Lembro de meu primeiro contato com o conceito de medicina veterinária holística. Foi por meio de um livro que uma colega da faculdade de veterinária me emprestou, “A Cura Natural para Cães e Gatos”, escrito pela “leiga” Diane Stein. Brinco, com um baita fundo de verdade, que sem o pontapé inicial desse livro é provável que o Cachorro Verde não tivesse nascido.
A sensação ao ler o conteúdo fantástico do livro de Stein era um misto de ansiedade e frustração: “como é que nunca considerei de fato a importância de uma dieta e estilo de vida saudáveis como ferramentas promotoras de saúde para cães e gatos!?” e “por que diabos ninguém está ensinando essas questões dessa forma na faculdade!??”
O Cachorro Verde nasceu, os anos se passaram, finalmente me formei e comecei a trabalhar como veterinária. Faz um tempo, voltou a vontade de revisitar o conceito de medicina veterinária holística e reforçar, mais uma vez, a importância de condutas simples e fundamentais à vida dos pets. Mas a minha voz vocês estão cansados de “ouvir”. Daí surgiu a ideia de convidar minha amiga, a médica-veterinária holística Carmen Cocca, para compartilhar suas perspectivas e experiências.
Para quem ainda não conhece a Carmen, recomendo uma visita ao site dela, o Bruxa do Bicho – espaço que divulga valiosas terapias alternativas sem perder de vista o lado científico do conteúdo. Além de ser uma médica de bichos pra lá de versátil, Carmen transmite lições valiosas com muita didática e humildade. De verdade, creio não haver melhor expoente da vertente holística no Brasil para esse bate-papo!
É, então, com grande satisfação que publico aqui a minha conversa com uma profissional que me inspira desde os tempos da faculdade e com quem hoje tenho o prazer de dividir alguns pacientes.
Uma observação para o pessoal que tende ao ceticismo: desative momentaneamente o filtro das suas convicções prévias. Mergulhe nesses novos conceitos com uma mente curiosa, fértil e receptiva.
CV: Por formação, como todo veterinário, você é alopata. O que a levou a enveredar pelo caminho da Medicina Veterinária Integrada, ou Holística?
CC: Foi um caminho que foi surgindo naturalmente…a clínica médica exige muito de nós quando nos formamos, pois aí é que vamos mesmo aprender, praticar o que nos foi mostrado na teoria. Os primeiros anos de profissão são deliciosamente estimulantes, mas depois de um tempo, a medicina comercial e de almanaque se estabelece e cansa! A empolgação inicial se transforma num “mesmismo” cansativo e rotineiro. Daí começa a busca pelo “algo mais” e a descoberta de que um paciente é muito mais do que alguns órgãos ligados entre si formando sistemas e que a medicina dos pedaços não resolve a grande maioria dos distúrbios apresentados em nossos consultórios.
Assim, me vi frente a frente com a descoberta de que havia um princípio, uma vitalidade que os medicamentos que eu utilizava não devolviam ao meu paciente! Então comecei a vislumbrar um caminho, a garimpar terapêuticas que considerassem o ser anímico, integral, na sua totalidade. Nesse caminho, encontrei primeiramente o Reiki, depois os florais de Bach e finalmente a homeopatia e seu entendimento da energia vital e de sua utilização no processo de cura. Depois desse entendimento da dinâmica do indivíduo, a dietoterapia e a nutracêutica vieram como o complemento natural e imprescindível pra completar a minha concepção de medicina integral, a medicina do indivíduo completo físico, mental, anímico e social. Aprendendo a lidar com todas essas nuances, fica mais fácil tratar cada paciente como um ser único!
CV: Com quais terapêuticas diferentes você normalmente trabalha? Como se deu seu interesse por cada uma delas?
CC: Meu interesse surgiu quando comecei a me tratar com Reiki num momento de vida pessoal muito difícil. Senti tamanho bem estar nessa terapêutica que fiz o curso para utilizá-la nos meus pacientes, nos familiares e amigos. Confesso que não a utilizo muito mais, a não ser enquanto massageio, aplico um soro ou acompanho um paciente terminal, mas em alguns casos em especial ela parece, de certa forma, convidar-se a ser aplicada. É meio mágico, intuitivo!
Ao buscar técnicas que me ajudassem a tratar alterações comportamentais, encontrei um livro sobre Florais de Bach em animais e vibrei com a possibilidade de medicamentos sem contra-indicações, efeitos colaterais e com efeitos seguros e duradouros sobre o comportamento dos meus pacientes! Comecei a utilizar e fui buscar um curso de formação nessa terapêutica. Isso acabou me incentivando a estudar um pouco de fitoterapia também, que comecei a utilizar acanhadamente. Daí você começa a busca e não para mais.
A homeopatia, que a meu ver é a minha maior conquista e meu maior tesouro, surgiu numa sequência natural de aprofundamento do saber. É ao mesmo tempo minha ferramenta mais importante, mais complexa e mais difícil, devido ao seu inesgotável potencial de possibilidades. Recentemente me aprofundei mais na terapêutica com nutracêuticos e fitoterápicos, como complemento ao manejo nutricional. Os interesses surgem da própria necessidade clínica, da pesquisa, do estudo diário que o médico é levado a fazer de cada caso clínico, de suas particularidades e possibilidades terapêuticas. Minha busca acaba girando sempre em torno do que é mais natural, mais energético, mais anímico.
CV: Para o paciente, quais são as vantagens de atuar de maneira abrangente – combinando homeopatia, fitoterapia, dietoterapia e medicina nutracêutica, além, claro, de conceitos aprendidos na graduação alopata?
CC: Essa medicina integrativa fornece ferramentas eficientes, naturais e energéticas que se complementam na abordagem do indivíduo como um todo. Dessa forma consigo utilizar um medicamento de fundo homeopático, que reorganiza a energia vital do indivíduo, facilitando seu reequilíbrio, juntamente com antioxidantes, enzimas e vitaminas que a nutracêutica me fornece como adjuvantes no tratamento e complemento a dieta natural, e ainda posso utilizar um fito-hormônio, por exemplo, que suplemente o meu paciente que foi castrado e agora apresenta incontinência urinária.
Além disso, trabalho muito com manejo social que é estar sempre focada em devolver ao animal o comportamento natural da espécie, que ele perdeu durante a sua domesticação. Reeducar o tutor/cuidador quanto aos excessos ou falhas praticados na educação e manejo dos seus peludos é de vital importância para restabelecer a dinâmica anímica, o comportamento próprio da espécie. Isso tudo vitaliza o indivíduo e proporciona uma cura mais rápida, consistente e permanente.
CV: Como enxerga o uso de homeopatia em conjunto com um tratamento alopático, convencional? Em que circunstâncias você não atua em conjunto com o tratamento alopático prescrito por outro profissional e por quê?
CC: A homeopatia utiliza substâncias de origem vegetal, animal e mineral ultra-diluídas, que agem gerando um estímulo sobre a energia vital do indivíduo paciente, que responde de forma a reequilibrar e redirecionar essa energia no sentido da cura. É uma resposta de cura secundária a um estímulo. Já a alopatia neutraliza uma resposta orgânica inibindo a ação da energia vital, já que interrompe os processos naturais de tentativa de cura orgânica, como a inflamação. Na homeopatia, preciso observar a resposta de cura do medicamento que escolhi e não consigo fazer isso adequadamente se o meu paciente está tomando drogas que desaparecem com sintomas que não consigo avaliar.
Dessa forma, a alopatia e a homeopatia acabam se tornando incompatíveis na maior parte dos casos por serem absolutamente antagônicas. Por exemplo, se chega pra mim um paciente com câncer fazendo quimioterapia, cuja função é matar células, não utilizo a homeopatia porque ela necessita da vitalidade de cada célula para uma resposta direcionada à reorganização energética do indivíduo. A meu ver, nesse caso, as terapêuticas acabam por se atrapalhar em vez de somarem-se em prol do paciente. Já em outros casos, consigo associar a homeopatia a um paciente que está sendo medicado alopaticamente, mas sempre com o intuito de ir retirando a medicação alopática e substituindo-a por completo pela homeopática, nutracêutica, vibracional…
CV: Em que circunstâncias as pessoas costumam buscar o seu tratamento? Que perfil de público a procura? Quais são os problemas de saúde que você trata com mais freqüência?
CC: Infelizmente o maior público é aquele que já submeteu seu amigo peludo a muitos tratamentos alopáticos, às vezes durante muitos anos, e o paciente chega muito medicado, intoxicado, desvitalizado, obviamente com um prognóstico mais reservado em comparação ao paciente que chega durante o primeiro episódio de uma doença alérgica de pele, de um câncer inicial, de um transtorno de comportamento em seu início e que consigo redirecionar, reequilibrar com maior eficiência e em menor tempo.
Também tenho identificado com grande satisfação colegas alopatas encaminhando seus pacientes para terapêuticas mais naturais em casos crônicos sabidamente sem resposta a terapêutica convencional, como quadros alérgicos, doenças auto-imunes, câncer com baixa resposta à quimio e radioterapia, assim como outras doenças crônicas debilitantes.
Importante citar que os melhores resultados sempre serão aqueles que advêm do paciente que chega ao consultório homeopático na sua juventude, sem excessos vacinais, com tutor aberto a utilização de poucos venenos mensais e a uma alimentação natural, com acesso a um ambiente saudável, que mantenha relações sociais saudáveis intra e inter-espécies. É muito provável que esse indivíduo nunca adoeça seriamente, mesmo se houver informação genética para que isso aconteça. Quando mantemos o entorno saudável, o manejo adequado e a alimentação viva, a epigenética (interferência ambiental sobre o surgimento de doenças) fala mais alto do que qualquer gene maligno!
Os casos mais comuns no consultório são os dermatológicos, seguidos infelizmente do câncer, dos problemas articulares e os geriátricos. Alterações comportamentais também são muito comuns no dia a dia do consultório homeopático.
CV: Conte-nos um pouquinho sobre seu sistema de atendimento, duração média das consultas, quem participa dela, que pontos são discutidos e como é elaborada a estratégia de tratamento.
CC: Gosto muito de fazer a primeira consulta a domicílio e com a família toda reunida. A consulta já começa no portão, na recepção da turma. Dessa forma consigo avaliar o ambiente, o manejo, o comportamento, a organização social, a adequação ambiental, a conduta dos tutores, as áreas de descanso, a conduta anímica dos pacientes e tudo o mais. Dou palpite em tudo, desde a localização dos bebedouros, passando por horários de alimentação, condutas dos tutores, locais de dormir, produtos químicos usados no ambiente, retirada ou mudança de tapetes e cortinas, tudo o que ache que possa de alguma forma melhorar a saúde e/ou a qualidade de vida dos meus pacientes.
O tempo de consulta varia muito, mas a primeira consulta nunca é inferior a 2hs de duração. Se o tutor for bom de prosa pode chegar a 3hs facilmente; se é mais que um paciente então, daí vou ficando…
No consultório acontece o mesmo, na chegada, ainda dentro do carro, já estou de olho no comportamento do paciente, como reage com o ambiente, com o meu acolhimento, qual a sua atitude na chegada, durante a conversa, como se comporta durante o longo tempo em que estamos sentados conversando, como requisita a atenção dos tutores, se vocaliza, se é ansioso, como se comporta durante o exame clínico (que acontece somente nos últimos 30 minutos de consulta), além das informações recolhidas durante a conversa toda.
Enfim, tudo é observado e anotado! Quando a consulta termina, o cliente só leva as orientações e as descobertas da consulta holística, pois eu ainda tenho que, depois de um bom intervalo de descanso e mudança de foco, voltar ao material, reler, selecionar sintomas, repertorizar e escolher o medicamento homeopático do meu paciente. Como unicista, trabalho com o medicamento constitucional do indivíduo, baseado em sintomas anímicos, físicos, mentais e do terreno, das predisposições. Já a nutracêutica é utilizada, escolhida em cima dos sinais clínicos, das deficiências visíveis ou nem tanto, do órgão lesado, do sistema em foco. A fitoterapia vem marcando sua presença cada vez mais constantemente, também com foco na doença e não no doente, por exemplo, para aumentar a imunidade em casos de câncer.
Florais uso muito no coletivo, quando preciso de uma resposta do grupo, inclusive nos tutores! Já a introdução à nutrição natural e própria para a espécie em questão, é uma orientação obrigatória, nem que seja pra lançar uma idéia que vai sendo amadurecida no decorrer das novas visitas.
A duração do tratamento também varia muito. Nas doenças agudas o tratamento leva de alguns dias a algumas semanas. Já nos quadros crônicos, as respostas esperadas podem surgir apenas meses após o início do tratamento. Os fatores que interferem nessa resposta são próprios do paciente, do tutor, da terapêutica e do veterinário.
CV: Tratar de forma alopática, pontual, costuma ser bem diferente de tratar holisticamente, revendo todo o estilo de vida do animal. Quais são as principais dificuldades que você encontra trabalhando nesse sistema integrado e como você lida com isso?
CC: A maior dificuldade é fazer o tutor entender que não vou tratar o rim, o fígado, o coração, mas vou tratar o Bidú, a Talita, o Floquinho etc. O foco é o indivíduo como um todo e não os seus pedaços!
Outra grande dificuldade é “contar” para as pessoas que aquilo que ele acha que está fazendo sublimemente, como alimentar seus peludos com rações caríssimas e encaradas como as melhores do mundo (por eles), são meros subprodutos e muita química, é nutrição da pior qualidade! É dizer-lhes que aquela carteirinha de vacinas ultra colorida e cheia de todos os selinhos de tudo quanto é tipo de vacinas, é um grande exagero e não é inócuo, faz mal! Enfim, quebrar paradigmas é muito difícil e educar/orientar pessoas também!
CV: Você acredita que o atual estilo de vida moderno da maioria das pessoas, bem como a contaminação do ar, água, alimentos etc, acaba influenciando a saúde dos pets? Comente um pouco a respeito. Como você compara os quadros patológicos atuais com os que você acompanhava há 10-15 anos?
CC: Sem dúvida nenhuma o perfil das doenças dos pets de hoje é um reflexo do estilo de vida de seus tutores, que comem mal, se exercitam pouco e tem tantas carências afetivas e sociais que transformam seus peludos em crianças mimadas, criando conflitos nesses seres que dificilmente eles conseguirão resolver sozinhos.
Há 20-25 anos as doenças metabólicas, o câncer, as doenças auto-imunes, as degenerativas não estavam tão presentes em nossos consultórios. Nossos amigos de pelos comiam comida viva, mesmo que não balanceada, comiam ossos, dormiam na garagem ou ao relento, cavavam buracos, fugiam de casa pra dar um rolê e depois voltavam, não tomavam tantos medicamentos por qualquer coisinha, não usavam tantos “protetores” químicos para pulgas e carrapatos e vermes e… não eram tratados como humanos! Ansiedade por separação, diabetes, insuficiência renal, câncer são doenças atuais, epidêmicas, relacionadas às condições de praticidade demais e tempo de menos! Reeducar nossos clientes no sentido de resgatar uma qualidade de vida própria a espécie animal que estamos tratando, é o primeiro passo para restabelecer um equilíbrio anímico adequado e confortável aos nossos bichos.
CV: Como a comunidade veterinária em geral reage a uma profissional que trabalha com terapêuticas pouco convencionais e que apóia, dentre muitas questões, o preparo de dietas caseiras e protocolos vacinais personalizados?
CC: Encara com um certo ar de deboche, de curandeirismo, de bruxaria e muita desconfiança! Por isso surgiu o Bruxa do Bicho, da necessidade de respaldar e comprovar as fontes dos tratamentos que utilizo no dia a dia e que apoio mesmo não praticando (acupuntura, quiropraxia, iridologia, cromoterapia etc.). Tudo que envolve perdas financeiras associadas a protocolos nutricionais ou medicamentosos, que mexe com o ganho mensal da clínica incomoda a tal ponto que não querem nem ouvir falar do assunto.
Alguns colegas até dão uma certa abertura, te convidam pra disponibilizar o serviço em suas clínicas e hospitais mais não divulgam o trabalho ou querem que você associe a sua consulta ao floral que ele vende no petshop e nem pensar em falar sobre menos vacinas e alimentação natural! Então o trabalho é de formiguinha mesmo! Quando você começa a mudança dentro da vida clínica, passando da alopatia para a homeopatia, quando começa a indicar menos vacinas e dizer que dá, sim, pra alimentar com dietas caseiras balanceadas, isso acaba despertando uma certa descrença em relação a você, enquanto profissional atualizado, como se você fosse um alienado e não um estudioso das terapêuticas naturais. Perdi muitos clientes nessa transição, mas ganhei muitos outros, mais lúcidos e antenados. A mudança é íntima, pessoal; não dá pra tentar explicar algo a alguém que está fechado em seu mundo tecnocientífico e não consegue enxergar nada além das teses e lentes dos microscópios.
CV: Como você vê a Medicina Veterinária Holística no Brasil atualmente? Essa área está em expansão? O que falta para nos consolidarmos como classe? Quais seriam as suas sugestões?
CC: Está em expansão como no mundo todo, aliás. Aqui as novidades demoram a chegar, mas vem, devagar e pra ficar! Agora precisamos nos unir, os veterinários holísticos, pra fortalecer a categoria, fomentar encontros, congressos, pesquisas, trazer palestrantes internacionais, fazer acontecer! Só assim seremos respeitados e ganharemos visibilidade.
CV: O que o tutor pode esperar do seu tratamento holístico das doenças crônicas em animais?
CC: Um comprometimento com a busca do bem estar, com a escolha de opções menos agressivas e tóxicas para o controle definitivo das patologias e desequilíbrios, uma abordagem pessoal e singular, focada nas necessidades do indivíduo doente. Não trabalho com fórmulas prontas, cada abordagem traz um montante de informações únicas que ao serem cruzadas, propiciam protocolos de tratamento absolutamente diferentes.
Sinceramente, o tutor muito ansioso, apressado e imediatista não costuma ficar comigo por muito tempo, pois como costumo dizer, não vou tratar a doença e sim o doente, vou modificar seu manejo, sua dinâmica, vou buscar restabelecer uma ordem anímica no ser e isso requer tempo, observação e correções. Muitos tutores querem que seu animal fique bom logo, que não tenha mais febre, que pare de coçar imediatamente, que a tosse desapareça num estalar de dedos! Esse imediatismo não é compatível com a medicina do indivíduo. Em doenças crônicas precisamos de tempo para agir e reorganizar. Em quadros agudos a resposta é mais imediata, mas nem por isso menos complexa.
Importante ressaltar que o tratamento holístico não passa por “achismos”, feitiçarias e garrafadas! Minha formação é alopática, faço exames diagnósticos, procuro me atualizar quanto ao que está acontecendo de mais moderno em medicina convencional para saber quais os caminhos que meus colegas estão seguindo e como posso atuar nesse universo médico. Faço cursos, leio e estudo muito. Se não há possibilidade de tratamento holístico ou essa possibilidade parece inviável, sou a primeira a indicar ao tutor um caminho mais convencional.
CV: Que espécies de animais você atende?
CC: Com homeopatia, qualquer espécie que tenha o mínimo de intimidade, que conheça um pouco da anatomia e do comportamento. Já atendi peixinhos de aquário, pássaros em gaiolas, cavalos, vacas, coelhos, tartarugas, animais silvestres, de circo e domésticos. A Homeopatia é uma ciência muito bem elaborada, cheia de leis e significados que podem ser aplicados em qualquer espécie animal.
Em muitos casos, quando não temos uma intimidade absoluta com a espécie em questão, podemos utilizar somente os sintomas físicos sem levar o mental em conta, já que não temos como avaliá-lo. São muitas as possibilidades em homeopatia. Para medicarmos um peixe colocamos o medicamento na água do aquário, para medicarmos um rebanho, podemos colocar o medicamento no sal mineral ou misturado a ração. Podemos tratar organismos coletivos também, como um rebanho inteiro, como se fosse um indivíduo só. É uma medicina exuberante e surpreendente!
CV: Conte-nos um ou dois casos de sucesso com uso de Homeopatia, Nutracêuticos, dieta caseira natural ou qualquer combinação de terapêuticas holísticas cujos resultados tenham chamado sua atenção.
Completando a questão anterior, vou contar o caso de uma cobra Python chamada Mafalda que vivia nas imediações da casa de amigos, numa área rural quase urbana em São Paulo e que na época em que eu estava fazendo o meu curso de especialização em homeopatia meus amigos me questionaram sobre a alteração no comportamento da cobra que passou a ficar mais tempo enrolada, sem atividade e parecia estar emagrecendo, estava menos receptiva com a familia, parecia mais triste!
Meu Deus, uma cobra triste? Como eu saberia se ela estava triste? Nunca havia tratado uma cobra antes….mas, para ajudar os amigos fazemos qualquer negócio. A consulta era à distância! Eu nunca veria minha paciente! Pedi a eles que me dessem a maior quantidade de informações possíveis sobre o que conseguiam observar na cobra. Encontraram pequenas lesões na entrada da boca da cobra, como úlceras e pedi que tentassem olhar o interior da boca. Pelo que conseguiram ver, havia novas lesões em toda a cavidade e ela parecia produzir uma secreção espumosa ao redor da boca. Com esses dois sintomas consegui encontrar um medicamento (mercurius solubilis) e começaram a dar, com o auxílio de uma seringa, depositando o medicamento na entrada da boca da cobra…em 3 dias ela já esboçava melhoras, estava mais ativa e voltou a se alimentar. Tínhamos conseguido curar uma cobra de estomatite!
Um outro caso para ilustrar as curas homeopáticas é de um cão chamado Aquiles (foto ao final da entrevista) que veio para mim com histórico de ter se transformado em um capeta depois de uma vacinação antirrábica efetuada em clínica veterinária. Não se deixava tocar, para manipulá-lo era um sacrifício e isso porque ele tinha apenas 4 meses de idade! Virou uma fera. Tratamos o Apolo para transtornos pós-vacinais com o medicamento homeopático e dentro de 60 dias de tratamento ele era um novo cão. O veterinário que havia vacinado o Apolo havia tentado tratá-lo com antiinflamatórios, analgésicos e compressas, mas o Apolo não respondeu a estas terapêuticas e chegaram a pensar que seria inviável ficar com ele tamanha a agressividade que demonstrava em tão tenra idade.
CV: Em homeopatia fala-se muito em “obstáculos à cura”. Pode explicar um pouquinho esse conceito? Que fatores hoje em dia podem ser considerados obstáculos à cura?
CC: São fatores que perturbam a saúde, provocam e sustentam a doença. Samuel Hahnemann, o médico alemão idealizador e criador da homeopatia, nos instruiu com grande sabedoria, através da filosofia homeopática, que a função principal do médico é a de ser um conservador da saúde na medida em que promove e esclarece quais fatores interferem na saúde de seus pacientes e como afastá-los deles. O modo de vida, a alimentação e o sedentarismo são os principais fatores considerados por ele como obstáculos a cura.
Considerando-se tanto a medicina humana quanto a veterinária, impressiona a visionária e atualíssima colocação de Hahnemann no final do século XVIII com uma abordagem tão moderna em termos de prevenção de saúde. Transpondo esses conceitos para dentro da Medicina Veterinária de hoje, percebe-se sua importância à medida que identificamos em nossos pacientes um “modus” de vida inadequado, impróprio a espécie em questão, com pouco ou nenhum exercício diário, confinados em apartamentos ou pequenos quintais, muitas vezes amarrados por pequenas correntes e com seus movimentos limitados, em ambientes pobres em estímulos que geram indivíduos ansiosos ou apáticos, além de uma completa falta de socialização adequada a cada espécie, com uma alimentação desvitalizada, industrializada, preparada com matérias primas de baixa qualidade e muitos aditivos químicos, alguns sabidamente nocivos, cancerígenos ou com excesso de calorias e carboidratos, além de petiscos calóricos utilizados de forma equivocada por tutores cheios de culpa e ávidos por substituir sua ausência por deliciosos e inapropriados petiscos.
Além desses fatores, podemos ainda acrescentar a utilização de substâncias químicas de uso continuado como anti-pulgas, xampus, vermífugos e drogas parasiticidas de utilização mensal que promovem acúmulo de metabólitos e substâncias tóxicas a nível de fígado, rins, sistema endócrino, neurológico e pele, minando assim a saúde de nossos pacientes. Ainda cito e, a meu ver, com igual importância, a humanização de hábitos e comportamentos dos mascotes em decorrência de falhas no entendimento do tutor relacionadas a como manejar uma convivência equilibrada sem exagerar em atitudes que sabidamente irão influenciar negativamente a vida, o comportamento e a saúde desse animal, transformando um comportamento que era próprio da espécie em outro mais “humanizado” e impróprio. A quantidade de conflitos que esse tipo de abordagem equivocada pode gerar em um mascote é fácil de observar, por exemplo, no aumento de quadros de ansiedade por separação que atendemos em nossos consultórios nos dias de hoje.
Então, para que afastemos esses obstáculos a cura do histórico de nossos pacientes, precisamos abordar também a educação de nossos clientes humanos e orientá-los a como manter seus peludos próximos do “natural para a espécie”, sem excessos ou carências, na medida equilibrada e saudável do convívio social inter-espécies.
CV: As orientações de saúde costumam diferir entre métodos tradicionais – alopatas, e médicos holísticos, principalmente em relação à prevenção de doenças. Que dicas gerais você daria a alguém interessado em ter um pet realmente saudável e equilibrado?
Afastando os obstáculos a cura, promovendo bem estar social, nutrição de excelente qualidade, utilizando terapêuticas mais naturais e sempre como primeira opção, proporcionando exercícios ao ar livre, banhos de sol em horários apropriados e aproximando o indivíduo de uma vida natural para a espécie. Não posso esquecer de citar também que o ideal não é manter o animal medicado/envenenado o tempo todo. Excessos vacinais e medicamentosos são extremamente danosos ao organismo e seu adequado funcionamento, portanto bom senso e um pouco de conhecimento devem ser o foco do cuidador/tutor sempre!
CV: Frequentemente, pessoas que procuram médicos-veterinários alopatas escutam que seus cães e gatos com câncer, doenças auto-imunes ou com alergias só podem ser tratados com fármacos agressivos, como quimioterapia, ou corticóides e antibióticos. Como você costuma tratar quadros assim?
CC: A minha abordagem é sempre integrando a minha especialidade médica, homeopatia unicista, com nutracêutica, nutrição natural, fitoterapia e manejo apropriado à espécie e a patologia em questão. Sem essa visão macro, sem as mudanças necessárias para o reequilíbrio dessa saúde, não há cura holística, completa, desse ser! Não adianta tratar um lado e estragar o outro, o equilíbrio e o bom senso também devem ser praticados na medicina.
CV: Quais são seus planos para 2013?
CC: Este será um ano muito importante, pois além de estar mergulhando no estudo dos fitoterápicos, o site colocará no ar uma loja virtual de produtos naturais, que está sendo criada com todo o cuidado para atender aos cuidadores/tutores realmente interessados em proporcionar saúde integral aos seus mascotes.
Traremos muitos suplementos para a melhoria da saúde dos pets, medicações naturais para os mais diversos males, complementos, homeopatias, florais. Tenho certeza que será o início de uma grande parceria entre quem estuda o equilíbrio em saúde e de quem necessita de opções mais naturais para tratar seus mascotes. Na verdade são muitos planos, mas como temos que dar um passo de cada vez, o restante vai surgir no seu tempo.
CV: Por morar em Florianópolis, você atende somente o pessoal de lá, ou há algum meio de pessoas de outras regiões do Brasil entrarem em contato com você para receberem orientações? Em caso positivo, como alguém de fora de Florianópolis deve fazer?
CC: As orientações contidas no blog Homeopatas, criado para apoiar os assuntos abordados nas consultas presenciais, acabaram por gerar interesse em cuidadores em outros locais do país e que não tinham acesso a veterinários holísticos em suas regiões.
Desse interesse acabou por surgir uma Consultoria à distância que visa orientar em todos os aspectos referentes à abordagem integralista, ou seja, manejo social, comportamental e nutricional, assim como uma abordagem médica utilizando homeopatia, fitoterapia e nutracêutica. Tal consultoria requer acesso à internet, reposta a longos e minuciosos questionários, envio de fotos, filmes, exames laboratoriais e de imagem, quando necessários, e o entendimento de que a orientação médica que buscamos e oferecemos aos clientes e pacientes é uma abordagem holística e não emergencial e que nossos tratamentos são profundos e na maioria das vezes requerem um tempo de tratamento de alguns meses. Se o tutor é ansioso, imediatista e aflito, não recomendo essa terapêutica.
Para contato, enviar e-mail para consultoriaonline@bichointegral.com.br
CV: Por fim, o que você acha da Alimentação Natural caseira para cães e gatos?
Eu costumo sinalizar minha atuação profissional a partir de dois pilares principais: um se inicia a partir da minha especialização em homeopatia e outro a partir do contato com a alimentação natural e a descoberta do Cachorro Verde. Foi amor à primeira vista, veio de encontro aos meus anseios médicos e me apresentou resultados tão imediatos e importantes que passou a ser um dos carros chefes da minha abordagem clínica. Utilizo e recomendo, não somente em casos clínicos de diferentes complexidades, mas também de mamando a caducando, desde a mais tenra idade e durante toda a vida dos animais.
A Dra. Carmen Lucia Cocca de Resende é graduada em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo – USP em 1988, com pós-graduação em Homeopatia pela Fundação Homeopática Benoit Mure – SC. Atua em Clínica Médica Veterinária Homeopática, Nutracêutica e Florais de Bach na cidade de Florianópolis – SC e dá Consultoria Veterinária Holística à Distância. O contato pode ser feito através do e-mail consultoriaonline@bichointegral.com.br . Os telefones são (48) 3269-7694 e (48) 99269006. Atendimentos somente com hora marcada.
Dra. Carmen e um de seus pacientes mais bem-sucedidos, Aquiles