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Comentei no post passado que há 12 anos redigi com o Prof. César Dinóla, Doutor em Microbiologia Veterinária pela USP um artigo publicado na revista científica “Clínica Veterinária” sobre novas diretrizes vacinais para cães. Esse é um assunto querido para mim, quase tanto quanto a Alimentação Natural (AN).

Ao contrário da AN, que avançou muito no Brasil na última década, a conduta vacinal ficou parada no tempo. A vacinação é um cuidado fundamental que todo pet deve receber. Mas aplicar todas as vacinas que existem em todos os gatos anualmente, sem levar em conta o risco de reações adversas, a duração de proteção estimada da vacina e a realidade do indivíduo (idade, riscos a que está exposto, histórico de saúde) é arriscado e redundante.

As principais questões que a meu ver emperram essa pauta por aqui são a falta de informações científicas sem viés comercial e o pequeno interesse da indústria em atualizar de maneira significativa os seus produtos.

Para embasar essa postagem, li as recomendações sobre vacinas para cães e gatos que o Grupo de Diretrizes de Vacinação da entidade WSAVA (Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais) publicou agora em 2024 e também as publicadas por eles em 2020, voltadas especificamente para países latino-americanos.

Entre 2016 e 2019 o grupo visitou o México, Argentina e o Brasil e verificou situações típicas de países em desenvolvimento: falta de investimento para pesquisas, desigualdade social e precarização dos serviços veterinários (ex: balconistas de lojas vacinando pets). Ainda assim as recomendações se mantiveram as mesmas: mediante a proteção duradoura conferida pelas vacinas virais faz pouco sentido ficar vacinando o mesmo animal todos os anos. Precisamos imunizar um número maior de cães e gatos e fazê-lo com produtos de boa qualidade e adequadamente conservados, aplicados por veterinários. E pressionar fabricantes de vacinas e autoridades pela atualização dos produtos, bulas e leis.

Confira a seguir as recomendações atualizadas sobre imunização de gatos do boletim de 2024 do Grupo de Diretrizes de Vacinação da WSAVA, atualmente presidido pela veterinária brasileira Profa. Dra. Mary Marcondes, PhD.

Doenças felinas vacináveis

  • Panleucopenia Felina: em filhotes e gatos imunocomprometidos essa virose pode causar anemia e redução das células de defesa, diarréia, vômito, febre, sintomas neurológicos e óbito.
  • Complexo Respiratório Felino: há vacinas contra três microorganismos que causam essa doença – calicivírus felino, herpesvírus felino tipo I e a bactéria Chlamydophila felis.
  • Leucemia Felina (FeLV): compromete as defesas naturais contra vírus, bactérias, fungos e favorece o surgimento de câncer.
  • Raiva: zoonose que evolui para coma e paralisia respiratória.

Classificação das vacinas

Vacinas Essenciais são aquelas que todo gato deve receber, independentemente de onde e como vive: contra raiva, panleucopenia, herpesvírus e calicivírus.

A vacina contra FeLV (leucemia) passou a ser considerada essencial para filhotes que vivem em regiões endêmicas e para adultos com acesso não-supervisionado à rua. Essa vacina está presente em algumas múltiplas e também existe como monovalente (vacina isolada).

Vacinas Não-Essenciais são indicadas considerando a prevalência da doença na região, sua gravidade e o risco do gato contraí-la: Chlamydophila felis.

Vacinas Não-Recomendadas são aquelas sem sólida comprovação científica de eficácia preventiva: giárdia e Microsporum canis.

Protocolo da WSAVA para gatos

Filhotes devem tomar uma dose da vacina tríplice com 6-8 semanas e então a cada 3-4 semanas até os 4 meses de vida. O WSAVA agora recomenda um reforço aos 6 meses e meio; ao invés de somente aos 12 meses ou um ano depois.

(Vale o mesmo se o veterinário preferir a quádrupla ou quíntupla no lugar da tríplice.)

Gatos adultos de baixo risco não precisam tomar essas vacinas mais frequentemente que a cada três anos. Para o felino com acesso à rua ou que fica hospedado em hotelzinho pode ser indicado o reforço bienal ou anual das vacinas essenciais.

A vacina antirrábica é aplicada a partir de 3-4 meses de vida e o primeiro reforço é dado um ano depois ou aos 12 meses. No Brasil a legislação municipal costuma exigir o reforço anual. Nossas vacinas antirrábicas importadas são as mesmas que foram licenciadas para uso trienal nos Estados Unidos.

Imunização do resgatado

Para gatos acima de 4 meses de idade, recomenda-se aplicar uma dose de antirrábica e uma a duas doses da vacina tríplice. Se a vacina quádrupla (contra Chlamydophila) ou quíntupla (contra FeLV) for indicada, são duas doses intervaladas a 3-4 semanas. Antes de vacinar contra FeLV teste o gato para essa virose, pois não há vantagem em vacinar contra leucemia um gato positivo.

Titulação de anticorpos vacinais IgG

Alguns laboratórios oferecem o teste de sorologia vacinal para raiva, mas é caro. Existe exame sorológico para calicivírus e herpesvírus, mas os resultados não são considerados confiáveis. Para gatos, o WSAVA recomenda somente o exame de titulação de anticorpos vacinais contra panleucopenia. Ou seja, a titulação de anticorpos vacinais para gatos está longe de ser a ferramenta valiosa que é no caso da vacinação canina.

Como reduzir o risco do “sarcoma vacinal”?

O sarcoma no local da injeção em felinos é um câncer agressivo, induzido por perfurações do tecido subcutâneo dos gatos. Qualquer injeção, não somente a vacina, pode gerar a inflamação que culmina nesse quadro. O WSAVA recomenda vacinas sem adjuvante (elemento que potencializa a produção de anticorpos), aplicar a vacina por via subcutânea ao invés de intramuscular, administrar na perna ou cauda e não nas costas, revezar o local de inoculação a cada vez e registrar na ficha do paciente onde foi dada a injeção. Fundamental: toda reação adversa deve ser reportada ao veterinário e ao fabricante da vacina.

Imunização consciente

Gatos domiciliados, considerados de baixo risco, podem receber o reforço com vacina tríplice importada a cada 3 anos. Para gatos em situações de alto risco, com acesso não-supervisionado à rua, mantidos em local estressante ou com alta densidade de animais, reforços mais frequentes podem ser indicados.

Confira as recomendações de 2024 do Grupo de Diretrizes de Vacinação para cães e gatos do WSAVA: https://wsava.org/wp-content/uploads/2024/07/WSAVA-VC-Guidelines-2024-Portuguese.pdf 

Sylvia Angélico
Médica Veterinária
pós-graduada em Nutrição Animal
CRMV-SP 29945

Comunicado Cachorro Verde

As informações divulgadas em nossas postagens possuem caráter exclusivamente educativo e não substituem as recomendações do médico-veterinário do seu cão ou gato. Por questões ético-profissionais, a Dra. Sylvia Angélico não pode responder certas dúvidas específicas sobre questões médicas do seu animal ou fazer recomendações para seu pet fora do âmbito de uma consulta personalizada. Protocolos de tratamento devem sempre ser elaborados e acompanhados pelo médico-veterinário de sua confiança.

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