Me interessei pela Alimentação Natural proposta pelo site, mas achei trabalhosa. Posso ir somente acrescentando alguns dos alimentos da AN às refeições que meu cão recebe atualmente?
Pode parecer pura demagogia, clichê, mas realmente não recomendamos misturar alimentos naturais à ração. Uma coisa é oferecer ração como base da alimentação e ocasionalmente dar um pedaço de fruta ou legume, de carne ou um osso cru para o cão limpar os dentes e se distrair. Outra coisa, bem diferente, é oferecer, sem critério algum, ração misturada a alimentos diversos.
Tudo bem oferecer até 10% do total diário da dieta na forma de lanchinhos ou petiscos. Um exemplo prático: se seu cão come 200 gramas de ração por dia, você pode oferecer a ele até 20 a 30 gramas de algum outro alimento saudável por dia. Isso é o equivalente a 1 colher de sopa, ou a um pedaço do tamanho de um polenguinho, por dia. E, por “alimento saudável” entenda carnes, frutas, legumes, vísceras, ovos, peixes, iogurte e cereais, estes últimos sempre cozidos e sem cebola. Doces, frituras, ossos cozidos, pães franceses ou recheados, etc, não são alimentos apropriados para os pets e devem ser evitados.
Ao ultrapassar regularmente a regrinha dos 10% de lanchinhos, você cria um estado crônico de desequilíbrio nutricional. A ração é um alimento completo e balanceado. Isso significa que ela foi matematicamente formulada para fornecer minerais, vitaminas e nutrientes como lipídeos, proteína e carboidratos na medida certa para a espécie e idade de seu animal de estimação. Veja abaixo o que pode acontecer se, junto com a ração, você oferecer diariamente:
Meaty bones: (ossos carnudos, como pescoços, pés e dorsos de frango): seu pet ingerirá um excesso de cálcio. Os meaty bones estão presentes na Alimentação Natural para fornecer cálcio. Em geral, eles são relativamente pobres em proteína e em fósforo. Já as rações, independente de marca ou qualidade, contêm cálcio em quantidade suficiente ou até um pouco elevadas, em função do baixo custo das fontes de cálcio e do fato de alguns fabricantes utilizarem carcaças e/ou farinha de carcaças (carne com ossos) nas fórmulas como fonte de proteína. É um equívoco comum, reforçado por propagandas e anúncios, acreditar que cálcio nunca é demais e que, mesmo em excesso, faz bem. Isso não procede. O cálcio em excesso pode “petrificar” os tecidos moles dos animais, impedir o desenvolvimento normal dos ossos e das articulações nos filhotes, levar a deficiências de cobre, zinco e outros minerais, agravar quadros de cálculo dentário (“tártaro”) e predispôr à formação de cálculos urinários de oxalato de cálcio, que requerem cirurgia para serem retirados. Além disso, os ossos também são ricos em outros minerais que também estão presentes nas rações e a interação entre eles também vai causar excessos a médio/longo prazo.
Carnes e vísceras: seu pet ingerirá um excesso de fósforo, e até de proteína, caso a ração que ele esteja recebendo contenha um teor de proteínas moderado ou elevado. O fósforo é um mineral presente nas carnes e, em geral, extremamente abundante em vísceras como o fígado. Acontece que o fósforo tem que ser ingerido em uma determinada proporção ao cálcio da dieta. Quem sofre com o excesso de fósforo são os rins do pet, que precisam trabalhar dobrado para eliminar esse mineral do organismo e manter o equilíbrio ideal de cálcio e fósforo. A longo prazo, os ossos também são prejudicados, já que passam a “doar” seu próprio cálcio para que esse mineral atinja níveis superiores ao fósforo na circulação sanguínea.
Vegetais: a oferta de legumes, verduras e frutas em grande quantidade irá diluir os teores de proteína e gordura da ração. Não estamos acostumados a pensar em “dieta” como sendo tudo o que é ingerido ao longo de um dia, mas é assim que funciona. Se um cão come apenas uma ração de boa qualidade e, ocasionalmente recebe até 10% de um petisco saudável, ele ainda está ingerindo aquela quantidade de proteína, gordura, carboidrato, vitaminas e minerais contida na fórmula da ração. Entretanto, se além da ração, ele receber duas frutas por dia, a quantidade total de proteína que ele ingere por dia vinda da ração se tornará mais baixa, porque a quantidade total de outros nutrientes, como fibras e água, por exemplo, terá aumentado em função da oferta de frutas em grande quantidade. Um exemplo bastante simplificado para ilustrar essa questão: uma dada ração fornece 25% de proteína, 20% de gordura, 40% de carboidrato e 15% de fibras. Ao oferecer vegetais acima dos 10-15% permitidos para “extras”, a porcentagem total de fibras na dieta aumenta bastante, o que automaticamente reduz os teores dos demais nutrientes do total diário. Mas há outros problemas. Vegetais em excesso reduzem a absorção de gorduras, vitaminas e minerais, tornam o pH do sangue e da urina mais alcalinos, o que não é bom, e predispõem à formação de cálculos urinários de estruvita. Além disso, há vegetais que fornecem também carboidratos, principalmente açúcares, que, combinados com o amido da ração, podem favorecer o desenvolvimento de obesidade e o aparecimento do diabetes.
E se eu oferecer uma refeição de ração e outra completa de Alimentação Natural?
Para que fazer isso? Você vai ter tanto ou mais trabalho do que se optar por oferecer apenas ração ou apenas Alimentação Natural. E não vai ter todos os benefícios da dieta natural. Além disso, pode ser que, frente a uma refeição mais palatável, seu cão passe a rejeitar a ração.
Mas, o mais complicado mesmo é que a ração e a Alimentação Natural possuem composições muito diferentes, que requerem processos digestivos diferentes. A ração passa mais tempo sendo digerida no intestino porque os grãos da sua composição precisam passar por um pouco de fermentação, enquanto a carne da composição da AN é digerida principalmente no estômago, onde passa mais tempo. Ao misturar os dois o seu pet pode enfrentar dificuldades na digestão porque uma parte da carne vai ser obrigada a passar muito tempo no intestino, assim como a ração acaba sendo obrigada a ficar mais no estômago – isso causa transtornos em todo o processo digestivo e as consequências acabam se manifestando através de vômitos, diarreias, gases, cólicas, mal-estar… E não precisa misturar a ração com AN na mesma refeição – alguns cães apresentam esses sintomas apenas por terem sido transicionados de um tipo de alimentação para o outro bruscamente, sem uma adaptação gradativa.
Nossa sugestão é que você tire um tempinho para ler as instruções e informações que nosso site oferece, e, uma vez que esteja se sentindo confiante, se organize para colocar a Alimentação Natural em prática, na íntegra.
E, se mesmo assim você sentir dificuldade, entre em contato com a veterinária do Cachorro Verde e agende uma consulta.
Bom apetite e uma lambida do Cachorro Verde!