Você, tutora, entra em contato com o conceito de Alimentação Natural (AN) para cães e gatos e acha a iniciativa fascinante. Se debruça sobre o assunto, começa a seguir veterinários que promovem AN em seus canais, troca figurinhas com tutores experientes em dieta natural. Pode até ser que você venha a buscar orientação profissional para individualizar a AN à realidade específica do seu pet.
Naquela empolgação você dá início à AN e seu peludo raspa o prato logo de cara. Porém, o primeiro cocô resultante da nova dieta não sai legal. “Poxa”, você logo pensa, “os adeptos de AN vivem falando que as fezes ficam ótimas com essa dieta”. Mas lá está aquele cocô triste, mole, te encarando de volta na área de serviço. 😫
Fato é que felizmente a maioria dos cães e gatos se adapta e tolera bem a AN. Os cães, como carnívoros flexíveis e oportunistas, evoluíram para exibir uma invejável rusticidade digestiva. Mas alguns indivíduos mais sensíveis realmente podem apresentar reações intestinais. E poucas coisas são mais frustrante para tutores de cães e gatos que fezes alteradas.
“Onde estou errando?” e “Será que meu pet jamais se adaptará à AN?” pipocam na sua cabeça nesse momento. Mas, calma. Antes de abandonar tudo e voltar para a ração, confira as nossas dicas abaixo. Em grande parte dos casos o segredo para aquele cocô bonito é mais simples do que você imagina!
Momento
Contexto é tudo. Escolha um momento tranquilo para iniciar a mudança de dieta. Nada de entrar com AN uma semana antes de sair de férias ou assim que o peludo aterrisa em um país diferente, no pós-cirúrgico ou imediatamente após o tratamento de uma doença. Situações assim debilitam a sistema imune, favorecendo alterações intestinais.
Pressa
Existem dois jeitos de migrar para a AN: direto ou aos poucos. O método “pá-pum” geralmente envolve suspender alimento por 24h e depois servir uma refeição 100% composta por AN. No outro modo, ao longo de 7 a 10 dias servimos quantidades crescentes de AN e cada vez menos ração, até haver a substituição total. Mudar subitamente pode funcionar com pets jovens e rústicos, mas desarranjar seriamente o intestino dos sensíveis. Para uma mudança mais segura, prefiro a transição gradativa.
Composição
Alimentos ricos em gordura, minerais e fibras causam fezes amolecidas em pets desacostumados a digeri-los ou de digestão mais delicada. É o caso das vísceras secretoras (ex: fígado, rim, baço) e é também por isso que restringimos sua inclusão a 5% a 10% do total da dieta. Sardinha, abóbora cabotian, inhame e quiabo também podem amolecer o cocô. Comece dando pouquinho e aumente conforme a tolerância intestinal do peludo.
Exagero
Uma causa frequente de cocô mole em cães e gatos, principalmente em filhotes, é a oferta excessiva de alimento. Verifique se não está exagerando no tamanho da porção.
Suplemento
Suplementos vitamínico-minerais equilibram deficiências frequentes em dietas caseiras. Existem os já prontos, vendidos em pet shops, e as fórmulas prescritas por veterinários e aviadas em farmácia de manipulação. No caso de suplementos prontos é crucial introduzir aos poucos, como indica o fabricante. Pular a transição aumenta muito o risco de reação gastrintestinal. Mas, se reações continuarem ocorrendo mesmo após uma introdução cuidadosa, busque uma alternativa de suplementação.
Crua
Nós do Cachorro Verde promovemos dietas cruas com e sem ossos desde 2008 e todos os pets que já conviveram conosco comeram/comem AN crua. Entretanto, uma parcela de cães e gatos não tolera bem dietas cruas. Atribuo essa sensibilidade a algum grau de disbiose (microbioma intestinal desequilibrado e empobrecido). Podemos tentar modular essa disbiose se o tutor estiver disposto. Do contrário, ficamos na AN cozida (muitas vezes basta ser levemente cozida) e tá tudo certo!
Falta de fibra
O cocô do pet estava ótimo quando ele comia ração, mas passou a ficar meio amolecido e com muco (gelatinoso) após a mudança para a AN? Pode ser falta de fibras solúveis. Esse é um quadro que vejo com alguma frequência e é muito satisfatório de remediar. Experimente misturar ao alimento sementes de chia ou psyllium. Sugestão: uma colherinha de café 2x ao dia para gatos e cães miniatura, uma colher de chá 2x ao dia para cães pequenos, uma colher de sobremesa 2x ao dia para cães de porte médio e grande.
Continua?
Mesmo com todas as dicas acima o cocô mole persiste? Procure orientação profissional. A dieta pode estar desequilibrada, seu peludo pode ter alguma verminose ou intolerância alimentar (por exemplo, a uma carne da dieta) e até algum quadro intestinal crônico que merece investigação e pode requerer tratamento, como colite, insuficiência pancreática exócrina, disbiose avançada ou outro.
Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945
Comunicado Cachorro Verde
As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.
Obrigada por acompanhar os canais do Cachorro Verde!