O lugar de grãos e cereais como milho, soja, trigo – carboidratos de baixo custo amplamente empregados por fabricantes de ração seca – definitivamente não é na vasilha do seu carnívoro de estimação. A dieta natural do gato é carnívora – basicamente composta por ossos, músculo, vísceras, gordura, conteúdo estomacal e intestinal e até um pouco de pelos e penas da presa, com ingestão de graminhas à parte.
Ou seja: a dieta que a natureza preparou o gato para consumir é pobre em carboidratos e consequentemente apresenta baixa carga glicêmica.
Um gato alimentado com ração à base de grãos é mais predisposto a ficar gordinho porque esses alimentos possuem uma carga glicêmica mais elevada. Ao comê-los, o organismo produz um monte de insulina, hormônio cujo excesso está relacionado ao maior risco de obesidade, diabetes, doenças inflamatórias em geral e até redução da expectativa de vida.
Em contrapartida, uma dieta mais nos moldes do que prescreve a natureza mantém a silhueta do gato esbelta e musculosa muito mais facilmente!
Minimização (e até resolução!) de transtornos causados por uma dieta inadequada
Não resta dúvida alguma de que o gato é um animal estritamente carnívoro que evoluiu para extrair de suas presas a maior parte da água que requer para sobreviver. Qualquer livro minimamente atual sobre nutrição de felinos e qualquer veterinário especialista em gatos vão confirmar esses pontos, mesmo que não promovam dietas caseiras. Repito: o carnivorismo felino e seu baixo drive (impulso) de consumo de água não estão abertos para discussão.
Sabendo dessas particularidades felinas, como podemos esperar que um gato se mantenha saudável recebendo exclusivamente ração seca preparada com uma abundância de alimentos que ele jamais consumiria na natureza, como milho, trigo e soja? A verdade é que rações para gatos são preparadas assim porque têm custo baixo para os fabricantes. Não porque esses ingredientes são mais saudáveis para o seu gato.
Acredito que a maioria esmagadora das doenças dos gatos de hoje em dia é causada, ou pelo menos agravada, pelo consumo prolongado de ração seca à base de grãos.
Em meu artigo “Por que preferir dieta caseira à ração?” enumero diversos bons motivos para aposentar a ração. Como se não bastasse a falta de umidade e o excesso de carboidratos, existem outros motivos para questionar as rações secas convencionais: a presença de ingredientes transgênicos, conservantes e aditivos controversos e o risco do milho apresentar toxinas fúngicas altamente nocivas, as micotoxinas.
As consequências de uma alimentação assim ao longo de meses ou anos podem ser aparentemente brandas, como queda de pelos, ou mais graves, como desgaste precoce dos rins, diarreia crônica, vômitos sem causa aparente, coceiras infernais, obstrução do fluxo urinário por “plugs” (cálculos), obesidade, síndrome do fígado gorduroso, pancreatite e diabetes.
Felizmente não é raro ver a saúde do bichano restaurada em pouco tempo quando a ração seca é substituída por uma dieta caseira adequada. Deixei de atender gatos em 2013 por motivos que explico aqui, mas cheguei a presenciar resultados fantásticos com AN crua em diversos casos crônicos de felinos considerados irrecuperáveis.
Um exemplo que vem à mente é do gatão Roy, que sofria de diarreia crônica há anos, pouco responsiva ao tratamento com corticoides (um anti-inflamatório) e nada responsiva à mudança de ração. Para a surpresa de seus tutores – e minha também! – esse peludo produziu seu primeiro cocô durinho em menos de 48h depois de ter sido iniciado na Alimentação Natural crua. Já pensou? Por tantos anos Roy teve diarreia e tomou remédios fortes sendo que seu organismo precisava apenas de uma dieta saudável para reequilibrar sozinho a situação. Simples assim.
Desvantagens da AN crua com ossos para gatos
Não são exatamente desvantagens, mas etapas no seu entendimento da Alimentação Natural crua com ossos.
Exige organização e disciplina
Assumir o papel de chef do pet exige um pouco de organização e disciplina. Dá para preparar as porções rapidamente e congelar por até 30 dias ou mais, o que agiliza tudo.
Mas é preciso se organizar para periodicamente comprar e preparar os alimentos e montar as refeições usando sempre a balança digital de cozinha (só assim você tem a certeza de estar oferecendo os ingredientes da dieta na medida correta).
Também é imprescindível se comprometer a seguir as orientações para a dieta. A maior roubada é começar fazendo tudo certinho e depois ir “descambando”, deixando de pesar as refeições, oferecendo alimentos inapropriados ou fora de hora etc.
“Ele parece viver com fome!”
Comida caseira, em comparação com ração seca, é infinitamente mais saborosa. Isso pode passar a impressão de que depois da introdução da AN o pet está sempre com fome. Mas apetite (disposição para comer mais e mais e sempre), não é o mesmo que fome (necessidade fisiológica de se alimentar por déficit de nutrientes).
Pense na sua reação a um bolo de chocolate delicioso. Você come uma fatia e facilmente traçaria uma segunda. Não necessariamente porque está com fome, mas porque está muito gostoso. Com os pets pode ser assim também. Como eles não conseguem refrear a si próprios diante de algo que gostam, cabe a nós colocar esse limite. Lembre-se sempre disso.
Pedir comida também pode ser uma forma de chamar a sua atenção. Se o bichano pede comida e recebe a recompensa esperada, ele entende que o “método” funcionou e passa a repetir a estratégia sempre que tem a chance. No início, meus gatos viviam fazendo isso. Bastava me virem indo para a cozinha, podia ser pra pegar um copo de água, que eles vinham atrás, rabos em pé, e subiam na bancada pedindo comida. Eu servia um pouco da refeição, mas nem sempre eles comiam. Queriam atenção, pura e simplesmente. Se o felino está no peso saudável, a melhor dica é resistir, ignorar sumariamente os pedidos. Pelo bem do felino devemos exercitar o que chamam em inglês de “tough love” ( algo como “amor duro”) e restringir a oferta de comida aos horário pré-estabelecidos. É o que parece dar mais certo.
Alguns gatos podem não aceitar mais a ração
Depois de passar um tempo comendo AN, uma parcela pequena dos gatos não aceita mais voltar à ração seca. Digo “parcela pequena”, porque a maioria dos gatos voltaria, sim, a comer ração seca numa boa, ao contrário da maioria dos cães. Isso porque a textura, o formato e o cheiro dos croquetinhos de ração seca são extremamente atraentes aos felinos, até viciantes. Tão atraentes, aliás, que sinceramente recomendo nunca mais voltar a oferecer ração seca a um gato adaptado à AN se você puder evitar.
Numa saia-justa vá de ração úmida (de lata) para gatos, mas não sirva ração seca. Conheço gatos perfeitamente adaptados à AN que abandonaram totalmente a dieta caseira ao provarem ração seca. Ficaram completamente viciados. Ao longo desse material dou dicas de como agir em casos de emergência ou se você precisar se ausentar por mais horas durante o dia e receia deixar seu felino sem comida. A ração seca não é a única opção nessas situações.
Disponibilidade de espaço no freezer ou congelador
(Felizmente) a dieta caseira não conta com conservantes e aditivos sintéticos e por isso precisa ser armazenada no freezer (melhor) ou no congelador para não estragar. Em geral, metade do espaço do freezer de uma geladeira duplex é espaço suficiente para armazenar até 20 dias de porções diárias de alimento para um gato.
Mas se você dispõe de menos espaço ou possui muitos gatos, é questão de se organizar para realizar a compra e a montagem de porções mais frequentemente, a cada 10 dias, por exemplo. Ter em casa um freezer só para o pet ajuda muito. Um freezer pode guardar porções para mais de 45 dias sem comprometer o valor nutricional e economiza bastante tempo, principalmente para quem tem múltiplos pets em casa. Parece um grande investimento ($$), mas costumo brincar que em toda família alguém tem um freezer encostado que pode ser adquirido por uma barganha.
Instinto de caça aflorado
Alimentar gatos com carnes – principalmente carnes cruas – não torna de maneira alguma o bichano mais agressivo com pessoas, nem com outros gatos ou com cães. Maaaaas…pode aguçar o instinto de caça dos felinos. Meu SRD Yoshi passou a ocasionalmente abater – e a comer – rolinhas e sabiás no jardim. E o Persa Arthur, mais “bobinho”, começou a abocanhar borboletas e mariposas. Se você mantém aves, peixes, ferrets ou roedores como pets, tome muito cuidado. Não recomendo deixá-los ao alcance de bichanos, especialmente se alimentados com dietas carnívoras cruas.
Falta de suporte veterinário
Essa, a meu ver, é de longe uma das maiores dificuldades que o adepto brasileiro enfrenta ao opta por dieta caseira balanceada para seu pet.
Poucas coisas são mais frustrantes do que ligar contente para o veterinário e, depois de contar da dieta e de como seu peludo está bem e feliz, receber um silêncio desaprovador seguido de um sermão com ladainhas ultrapassadas como “nenhuma dieta caseira fornece os nutrientes que seu animal necessita e blá blá blá” – gigantesco mito, por sinal.
Leia meu artigo “a AN fornece mesmo tudo o que meu pet precisa?” A gente é encarado como tudo: louco, irresponsável, humanizador de animais, desocupado, excêntrico e coisa até pior. Infelizmente, faz parte. Como tudo na vida, novidades (ainda que alimentar pets com comida caseira remonte literalmente à época das cavernas…) intimidam algumas pessoas.
A medicina opera dentro de um sistema conservador que tende a rejeitar o que foge à regra. Leia o artigo “Veterinários x Alimentação Natural” e descubra outros fatore$ que motivam fortemente essa rejeição. No mesmo artigo há sugestão de materiais sobre Alimentação Natural caseira que você pode repassar ao seu veterinário para convidá-lo a rever seus conceitos sobre o assunto. Se ele continuar irredutível, paciência. Sugestão: procure um profissional que respeita o seu direito de optar pela AN para seu amiguinho.
De qualquer maneira, não se deixe abater pela desaprovação inicial. Saiba que:
- Praticamente todas as modalidades consagradas de dietas caseiras foram desenvolvidas por médicos-veterinários.
- Não existe unanimidade em nada no que diz respeito a ciência e medicina. É inclusive saudável haver pontos de vistas diferentes.
- AN veio pra ficar! De 2008 para cá, quando criei esse site, tenho visto mais e mais veterinários brasileiros totalmente simpáticos às dietas naturais.
Procure sua turma! Cerque-se de praticantes de AN. Nas comunidades específicas em fóruns e redes sociais, como a página do Cachorro Verde e a comunidade Alimentação Natural para Pets – Brasil, ambas no Facebook, você certamente encontrará muitos amigos!
Sujeira?
Muita gente não experimenta a dieta natural com medo que seu gato Persa – ou de outra raça peludona – se suje comendo. Pois eu convivi com um Persa peludão e posso garantir que ele não se sujava nadinha ao comer as refeições.
Tem mais de um gato? Alimente-os separadamente
Quem já assistiu no Animal Planet uma família de leões se alimentando percebeu que rugidos, grunhidos e patadas fazem parte da dinâmica. Pelos mesmos motivos servir comida a um grupo de gatos sem separá-los individualmente não é boa ideia.
Defina diferentes lugares da casa para servir a vasilha de cada animal ou alimente um por vez, separadamente. Mesmo porque há bichanos que devoram a refeição com pressa para afanar a comida do colega que come mais devagar.
Previna esse bullying alimentar que pode resultar em ferimentos por brigas, desbalanços nutricionais, além de transtornos por ansiedade.
Quer mais um motivo pra separar a galera na hora da refeição? Futuramente você pode precisar adotar uma dieta diferente para um dos gatos da casa. Ficará muito mais fácil evitar que ele perceba que é o único do lar com uma dieta diferente se você acostumá-lo desde sempre a comer separado dos demais.
Parece um negócio complicado separar os gatos na hora do rango, mas gatos são espertos. Se você insistir nisso por algumas semanas, eles logo entenderão que cada gato vai ganhar a refeição em um canto diferente da casa e se direcionarão para lá automaticamente. Depois de estabelecido o hábito, é só manter.
Mas... dieta caseira não suja os dentes?
Alguém realmente acredita que o simples fato do pet comer ração seca evita que os dentes formem tártaro? Se fosse assim, será que não veríamos o índice de gatos com doença periodontal despencar, já que a maioria é adepta de ração?? Se fosse assim, nós, humanos, não precisaríamos de escova de dentes para manter a saúde oral. Garantiríamos a limpeza dos dentes mastigando sucrilhos.
Brincadeiras à parte, fato é que ração seca convencional não faz quase nada para manter os dentes limpos. As bolinhas de ração são quebradas com os molares uma ou duas vezes e engolidas. Nem todos os croquetes sofrem essa quebra – tanto é que quando um gato vomita, o que vemos é um monte de grãos de ração intactos.
Mas a boa notícia é que a Alimentação Natural crua com ossos pode ajudar a prevenir e até combater a doença periodontal. Ela contém pouquíssimo (ou nenhum, dependendo da receita) carboidrato e justamente esse grupo de alimentos adere fortemente aos dentes.
Se o gato aceita comer ossos carnudos crus inteiros ou em pedaços – e não triturados em patê – melhor ainda, porque a mastigação dessas peças massageia as gengivas e desorganiza a placa bacteriana dos dentes, interrompendo a formação do tártaro. Foi o que aconteceu com meu gato Yoshi, vidrado em traçar ossos carnudos crus em pedaços grandinhos. Aos sete anos sua saúde periodontal era simplesmente impecável.
Se seu gato torce os bigodes para ossos oferecidos em pedaços e faz questão de receber tudo em forma de patê, o benefício da mastigação será inexistente. Felizmente nem todo gato que come a dieta moída desenvolve tártaro. Mas se seu felino começar a apresentar crostas nos dentes, sugiro dar início a uma rotina de escovação de dentes. Não é impossível como parece a princípio. Assista aqui a um excelente vídeo que ensina o passo-a-passo bem didaticamente.
Além deste manual, disponibilizamos também um Curso Online de Alimentação Natural para gatos saudáveis que aborda todos os assuntos que tratamos aqui de forma ainda mais completa e detalhada, em videoaulas gravadas que você pode assistir quantas vezes quiser durante o período de 3 meses. E ainda oferece a chance de tirar dúvidas mensalmente com a Dra. Sylvia.
Indicações da AN crua com ossos para gatos
AN crua com ossos é uma dieta balanceada e completa, indicada, portanto, a gatos de qualquer idade (desde que já tenham sido desmamados) e qualquer raça. Caso seu bichano seja um neném de apenas 50 dias, recém-desmamado, ou mesmo um senhorzinho desdentado, será necessário triturar os ossos até que a dieta adquira a consistência de um patê. Dicas sobre como fazer isso você encontrará nos meus textos sobre preparo, mais à frente.
Em geral recomendo as ANs do Cachorro Verde somente a pets comprovadamente saudáveis, livres de sintomas. Mas estou disposta a abrir uma importante exceção em relação aos gatos. Acredito muito no poder da AN em regenerar gatos com problemas crônicos causados ou agravados por consumo de ração seca.
Seu gato tem apresentado vômitos? Diarreia? Alergia (coceiras, feridas pelo corpo)? Está obeso? Diabético? Primeiro converse com o veterinário dele sobre a Alimentação Natural caseira. Mostre links, indique livros, depoimentos, fale sobre a composição da dieta. Se ele concordar em acompanhar seu felino na mudança de dieta, comece a trocar gradativamente, conforme indicarei nos próximos textos, a ração pela AN.
O impacto positivo da dieta natural na saúde não raro é de cair o queixo, tamanho é o estrago que a ração seca à base de grãos causa no sistema do gato. Acredito sinceramente que, com poucas exceções, todo gato se beneficia de uma dieta naturalmente úmida, rica em proteína animal de boa qualidade e pobre em carboidratos.
Mas se você perceber que seu gato, por qualquer motivo não se deu bem com a AN crua com ossos, experimente instituir a versão crua sem ossos. E se ainda assim você não obteve sucesso, tente colocar em prática a versão cozida da dieta. Aqui traço um comparativo citando prós e contras das três variedades de AN.
Contraindicações da AN crua para Gatos
As únicas situações em que não recomendo de maneira alguma oferecer nenhuma das dietas que divulgo aqui no site é em caso de gato portador de doença renal crônica (vulgo “insuficiência renal”) e gato formador de cálculos urinários. Para esses casos, procure o auxílio de um veterinário ou zootecnista com experiência em elaboração de dietas caseiras terapêuticas para gatos para obter um cardápio especial. É claro que também não indicamos iniciar uma mudança de alimentação com gatos muito debilitados ou em casos de doenças muito avançadas. Consulte sempre o veterinário do seu bichano e aja com bom senso.
O que você vai precisar para dar início à AN?
Anote aí o que você precisa providenciar antes de começar:
- Facas grandes e afiadas (pelo menos uma para carnes e uma para cortar legumes)
- Tábuas de cortar (uma para carnes e uma para vegetais)
- Saquinhos para freezer, de preferência com fecho ziploc, ou potinhos tipo tupperware
- Um moedor que dê conta de triturar ossos carnudos crus, além de carnes e vísceras. Se você conseguir comprar ossos carnudos já moídos, ótimo; esqueça o moedor. Experts em AN para gatos, como a veterinária Lisa Pierson recomendam máquinas como a Tasin e a Weston. Infelizmente não sei informar se estão à venda no Brasil e quanto custam.
- Três cubas grandes para acondicionar pelo menos 1kg de comida cada e uma cuba com capacidade para 4kg ou mais. É nessa última que você vai misturar todos os ingredientes moídos para obter um patê de AN crua homogêneo.
- Balança de cozinha, preferencialmente digital, para pesar com precisão os ingredientes das receitas. Dica: no site Mercado Livre você encontra balanças digitais pelos melhores preços.
- Espaço no freezer ou congelador.
Check-up geral de saúde
Seu bichano pode parecer perfeitamente saudável e na verdade estar apresentando algum problema de saúde que ainda não manifestou sintomas. A verdade é que sem um check-up geral periódico não há como saber como está saúde do nosso pet. Assim sendo, é importante solicitar alguns exames antes de trocar a dieta do peludo.
Para filhotes que aparentam estar saudáveis (vermifugados e vacinados, sem diarreia, vômitos, bem nutridos, fortinhos, com pelagem bonita) é possível pular os exames. Para gatos adultos recomendo uma visita ao veterinário clínico-geral da sua confiança para um exame físico – peça inclusive para ele abrir a boca do bichano e examinar dentes e gengivas – e algumas análises complementares:
- Hemograma: verifica sinais de anemia e infecção
- Dosagem de ureia e creatinina (função renal)
- Enzimas hepáticas (função hepática)
- Urinálise (Urina tipo I): verifica pH, densidade da urina e presença de cristais. Uma agulha acoplada a uma seringa atravessa a parede abdominal e colhe um pouco de urina diretamente da bexiga do gato, no laboratório. Calma, é bem mais tranquilo do que a descrição sugere.
- Coproparasitológico: exame de fezes que investiga a presença de vermes. Para ter resultados mais confiáveis leve três amostras, cada um colhida em um dia (por exemplo: um cocô de segunda-feira, um cocô da quarta-feira e um da próxima segunda-feira.)
Para gatos de meia idade e idosos, sugiro solicitar os exames acima e mais alguns:
- Ultrassonografia abdominal: mostra o aspecto de órgãos como rins, fígado, pâncreas, estômago e intestino, além de investigar a presença de nódulos.
- Aferição de pressão arterial
- Glicemia em jejum
Periodicamente, a cada seis meses ou pelo menos uma vez por ano, leve seu amiguinho ao veterinário para uma avaliação completa.
Quanto servir de AN por dia
Gatos adultos
As receitas que você verá no final desse material apresentam cerca de 1.000 a 1.400 calorias por kg. Um gato adulto requer entre 150 e 240kcal por dia. Logo, você vai servir entre 150g e 250g de AN por dia, divididos em 2 a 4 refeições ao dia. Sirva mais se seu gato for atlético e ativo. E menos se seu bichano estiver acima do peso e for sedentário.
Gatos não são glutões como os cães, que são capazes de comer muito mais do que precisam em uma refeição. Descubra quanto servir por dia ao seu gato adulto fazendo o seguinte teste durante uma semana: em três ou quatro momentos fixos do dia sirva 100g de comida e veja quanto seu gato é capaz de comer em 30 minutos. Supondo que ele coma aproximadamente 60g em cada refeição, três vezes ao dia, você deve servir a ele um total de 180g de AN por dia, fracionados em três refeições.
Fique sempre de olho no peso e no apetite do felino. Um gato adulto que come muito e continua magrinho pode estar sofrendo de alguma doença, como verminose, diabetes ou hipertiroidismo.
Também já vi gatos adultos mantendo bem o peso comendo menos do que o indicado, por exemplo, 2 colheres de sopa por refeição. Se esse é o caso de seu gato e ele realmente está mantendo o peso desejável, não se preocupe. A AN é fácil de digerir e absorver e o organismo de alguns bichanos não requer muita comida para se manter em equilíbrio.
Gatos idosos
Com o avanço da idade, o corpo tende a ter mais dificuldade de aproveitar a proteína e obter energia. É por isso que gatos velhinhos tendem a perder peso e massa muscular mesmo sem reduzir o consumo de alimentos. Se isso estiver acontecendo com seu bichano idoso, capriche no tamanho das refeições ou institua uma refeição extra para compensar. Se ele não aceitar comer mais, aumente a densidade calórica da dieta adicionando algumas colheres de sopa de gordura ou pele na hora de preparar as porções para congelar.
Gatos filhotes
Até os 8 meses de idade, que é quando o crescimento do bichano estabiliza, sirva o quanto seu gato estiver disposto a comer em quatro ou mais refeições por dia. A comida pronta pode ficar até 2 dias na geladeira. Depois dos 8 meses de idade, determine 4 ou 3 refeições fixas ao dia e descubra quanto servir de comida por dia fazendo o teste informado acima para adultos.
“A formulação e composição da dieta são as mesmas para adultos, filhotes e idosos?”
Mais uma vez, relembro o modelo da natureza. Independentemente da idade, os felinos selvagens todos comem o mesmo alimento: presas. Não existem presas especiais para filhotes e para gatos mais velhos. Podemos concluir, então, que uma dieta equilibrada é adequada a qualquer faixa etária. Se estivermos falando de filhotes saudáveis, adultos saudáveis e idosos saudáveis, o que muda é basicamente a quantidade oferecida por dia e o número de refeições servidas.
Idade avançada não é sinônimo de doença. Há gatos de 15 anos com rins mais saudáveis que alguns gatos de 2 anos que sofrem de doenças congênitas. (Aliás, não raro os gatos de especialistas em AN ultrapassam os 20 anos de vida, com saúde!). Nem todo gato idoso irá desenvolver doença renal ou hepática e já está comprovado cientificamente que restringir proteína ou gordura da dieta de um gato saudável não apenas não previne esses quadros como pode conduzir a outros problemas.
Todo pet deve ser examinado pelo veterinário regularmente. Para os idosos, esse cuidado tem um peso ainda maior. Se o seu bichano velhinho está comprovadamente bem, ótimo. Tudo indica que ele continua apto a receber uma dieta biologicamente adequada a um felino saudável. Em contrapartida, se um problema de saúde for identificado, poderão ser cabíveis ajustes na dieta. Nesse caso, procure orientação de um veterinário ou zootecnista com experiência em formulação de dietas caseiras terapêuticas para gatos.
Quantas refeições ao dia
Para filhotes na fase mais exigente do crescimento – até os 6 meses – o ideal é servir 4 ou mais refeições por dia, de preferência em horários fixos. Dos 6 aos 8 meses, sirva 3 ou 4 refeições ao dia. Depois dessa idade, tudo bem servir entre 2 e 4 refeições ao dia. Ao contrário do que muita gente pensa, um gato adulto não precisa ficar petiscando o dia todo, com comida à vontade. Ele também não irá entrar em hipoglicemia ou lipidose hepática (um sério distúrbio no fígado) se passar 8-12h sem se alimentar.
Pelo contrário. Na natureza um gato passa horas sem se alimentar entre uma caçada e outra. Caçar é difícil. E ele ainda se ocupa de defender território, acasalar, cuidar dos filhotes, dormir e fazer a higiene. Deixar comida à vontade, principalmente ração seca com suas 4 mil calorias por quilo, é pedir pra ter um gatinho obeso.
Eis algumas dicas se você passa o dia todo fora de casa e ninguém fica cuidando do seu gato à tarde.
- Enquanto você toma café-da-manhã e se arruma para sair, sirva uma refeição para o gato.
- Voltando do trabalho, sirva outra refeição. Ele vai estar com fome, mas não há mal nenhum isso, significa apenas que ele comerá tudo com gosto!
- Antes de ir dormir sirva a terceira e última refeição.
Essa é uma forma de aproveitar o tempo que você efetivamente passa com seu gato. Se você não sabe a que horas irá voltar do trabalho, uma alternativa é deixar uma refeição congelada à disposição ao sair pela manhã. Ela irá descongelar nas próximas horas e provavelmente se manterá fresca à tarde quando seu felino poderá comê-la. Sirva em um recipiente à prova de formigas (com água no bordo) e descarte o que tiver sobrado assim que chegar em casa.
Pense em uma família de leões debruçada sobre um antílope recém-abatido. Eles levam horas e horas para comer tudo – e isso naquele calorão da África.
Complementos obrigatórios
- Óleo de peixe em cápsulas de 500mg
- Sal iodado
- Vitamina E em cápsulas
- L-Taurina em cápsulas ou sachês
- Complexo B em comprimidos de 50mg
Complementos opcionais
- Óleo de côco ou azeite de oliva extravirgem
- Levedo de cerveja em pó ou em comprimidos
- Fibras psyllium husks (Benefiber ou Metamucil)
- Iogurte natural integral ou kefir
Importante:
Não compare a formulação da AN crua com ossos com a formulação da AN crua sem ossos. São dietas diferentes, com balanceamentos distintos. Se você fizer muita questão – e seu gato aceitar – varie entre os 3 modelos de ANs diferentes (AN com ossos, AN sem ossos e AN cozida), mas faça-o sem misturar no mesmo dia modelos de dietas diferentes.
Veja um exemplo do que seria uma forma correta de variar entre os modelos de AN: cozida por 3 dias, crua com ossos por 3 dias e crua sem ossos por 3 dias. Obedeça sempre às recomendações de cada modelo de dieta.
De uma maneira geral não recomendo ficar variando os modelos de AN. Escolha um modelo de dieta e procure seguir sempre essa. Previsibilidade e rotina são importantes para um felino.
Ossos carnudos crus
Pense nessas peças como sendo o esqueleto da presa que o gato abate e come. O esqueleto é formado por ossos, que fornecem cálcio, mas também por articulações, que são ricas em colágeno e condroitina – importantes para a saúde das articulações do próprio gato. Dentro dos ossos há gordura, medula e sangue.
Ossos carnudos contêm também um pouco de carne, fornecendo também proteína, elemento tão valioso para o gato. Daí o nome desses alimentos ser “ossos carnudos” (osso + carne).
Como também indica o nome, ossos carnudos crus devem sempre ser oferecidos crus – jamais cozidos. Ossos crus são digeridos normalmente, não oferecendo risco de perfurar o estômago ou intestino do pet. Ossos cozidos, entretanto, têm sua estrutura molecular alterada e se tornam rígidos e perfurantes.
Lembre-se sempre: ossos no seu estado natural – cru – têm sido a fonte de cálcio de felinos selvagens de todos os portes e idades há milênios. São os ossos cozidos, em geral sobras das nossas refeições, que impõem riscos aos nossos peludos.
Ossos carnudos crus são o ingrediente mais abundante na AN crua, representando 50% do total de alimentos.
Ossos carnudos crus adequados a gatos são:
- Pescoço de frango sem pele cortado em pedaços ou moído
- Dorso de frango (também conhecido como carcaça ou costela) cortado em vários pedaços ou moído
- Asas de frango sem a coxinha, com a pele, cortada em pedaços ou moída – ou asa inteira moída
- Cabeça de frango sem o bico cortada em pedaços ou moída
- Coxa de frango, com a pele, sempre moída
- Carcaça de codorna cortada em pedaços ou moída
- Carcaça de rã cortada em pedaços ou moída
- Pescoço de peru moído
- Carcaça de coelho moída ou ossos carnudos crus de coelho moídos
Ossos carnudos crus não adequados aos gatos
- Pé de frango. Não ofereça pé de frango como osso carnudo cru. É uma peça muito rígida e não contém carne, apenas osso. Alguns gatos até gostam de roer um pé de frango cru de vez em quando e isso ajuda a manter os dentes limpos, mas não ofereça mais que um pé uma vez por semana durante 30 minutos – e supervisione sempre. Se consumido em excesso, o pé de frango pode causar constipação, justamente por conter osso demais.
- Ossos de animais maiores (boi, porco, cordeiro etc).
Por que alguns ossos precisam ser oferecidos moídos e outros podem ser oferecidos em pedaços?
Imagine seu gato caçando na natureza. Estando sozinho (gatos são predadores solitários) e sendo um animal de porte pequeno, ele consegue abater presas como aves pequenas, roedores, pequenos répteis e anfíbios. Presas maiores não são apenas impossíveis de abater, mas difíceis de consumir.
Não podemos perder isso de vista ao oferecer AN crua com ossos para um gato. Há ossos que gatos com boa saúde dentária conseguem quebrar facilmente, como pedaços de pescoço de frango, cabeça de frango, pedaços de carcaça de rã e codorna e asa de frango sem a coxinha (a coxinha, ou drumete, é muito dura).
E há peças mais rígidas que oferecem risco de fratura dos dentes ou de engasgo se oferecidas inteiras. São elas: coxa e coxinha da asa de frango, pescoço de peru e pedaços de carcaça de coelho. Contudo, se você conseguir comprar essas peças bem moídas ou moê-las em casa, será ótimo oferecê-las ao seu bichano!
Por que alguns ossos carnudos crus podem ser oferecidos com pele e para outros se recomenda retirá-la?
Na natureza não existe obesidade. Não há passarinhos gorduchos ou camundongos roliços. A dieta ancestral do felino não é excessivamente gorda e a do seu gato também não deve ser.
Só que a forma como os animais de produção, as galinhas principalmente, são criadas, favorece a deposição de massa gorda na carcaça. Galinhas em regime convencional (não caipira e não orgânico) de criação costumam ser mantidas em ambientes apertados e basicamente comem e ficam deitadas o dia todo.
Isso resulta em pescoços super pelancudos e dorsos de frango com uma “saia” enorme de banha. Pode mandar toda essa gordura embora. Já a pele fina que recobre a asa, a cabeça e a coxa do frango, tudo bem deixar. Um pouco dessa pele contribui com gorduras benéficas à saúde, como o ácido graxo araquidônico.
Carnes desossadas
Carnes fornecem predominantemente proteína, mas também vitaminas, ácidos graxos e minerais. Ovos e peixes entram nessa categoria, oferecendo uma infinidade de outros elementos valiosos.
Seu bichano é indiscutivelmente um carnívoro obrigatório. Um predador de elevada exigência protéica incapaz de assimilar adequadamente aminoácidos e ácidos graxos de origem vegetal. O felino é capaz de obter glicose (energia) a partir de proteína, um fenômeno chamado gliconeogênese. Não há como enfatizar o suficiente a importância desse grupo de alimentos para a saúde do gato.
Na Alimentação Natural, algumas vísceras são oferecidas como se fossem carnes. São elas: moela, coração, língua e bucho. Isso porque essas peças contêm bastante músculo, se assemelhando mais a carnes puras que a miúdos como o fígado. E ainda têm a vantagem de ser mais em conta que carnes como músculo, peito de frango etc.
Carnes desossadas são o segundo ingrediente mais abundante na AN crua com ossos, representando 25% do total de alimentos.
Peças protéicas adequadas
Qualquer carne que não seja muito gordurosa é aceitável.
- Frango: peito, coxa desossada, moela, coração de frango sem a gordurinha e sobrecoxa desossada
- Porco: lombo suíno ou filé mignon suíno
- Boi: coração sem gordura, músculo, lagarto, língua, patinho, coxão mole, coxão duro
- Ovos: de galinha, pata, codorna, perua (gema e clara)
- Cabrito: qualquer corte magro
- Carne de rã (é magrinha)
- Carne de codorna
- Carne de coelho (é magrinho)
- Peixe
Deixar ou não a pele nos cortes de frango?
A pele de peças como peito, coxa desossada e sobrecoxa desossada de frango fornece ácidos graxos valiosos, como o araquidônico, uma gordura que o gato não fabrica. Minha sugestão: mantenha a pele se seu felino não estiver gordo e não sofrer de vômitos frequentes (gastrite), doenças no fígado ou no pâncreas.
Coração, uma carne que não pode faltar na dieta do seu gato!
Se vivesse na natureza, seu gato beberia o sangue de suas presas. Soa macabro, eu sei, mas é verdade. Sangue é rico em aminoácidos e minerais, como o ferro e sódio.
Nós não temos condições de oferecer sangue aos pets. Primeiro, porque provavelmente seria nojento, mas principalmente porque o sangue é drenado no momento do abate dos animais de produção e destinado a outros propósitos.
(Ao contrário do que muitos pensam, aquela aguinha avermelhada que a carne solta ao descongelar não é sangue. É apenas água e elementos como hemoglobina liberados de células rompidas pelo processo de congelar-descongelar a carne.)
É aí que entra o coração. Essa câmara musculosa onde o sangue é bombeado fornece proteína, ferro, vitaminas e aminoácidos valiosíssimos para a saúde dos olhos e do próprio coração do felino, como L-taurina e L-carnitina. Usar coração na AN é uma forma de repôr os nutrientes que o sangue ofertaria.
Carnes que é melhor evitar
- Carne de cordeiro: é bastante gordurosa; omita da dieta de gatos que apresentam gastrite (vômitos), problemas no fígado, pâncreas ou que estejam acima do peso.
- Carne de pato: é muito gordurosa.
- Cortes gordos de boi e porco, como costela, cupim e pernil suíno.
Você sabia? Antes de serem servidos ao seu peludo, carnes, vísceras e ossos crus precisam passar alguns dias congelados. Esse cuidado destrói parasitos que podem estar presentes nos alimentos crus. Leia aqui TUDO sobre bactérias e vermes nas carnes cruas e como driblá-los.
Peixes
Por incrível que pareça, muitos experts em AN para felinos não vêem com bons olhos a inclusão de peixe na dieta dos gatos. Vamos entender os porquês dessa ressalva justo para o alimento predileto dos gatos de desenhos animados.
Cuidado: para muitos gatos, o sabor do peixe é viciante
Tem gato que, ao ser apresentado a peixe (em especial, atum e sardinha), só quer saber de comer isso. Não aceita carne de nenhum outro tipo. Sério. E basear a dieta em peixe seria problemático por três motivos:
- A dieta ficaria pobre. Sem inclusão de carnes de outras espécies, como frango, boi etc, limitaríamos a variedade nutrientes que o gato receberia.
- Risco de hipertiroidismo. Peixes marinhos (atum, pescada, cação, sardinha, cavalinha etc) carregam doses generosas de iodo, mineral que pode sobrecarregar a glândula tireóide do felino, gerando uma doença séria.
- A dieta deixaria de ser biologicamente adequada ao gato doméstico. A verdade é que não se sabe direito por que os gatos são tão loucos por peixe. Na natureza somente uma espécie de felino come peixes, o gato-pescador. Mas não é dele que nosso gato descende; nosso gato veio do deserto!
Se seu gato não é um viciado em peixe, tudo bem oferecer um dia por semana refeições com peixe como fonte de proteína. Alguns tutores de gatos tarados por peixes fazem o seguinte: em vez de oferecer, por exemplo, 120g de peixe uma vez por semana, distribuem esses 120g nas refeições da semana inteira misturando 17g (equivalente a 1/7 de 120g) de peixe no total de cada dia. Tudo bem fazer assim.
Mas evite oferecer peixe mais do que um ou no máximo dois dias por semana. E omita totalmente esse alimento se seu felino ficar fissurado e exigir peixe todo dia.
Quais peixes podem ser oferecidos?
Se estivermos falando de oferta do peixe inteiro, com escamas, vísceras e espinha, prefira sempre peixes pequenos, de até um palmo ou menores. Caso das sardinhas pequenas, manjubas, lambaris, trilha. Sendo menores, esses peixes têm espinhas molinhas e curtas, mais seguras.
Eu costumava servir para meus gatos pedaços desses peixes com tudo – eles adoravam! Sempre que o pet aceita, prefiro oferecer peixes completinhos (vísceras, cabeça etc), por serem raras as oportunidades de fornecer presas inteiras, em sua harmonia natural de tecidos e nutrientes.
Se você tem receio do bichano torcer os bigodes para peixe com miúdos, cabeça e escamas ou se engasgar com as espinhas, compre somente o filé (ou posta). Se optar por servir somente o filé, qualquer espécie de peixe é adequada.
Algumas espécies mais populares incluem: anchovas (a natural, não a de lata), sardinhas, cavalinhas, trilha, bacalhau (não o salgado), pescada, merluza (também conhecida como polaca do Alasca), truta, tilápia, salmão, saint peter, peixe porquinho, manjuba, tambaqui, linguado, abadejo, namorado e corvina. “Algumas” porque há dezenas e dezenas de espécies de peixes vendidas para consumo.
Quais são os peixes que fornecem ômegas-3?
Ômegas-3 DHA e EPA são ácidos graxos (gorduras) super do bem, que modulam quadros inflamatórios, protegem a pele, a saúde do cérebro e coração, dentre uma infinidade (mesmo!) de benefícios. Muitos alimentos fornecem outro ômega, o da série 6. Mas são relativamente poucos os alimentos que concentram ômegas da série 3.
Peixes marinhos oriundos de águas geladas e profundas são boas fontes desse lipídeo – caso do arenque, da anchova, da sardinha, da cavalinha e do salmão.
Mas é importante ressaltar que somente o salmão selvagem, aquele pescado no oceano, contém ômegas-3. Infelizmente o “salmão” que encontramos à venda no Brasil é oriundo de cativeiro. No seu habitat natural, o salmão se alimenta de camarõezinhos, o que lhe rende o pigmento rosado da sua carne e os preciosos ômegas-3. Em contrapartida, o salmão de cativeiro come ração de milho e soja – que não se convertem em ômegas-3 – nem adquire o tom róseo. Nosso salmão é tratado com corantes pra ficar rosado.
É importante ressaltar que o ômega-3 de fontes vegetais, como o encontrado em sementes de chia, linhaça e castanhas, simplesmente não é assimilado pelo organismo do gato. Pra eles o ômega-3 precisa obrigatoriamente ser de origem animal.
Peixes a evitar
Nem todo peixe pode ser oferecido regularmente aos pets. Peixes predadores de grande porte, que vivem vidas longas e são pescados mais velhos apresentam carne mais contaminada por metais pesados, como chumbo, arsênico e mercúrio, além de outros poluentes. Essas toxinas se acumulam facilmente num corpo pequeno como o do gato e podem causar sérios prejuízos à imunidade, sistema neurológico e endócrino, além de câncer.
Por isso evite peixões marinhos como o cação, o espada e o atum. Se fizer muita questão de oferecer atum ao seu bichano, procure restringir a oferta a uma vez no mês.
Existe risco na oferta de peixe cru ao pet?
Sim, existem certos riscos que podem facilmente ser driblados. Algumas espécies de peixes podem transmitir a tênia Diphyllobothrium latum e o salmão e truta selvagens podem veicular a bactéria Neorickettsia helminthoeca. Nos Estados Unidos, onde a intoxicação por consumo de salmão selvagem cru é frequente, recomenda-se evitar o consumo e oferta desse peixe cru aos pets.
Além disso, alguns tipos de peixes crus contêm um anti-nutriente em sua carne: a enzima tiaminase. Essa enzima degrada a vitamina B1, ou tiamina. Assim, o indivíduo que ingere muita tiaminase pode acabar deficiente em vitamina B1.
Há formas de contornar esses riscos.
- Cozinhe moderadamente o peixe. O tratamento por calor mata os parasitos que o peixe pode transmitir e destrói a enzima tiaminase.
- Congele o peixe cru em freezer por 7 dias antes de oferecê-lo ao gato. De acordo com a Anvisa, esse cuidado aniquila parasitos. A tiaminase, entretanto, continuará ativa. O congelamento não a destrói. Como a deficiência de vitamina B1 ocorre somente com ingestão prolongada de tiaminase, restrinja a oferta de peixe cru a um dia por semana e seu gatinho não correrá risco.
Observação pessoal: como meus gatos não eram fãs de peixe cru, eu costumava cozinhar peixes no vapor pra eles. Com escama, miúdos, espinhas e tudo. Você pode cozinhar o peixe em frigideira com um fio de azeite ou óleo de côco, ou assá-lo no forno com papel alumínio ou cozinhá-lo em panela com pouca água ou em panela a vapor. Se for cozinhar em panela com água ou no vapor, eis uma dica para sua cozinha não ficar cheirando a peixaria: corte um limão ao meio e deixe as metades dentro da água enquanto o peixe cozinha. Vai neutralizar o odor em 80%.
Frescos x congelados x enlatados
O bom senso já nos diz, né? Peixe fresco é melhor que congelado. Mas caso você more em uma região onde não é fácil encontrar peixe fresco, vá de congelado mesmo.
E peixe enlatado? Bem, provavelmente não vai fazer mal oferecer de vez em quando um pouco de atum ou de sardinha em lata. Se tiver que usar, prefira sardinha conservada em azeite de oliva, porque óleos de soja e milho são alergênicos. Em relação ao atum, prefira o tipo conservado em água. Mas descarte o líquido, é lotado de sal.
Ovos
Seu bichano pode receber na dieta ovos de galinha, codorna, pata, perua etc. A proteína do ovo é a mais bem assimilada que existe. Ponto. É em relação a ela que todas as outras proteínas são comparadas. Sua assimilação pelo organismo chega a 99%, gerando virtualmente zero resíduo para o rim eliminar.
O ovo também é repleto de vitaminas, dentre elas a colina, fundamental para o bom funcionamento do cérebro, do coração e das membranas celulares em geral. A fosfatidilcolina presente na gema previne acúmulo de colesterol e gorduras no fígado, além de barrar elementos tóxicos.
Também é excelente para os olhos: contém luteína e zeaxantina, antioxidantes que previnem a degeneração macular. Ovo é fonte do mineral selênio (que protege o fígado e fortalece a imunidade) e fornece vitaminas do complexo B. Contém ainda enxofre, que favorece unhas e pelos mais bonitos e fortes – e de crescimento mais rápido!
E o colesterol?
Não despreze a gema, ofereça o ovo completo (gema e clara). Não se preocupe com colesterol. Níveis elevados de colesterol em pets são incomuns e quando aparecem geralmente são consequência de algum problema de saúde, não da dieta.
Cães e gatos são sortudos, eles não sofrem com acúmulo de placas nas artérias. Isso porque metabolizam gordura diferentemente de nós. Você nunca soube de um cão ou gato que tenha passado por uma cirurgia para colocação de ponte de safena, não é verdade? 😉
E a casca?
Descarte a casca do ovo. É verdade que a casca, desde que devidamente triturada e desidratada, é uma excelente fonte de cálcio. Mas a AN crua já tem cálcio em teores adequados graças à presença dos ossos carnudos crus. Adicionar mais cálcio a esse modelo de dieta seria prejudicial ao seu bichano.
Cru ou cozido?
Ovos crus são mais nutritivos, mas nem todo gato gosta do sabor ou os tolera bem. Alguns bichanos podem apresentar vômito com clara crua. Se isso acontecer com seu felino, passe a cozinhar a clara ou omita-a e sirva somente a gema – justamente a parte do ovo mais densa em nutrientes.
Ovos crus podem veicular a bactéria salmonela. Contudo, infecção por salmonela é algo raríssimo em gatos. Provavelmente por terem evoluído ao longo de milênios consumindo carnes cruas de aves e ovos caídos de ninhos. A salmonela não resiste ao ph extremamente ácido do estômago do gato. E quando sobrevive tem muita dificuldade de colonizar o curto intestino do felino, onde o alimento permanece por pouco tempo.
Ovos crus também contêm um anti-nutriente, como é o caso da tiaminase presente no peixe cru. Estou falando da avidina, uma proteína que pode bloquear a absorção da biotina (ou vitamina H), uma vitamina do complexo B. O cozimento destrói completamente a avidina. Mas não é necessário ir tão longe – a não ser que seu gato prefira ovo cozido.
Deficiência de biotina por consumo de ovo cru é raro e está associado ao consumo regular e prolongado apenas da clara crua, sem a gema. A gema fornece doses generosas de biotina, compensando a ação da avidina da clara. Desde 2008 ofereço ovos crus aos meus pets e acompanho incontáveis pacientes adeptos de dietas com ovos crus. A saúde e os exames desses animais não exibem nenhum sinal de deficiência de biotina.
Acredito ser seguro oferecer ovos crus – desde que o pet goste e não apresente nenhum sinal de intolerância, como vômitos, coceiras ou diarreia – até 2 dias por semana. A quem deseja oferecer ovos com maior frequência recomendo cozinhar. Essa tem sido minha orientação desde 2008, com resultados seguros.
Convencionais ou orgânicos?
Se puder comprar ovos orgânicos ou verdadeiramente caipiras, melhor. Eles costumam ser mais nutritivos e conter menos toxinas. (Só um adendo: ovos caipiras são oriundos de galinhas criadas soltas. Ao contrário do que muitos acreditam, apenas apresentar casca de coloração vermelha não significa que o ovo é caipira.)
Se ovos orgânicos e verdadeiramente caipiras estiverem fora do seu orçamento, compre ovos convencionais. É mil vezes melhor que deixá-los faltar na dieta.
Vísceras
Também conhecidas como miúdos, ou órgãos, essas peças são uma valiosa reserva de vitaminas e minerais para carnívoros como o seu felino. A presença diária de um pouco de vísceras na dieta previne e corrige deficiências nutricionais e representa os órgãos da presa que o seu predador de estimação caçaria na natureza.
Eu sei que a maioria de nós considera vísceras repugnantes. Mas não deixe de oferecê-las só porque você não as comeria ou por achar que as carnes já fornecem esses nutrientes. Não é verdade, carnes são infinitamente mais pobres nutricionalmente que as vísceras. Uma pequena quantidade de vísceras diariamente na dieta é fundamental para garantir o sucesso da AN.
Como vimos anteriormente, no item “carnes” algumas peças, como língua, moela, bucho e coração não são consideradas vísceras, mas carnes, por serem musculosas.
As vísceras compreendem a categoria menos abundante na AN crua, representando somente 10% do total de alimentos. Mas acredite: esses 10% de miúdos na dieta são suficientes. Abusar de vísceras pode causar diarreia e até doenças por excesso de vitaminas.
Consideramos como sendo vísceras os seguintes órgãos, de qualquer animal:
- Fígado de qualquer animal (os mais fáceis de encontrar são o de frango e o de boi, mas há quem ache de porco)
- Rim
- Baço (conhecido vulgarmente como “passarinha”)
- Pulmão (ou “bofe”)
- Cérebro (o “miolo”)
- Pâncreas (super difícil de encontrar)
Fígado
Costumo chamar o fígado de “o rei das vísceras”, porque ele é o item mais importante dessa categoria. Se você não comprar outras vísceras por falta de disponibilidade (ou por nojo) e tiver que escolher apenas uma víscera, escolha o fígado e varie entre o bovino e o de frango.
Fígado é simplesmente a fonte mais concentrada que existe de vitamina A (a saúde dos olhos, pele e a imunidade agradecem!), mas também fornece vitamina C, D, E, K, os minerais selênio, manganês, zinco e ferro, além de conter todas as vitaminas do complexo B, em especial B2, B3, B5, biotina, ácido fólico, B12, colina e inositol.
Quer mais? Fígado é uma proteína de excelente qualidade e ainda apresenta um pouco de ácidos graxos ômegas-3 e 6.
Não se deixe levar por alegações de que fígado é obrigatoriamente um alimento contaminado, tóxico, sujo. Sinceramente? Ao desprezar o fígado, quem sai perdendo é o seu peludo. Há muito mais excelentes razões para inclui-lo na dieta que para omiti-lo. Não há motivos sérios para desconfiar de fígado de boa procedência, comprado em um estabelecimento onde você compraria alimentos para você e para a sua família. Antes do abate, animais de produção são submetidos a um rigoroso jejum de sólidos e é proibido aplicar neles qualquer medicamento nesse período. Esse cuidado favorece a desintoxicação de resíduos.
E veja que interessante: comer fígado ajuda no combate a toxinas. Isso porque fígado contém doses generosas e vitaminas do complexo B e selênio, elementos que participam da desintoxicação do organismo.
Desde 2008 ofereço regularmente fígado de boa procedência aos meus pets, com resultados fantásticos. Monitoro a saúde deles com uma série de exames semestrais e até agora nenhum deles exibiu nenhum sinal de intoxicação ou de dano hepático ou renal.
Mas não fico só no fígado como vísceras, na vasilha dos meus pets também entra baço, pulmão, cérebro e rim.
Se ainda assim você tem receio de oferecer esse miúdo, saiba que pode comprar fígado de frango criado em sistema livre de antibióticos ou orgânico (um exemplo seria o da marca Korin).
Outras vísceras
Nutricionalmente o rim é bastante similar ao fígado, com bons níveis de ácidos graxos, vitaminas como a A, D, E e K, além de zinco, ferro, todas as vitaminas do complexo B e, claro, proteína. Uma vantagem sobre o fígado é o preço, muito mais baixo. Isso faz do rim uma víscera interessante a quem tem muitos pets.
Pulmão (ou bofe) é super baratinho, mas dentre todas as vísceras, é a mais pobre em termos de nutrientes. Costumo incluir em pequena quantidade na categoria de miúdos dos meus pets porque contém uma substância chamada surfactante, benéfica ao sistema respiratório.
Pouca gente sabe disso, mas o baço apresenta nove vezes mais ferro que o fígado! Isso porque ele é uma polpa de glóbulos vermelhos. E costuma ter um preço ótimo. Conhecido vulgarmente como “passarinha”, esse órgão fornece ainda potássio, selênio e magnésio, além de proteína, em quantidades apreciáveis.
Cérebro, ou “miolo”, é uma excelente fonte de glicose, vitamina C, vitamina B12, niacina, selênio e é riquíssimo em ômegas-3 DHA e EPA, gorduras do bem que protegem justamente o cérebro.
Pâncreas e intestino (conhecido em inglês como green tripe) infelizmente são difíceis de encontrar. O pâncreas fornece um universo de enzimas que ajudam a digerir melhor os alimentos, otimizando o aproveitamento dos nutrientes e prevenindo gastrite, diarreia e até alergias (sim, existe uma importante relação entre má digestão e reações alérgicas).
Intestino, a víscera mais nojenta de todas, seria o segundo miúdo mais nutritivo depois do fígado. O duro é encontrá-lo. Fora do Brasil, o green tripe, pode ser comprado até pela Internet. E é importante que esteja integral, “sujinho”, com um pouco de fezes da vaca. Porque aí é certeza que contém fibras (pasto digerido), enzimas e trilhões de bactérias saudáveis, tornando o intestino um importante probiótico.
(Re)lembrando que peças como língua, coração, bucho e moela não contam como vísceras, mas como carnes (ver o parágrafo sobre carnes).
Vegetais
É verdade que gatos são carnívoros obrigatórios. (Clique aqui para ler meu artigo sobre fisiologia digestiva de cães e gatos e entenda como os felinos processam alimentos de origem vegetal.) Mas na natureza acabam consumindo um pouco dos vegetais presentes no estômago e intestino das presas e mordiscam graminhas – hábito que mantêm até hoje.
O consumo de um pouco de matéria vegetal fornece fibras solúveis e insolúveis que reduzem a formação de bolas de pelo e auxiliam no trânsito intestinal, prevenindo constipação. Além disso, legumes, frutas e verduras contribuem com vitaminas, minerais e fitonutrientes – é o caso de antioxidantes como os carotenóides e flavonóides que combatem doenças degenerativas e previnem o envelhecimento.
A dieta natural dos felinos selvagens consiste em 85 a 95% de presa (carnes, ossos, órgãos etc) e 15 a 5% de matéria vegetal. Sendo uma alimentação que gera pouco resíduo, acabaria levando os felinos a ficarem constipados. Isso não acontece porque ao devorar a presa eles acabam também ingerindo um pouco de partes não digeríveis, como pelos e penas, que saem nas fezes intactos, atuando como as fibras encontradas nos vegetais.
Como não vamos oferecer presas inteiras – com penas e pelos – para nossos bichanos, o jeito é apostar em uma porção de legumes, verduras e hortaliças para fornecer fibras vegetais e manter o bom funcionamento do intestino.
A porção de vegetais na AN do gato é relativamente pequena, mas suficiente, por volta de 15%. Fato é que o gato não evoluiu para processar grandes quantidades de fibras e amido (açúcares). Aumentar muito a porção de legumes na dieta reduziria a proporção de proteína animal, item infinitamente mais valioso para um felino. O excesso de carboidratos das rações convencionais, por exemplo, aumenta a carga glicêmica da dieta, predispondo o gato a doenças inflamatórias como diabetes, obesidade, pancreatite, alergias e até tártaro.
Você pode incluir uma ampla variedade de vegetais na dieta do seu gato. Contudo, há algumas regrinhas a seguir para algumas famílias de vegetais.
Vegetais sem restrição
Esses podem ser oferecidos até diariamente:
- Folhas: agrião, catalonia, espinafre, salsão, alface, rúcula, repolho, folhas de beterraba, folhas de cenoura, salsinha, manjericão.
- Quiabo
- Pimentões (prefira vermelhos e amarelos, são mais nutritivos e fáceis de digerir que os verdes. Não precisa retirar a pele)
- Chuchu (não precisa descascar)
- Alcachofra
- Pepino
- Aspargos
- Palmito pupunha ou açaí
- Ervilha-torta (também conhecida como “orelha de padre”)
- Vagem macarrão
- Tomate (não precisa retirar as sementinhas)
- Talos de salsão
- Cenoura
- Abóbora de qualquer tipo (ou jerimum)
- Beterraba
- Rabanete
- Couve-flor
- Berinjela
- Nabo
- Jiló
- Batata-doce de qualquer cor
- Cará
- Inhame
- Mandioquinha (também conhecida como batata salsa ou batata baroa)
Quer uma dica? Capriche nas folhas. Elas são densas em nutrientes. Associe sempre folhas picadinhas (cruas ou cozidas, mas sempre picadinhas) aos legumes do seu bichano. Eles costumam adorar e as folhas ainda ajudam a manter o intestino em ordem. Meu Persa, o Arthur, é fã de couve manteiga!
Crucíferas
Pelo menos na teoria, vegetais crucíferos – repolho, brócolis, nabo, rabanete, couve-manteiga e couve-flor – podem interferir no metabolismo do iodo, prejudicando a função da glândula tireóide. Por esse motivo não se indica oferecê-los diariamente por período prolongado. Acredito que servir itens dessa “família” duas vezes por semana é seguro e garante os muitos benefícios desses vegetais.
Vegetais a evitar
- Cebola: é tóxica para cães mas, principalmente, para gatos. Causa uma anemia gravíssima
- Batata branca ou inglesa: é uma fonte vazia de calorias, contribuindo basicamente com açúcares
- Soja: não é uma fonte de proteína para carnívoros e está associada a desbalanços hormonais e alergias em cães e gatos.
- Milho: está associado a alergias em cães e gatos.
- Alho: como os gatos são mais sensíveis que os cães aos compostos sulfurosos da cebola, o alerta também se estende a “parentes” da cebola, como o alho, o alho-poró e a cebolinha. Conheço tutores de gatos e até veterinários, entretanto, que oferecem diminutas quantidades de alho (lâminas fininhas e picadas de um dente) com regularidade para fortalecer o sistema imune do gato contra pulgas e vermes, sem sinal de anemia. Ainda não posso afirmar com convicção, mas é possível que o alho seja menos tóxico que a cebola para os gatos.
- Uva e uva passa: ainda não se sabe exatamente o motivo, mas há relatos de sobra na literatura científica de cães que comeram uvas ou passas e desenvolveram falência renal aguda severa, em muitos casos, letal.
- Carambola: Ela apresenta grandes quantidades de ácido oxálico insolúvel, que pode prejudicar os rins com deposição de cálculos (“pedrinhas”) de oxalato de cálcio.
Evite também combinar na mesma receita vegetais que fermentam, como brócolis, couve-flor, batata-doce e repolho. Ou seu pobre bichano poderá virar um saco-de-puns e sofrer com dor abdominal.
Gato com dor nas articulações? Cuidado com as solanáceas!
Existe uma família de legumes conhecida como solanáceas. Fazem parte dela o jiló, os pimentões, a berinjela, o nabo, o tomate e a batata branca. Alguns estudiosos proeminentes tem contra-indicado os vegetais dessa família a indivíduos (humanos e animais) que sofrem de doenças inflamatórias, principalmente ortopédicas, como artrite ou artrose. Eles alegam que esses legumes podem agravar as dores do quadro.
Vegetais frescos x congelados x enlatados
O bom senso já diz, né? Frescos são sempre mais nutritivos. Mas é útil comprar alguns pacotes de legumes cortadinhos congelados, tipo seleta, e deixar no freezer para imprevistos. Eles resistem por meses. Legumes enlatados, em contrapartida, não são uma boa alternativa: em geral são lotados de sódio e podem conter aditivos controversos, como conservantes e reguladores de acidez.
Vegetais crus ou cozidos?
Como informo em vários trechos desse guia, a especialidade dos gatos definitivamente não é digerir vegetais. Na natureza eles consomem um pouco dos vegetais que eles encontram no trato digestório das presas. Esses vegetais estão triturados, pré-digeridos e embebidos em enzimas e bactérias, facilitando tremendamente a assimilação de seus nutrientes pelo gato.
Precisamos, então, oferecer legumes processados para eles. Nada de colocar pedaços inteiros de legumes crus. Existem duas maneiras de ofertar vegetais na AN crua com ossos para gatos: triturando-os crus ou triturando-os cozidos. A trituração com liquidificador, processador ou mixer destrói a parede de celulose do vegetal, aumentando sua digestibilidade.
Mas cru ou cozido? Tanto faz, na verdade. Legumes cozidos e triturados são mais parecidos com o estado dos vegetais presentes no estômago e intestino da presa. Mas crus são um pouco mais nutritivos, pois o calor inativa enzimas – e elas auxiliam na digestão dos alimentos.
Veja o que seu gato prefere. Se ele aceitar vegetais triturados crus e misturados a carnes e vísceras, ótimo. Até porque assim é menos trabalhoso. Mas se seu gato preferir legumes cozidos, tudo bem, também. Muitos preferem, porque assim os vegetais ficam mais saborosos.
Apenas tenha em mente que nem todo vegetal pode ser oferecido cru. Alguns legumes não são bem digeridos crus, mesmo que sejam triturados. Veja abaixo quem são eles e cozinhe-os sempre:
- Batata-doce
- Mandioquinha (também conhecida como batata salsa ou baroa)
- Cará
- Inhame
- Vagem
- Ervilha-torta (ou “orelha de padre”)
- Ervilha
- Abóbora (ou jerimum)
Os demais legumes podem ser oferecidos crus ou cozidos.
“E se meu gato preferir comer legumes cozidos em pedaços?”
Ok, isso é raro. Mas se seu bichano realmente curte pedaços de vegetais cozidos na refeição, tudo bem oferecê-los assim. Mas nesse caso cozinhe sempre. Legumes crus em pedaços não são bem assimilados. A recomendação de triturar na verdade serve dois propósitos:
- deixar os vegetais mais fáceis de digerir
- disfarçar a presença dos vegetais misturando-os nas carnes – impedindo assim que o gato coma somente as carnes e separe os legumes.
E quanto aos grãos, cereais e leguminosas?
Alimentos como arroz, feijão, lentilha, aveia, quinoa, amaranto, cevada, cevadinha, triguilho, soja, milho e centeio devem ficar de fora da dieta dos felinos. A alimentação natural se preza de tentar imitar a composição da alimentação natural do felino selvagem e respeitar sua fisiologia carnívora. É daí que vem as vantagens e benefícios únicos desse tipo de dieta.
Gatos jamais consomem grãos, cereais e leguminosas na natureza e são fisiologicamente mal equipados para processar esses alimentos. Enquanto carnes, vísceras e ossos são digeridos com facilidade no estômago do gato, grãos, cereais e leguminosas requerem uma lenta digestão intestinal. A inclusão desses alimentos simplesmente não tem nada a ver com a dieta natural dos felinos.
Ervas e especiarias
Temperinhos como alecrim e salsinha fazem muito mais que apenas saborizar e perfumar as refeições. Elas contribuem com antioxidantes importantes e com fitonutrientes capazes de desintoxicar o fígado, estimular a imunidade, proteger contra fungos e estabilizar as taxas de açúcar no sangue. As opções seguem abaixo:
- Salsinha
- Alecrim
- Estragão
- Tomilho
- Açafrão-da-terra (a cúrcuma)
- Gengibre fresco ralado
- Orégano
- Cheiro verde
- Hortelã
Frescos e picadinhos na hora são mais nutritivos, mas você pode usar a versão desidratada à venda em supermercados, principalmente se a intenção for adicionar aroma e sabor às refeições. Acrescente uma pitada durante o cozimento dos vegetais ou no momento de triturá-los, ou ainda na hora de servir a refeição. Não recomendo usar o mesmo temperinho diariamente por um período prolongado. As ervas têm propriedades medicinais e podem interagir com compostos da dieta e medicações. O ideal é variar os verdinhos!
Se o gato não curtir, esqueça. São completamente opcionais.
Frutas
São inúmeras as opções de frutas para complementar a porção de vegetais da dieta: blueberries (mirtilos), maçã sem sementes (as sementes contêm ácido cianídrico, uma substância tóxica), pêra sem sementes, pêssego, polpa de abacate (a polpa não é tóxica, mas a casca é), ameixa, banana, melancia, melão, goiaba, morango, mamão, kiwi, laranja, mexirica, abacaxi, caqui, jabuticaba, romã, figo, manga etc.
Somente duas frutas devem ser riscadas do cardápio do seu pet: as uvas (incluindo passas) e a carambola. Ambas podem prejudicar os rins dos cães e gatos.
Mesmo as cítricas podem ser oferecidas, desde que com moderação. O pH do suco gástrico do gato é extremamente ácido, por volta de 1.0. O que é acidez para um estômago já mega ácido? De qualquer maneira, exercite o bom senso. Se seu gato passou mal logo após ingerir um pedaço de fruta cítrica ou depois de comer uma refeição preparada com fruta cítrica, não ofereça mais. Frutas fornecem nutrientes bacanas, mas também contém bastante açúcar (chamada frutose) e por isso não devem passar de um terço da porção diária de vegetais na dieta. Mesmo que o seu felino seja tarado por frutas, não abuse da quantidade. Nem sempre o paladar dos pets está alinhado ao que faz bem a eles (pense em cães que comem lixo ou cocô, eca!). Seu gato é um carnívoro pouco apto a metabolizar carboidratos simples e a ingestão de muito açúcar sobrecarrega o sistema dele. Frutas podem ser oferecidas com casca ou pele ou não – como seu gato preferir. A regra que sigo é a seguinte: não ofereça nenhuma casca que você não comeria, como a do melão ou do maracujá.
Complementos
Toda e qualquer dieta requer adição de alguns complementos. Mesmo as mais bem preparadas, com ingredientes selecionados e de boa qualidade. Complementos são indispensáveis por vários motivos:
- Eles devolvem à dieta nutrientes perdidos durante a trituração, cozimento, congelamento e descongelamento dos alimentos. É o caso da taurina, aminoácido crítico para o felino e presente nas carnes cruas que é perdido quando elas são trituradas ou cozidas.
- Por melhor que seja uma dieta caseira, ela é sempre inferior à alimentação que seu gato teria na natureza. No ambiente natural, presas e predadores vivem em condições ideais e o felino consome todos os tecidos da presa, incluindo partes nutritivas que não servimos como sangue, intestino e pâncreas.
- Assim como você, seu gato está exposto a insultos ambientais -poluição, ácaros, toxinas, pesticidas, agrotóxicos, contaminantes na água, resíduos de medicamentos, vacinas etc – e requer doses adequadas de antioxidantes, vitaminas e minerais para se defender disso tudo.
Por todos esses motivos, não deixe de incluí-los na dieta do seu gato. Os complementos são uma categoria indispensável da AN e garantem que seu bichano esteja recebendo tudo o que precisa para viver com saúde.
Na AN crua com ossos para gatos há complementos obrigatórios e opcionais. Veja-os abaixo:
- Óleo de peixe em cápsulas de 500mg
- Sal iodado
- Vitamina E em cápsulas
- L-Taurina em cápsulas ou sachês
- Complexo B em comprimidos de 50mg
- Óleo de côco ou azeite de oliva extravirgem – opcional
- Levedo de cerveja em pó ou em comprimidos – opcional
- Fibras psyllium husks (Benefiber) – opcional
- Iogurte natural integral ou kefir – opcional
Agora vamos entender em detalhes porque cada um desses complementos merece espaço na dieta do seu bigodudo e quanto de cada um você deve adicionar.
Óleo de peixe em cápsulas
É fonte de ácidos graxos ômegas-3 DHA e EPA, uma gordura que combate alergias e inflamações e que é super benéfica à saúde da pele e pelagem, cérebro, coração e vasos sanguíneos. Não é a mesma coisa que óleo de fígado de bacalhau, este outro óleo fornece doses elevadas de vitaminas A e D e é recomendado para prevenção de raquitismo.
Fontes vegetais de ômegas-3 – como castanhas, sementes de chia e de linhaça – não são aproveitadas pelo gato. Esse carnívoro só consegue assimilar ômegas-3 de origem animal, como o presente em peixes e no krill, um camarãozinho minúsculo.
Dosagem: 1 cápsula de 500mg a uma das refeições do gato 2 a 3 vezes por semana.
Sal iodado
Por incrível que pareça, o sódio é fundamental para o equilíbrio dos sais minerais no organismo e para a saúde dos rins. Está presente no sangue, que não temos condições de oferecer aos pets.
Os melhores sais são o Sal Rosa do Himalaia, o Sal Cinza de Guérande ou a Flor do Sal. São sais não refinados que naturalmente contém dezenas de minerais difíceis de achar em outros alimentos, além de sódio. Você encontra esses sais especiais em supermercados requintados, lojas de produtos naturais e lojas na Internet. Valem o investimento, porque duram muuuuuuito tempo. Se não quiser/puder usar esses sais, vá de sal iodado normal, mesmo. Só não deixe de usar.
Dosagem: 1 colher de café rasa para cada 1kg de alimento que você pode adicionar no momento do preparo. Ou uma micro-pitadinha (micro meeeeesmo) em uma das refeições diariamente.
Vitamina E em cápsulas
Esse é o nosso conservante natural. A vitamina E minimiza perda de componentes mais vulneráveis à exposição ao oxigênio, luz e congelamento, como ácidos graxos alguns aminoácidos e fitonutrientes delicados. Muitos estudiosos de AN para felinos recomendam a adição de cápsulas de 400 UI (“unidades internacionais”) de vitamina E às porções trituradas que serão congeladas.
Compre em farmácia humana ou em lojas de produtos naturais. Não é obrigatório, mas é recomendável. O modo de usar será detalhado no trecho que aborda o preparo das receitas.
Dosagem: 400UI para cada 1,5kg de comida que vai ser congelada. Adicione no momento do preparo.
Taurina
Todo mundo já ouviu falar na importância desse aminoácido para o gato. Por ser incapaz de sintetizar taurina, ao contrário dos humanos e dos cães, gatos precisam ingerir taurina pronta diretamente dos alimentos. Sem taurina, um felino desenvolve cegueira e uma grave doença no coração conhecida como cardiomegalia dilatada.
Na natureza a fonte natural de taurina é a própria carne crua da presa, bem como suas vísceras. Sei o que você está pensando. “Ué, mas se a dieta caseira já tem bastante carne crua, por que então adicionar mais taurina?” Porque com a trituração da carne e das vísceras a taurina reage com o oxigênio e se perde. Mesmo que seu gato aceite comer a carne cortada em cubos (ao invés de triturada), ainda assim é recomendável adicionar taurina. De tão crítico que é esse aminoácido para a saúde do felino.
Taurina não tem contra-indicação. Se seu bichano receber mais taurina do que o corpo dele requer, ele simplesmente a eliminará pela urina. Taurina em cápsulas pode ser comprada em lojas de produtos naturais ou de suplementos para atletas ou pela Internet. Você também pode pedir ao veterinário de seu bichano uma receita para mandar aviar taurina em cápsulas ou sachês em farmácia de manipulação. É um princípio ativo fácil de encontrar.
Dosagem: 250mg por gato por dia, diariamente, a ser adicionada a uma das refeições ou distribuída nas refeições ao longo do dia.
Complexo B
Comprimidos de complexo B entram na dieta porque os gatos têm um elevado requerimento de vitaminas do complexo B, em especial, ácido fólico e tiamina (B1).
Dosagem: 50mg por gato por dia, diariamente.
Óleo de côco ou azeite de oliva extravirgem – opcional
O azeite entra com vitaminas E e K, polifenóis (que combatem radicais livres), é intensamente anti-inflamatório e previne constipação. Prefira sempre a versão extravirgem em garrafa de vidro escurecida.
Óleo de côco também mantém o intestino funcionando bem, além de turbinar a imunidade e conferir brilho e maciez incríveis à pelagem. Se preferir e seu gato aceitar, tudo bem alternar os dois óleos – um dia um, outro dia o outro.
Dosagem: 1 colherzinha de café de um dos óleos em uma das refeições por dia, diariamente. Se quiser usar os dois tipos de óleo na dieta do seu bichano, use cada um em dias alternados – um dia adicione o azeite, no dia seguinte, o óleo de coco.
Levedo de cerveja em pó – opcional
Esse complemento baratinho, à venda nas gôndolas de farinhas integrais nos supermercados ou em lojas de produtos naturais, é fonte de vitaminas do complexo B e de minerais difíceis de encontrar em alimentos, como cromo, manganês e zinco.
Gatos costumam adorar o cheiro e sabor da levedura, tanto que muita gente polvilha alimentos novos com uma pitada desse “pozinho mágico” para encorajar a aceitação.
Também é excelente para o intestino, por ajudar a prevenir infecção pela bactéria salmonela – defesa que vem a calhar quando o pet recebe dieta à base de dietas cruas. O levedo de cerveja é ainda um prebiótico. Ele atua como um “adubo” para os probióticos (as boas bactérias intestinais) favorecendo suas colônias em detrimento das colônias de bactérias causadoras de doenças.
Só não é aconselhável incluir levedo de cerveja na dieta de gatos que estão em crise alérgica, com coceiras, otite ou fungos no corpo. A levedura pode agravar esses quadros.
Dosagem: 1/2 colherzinha de café em uma das refeições, diariamente.
Fibras psyllium husks (Metamucil ou Benefiber) – opcional
Gatos que passaram anos comendo ração seca à base de grãos como milho e soja produzem fezes volumosas (e bem fedidas) devido ao (desnecessariamente) elevado teor de fibras desse alimento. Quando passam para a AN, que é uma dieta de aproveitamento superior e que consequentemente gera fezes muito menos volumosas, podem ficar constipados. Isto é, podem ficar sem fazer cocô por três dias ou mais, o que não é desejável.
Depois de anos empurrando para a saída cocôs “inchados”, o intestino pode perder a elasticidade e o tônus necessários para impulsionar fezes reduzidas e sequinhas. Para esses gatos, é interessante adicionar fibras solúveis e insolúveis às refeições. Compre em farmácia humana um suplemento como o Metamucil ou Benefiber, sem sabor ou corantes, e misture uma colherinha de café a cada refeição, até o pozinho desaparecer na comida. Os gatos não percebem essa adição. Procure adicionar algumas colheres de sopa de água morninha às refeições para que potencializar a ação das fibras.
Não é necessário adicionar esse suplemento se seu gato estiver fazendo cocô normalmente – diariamente ou pelo menos uma vez a cada dois dias.
Dosagem: uma colherzinha de café em cada refeição, diariamente, quando o gato apresentar constipação.
Iogurte natural integral, coalhada ou kefir – opcional
Alimentos lacto-fermentados fornecem boas bactérias, como as do gênero bifidobacterium, os famosos lactobacilos. Essas bactérias saudáveis colonizam o intestino e lá melhoram a digestão, sintetizam vitaminas e defendem o hospedeiro de infecção por bactérias patogênicas, as “do mal”. É o que chamamos de probiótico.
Kefir são grânulos compostos por bactérias e leveduras e produz uma versão mais “power” do iogurte. Leia mais sobre esse super complemento probiótico nesse ótimo blog. Kefir não se vende (embora possa ser adquirido em sites como o Mercado Livre), se doa. Há fóruns específicos na internet para localização de doadores de grânulos.
Coalhada natural ou iogurte integral são outras opções interessantes. Podem ser preparados em casa ou comprados em supermercados. Escolha produtos com a composição mais simples possível, esses são os melhores. Idealmente, iogurte e coalhada devem ser compostos apenas por leite e cultura láctea (as bactérias que transformam leite em iogurte ou coalhada). Evite produtos com adição de amido, glicose, geleias, conservantes etc. E prefira integrais a desnatados, esses últimos em geral contem mais sódio e açúcares.
Só a título de curiosidade: é possível preparar iogurte em casa. Veja essa receita da culinarista Pat Feldman ou, ainda, compre sachês de cultura láctea como o Bio Rich e prepare um super iogurte. Iogurte e coalhada abertos podem ser mantidos em geladeira por até uma semana, desde que acondicionados em embalagem protegida.
Se seu gato não se interessar por nenhum desses alimentos, tudo bem. São completamente opcionais na dieta. Geralmente bichanos loucos por leite costumam adorar iogurte, que, aliás, substitui o leite (alimento inflamatório, alergênico e sem probiótico) com inúmeras vantagens.
Dosagem: 1 colher de chá em uma das refeições, diariamente.
Quais complementos não usar
Azeite de oliva e óleo de peixe são gorduras saudáveis, assim como o óleo de côco, que pode ser um substituto para o azeite. Mas fuja de óleos como o de girassol, milho e soja. Esses contem muito ômegas-6, um ácido graxo inflamatório. Além disso, são extraídos com emprego de calor e acondicionados em embalagens plásticas e transparentes – tudo isso oxida os ácidos graxos.
Sugestões de combinação
As receitas que seguem abaixo trazem sugestões de combinações. Sinta-se à vontade para variar os ingredientes dentre as opções que informo no parágrafo “formulação e composição” de acordo com as preferências do seu gato. Se preferir preparar uma quantidade menor do que o informado na receita, é só usar metade da quantidade indicada de cada ingrediente, por exemplo. Ou dobre a quantidade de ingredientes para obter uma receita que rende 30 dias. Incentivo a rotação periódica dos ingredientes da dieta para cães e gatos como uma maneira de variar e ampliar a gama de nutrientes. Contudo, para gatos que só aceitam uma ou no máximo duas receitas diferentes, não há problemas em não variar, porque cada receita é completa. Uma parcela dos gatos simplesmente não curte novidades na alimentação e pode até se estressar se insistimos em servir comidas diferentes. A única receita que não recomendo servir regularmente é a que leva peixe (por motivos que explico no parágrafo “peixe”).
Sugestão 1
- (50%) 600g de pescoço de frango cru sem pele picado, cortado (se o gato topar mastigar) ou moído + 700g de dorso de frango cru sem o excesso de gordura, moído ou picado (se o gato topar mastigar).
- (25%) 200g de coração cru de boi ou de frango, picado ou moído + 250g de carne bovina crua + 4 ovos de galinha (gemas cruas e claras cozidas)
- (10%) 230g de fígado de frango ou boi cru
- (15%) 150g de vagem macarrão cozida + 90g de couve-manteiga crua ou cozida + 150g de abóbora cozida – triture esses legumes
- 2 xícaras (400ml) de água morna filtrada
Sugestão 3 (sem frango)
Obs: uma parcela crescente de cães e gatos está desenvolvendo alergia (coceiras) e intolerância (vômitos, diarreia crônica) a frango. Uma maneira de reduzir esse risco é omitindo frango totalmente da dieta pelo menos um dia por semana. Com isso o organismo de “desintoxica” do frango.
- (50%) 1.3kg de carcaças cruas de codornas, rãs ou de coelho – ou um pouco de cada – moídas (se preferir, use sardinhas, cavalinhas ou manjubas com espinha, cozidas ou cruas)
- (25%) 350g de coração de boi crua moída + 350g de carne de peru crua moída
- (10%) 130g de fígado de boi cru + 100g de baço de boi cru (ou rim cru)
- (15%) 150g de cenoura crua ou cozida + 90g de brócolis cru ou cozido + 150g de quiabo cru ou cozido – triture esses legumes
- 2 xícaras (400ml) de água morna filtrada
Sugestão 2
- (50%) 600g de asas de frango com a pele moídas + 700g de coxas de frango moídas
- (25%) 200g de coração cru de boi ou de frango, picado ou moído + 250g de lombo suíno cru + 4 ovos de galinha (gemas cruas e claras cozidas)
- (10%) 230g de rim de boi cru
- (15%) 150g de pimentão vermelho cru ou cozido + 90g de salsão com folhas e talos cru ou cozido + 150g de abobrinha crua ou cozida – triture esses legumes
- 2 xícaras (400ml) de água morna filtrada
Sugestão 4 (com peixe)
Obs: em média, essa receita rende 7 dias de refeições para um gato adulto. Ofereça-a no máximo 1 ou 2 vezes na semana por motivos expostos no parágrafo “peixe”.
- (50%) 300g de pescoço de frango cru sem pele picado, cortado (se o gato topar mastigar) ou moído + 350g de dorso de frango cru sem o excesso de gordura, moído ou picado (se o gato topar mastigar).
- (25%) 350g de sardinha ou cavalinha ou manjuba inteira (com vísceras, espinha, cabeça, escamas) ou somente o filé, cru ou cozido
- (10%) 115g de rim bovino cru (ou fígado cru de boi ou frango)
- (15%) 75g de pepino cru + 45g de espinafre cru ou cozido + 75g de berinjela crua ou cozida – triture esses legumes
- 1 xícara (200ml) de água morna filtrada
Preparando AN crua com ossos para gatos
O segredo para tornar AN uma realidade prática e viável é preparar uma grande quantidade de uma vez e congelar por até 30 ou 45 dias. Não se preocupe, o congelamento bem feito é um tratamento não que acarreta perdas significativas aos alimentos. E a vitamina E que recomendo adicionar ao “patê” de AN vai preservar os nutrientes mais delicados. (Mais informações sobre congelamento e descongelamento você encontrará nos próximos parágrafos.)
As sugestões de receitas que você viu mais acima rendem 3kg de porções prontas para servir. Um gato adulto saudável receberá por volta de 150 a 200g de alimentos por dia. Ou seja, cada receita rende cerca de 15 dias de AN para um bichano. Muitas das receitas contêm alimentos especialmente valiosos aos gatos, como é o caso do coração e dos ovos.
Você verá que o modo de preparo orienta triturar tudo: carnes, ovos, peixe, ossos e vegetais. O objetivo é produzir um patê homogêneo, porque assim o gato não conseguirá separar o que não gosta (em geral os legumes) dos seus alimentos prediletos (geralmente as carnes). Contudo, se seu bichano é dos poucos que aceitam comer os ingredientes apenas picados, carnes cortadas em cubos e legumes em rodelinhas, tudo bem servir assim. Desde que ele não deixe nada no prato.
Preparo das porções para congelar
Com comida crua não dá pra perder tempo. É tudo muito fresco e o risco de estragar é real. Por isso, fique atento a algumas regrinhas.
- Deixe sua cozinha preparada, com tudo limpinho e organizado, antes de sair para comprar os alimentos. Eu costumo já deixar os vegetais da dieta dos meus pets já prontos (e guardadinhos na geladeira) antes de sair para comprar as carnes, ossos e vísceras cruas.
- Lave bem as mãos antes e depois de terminar de preparar e não deixe crianças ou pessoas com a imunidade comprometida manipularem as carnes cruas.
- Mantenha em geladeira alimentos que não estão sendo manuseados no momento.
- Se achar que está demorando muito, limpe a cada 1 hora a superfície onde você está trabalhando com água quente misturada a detergente.
- Com a prática, você naturalmente aprenderá a montar porções com agilidade. No começo eu também me sentia perdida. Mas em alguns meses aprendi a me organizar e passei a conseguir montar porções de AN crua para meus quatro pets para 45 dias em menos de 2 horas. O processo de aperfeiçoamento é bastante pessoal. Meu site é cheio de dicas, mas você vai acabar encontrando o jeito que melhor cabe na sua rotina.
Obs: as orientações abaixo são válidas para receitas que rendem 3kg (a 1, a 2, e a 3). Para a receita 4, que rende 1,5kg, use metade da quantidade indicada de complementos.
1- Vá às compras
Compre os alimentos de que você precisa para montar uma ou mais receitas. Você pode comprar vísceras, carnes e ossos carnudos crus já moídos ou comprá-los cortados em pedaços e moê-los em casa. É infinitamente mais prático comprar tudo já moído e, chegando em casa, apenas juntar os complementos e vegetais, fracionar em porções diárias ou em refeições e congelar.
O que dificulta é que nem todo açougueiro topa moer pescoços e dorsos de frango e nem todo gato topa comer ossos carnudos crus apenas picados ou cortados. Pra quem vai preparar em casa, a melhor aposta é investir em um bom moedor (como o Tasin ou o Weston). Liquidificadores industriais (mais potentes) e bons mixers podem triturar peças mais molinhas, como pescoço, cabeça e dorso de frango, desde que picados e sem o excesso de gordura (que tende a enganchar nas lâminas), mas não resistem por muito tempo. Processadores não aguentam o tranco, falo por experiência própria.
2- Moa os ingredientes
Se for moer os ingredientes em casa, moa vísceras, carnes desossadas e ossos carnudos separadamente. Vegetais crus ou cozidos podem ser triturados em um liquidificador, mixer ou processador comum e devem ser deixados à parte dos outros alimentos por enquanto.
Se você pretende comprar os alimentos já moídos, peça ao fornecedor para moer carnes, vísceras e ossos separadamente e colocá-los em pacotes separados, sem misturar. Quem fará a combinação dos ingredientes é você, em casa.
3- Misture parte dos complementos aos vegetais
Mantenha três cubas grandes: uma somente para somente as carnes desossadas em cubos (corte “strogonoff”) ou moídas, outra para ossos carnudos crus moídos e vísceras moídas e a terceira para vegetais triturados (crus ou cozidos). Cada cuba deve conter a quantidade de cada ingrediente especificada na receita. Use uma balança de cozinha, de preferência digital, para essa tarefa.
À cuba onde estão os vegetais triturados (crus ou cozidos) adicione:
- Ovos, se ovos estiverem indicados na receita (procure cozinhar a clara, muitos gatos vomitam ou recusam clara crua. Ou adicione somente as gemas cruas. E, se preferir, cozinhe clara e gema.)
- a quantidade de água informada na receita
Para receitas que rendem 3kg adicione nesta cuba:
- o conteúdo de 2 cápsulas ou 2 comprimidos moídos (com martelo de carne) de vitamina E de 400UI (à venda em farmácia humana),
- 4 comprimidos moídos de complexo B (de 50mg cada, à venda em farmácia humana)
- 1 colher e meia de sal iodado (sal “normal” ou sais especiais como o Sal Rosa do Himalaia, Sal Cinza de Guérande ou Flor do Sal)
- 7 comprimidos abertos ou moídos ou o conteúdo de 7 sachês de 500mg de L-Taurina cada (total entre 3.500 e 4.000mg de taurina)
- 4 colheres de chá de fibras solúveis e insolúveis (Metamucil ou Benefiber incolor, à venda em farmácia humana – são opcionais, indicadas a gatos com tendência a constipação)
- 4 colheres de sopa de óleo de côco (opcional). Se preferir usar azeite, prefira adicionar 1 colher de chá rasa sobre uma das refeições, diariamente. Ao contrário do óleo de côco, o azeite não resiste bem ao congelamento.
Obs: os demais complementos – cápsulas de óleo de peixe, o levedo de cerveja em pó e o iogurte ou coalhada ou kefir (esses últimos três são opcionais) devem ser adicionados a uma das refeições do dia, pois suas propriedades não resistem bem ao congelamento. Veja no parágrafo “Servindo a refeição” informações sobre a adição desses itens.
4- Combine os ingredientes de acordo com a quantidade informada na receita
Em um recipiente bem grande (com capacidade para mais de 3kg) combine os alimentos das três cubas e misture super bem. Mas super bem mesmo, até obter uma mistura homogênea.
5- Fracione em porções e congele
Agora é fracionar em porções e armazenar no freezer ou congelador. Há quem acha mais prático porcionar em saquinhos para freezer e quem prefira potes do tipo tupperwares. Saquinhos tomam menos espaço no freezer, mas tupperwares são mais fáceis de lavar e reaproveitar. Há quem prefira fracionar em porções contendo o total diário que o gato vai consumir e quem goste mais de fracionar em refeições (pequenas porções).
Se você optou por fracionar em porções diárias para economizar saquinhos ou tupperwares (é o que faço com meus pets), é só separar a comida em 3 ou 4 refeições na hora de servir, mantendo o restante na geladeira.
Três quilos de comida são equivalentes a 15 porções diárias de 200g cada –aproximadamente o que um gato adulto consome por dia – ou 60 refeições de 50g cada.
Congelamento
Tenha o cuidado de não encher demais os recipientes. A comida congelada se expande e a tampa pode abrir. Se usar saquinhos que não são próprios para congelamento em freezer, use dois saquinhos (um por cima do outro). Lembre-se de retirar todo o ar do saquinho antes de dar um nó ou fechar o ziploc. Se você preparou duas receitas diferentes, não se esqueça de identificar o que tem em cada porção com fita e caneta (por exemplo: “receita com peixe”, “receita sem frango” etc).
As porções podem ficar congeladas por até 45 dias, mas o ideal é deixá-las por até 30 dias. Se seu freezer tiver o botão “quick-freeze” acione-o durante os primeiros 2 dias para um congelamento mais rápido.
Lembre-se que dietas à base de carnes e vísceras cruas precisam ficar pelo menos 3 dias congeladas em freezer ou 5 dias em congelador para a destruição de possíveis parasitos. (Para peixe e carne suína crua recomenda-se um tempo mais longo de congelamento em freezer, de 7 dias. Confira detalhes sobre isso aqui. Não ofereça dietas cruas ao seu pet sem ter feito antes o congelamento profilático. É muito arriscado.
Descongelamento
É bem simples, basta pegar a porção no freezer e colocá-la na parte mais baixa da geladeira (onde é menos frio – normalmente logo acima da gaveta de legumes). Ela irá descongelar dentro de 12 a 18h, aproximadamente. Uma vez retirada do freezer, a porção não deve ficar mais que 2 ou 3 dias na geladeira. Passados três dias, a comida começa a desenvolver fungos microscópicos que deterioram os nutrientes.
Esqueceu de tirar uma porção do freezer para descongelar? Use banho-maria ou mergulhe o recipiente contendo a porção em água morna ou quentinha por alguns minutos. Não use o microondas para descongelamento, ele destrói muitos nutrientes e cria compostos prejudiciais à saúde, além do risco de acidentalmente cozinhar os ossos.
Evite descongelar deixando a porção sobre a bancada da cozinha. O descongelamento ocorrerá rapidamente, mas deixar a comida exposta pode atrair moscas e favorece a proliferação bacteriana.
Para sempre ter comida descongelada à disposição, lembrando que o descongelamento em geladeira leva várias horas, desenvolva o hábito de retirar diariamente uma porção do freezer ou congelador e colocá-la na parte mais baixa da geladeira.
Servindo a refeição
Para os felinos, cheiro é tudo. Sabor é secundário. É comprovado cientificamente que comida que atrai os gatos é aquela servida na temperatura do corpo do rato (ou passarinho). Em outras palavras, comida morna. Gatos só comem presas recém-abatidas, ainda quentinhas. É nessa temperatura que os odores volatilizam mais. Um pouco antes de servir a refeição, coloque a porção dentro de um recipiente com água morna ou quentinha por alguns instantes. Depois lave e seque o saquinho para reaproveitá-lo. Não aqueça a porção no fogo; há risco de cozinhar os ossos, o que os torna difíceis de digerir e perfurantes.
Complementos que devem ser adicionados antes de servir a refeição
Alguns complementos não resistem bem ao congelamento. É o caso do kefir ou coalhada ou iogurte, do levedo de cerveja e do óleo de peixe. (Desses quatro, os únicos imprescindíveis à dieta são o óleo de peixe e a taurina. Os demais são opcionais.)
Adicione esses complementos antes de servir. Você pode distribuí-los entre as refeições ou concentrá-los todos em uma ou duas refeições. (Só para evitar confusão: você não deve adicionar esses complementos em todas as refeições. Deve adicioná-los uma vez ao dia em uma das refeições ou distribuí-los em duas ou mais refeições. Por exemplo: azeite e iogurte na refeição do café-da-manhã, levedo de cerveja e ômega-3 na refeição do almoço e taurina na refeição do jantar. Ou tudo em uma única refeição. Como seu gato e você preferirem.)
Complementos obrigatórios
O óleo de peixe, uma fonte de ômegas-3, também deve ser adicionado à dieta. Compre um frasco de cápsulas de 500mg em lojas de produtos naturais, farmácias humanas ou em pet shops (já existem produtos específicos para cães e gatos). Corte a pontinha da cápsula e despeje o conteúdo sobre uma das refeições. Misture na comida e imediatamente sirva pra não dar tempo do óleo oxidar. Adicione uma cápsula de 500mg a uma das refeições do gato 2 a 3 vezes por semana.
A taurina (ou L-taurina) é um aminoácido fundamental à saúde dos olhos e do coração do gato. Ela está presentes nas carnes e vísceras cruas, mas evapora quando exposta ao ar durante a moagem da carne. Cápsulas de taurina são adicionadas à dieta antes de ser congelada, mas esse elemento é tão importante para os bichanos que se recomenda adicionar o conteúdo de uma cápsula de 250mg ou 500mg 2 a 3x por semana a uma das refeições ou ao total diário que será servido. Só por precaução. Não se preocupe, o excesso de taurina é eliminado pelo organismo e não há contraindicações.
A dosagem de iogurte, kefir ou coalhada é de uma colher de chá por dia, à parte ou em uma das refeições diárias. Pode ser oferecido diariamente e tudo bem dobrar a quantidade caso seu felino seja fã.
Eles costumam gostar mesmo é de levedo de cerveja em pó. Tanto é que muitos entendidos de AN para gatos recomendam polvilhar esse prebiótico sobre alimentos que você deseja que seu bichano prove. A dosagem desse complemento rico em vitaminas, proteína e minerais é de até ½ colher de chá por dia.
Comedouros
Tigelas estreitas e de bordos altos interferem com os bigodes, causando desconforto. Proporcione pratos rasos e largos, como pires ou pratos de sobremesa de cerâmica ou vidro. (Nesse artigo explico por que vasilhas e tigelas de vidro, cerâmica e inox são mais indicadas que de plástico e alumínio).
Servindo refeições a dois gatos ou mais
Se você possui mais de um gato, se esforce para alimentá-los separadamente. De preferência cada um em um cômodo, para não haver competição. Vamos supor que amanhã um dos seus bichanos desenvolva uma doença nos rins. Ele vai precisar receber uma dieta especial, restritiva, mas apenas ele poderá comer esse alimento. Será bem mais fácil garantir essa divisão se desde cedo você acostumar cada gato a comer em um canto da casa, no seu pratinho.
Introduzindo AN crua com ossos para gatos
Você chegou até aqui. Leu todos os trechos sobre a filosofia da AN crua, as vantagens e desvantagens da dieta, sobre fisiologia digestiva felina. Aprendeu sobre a formulação e a composição da dieta, sobre o preparo e sobre como servir a comida. Parabéns!
Você deve estar morrendo de vontade de colocar em prática tudo o que aprendeu, estender o mais rápido possível o universo de benefícios da AN ao seu tigrinho de estimação. Pois bem, você chegou à parte mais recompensadora e também a mais desafiadora: migrar seu gato com sucesso para uma dieta 100% caseira.
Já adiantando: em grande parte dos casos, o desafio é grande. Gatos são muito diferentes de cães nesse ponto. Enquanto praticamente todo cachorro se interessa por qualquer coisa remotamente comestível, o gato é muito mais rotineiro e fechado a novidades no cardápio. E o pior: muitos felinos viciam em ração seca.
Tudo isso tem uma boa explicação biológica, claro. O gatinho aprende com a mãe, durante o período que passam juntos, o que ele deve ou não comer. Passada essa fase de receptividade, ele tende a rejeitar alimentos novos. Em outras palavras, se você tem um filhote em casa, apresente-o a carnes, vísceras, ovos, peixes e vegetais. Quanto mais contato com estímulos gustativos e olfativos e texturas diferentes nessa fase, melhor!
E tem a questão do vício em ração, que não dá pra negar. Os fabricantes de ração seca para gatos realmente acertaram na mosca com as fórmulas de hoje. Os gatos não conseguem resistir aos flavorizantes e ao formato dos croquetinhos de ração seca – sim, eles também viciam em formatos. Por isso cada marca de ração tem até o formato patenteado, repare.
Essa aversão a novidades dos gatos adultos somada à atração infalível pelos encantos artificiais da ração é o que dificulta a introdução da AN para muitos bichanos. Eu, particularmente, sofri com um dos meus felinos. Conto toda a história aqui.
Não desanime. Qualquer gato pode ser transicionado à AN – o que não quer dizer, infelizmente, que todo felino será. Mas com muita insistência, paciência e pensamento positivo – e as dicas abaixo – suas chances de ter um gato verde são grandes. Persista. Nenhuma mudança na vida do seu felino vai ter um impacto mais significativo do que trocar a ração industrializada por uma dieta caseira natural.
A transição tem mais chances de dar certo se:
- Seu gato é filhote, com até 8 ou 10 meses de idade. Quanto mais novinho, melhor. Gatinhos bebês são naturalmente esganados e curiosos. Conheço uma que bebeu o suco de laranja e comeu o sushi de sua tutora quando esta não estava olhando. Tire partido disso e mude a ração por AN crua JÁ. Arrisco até dizer que você pode pular a introdução gradativa. Suas chances de sucesso são imensas! Só não caia na besteira de deixar ração seca à disposição ou permitir que o filhote coma ração de outro gato da casa – olha aí a importância de acostumar gatos a comerem em cômodos separados.
- Seu gato é adulto e é do tipo que come qualquer coisa. Parabéns, você é muito sortudo. Esse tipo de gato é uma raridade. Vai ser fácil tirar esse felino da ração.
- Seu gato é vira-lata (SRD). Vira-latas tendem a ser mais flexíveis em relação aos alimentos. Gostam da ração, mas se interessam pelo menos por cheirar alguns alimentos naturais. Demonstrar interesse por outros alimentos é um bom sinal, mesmo que ele não coma.
- Seu gato tem instinto de caça aflorado. Bichanos que perseguem luzinhas, varas com peninha na ponta, bolinha de papel, que se penduram em tudo, que dão bote até em sombra, tendem a se interessar por alimentos que remetem à caça, como pedaços de carne, principalmente crua.
A transição tende a ser mais trabalhosa se:
- Seu bichano é um gato Persa adulto. Costumo brincar que o gato Persa é uma invenção da indústria de ração. Falando por experiência própria, pode ser incrivelmente difícil convencer um Persa a trocar a ração por dieta caseira. Mas sempre vale a pena tentar.
- Seu gato é daqueles mega chiliquentos que só gostam de um único tipo de ração seca e acham que ração servida há meia hora é ração velha.
- Seu felino jamais mostrou interesse por nenhum alimento natural.
- Você tem uma família numerosa de bichanos e todos comem juntos. Em lares com muitos gatos fatalmente haverá um ou alguns gatos fanáticos por ração que não aceitarão migrar para AN. Se esses gatos aceitarem comer ração longe dos outros e em horários fixos, para a ração não ficar disponível o tempo todo – tudo bem. O problema é querer conciliar AN com ração disponível à vontade. A AN quase sempre perde.
Dando início ao processo
Não existe um único jeito de passar um gato para a dieta caseira. O que funciona para um felino pode não funcionar para outro. Alguns bichanos concluem a transição em uma semana. Para outros o processo pode levar 3 meses ou até mais.
Por isso listo abaixo TODOS os truques que conheço. Vá colocando todos em ação, um por vez, pra não se perder. Vale a pena conversar com outros tutores de felinos adeptos de AN para pegar umas dicas quentes extras. Você encontra esse pessoal em comunidades sobre AN no Facebook.
Finalmente, te encorajo a ser criativo e ter jogo de cintura, afinal, ninguém conhece seu peludo como você. Pensamento positivo e boa sorte!
1- Use a fome em seu favor. Conhece o ditado popular “a fome é o melhor tempero”? Pois é. Calma, não se trata de judiar do seu bichano. Nada disso. Mas sentir um pouco de fome não faz mal a ninguém, é uma sensação fisiológica. Pule todas as refeições do dia e sirva uma porção de AN só à noite, do jeito como ensino aqui no site. Se seu felino sente mais fome de manhã, programe o jejum de 12h de sólidos para terminar pela manhã.
Não fará mal algum seu gato passar 12h sem comer nada. O perigo é deixar gatos, principalmente os gorduchos, sem comer nada por mais de 24 horas. Aí eles podem desenvolver uma doença grave chamada lipidose hepática (ou fígado gorduroso).
O gato devorou a refeição? Maravilha! Suma com a ração (eles sentem o cheiro e ficam pedindo) e passe a servir somente Alimentação Natural. Ele não se interessou? Cheirou, cheirou, cheirou, mas não comeu? Deu uma lambidinha, mas não comeu além disso? Ok, não desanime. Arregace as mangas e tente tudo.
2- Repita o processo anterior durante uma semana. Muitos gatos não aceitam uma coisa de primeira, nem de segunda. Mas na oitava ou décima vez, a coisa deslancha. Aproveite e prepare refeições com ingredientes diferentes. Tem gato que detesta cenoura e carne bovina, mas curte couve e frango. Vá experimentando.
3- Veja se seu gato aprecia levedura de cerveja em pó. Alguns ficam alucinados com o cheiro desse suplemento. Polvilhe uma colherinha de café sobre a refeição ou misture direto na comida. Alguns especialistas em AN para gatos indicam a adição do complemento Fortifora às refeições. Há gatos que comem qualquer coisa que encostar nesse pozinho. Pode valer a pena importá-lo.
4- Se seu felino for do tipo caçador, com instinto predador aflorado, experimente atirar um cubo de carne crua no chão (limpo) como se fosse uma bolinha e veja se o tigre interior fala mais alto e ele abocanha. Algumas pessoas tiveram sucesso escondendo pedacinhos de carne crua em lugares estratégicos. O bichano encontrou as comidinhas e graças ao clima de “tô-fazendo-coisa-que-não-pode”, começou a se interessar pela dieta. Só não vale esquecer de recolher depois de algumas horas os pedaços de carne crua que não foram consumidos.
5- Use ração úmida (de lata) como veículo para introduzir a AN. AN é muito diferente de ração seca. Alguns gatos precisam primeiro se acostumar com a textura de uma dieta úmida e para isso a ração de latinha é ótima. Suspenda a ração por 12h e sirva uma refeição de ração de lata para gatos. Se ele aceitar, ótimo. Suma com a ração seca de casa por um tempo e mantenha-o na ração úmida por uma semana ou duas.
É importante estabelecer horários para servir a ração de lata, porque ela em geral não tem conservantes (é fechada a vácuo na lata) e estraga se deixada ao ar livre por muitas horas – o mesmo acontece com a AN, então, aproveite para já acostumá-lo. A ração úmida também perde sabor e cheiro se mal conservada. Mantenha-a em recipiente hermeticamente fechado, na geladeira, por até 2 ou 3 dias. Sirva entre três e quatro refeições ao dia.
Note que não estou me referindo àquelas rações semi-úmidas que vem em sachê de alumínio e que consistem em pedacinhos de ração seca amolecidos, boiando num “molho”. Esse tipo de ração não serve para a nossa transição. Precisa ser a de lata, que parece um patê um pouco mais sólido.
A partir da primeira ou segunda semana servindo somente o patê de ração, comece a misturar um pouquinho de uma receita de AN triturada à ração. Vale polvilhar o levedo de cerveja ou o pó Fortiflora se isso aguçou o paladar dele. Deu certo? Vá progredindo aos poucos, mas bem aos poucos mesmo, de maneira a ir retirando a reduzindo a proporção de ração em lata e aumentando a proporção de AN. Progrida de maneira que seu gato não perceba a transição. Leve semanas ou até meses se achar necessário. Não há pressa.
Importante: antes de saber se seu bichano vai aceitar bem a transição, não prepare um monte de AN de uma vez. Prepare apenas metade de uma ou duas receitas – ou monte sua própria receita com as informações de formulação e composição que você leu anteriormente – afinal, você ainda não conhece as preferências do seu bichano.
Essas são as dicas que tenho para te passar. Se apesar de todo o empenho você não conseguiu transicionar seu gato com sucesso para a AN crua com ossos, experimente a AN crua sem ossos ou a AN cozida. Ambas ainda dão de mil a zero na maioria das rações comerciais para gatos e são mais palatáveis para alguns focinhos exigentes. Se seu gatinho é do tipo resistente a qualquer dieta caseira, invista em uma boa dieta comercial.
Minhas sugestões de dietas comerciais disponíveis no Brasil, listadas em ordem de preferência, são:
- Ração úmida sem conservantes, preparada com ingredientes de qualidade para consumo humano, como as latas da Pet Delícia e da Schesir (à venda na MOM).
- Ração seca livre de grãos (grain-free), com predominância de alimentos de origem animal, como a N&D da Farmina.
Obs: até a presente data (27 de maio de 2014) essas são as melhores dietas comerciais à venda no Brasil de que tenho notícia.
Onde comprar os alimentos
Ossos carnudos crus
- Feiras-livres
Considero a feira-livre o melhor lugar para comprar ossos carnudos crus, por causa dos bons preços, comodidade de obter as peças do jeitinho que a gente quer (pescoço de frango sem gordura, com ou sem cabeça, cabeça sem bico, dorso de frango com ou sem gordura etc), e pela possibilidade de encomendar com o açougueiro peças variadas – até exóticas – como carne de peru, codornas inteiras, pato, coelho, frango caipira etc.
Costumo fazer uma compra mensal ou a cada 45 dias de ossos carnudos crus na feira. Fazer amizade com o açougueiro é uma mão na roda. Tenho o número do celular do meu fornecedor, ligo para ele, encomendo o meu pedido e combino o dia e horário em que passarei pra retirar e acertar tudo. Ele já me entrega as peças todas “no jeito” (cortadas, sem gordura etc) e meu único trabalho chegando em casa é montar as porções diárias e congelar.
Há outros açougueiros em feiras-livres oferecendo esse serviço em São Paulo. Alguns até entregam ossos carnudos crus moídos, o que é excelente para bichanos que não podem receber ou não curtem ossos carnudos oferecidos inteiros ou em pedaços. É tudo uma questão de combinar com o fornecedor!
Aproveito para desfazer a impressão de que carnes vendidas em feiras são sempre de procedência duvidosa e/ou não são fiscalizadas pelo S.I.F (Serviço de Inspeção Federal). Isso não é verdade. Todo produto de origem animal destinado a consumo humano tem que passar por fiscalização.
Meu fornecedor desde 2008, o Paulo, obtém carnes no CEAGESP, e até hoje nenhum dos meus pets teve problemas com os alimentos comprados com ele. Uma dica para quem mora em São Paulo: visite este site para conferir o endereço e o dia da semana das feiras-livres paulistas.
- Açougues
Em açougues e casas de carnes, os preços dos ossos carnudos crus podem ser um pouco mais salgados do que nas feiras-livres. Mas pode-se encomendar espécies diferentes (peru sem tempero, pato, codorna, coelho, avestruz, etc) e, fazendo amizade com o dono ou um funcionário, você obtém as peças do jeito que você precisa: cortadas ou não, com pele ou não etc.
Açougues oferecem ainda mais conveniência por abrirem de segunda a sábado. Alguns até fazem entrega em casa. Comprar ossos carnudos crus congelados é interessante para quem é obrigado a percorrer longas distâncias de casa até o açougue, ou para quem não conta com freezer e sim com o menos eficiente congelador, no caso das geladeiras de apenas uma porta. É tudo questão de combinar.
- Supermercados
O problema dos supermercados é o preço, em geral bem mais elevado que as feiras-livres. O cuidado com a exposição e manipulação dos ossos carnudos em alguns estabelecimentos também pode deixar a desejar. Fuja de bandejas não refrigeradas, peças de coloração amarelada ou esverdeada, com o plástico protetor furado ou que estejam exalando mau odor.
A grande vantagem dos supermercados é a conveniência, principalmente considerando que alguns até permanecem abertos 24 horas. Pacotes da Sadia, Perdigão ou Korin (melhor ainda, por se tratar de frango criado sem antibiótico) com 1kg de asas e coxas de frango congeladas sem tempero, quebram um galho e tanto. Em alguns estabelecimentos você encontra peças de coelho, frangos orgânicos e caipiras inteiros, pato inteiro e caixas com codornas inteiras congeladas.
Quem possui apenas um gato pode optar por comprar ossos carnudos em supermercados regularmente. Mas para tutores de múltiplos animais, desaconselho: a compra pode ficar até duas vezes mais cara do que se feita em uma feira-livre!
- Outros lugares
Lojas Korin, em São Paulo. Pra quem faz questão, esse é o lugar pra comprar frango criado sem antibiótico ou orgânico. Lá tem frango inteiro e bandejas com asas e coxas.
Nossa amiga Ana Corina, do blog Mãe de Cachorro Também é Mãe, dá uma dica imperdível: restaurantes e bares que vendem frango assado descartam peças como cabeça e pescoço de frango, que rendem ótimos ossos carnudos! A Ana consegue quilos dessas peças de graça. Converse com os funcionários desses estabelecimentos para obter esses itens na faixa ou pagando bem baratinho. Vale a pena!
CEAGESP (ou o centro de abastecimento da sua cidade): vale a viagem se você tem múltiplos pets. Tem que acordar bem cedinho e levar caixas de isopor ou sacolas térmicas, mas os preços, o frescor dos alimentos e a variedade são imbatíveis!
Granjas/frigoríficos: para quem baseia a Alimentação Natural na oferta de frango, peru ou codorna, essa pode ser outra alternativa interessante. Muita gente compra um grande volume de ossos carnudos crus, carnes e vísceras dessa maneira, por uma fração do preço praticado nas feiras-livres. Ter um freezer só para o pet ajuda, ou então comprar uma grande quantidade em conjunto com outras pessoas.
Importante: não interessa de onde vem a peça, se a carne estiver verde, mal cheirosa, amarelada, etc, não a ofereça ao seu gato. Procure o fornecedor imediatamente e, conforme a justificativa e a atitude dele em relação ao ocorrido, passe a adquirir os alimentos em outro estabelecimento.
Carnes, vísceras, ovos e peixes
- Feiras-livres convencionais
Nas feiras você geralmente consegue encontrar todos esses alimentos. Itens que compro com frequência são:
- Sardinha ou cavalinha (inteiras ou somente o filé sem a espinha)
- Língua bovina limpa (sem aquela pele grossa), músculo ou acém, coração de boi (rico em taurina!) – todas essas peças costumam ter bons preços
- Lombo suíno (uma carne magra!)
- Carne de peru
- Moela de frango, carne de frango (peito, coxa, sobrecoxa), coraçãozinho de frango
- Fígado de frango, fígado de boi
Encomendo tudo com meu feirante com alguma antecedência e retiro tudo já cortado em cubinhos e limpo (sem gordura). É bastante conveniente.
- Feiras-livres de orgânicos
Compro ovos orgânicos e caipiras com regularidade em feiras-livres de orgânicos (clique aqui para ver a relação de feiras deste tipo em São Paulo).
- Açougues e peixarias
Nos açougues existe variedade similar à feira em relação a carnes e vísceras. Os preços podem ser um pouco mais altos, mas existe a comodidade de comprar as peças no horário e no dia da sua preferência.
Assim como nas feiras, também é possível combinar encomendas de carnes e vísceras mais exóticas, para variar o cardápio do pet, e levar pra casa os alimentos do jeito que você gosta: picados, cortados, com mais ou menos gordura, moídos, peixes já congelados etc. Alguns açougues também aceitam fazer entrega em casa.
- Supermercados
Ocasionalmente compro ovos orgânicos e peixes em supermercados. É menos frequente comprar carnes e vísceras em supermercados, mas existe razoável variedade nesses estabelecimentos: carnes bovina, suína (em geral mais em conta), de frango (caipira e tradicional), e vísceras, como fígado, bucho, rim bovino (nos supermercados Extra tem) e moela de frango.
Os preços das carnes e vísceras costumam ser mais altos que nas feiras e as peças muitas vezes vêm em grandes pedaços, o que exige trabalho em casa para cortar tudo.
- Outros lugares
Lojas Korin, em São Paulo. Pra quem faz questão, esse é o lugar pra comprar frango criado sem antibiótico. Lá tem ovos, frango inteiro, moela, fígado; além de frango orgânico.
CEAGESP: para quem tem múltiplos pets é uma opção interessante. Precisa acordar cedinho, dirigir bastante e levar caixas de isopor ou sacolas térmicas, mas os preços, o frescor dos alimentos e a variedade são imbatíveis! Se não mora em SP, procure o centro de abastecimento de sua cidade.
Granjas/frigoríficos: para quem baseia a Alimentação Natural na oferta de frango, peru ou codorna, essa pode ser outra alternativa interessante. Muita gente compra um grande volume de ossos carnudos crus, carnes e vísceras dessa maneira, por uma fração do preço praticado nas feiras-livres. Ter um freezer só para o pet ajuda, ou então comprar uma grande quantidade em conjunto com outras pessoas.
Importante: não interessa de onde vem a peça, se a carne estiver verde, mal cheirosa, amarelada etc, não a ofereça ao seu gato. Procure o fornecedor imediatamente e, conforme a justificativa e a atitude dele em relação ao ocorrido, passe a adquirir os alimentos em outro estabelecimento.
Vegetais
Com esses não tem segredo. Podem ser comprados em feiras-livres convencionais e orgânicas, supermercados, hortifrutis e no CEAGESP. Sempre que possível, compre orgânicos. De acordo com dados assustadores divulgados pela ABRASCO, agrotóxicos proibidos em diversos países são empregados de forma indiscriminada nas lavouras brasileiras.
Se não puder comprar orgânicos, lave muito bem os vegetais antes de prepará-los e prefira legumes e verduras da estação. Alimentos da estação estão alinhados com o relógio biológico da natureza e requerem menos agrotóxicos para serem cultivados. Confira esta interessante tabela e descubra quais são os vegetais da época.
Aproveite os bons preços e a variedade de vegetais e leve para casa legumes, verduras e folhas de várias cores. Mais acima você encontrará parágrafos sobre vegetais seguros e vegetais prejudiciais aos gatos.
Suplementos
- Nos supermercados você encontra azeite de oliva, levedo de cerveja em pó, sal não refinado e iogurte natural integral.
- Em lojas de produtos naturais, você encontra outros óleos extra-virgens (de linhaça, de côco, de fígado de bacalhau), levedo de cerveja em pó, fucus (uma alga desidratada, rica em iodo e outros minerais) e vitaminas naturais.
- Em farmácias, você encontra cápsulas gelatinosas de vitamina E e óleo de peixe (fonte de ômegas-3) e óleo de fígado de bacalhau em cápsulas ou em frasco.
- Em farmácias de manipulação, você pode mandar aviar cápsulas de taurina, um aminoácido essencial ao gato.
Em lojas online internacionais, como a Amazon, é possível importar taurina em cápsulas a preços fantásticos. Também dá pra comprar taurina em cápsulas por aqui, como este frasco de 500mg, da Biovea.
Quanto custa a AN crua com ossos?
“Quanto vou gastar por mês com a AN do meu gato?” / “O valor da AN é próximo do custo de uma ração Super Premium?”
Dúvidas como essas são frequentes e bastante pertinentes. Por experiência própria – mas também pelo feedback de centenas de adeptos da dieta – os custos de uma AN completa, composta por alimentos variados, de ótima qualidade e procedência, em geral são equivalentes ou até inferiores aos de alimentar gatos com uma ração Super Premium.
Mas se acontecer do custo da AN superar o da ração, pense no mega investimento de peso que você estará fazendo na saúde do seu amigão. Como explico no artigo “Por que não dar ração?” acredito que, da mesma forma como ocorre com o ser humano na atualidade, a maioria das doenças crônicas nos gatos são provocadas ou agravadas por consumo de dieta industrializada. Isso sem contar a qualidade inigualável da matéria-prima da AN, muito superior à da maioria das rações, que empregam subprodutos de valor pra lá de duvidoso.
Mas infelizmente não é possível prever exatamente quanto você irá gastar. Essa resposta depende de inúmeros fatores, como:
- Local onde você mora. Em regiões litorâneas, peixes e frutos do mar costumam ter bom preço. No interior, carnes vermelhas em geral são mais em conta – e peixes são mais caros. Em São Paulo, onde moro, é um pouco mais barato comprar nos mercadões e feiras da Lapa e Liberdade que nos da zona Sul.
- Local onde os alimentos serão comprados. Abatedouros, granjas, avícolas, feiras-livres, mercados municipais e açougues costumam ter ossos carnudos crus, carnes, vísceras, ovos etc muito mais em conta que em supermercados. Complementos comprados em lojas online – principalmente internacionais – como Amazon e eBay – saem tremendamente em conta. Antes de começar, é preciso pesquisar!
- A variedade de espécies que você pretende oferecer, principalmente em relação a carnes, vísceras e ossos carnudos. Em uma Alimentação Natural caseira adequada devem estar presentes regularmente pelo menos três espécies diferentes de animais. Exemplos: frango, boi e peixe; ou frango, porco e peixe; ou coelho, frango e boi.
- O tipo de alimento. Vegetais e carnes cultivados e criados convencionalmente são mais baratos que alimentos orgânicos ou oriundos de criação caipira. O que é uma pena, porque orgânicos e caipiras são mais saudáveis e nutritivos. Para quem tem um único gato é provável que uma dieta 100% à base de alimentos orgânicos e caipiras não fique inviável financeiramente. Mas fica a seu critério.
- O grau de sofisticação da dieta. A inclusão de alimentos exóticos, como carne de avestruz, carne de javali, mirtilo (blueberry), quinoa, camarão etc, evidentemente encarece a dieta. Felizmente não é preciso ir tão longe, a não ser, é claro, que você queira (e possa) bancar esses itens requintados. Mas não é necessário. O organismo não diferencia cortes de carnes; pra ele tanto faz se o aminoácido vem de uma carne nobre ou de uma carne “de segunda”. Por isso acho besteira investir em filé mignon quando há opções igualmente nutritivas e muito mais em conta, como coração de boi, moela, língua, ovos, músculo etc.
- Quanto seu pet vai comer por dia. Filhotes, por exemplo, comem bastante proporcionalmente ao peso deles porque estão em fase de formação de tecidos. Gatas gestantes e lactantes, idem. Em geral, um gato adulto come entre 150 e 250 gramas por dia.
- Quantos kg você pode comprar por vez. Quem tem um freezer só para o pet e tem vários animais em casa pode combinar um preço melhor ao comprar uma grande quantidade de carnes, ossos e vísceras em fornecedores como abatedouros, granjas, avícolas com boas condições de higiene, mercados municipais etc.
Resumindo: em grande parte, quem vai determinar quanto custará a dieta do seu pet é você.
Para meus dois gatos, a AN crua com ossos custava cerca de R$ 100-120 por mês, incluindo os complementos e uma boa variedade de alimentos. O mesmo que eu gastaria comprando uma ração Super Premium para gatos. Sem contar o que eu economizava com visitas ao veterinário. Não é exagero nenhum afirmar que uma dieta caseira à base de carnes frescas é a mudança mais significativa que você pode proporcionar ao seu gato.
Solucionando as principais dificuldades iniciais
Você é iniciante na Alimentação Natural para pets. É normal haver dúvidas! Reuni as principais nesse guia com dicas para você driblá-las uma a uma. Mas use o bom senso. Se com as orientações abaixo seu gato não melhorar ou outros sintomas aparecerem, procure o mais rápido possível o médico-veterinário de sua confiança.
Obs: as dicas abaixo foram escritas pensando em pets que recebem Alimentação Natural caseira. Elas podem não ser úteis a animais que comem ração.
“Meu gato comeu a refeição de AN e em seguida vomitou”
Pode ser regurgitação e não vômito. A diferença entre os dois é o tempo que se passa entre a ingestão do alimento e a sua devolução. Regurgitação é o “bate-e-volta”.
O alimento mal chega no estômago e é devolvido, inteirinho, sem aquele cheiro azedo de vomito. O gato pode até querer comer o alimento regurgitado – e não faz mal deixar.
Vômito é um processo mais complexo. O animal vai para um canto, fica inquieto, pode babar. Começam as contrações involuntárias e o animal é expelido semi-digerido e em geral tem mau cheiro.
Pode ser considerado normal ocorrerem algumas regurgitações durante as primeiras semanas de introdução da AN, coisa do organismo se entendendo com a nova dieta. Mas se continuarem, é preciso investigar o quadro com o veterinário de sua confiança.
No caso de ser vômito, certifique-se de estar servindo a refeição morna (não quente) e pelo menos três refeições ao longo do dia. Gatos que comem rápido demais e uma quantidade muito grande de uma vez também podem vomitar.
Se seu gato for muito ávido, procure fracionar mais a refeição, servindo uma colher de sobremesa a cada 5 minutos. A continuarem os vômitos, consulte o veterinário.
“Ele não está fazendo cocô diariamente”
AN é uma dieta bem diferente da ração seca convencional. Enquanto a ração é rica em fibras grosseiras que produzem fezes volumosas (e fedidas!) que o gato elimina diariamente, a Alimentação Natural produz pouco resíduo, justamente porque o aproveitamento dos nutrientes é infinitamente superior. Isso naturalmente resulta em fezes menores, bem sequinhas, frequentemente claras e com odor suave.
É normal gatos alimentados com AN não fazerem cocô diariamente, justamente porque não produzem resíduo suficiente para isso todos os dias. Se seu gato estiver fazendo cocô pelo menos uma vez a cada dois ou três dias, tudo bem. Desde que ele não esteja miando na hora de defecar (sinal de dor) e que as fezes não estejam saindo com muco ou sangue.
Se passarem mais de três dias sem cocô, aumente o teor de fibras e/gorduras da dieta adicionando um pouco mais de vagem e abóbora cozidas ou um fio de azeite de oliva ou de óleo de côco à porção diária. E veja como ele fica. Você também pode usar um produto comercial à base de fibras – como o Metamucil e o Benefiber incolor – à venda em farmácia humana.
Adicione 1 colherinha de café de um desses produtos a cada refeição, misturando bem até sumir o pozinho. Acrescente algumas colheres de água à refeição para as fibras “incharem”. Você pode usar até 1 colher de chá em cada refeição, se achar que está ajudando.
“Ele está emagrecendo/ele está engordando”
Essa é fácil. Ajuste o tamanho das porções para mais ou para menos, dependendo do resultado desejado. Se ele recebe 250g de AN por dia e está engordando, passe a servir 220g por dia e observe como fica de peso.
Se seu gato está emagrecendo mesmo comendo super bem, convém consultar o veterinário para descartar algumas doenças sérias que fazem o pet perder peso. Convém apenas comentar que é normal gatos que comem AN ficarem bem mais enxutos – mas nunca magrelos ou caquéticos. Eles ficam atléticos, musculosos e perdem aquela pancinha pendular. Isso é normal e altamente desejável para a saúde.
“Ele parou de beber água, mas está urinando muito mais que antes. Isso é normal?”
É normalíssimo e esperado. Gatos descendem de felinos do deserto e evoluíram para extrair toda a água que requerem para sobreviver dos tecidos dos animais que eles caçam.
Anormal para os gatos é comer uma dieta seca (como a ração) e ter que beber água aos montes para compensar. Gatos alimentados com dieta caseira – ou com ração úmida – reduzem drasticamente o consumo de água, muitas vezes parando de beber completamente. Isso porque a dieta úmida contém naturalmente até 7x mais água que a ração seca. Assim, eles produzem xixis volumosos e clarinhos, o que é fantástico para a saúde dos rins e do trato urinário dos bichanos.
“Ele está com diarreia”
Diarreia durante o período de introdução de uma nova dieta ou ingestão de um alimento novo sinaliza que precisamos ir com mais calma ou que alguma novidade não fez bem.
E algumas vezes diarreias aparecem do nada, sem uma causa dietética reconhecível. Nesses casos, pode ser interessante consultar o veterinário e enviar uma amostra das fezes para análise. Pode ser verminose, por exemplo.
Seja qual for a causa, pode ser benéfico omitir os óleos da dieta até o intestino normalizar e entrar com uma boa pasta probiótica – existem diversos produtos veterinários no mercado. Administre o recomendado pelo fabricante durante 5 dias ou até o bichano melhorar.
“Ele está com muco/sangue nas fezes”
A presença de muco (parece um catarro) e/ou sangue vivo nas fezes pode indicar verminose, como a causada pela giárdia, ou alguma alteração no cólon ou reto, que são as porções finais do intestino.
Verifique se a vermifugação do gato está em dia ou leve uma ou mais amostras das fezes para análise (exame coproparasitológico). Você precisará de uma guia escrita por um veterinário. Se o cocô continuar alterado, pode ser constipação. Capriche nas fibras (como indicado na dúvida sobre constipação) e adicione uma colherinha de café de óleo de côco. Entre também com pasta probiótica de uso veterinário, à venda em pet shops e use como indicado pelo fabricante. Se ainda assim o intestino não voltar ao normal, consulte o veterinário.
“Ele não parece mais tão empolgado para comer como antes”
É normal isso acontecer com alguns gatos. Ele comia com mais entusiasmo quando a AN era novidade. Agora que a dieta faz parte da rotina, ele ainda come, mas leva mais tempo para terminar a refeição. E às vezes deixa um pouco no pratinho.
Se o consumo estiver regular, apesar da empolgação diminuída, não se preocupe. No máximo, procure variar mais as receitas oferecidas e veja se ajuda. O pior que você pode fazer nessas horas é ficar oferecendo outros alimentos, como leite, pedaço de pão, frutas ou ração. Se ele entender que pode ganhar outros alimentos, vai adquirir o hábito crônico de recusar a refeição só para ver o que será oferecido em seguida. E aí você terá em mãos um gatinho de paladar imprevisível e exigente.
“Ele está soltando muito pelo”
Se ele estiver comendo a AN completa, tal como ensino aqui, com os complementos, vísceras e ovos, a queda de pelos provavelmente não tem origem alimentar. Investigue outras causas, como alergia (ele está se coçando?), época do ano (verão e antes do inverno são períodos de muda de pelagem), estresse (chegou um gato novo?), cio (em caso de gata sexualmente intacta) e doenças que atrapalham a absorção dos nutrientes da dieta, como verminose. A inclusão de uma colherinha de café de óleo de côco ao total de alimento servido no dia costuma ser ótima para diminuir a queda, além de deixar os pelos ultra macios e brilhantes. Veja se ajuda!
“Ele está eliminando bolas de pelo frequentemente”
A eliminação frequente de bolas de pelo pode indicar alergia (coceira). Gatos muitas vezes usam a língua áspera para se coçar e com isso acabam ingerindo um monte de pelos. Também pode sinalizar estresse. Existem no mercado pastas saborosas para gatos à base de malte que podem ajudar o organismo a eliminar os pelos pelas fezes ao invés de por vômitos. Mas o ideal mesmo é agir na causa do problema, tentar entender o porquê disso estar acontecendo.
“Ele está se coçando muito. Pode ser alergia a algum alimento da dieta?”
Sim, mas também pode ser alergia a picada de pulgas e a partículas que estão no ambiente, como pó, poeira, ácaros, pólen, produtos de limpeza etc. O melhor a fazer é procurar o veterinário de sua confiança para investigar de forma sistemática as principais causas de alergia. Há casos em que pode ser indicado adotar por alguns meses uma dieta caseira de composição hipoalergênica, à base de uma carne com a qual o gato tenha tido pouco ou nenhum contato.
“Ele está com gases”
Flatulência, os puns, ou barulhos na barriga, podem ser sintoma de verminose ou má digestão. Se estiverem acontecendo com muita frequência omita da dieta alimentos fermentativos, como levedura de cerveja, repolho, batata-doce, brócolis e couve-flor. Se seu gato for louco por frutas (alguns são!) verifique se ele não está comendo muito delas – também podem fermentar. Procure também entrar com a pasta probiótica (como indicado nas dúvidas sobre constipação e diarreia) durante uns 5 dias diretos. Às vezes, tudo que o intestino precisa é de uma reposição massiva de boas bactérias.
“Ele não está mais querendo comer AN, mas parece estar com fome”
Passei por isso com meu gato Persa, o Arthur (conto a história aqui). Ele foi parando, parando, parando de aceitar a AN até deixar de vez de comer. Tente de tudo – varie os ingredientes, sirva a refeição morninha, tente a AN sem ossos ou a cozida etc. Mas se ele passar mais de 24h sem comer nada, sirva um pouco de atum ou ração úmida (melhor) ou ração seca. A ração seca deve sempre ser sua última opção, por ser altamente viciante para os bichanos. Em muitos casos, o retorno à ração seca é a despedida da AN. Mas não é recomendável deixar o gato em jejum de sólidos por mais de 24h. Ele pode desenvolver uma grave doença no fígado, chamada lipidose hepática.
“Tudo isso de proteína na dieta não prejudicará os rins do meu gato?”
Esta é uma dúvida que ouço com frequência. A resposta, felizmente, é: não. O alto teor de proteína da AN não prejudicará os rins do seu bichano. Sendo um carnívoro obrigatório – o tipo mais carnívoro de predador que existe – o gato saudável não só requer elevados teores de proteína animal como é perfeitamente adaptado para lidar com ela.
Na natureza, a dieta do felino é 95% composta por presa, tecido animal.
Agora, se seu bichano é sabidamente portador de doença renal, nenhuma AN deste site é indicada. Por isso é que é tão importante visitar regularmente o veterinário e realizar exames de check-up geral. Recomendo enfaticamente submeter seu felino a exames anuais que avaliam a função dos rins, como ultrassonografia abdominal, dosagem de ureia e creatinina no sangue, aferição de pressão arterial e urinálise (urina tipo I).
No caso de bichanos idosos podem ser indicadas avaliações semestrais ou até com maior frequência. Quando uma alteração renal é identificada, dependendo do grau do problema, pode ser necessário ajustar os níveis de proteína e fósforo da dieta caseira. Para isso, consulte um veterinário ou zootecnista com experiência em formulação de dietas caseiras terapêuticas para gatos.
Teores elevados de proteína não causam doença renal – essa hipótese foi derrubada por inúmeras pesquisas científicas. Mas os rins doentes deixam de tolerar bem proteína em teores elevados. É por esse motivo que se costuma indicar redução dos níveis de fósforo e proteína da dieta de pets nefropatas (doentes renais).
Para você compreender melhor a diferença entre níveis elevados de proteína causarem dano renal e serem contraindicados em caso de dano renal, vejamos o exemplo da atividade física e o coração. É consenso que praticar esporte é benéfico à saúde, certo? E que não faz mal ao coração (pelo contrário). Mas e quando a pessoa apresenta uma alteração cardíaca grave? A orientação do médico é maneirar na atividade física, não é? É o mesmo raciocínio. A prática de esportes não prejudicou o coração. Mas quando uma alteração é identificada, a recomendação médica é para pegar leve.
O que prejudica os rins, então? Múltiplos fatores: predisposição genética, infecção urinária que sobe para os rins, obstrução urinária, exposição a toxinas (incluindo medicamentos, pipetas anti-pulgas comerciais e excesso de vacinas), pressão alta ou outra doença cardiovascular, consumo de ração seca à base de cereais inflamatórios (como milho, trigo e soja), ingestão de toxinas fúngicas (frequentemente presentes em rações à base de milho) etc. Elevado teor de proteína de boa qualidade não é um desses fatores.
Você continua preocupado com os teores de proteína da AN? Experimente oferecer a dieta por dois meses ao seu gato (comprovadamente saudável) e peça exames para avaliar a saúde dos rins, em especial, dosagem de ureia e creatinina e urinálise. Se estiver tudo bem com seu bichano, por que se preocupar?
Por fim, recomendo a leitura de artigos científicos que sepultam de uma vez por todas o mito de que uma dieta protéica piora as condições de rins sadios em cães e gatos, como esse, esse, esse e esse (todos em inglês). Não deixe de ler também essa matéria (em inglês) e de consultar essa página fantástica.
“Vou viajar. Como faço para manter meu gato na AN?”
São muitas opções. Se seu bichano for permanecer na sua casa, deixe as porções congeladas e separadas em refeições e combine com alguém da família, um vizinho ou um cat-sitter para periodicamente descongelar e servir entre duas e três refeições ao dia. Em um aperto, deixe à disposição rações em lata de boa qualidade.
Mas resista ao máximo oferecer ração seca. Essa deve sempre ser a última opção. Felinos gostam tanto do cheiro, textura e formato dos croquetinhos que podem não aceitar voltar à AN.
Vai levar seu bichano com você? Ótimo, leve porções congeladas e deixe no frigobar do hotel por até 2 dias ou combine com a gerência de armazenar porções no freezer da cozinha deles. Ou leve ração em lata de boa qualidade. Indico as marcas Pet Delícia e Schesir (à venda na MOM).
Se for deixar seu felino em hotelzinho para gatos, combine de levar as porçõezinhas congeladas e deixar no freezer do lugar – hoje em dia muitos estabelecimentos dispõem de geladeira com freezer para os hóspedes peludos. E como plano B, leve ração em lata de boa qualidade.
Monitorando a saúde do gato que recebe Alimentação Natural
Para gatos jovens e adultos, um check-up veterinário físico e os seguintes exames uma vez por ano costumam ser o bastante:
- Exame coproparasitológico – submeta a análise 2 a 3 amostras de fezes colhidas em dias alternados (exemplo: um cocô de segunda-feira, outro de quarta-feira e outro de sábado). Isso aumenta as chances de detectar vermes na amostra.
- Hemograma – verifica anemia, sinais de infecção, alterações nas plaquetas e outras anomalias.
- Função renal (ureia e creatinina) – exame de sangue que, como indica o nome, avalia o funcionamento dos rins.
- Urinálise (ou Urina tipo I) – a urina é colhida no laboratório e mostra se há sinais de infecção ou formação de cristais (que podem evoluir para cálculos), como está o pH, a densidade do xixi e outros parâmetros da saúde urinária.
- Função hepática (enzimas do fígado) – verifica inflamação no fígado.
- Dosagem sérica de cálcio ionizado (ou iônico) – informa se a dieta caseira está fornecendo cálcio na medida certa.
Para gatos de meia idade e idosos, sugiro os exames informados acima e mais alguns, se possível realizados semestralmente ou de acordo com as recomendações do veterinário do seu bichano:
- Glicemia em jejum – avaliar as taxas de açúcar no sangue.
- Aferição de pressão arterial – assim como acontece com o ser humano, muitos pets são hipertensos assintomáticos. E a pressão alta pode prejudicar seriamente os rins.
- Ultrassonografia abdominal – para avaliar a morfologia dos órgãos e investigar a existência de nódulos suspeitos, cálculos na bexiga e outras alterações.
- Ecodopplercardiograma – para avaliar a saúde cardiovascular.
Parabéns!
Você chegou ao final do nosso material sobre AN crua com ossos para gatos! Esperamos que seu amiguinho felino goste da nova dieta e seja muito feliz e saudável.
Posso te dar uma última dica? Releia todo esse material. É MUITA informação para absorver em uma só leitura. Revisite os tópicos e você verá quanta coisa importante deixou de assimilar.
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